A História dos Possuidores do Elefante

Por Kamal al-Sayyd
Traduzido por Ismail Ahmed Barbosa Júnior

No ano de 535 d.c., Ibraha, o Abissínio, governador do Yemen, tornou-se independente do império Abissínio. Ibraha se comportava como um imperador, ambicionava expandir a área de seu país através da ocupação das terras alheias. Naquela época havia um grave conflito entre o Império Persa e o Império Romano. Os romanos encorajaram Ibraha a conquistar sua independência e fortaleceram suas ligações com ele. Quanto aos persas, apoiavam os cristãos que se opunham ao governo de Ibraha, e também apoiavam os judeus no Yemen. Os judeus apoiavam os abissínios a ocupar o Yemen. Eles provocavam Dhu Nu’as a perseguir os cristãos de Najjran, assim, os abssínios vieram e ocuparam o Yemen.

Al Qalees

Ibraha supunha que era capaz de invadir o Hijaz e dominar a rota comercial, e então poderia estabelecer uma comunicação com o império romano. Os romanos o encorajaram a realizar este objetivo que fortaleceria sua influência nas áreas vizinhas do império persa. Assim, enviaram pregadores para difundir o Cristianismo naquelas áreas. Ibraha, o Abissínio, pretendia construir a maior Igreja na região, pois queria impedir os árabes de realizar o Hajj à Caaba e convertê-los ao cristianismo. Quando a maior igreja da região foi concluída, Ibraha convidou os árabes a visitá-la, porém, as caravanas comerciais árabes insistiram em se dirigir à Caaba Sagrada. Ibraha, o abissínio, decidiu destruir a Caaba, então, formou um grande exército e preparou um elefante africano bem domesticado. Ibraha assumiu a liderança de seu exército e partiu de San’a. Algumas tribos árabes tentaram impedir o avanço de seu exército, mas Ibraha conseguiu derrotá-las, e assim, avançou em direção de Meca para ocupá-la e destruir a Casa Sagrada.

O exército abissínio ocupava todas as terras pelas quais passava. Quando se aproximou de Meca, encontrou os camelos de Abd Al Muttalib Bin Hashim e se apossou deles. O povo de Meca ouviu a notícia da expedição militar, de maneira que abandonou a cidade e seguiu para o topo das montanhas. Não havia nenhuma pessoa na cidade além de Abd Al Muttalib, o avô de Nosso profeta Mohammad (S.A.A.S.).

O Senhor Protegerá Sua Casa

Abd Al Muttalib, o guardião de Meca, aconselhou o povo a abandonar a cidade para se proteger dos soldados abissínios. Abd Al Muttalib foi uma personalidade notável. Foi ele que cavou o poço de Zamzam em 540 d.c. Assim, o povo o respeitava e apoiava sua liderança. Abd al Muttalib, seguiu para a Caaba e suplicou a Deus, o Glorioso, para que protegesse Sua Casa, dizendo: “Meu Senhor, o homem defende sua casa, assim, defendei a Vossa! O homem defende sua casa quando é atacado, então, Meu Senhor, defendei a vossa casa contra a agressão dos abissínios.”

