A História dos Companheiros da Caverna

Por Kamal al-Sayyd
Traduzido por Ismail Ahmed Barbosa Júnior

No ano 106 d.c., os exércitos romanos ocuparam a terra da Jordânia, onde o reino dos Nabateus se estabelecera. O Imperador Romano Trajano era um pagão fanático, que passou a perseguir os crentes, especialmente os seguidores de Issa (A.S.). Antes desta expedição militar, Síria, Palestina e Jordânia tinham experimentado uma espécie de autonomia, e a capital Roma se satisfizera com o recolhimento de tributos desses países. Por esta razão as forças romanas na região eram numericamente pequenas. Portanto, os romanos organizaram a expedição com o intuito de dominar inteiramente aqueles países e submete-los ao governo direto de Roma. No ano 112 d.c., Trajano decretou: “Aqueles que seguem a Issa e se recusam a adorar os deuses são desleais ao Estado, assim os sentenciaremos a morte!”

Filadélfia

Naquela época, o povo chamava a cidade de Amman (capital da Jordânia) de Filadélfia, devido a sua beleza. Eles a decoraram com estátuas, porém, não usavam essas estátuas apenas como decoração. As adoravam como divindades ao invés de adorarem a Deus, o Glorioso. Havia a estátua de Athina, o deus da guerra. Tinha uma espada em sua mão direita e um escudo na esquerda. Havia também a estátua de Taiki, o deus da fortuna e guardião da cidade. Esta estátua se encontra atualmente no museu de Amman. Filadélfia era a sudeste de Amman, testemunhou a grande civilização daquele tempo. Quanto aos crentes, levavam uma vida de medo, principalmente quando as forças romanas ocuparam a cidade na época de Trajano e a dominaram para o governo direto de Roma. No ano de 112 d.c., Trajano considerou todos os cristãos como desleais a seu governo e os fez escolherem entre a idolatria ou a morte.

Os Sete Jovens

Muitas pessoas da cidade levavam uma vida de terror, assim, fingiam adorar os deuses romanos. Enquanto que os comitês do governo fiscalizavam as crenças do povo, de modo que as pessoas se sentiam inseguras. Porém, sete jovens viviam naquela cidade. A História mencionou seus nomes como sendo:

1. Maxminyanius
2. Amlikhius
3. Motyanius
4. Danius
5. Yanius
6. Aksa Kadtho Niyanius
7. Antonius

Estes jovens crentes se encontravam perplexos, não sabendo o que fazer. Tinham duas escolhas, ou a morte ou a descrença. Naqueles momentos difíceis, decidiram fugir da cidade.

Como eles fugiram?

Naquela manhã bem cedo, enquanto os investigadores do governo procuravam os crentes, os guardas viram sete jovens e um cão deixando a cidade, então perguntaram a eles: “Para onde estão indo?” Um dos sete rapazes respondeu: “Estamos indo caçar.” Os guardas disseram: “Bem, devem voltar e tomar parte da celebração oficial!”

Em Direção a Caverna

Os sete jovens e seu cão seguiram para a caverna. A caverna se localizava a sete quilômetros da cidade, nas proximidades de uma aldeia chamada Al Raqim. Os jovens chegaram a uma área montanhosa e então escalaram os montes em direção a caverna que tinham escolhido previamente. A caverna era no sopé de um monte na direção sul. Tinha uma posição particular, era de clima ameno pois possuía duas aberturas, uma à direita e outra à esquerda. Sua entrada dava para o sul. A caverna tinha sete metros e meio de largura e era o lugar que os jovens haviam escolhido para se refugiarem. Os jovens decidiram se isolar do povo, se escondendo naquele lugar a espera da misericórdia de Deus. Não tinham esperança de vencer a força dos romanos. Mas também, se recusavam decididamente a adorar os ídolos. Tinham consciência de que Deus era o Senhor dos céus e da terra e que a idolatria se opunha a grande verdade da existência. O povo daquela época não acreditava no dia do Julgamento. Achava que quando uma pessoa morria, sua alma migrava para um outro corpo humano ou de um animal.