As tropas abissínias alcançaram os limites de Meca e levantaram acampamento ali para se prepararem para o ataque. Ibraha perguntou a uma pessoa: “Quem é o líder de Meca?”A pessoa respondeu: “O líder é um ancião chamado Abd Al Muttalib, que pertence aos filhos de Abraão.” Ibraha queria encontrar-se com Abd Al Muttalib, de modo que ordenou a uma pessoa de Himyar que fosse até ele. O himyari veio até Abd Al Muttalib e disse: “(O rei disse): “Não tenho que empenhar guerra contra ti. Tenho apenas que destruir a Kaaba . Se não resistires a meus soldados, não atacaremos o povo de Meca.” Com isso, Abd Al Muttalib disse: “Nós também não desejamos lutar contra vós, e não somos capazes de resistir ao exército Abissínio.” Em seguida, apontou para a Caaba e disse: “Esta é a Casa Sagrada de Deus, e de seu amigo Abraão. Apenas Deus tem poder para defender sua Casa. Nós não possuímos um exército.” O himyari disse: “Se não tens a intenção de guerrear contra nós, então me acompanhe pois o rei deseja conhecer-te.” Assim, Abd Al Muttalib saiu de Makka e se encontrou com Ibraha, o abissínio. Ibraha estava sentado em seu trono real numa tenda coberta com caros tapetes. Quando ele viu Abd Al Muttalib, se ergueu e recepcionou-o calorosamente. Então, o fez sentar-se ao lado do trono e disse a ele: “Nosso único objetivo é destruir a Caaba.” Ibraha se dirigiu ao intérprete e disse: “Pergunte a Abd Al Muttalib sobre o que deseja.” Abd Al Muttalib disse: “O exército se apoderou de meus duzentos camelos, por favor ordene que me devolvam.” Quando Ibraha ouviu a tradução, olhou para Abd Al Muttalib espantado e disse: “Quando te vi, eu te respeitei. Quando tu falaste isso, eu te repudiei. Por que me pedes para devolver teus camelos e abandonas a Casa que tu e teus pais veneram?” Abd Al Muttalib olhou para Ibraha e respondeu: “Eu defendo meus camelos e meu Senhor defende sua Casa!” Ibraha comentou de modo zombeteiro: “Eu não penso que o fará.” Abd Al Muttalib disse com fé: “Nós veremos!” Ibraha se aborreceu ao ouvir estas palavras de Abd Al Muttalib, então se levantou e encerrou o encontro. Quanto a Abd Al Muttalib, se levantou e retornou à Caaba. Quando chegou no portão sagrado da Casa, agarrou a argola do mesmo e sacudiu-a com força, chorou e disse: “Meu Senhor, o homem defende sua casa da agressão, portanto, defenda a Vossa Casa contra a agressão!”

O Ataque

Nas primeiras horas daquela manhã, o exército abissínio pôs o elefante branco à sua frente e avançou em direção da Caaba para destruí-la. Ibraha permaneceu nas colinas de onde assistia seu exército que avançava contra a Caaba, que os árabes veneravam, para destruí-la. Ibraha tinha dito para seus combatentes: “Deixai que o elefante abale as paredes da Caaba e em seguida colocai-a abaixo com vossas enxadas e lanças.” O povo de Makka permanecia nos cumes das montanhas e assistia o que estava acontecendo no vale. Eles observavam com tristeza a Casa que Abraão tinha construído. Abd Al Muttalib estava mais triste do que eles. Os comerciantes de Meca estavam também angustiados, mas temiam por seus interesses pessoais, já que Meca era um importante centro de negócios. Abdallah, filho de Abd Al Mutallib, tinha ido à Síria e deixara sua esposa na casa de Abd Al Mutallib. Ela estava com o povo de Meca e pensava em seu abençoado bebê.

O Elefante desobedeceu

Quando o elefante estava próximo da Caaba, ele estacou e desobedeceu o homem que o guiava. O homem chicoteou o animal com seu látego, porém, todas as tentativas foram inúteis, pois o elefante tentava recuar. Ibraha, o comandante-chefe, ficou impressionado ao ver o elefante recusar-se a avançar contra a Caaba, então ele gritou irritado. O condutor do elefante fez tudo o que pôde para forçar o animal a avançar, mas este não seguiu nem um passo adiante.

Então, algo extraordinário ocorreu. O elefante se ajoelhou. Assim, a tarefa do condutor se tornava muito difícil. O elefante desobedecia o condutor que não podia controlá-lo. Se Ibraha tivesse tido um átomo de fé, ele teria perguntado a si mesmo: “Por que o elefante se recusa a avançar contra a Caaba a despeito das duras chicotadas?” Contudo, Ibraha era arrogante, não pensava em nada além de suas ambições pessoais.

O Horrível Ataque

De repente, algo semelhante a nuvens negras surgiu no horizonte. Não se tratava de nuvens, eram bandos de pássaros chamados Abábil carregando pedras ardentes em seus bicos. Os pássaros pairaram sobre o exército abissínio e o atacaram com aquelas pedras. Os pássaros se foram, e em seguida outros bandos vieram e atacaram o exército, de modo que os soldados se encontravam num caos e tombavam ao chão como moscas. Abd Al Mutallib assistia o que estava acontecendo, estava cheio de humildade e seus olhos cintilavam de fé. Ele disse para si mesmo: “Eis o poder de Deus!” Ibraha chicoteou seu cavalo, mas os pássaros seguiram-no e o atacaram com suas pedras incandescentes. Ibraha conseguiu alcançar sua capital San’a, porém, desabou de seu cavalo às portas da cidade. Seus olhos estavam paralisados de terror.

Abd Al Muttalib chegou à Caaba e observou atentamente a área ao redor, que tinha se transformado num campo de batalha coberto de cadáveres queimados.

O Nascimento do Sol

Abd Al Mutallib deu a boa nova ao povo de Meca, dizendo: “Deus destruiu os agressores e salvou a Caaba”. Enquanto ele falava ao povo, uma pessoa chegou e anunciou o nascimento de uma abençoada criança. A pessoa disse: “Amina deu a luz a um menino.” A face de Abu Al Muttalib brilhou de felicidade, pois Deus tinha protegido Sua Casa Sagrada e Amina tinha dado a luz a um menino abençoado.

Abd Al Muttalib pegou seu neto em seus braços e disse: “Eu lhe dei o nome de Mohammad”. As pessoas ficaram surpresas e perguntaram: “Por que deste a ele esse nome?” Abd al Muttalib respondeu: “Eu dei a ele este nome pois desejo que seja louvado no céu e na terra.”

O ano do Elefante

As pessoas de Meca retornaram aos seus lares e estavam muito felizes. Abd Al Muttalib foi até a Caaba para purificá-la das impurezas dos agressores. A notícia se espalhou através das tribos árabes, e passaram a respeitar a Caaba ainda mais. O povo chamou aquele ano de “O ano do Elefante”. Nosso Profeta Mohammad (S.A.A.S.) nasceu naquele ano.

Quando Nosso Profeta Mohammad (S.A.A.S.) completou quarenta anos de idade, o anjo Gabriel desceu dos céus e anunciou a ele a boa nova da Mensagem. A Sura Fiil (Sura do Elefante) está entre as primeiras suras e lembrou o povo de Meca sobre o Ano do Elefante.

Os Hanafitas

Abd Al Muttalib acreditava na religião dos Hanafitas, que era a religião de seu patriarca Abraão, o amigo de Deus. Quando Deus, o Glorioso, salvou a Caaba da agressão dos abissínios, o povo conheceu a alta posição de Abd al Muttalib perante Ele. Abd Al Muttalib não pediu aos ídolos para que salvassem a Caaba, ele orou a Deus, o Glorioso, para que o fizesse. Portanto, Deus, o Glorioso, atendeu as preces de Abd Al Muttalib e destruiu os agressores.

O Comércio

Meca tornou-se um importante centro comercial, as caravanas comerciais de Quraish iam para a Síria no verão e para o Yemen no inverno. Os mercadores de Quraish estavam seguros dos assaltos das tribos, pois todos os árabes circundavam a Caaba. Quando Deus, o Glorioso, designou Mohammad (S.A.A.S.) como Profeta, Ele relembrou Quraish sobre seu favor na salvação da Caaba de toda agressão e destruição. Ele também relembrou-os de seu favor em tornar seguras as caravanas comerciais dos assaltos das tribos, assim, Deus, o Altíssimo, disse:

“Pelo convênio dos coraixitas, O convênio das viagens de inverno e de verão! Que adorem o Senhor desta Casa, Que os provê contra a fome e os salvaguarda do temor!” (Alcorão C.106)

Hoje, a Caaba se tornou um símbolo da Unicidade de Deus e da união dos muçulmanos de todo o mundo. Quando cumprimos nossas preces diárias devemos nos lembrar da Caaba, a Casa Sagrada de Deus, a Casa que Abraão e Ismail construíram. Devemos saber que a Caaba é o símbolo de nossa força e glória. A Caaba é a pérola do Islam. A Caaba é o coração do mundo Islâmico e a quibla dos muçulmanos em todos os lugares.

“Não reparaste no que o teu Senhor fez, com os possuidores dos elefantes? Acaso, não desbaratou Ele as suas conspirações, Enviando contra eles um bando de criaturas aladas, Que lhes arrojaram pedras de argila endurecida E os deixou como plantações devastadas (pelo gado)?” (Alcorão C. 105)

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