O Longo Sono

Os jovens estavam exaustos quando entraram na caverna. Entretanto, estavam também excitados, pois pensavam que os soldados romanos sairiam em seu encalço e descobririam seu esconderijo. Estavam cansados porque não haviam dormido por um dia, assim, estavam sonolentos, então adormeceram enquanto sonhavam com um futuro feliz. Para demonstrar seu poder em ressuscitar o homem depois da morte, Deus, o Glorioso, fez com que os sete jovens adormecessem profundamente e fechando seus ouvidos.

Por quanto tempo os sete jovens dormiram? Dormiram por muitos anos. O sol se levantava e se punha enquanto continuavam a dormir. Os soldados romanos procuraram pelos jovens em todos os lugares, mas todas suas tentativas deram em nada. O povo do país comentava sobre os sete jovens, dizendo: “Os sete jovens foram caçar. Desapareceram e ninguém os encontrou ainda.” Muitos anos se passaram mas ninguém soube o que havia acontecido naquela caverna. O cão estirou suas patas à entrada da caverna e adormeceu também, profundamente. O ar ali era agradável, pois a entrada da caverna dava para o sul e as duas aberturas laterais deixavam o sol entrar de manhã e a tarde. Os sete jovens dormiam e não sabiam o que tinha acontecido. Dezenas de anos se passaram enquanto se encontravam adormecidos. Se um pastor tivesse encontrado a caverna ou um viajante tivesse ido para lá durante uma tempestade, teria fugido daquela visão assustadora. Por quê? Porque veria pessoas com os olhos abertos e um cão de caça imóvel na entrada da caverna. Os sete rapazes dormiam profundamente, porém, não tinham sonhos. O que tinha acontecido fora de lá? Nas cidades e aldeias do país?

A Morte de Trajano

O Imperador Trajano morreu. Muitos outros imperadores o sucederam e também morreram. Diqyanius, que governou de 285 a 305 d.c., também morreu. Tadmor havia perdido sua glória no ano 110 e em seguida a havia recuperado. Porém, em 272 a cidade perdeu completamente sua glória quando os romanos atacaram-na e fizeram sua rainha, Zenobia, como prisioneira.

O Imperador Justo

O imperador Teodósio ascendeu ao trono de Roma em 408 a.d. e em seguida abraçou a fé cristã, de maneira que o império romano se tornou cristão. No ano de 412, Deus desejou que a verdade surgisse e que seu poder se revelasse à toda humanidade, como um sinal de sua misericórdia. Então, os sete jovens já dormiam há três séculos. O que havia acontecido na caverna? Kutmirun, o cão, latiu, então os jovens despertaram do mais longo sono da história. Um dos sete rapazes pensou que tinha dormido por algumas horas, assim, perguntou a seus companheiros: “Quanto tempo dormistes? Os rapazes ainda estavam sonolentos. O sol estava prestes a se por, mas ainda lançava seus raios dourados dentro da caverna através da abertura. Então, os rapazes imaginaram que tinham dormido por um dia inteiro. Que haviam passado toda a noite dormindo e que não tinham percebido o crepúsculo e o nascer do sol. O sol naquele momento estava se pondo, então disseram: “Dormimos um dia inteiro e parte de outro dia.’ Um deles disse: ‘Nosso Senhor sabe melhor quando tempo estivemos a dormir.”

Apenas Deus sabe quanto tempo durou o sono deles. Apenas Deus conhece o oculto. Quando o homem adormece, ele não sabe o que acontece no mundo a seu redor. Suponham que uma pessoa dormiu no começo do outono e despertou para ver a neve e as árvores desfolhadas. Ele entenderia que teria dormido por mais de três meses. Por que entenderia assim? Porque pensaria que teria passado o outono dormindo e que seria então, inverno. Os sete jovens despertaram e viram o sol se pondo. Não sabiam se tinham dormido algumas horas ou mais. Porque não sabiam se o sol havia se posto e então nascido no dia seguinte. Não sabiam se o sol estava a se por novamente ou não. Eles acreditavam firmemente em Deus, assim disseram: “Apenas Deus sabe quanto tempo estivemos a dormir.” Eles apenas supunham que tinham dormido por um dia inteiro e parte de outro.

A Tarefa Arriscada

Na manhã seguinte, os sete jovens estavam famintos e queriam comprar comida. Assim, um deles mostrou algumas moedas de ouro e disse: “Que um de nós leve essas moedas de ouro e nos compre alguma boa comida, mas ele deve tomar cuidado com as pessoas. Não deve deixar que o reconheçam. Se elas souberem de nosso esconderijo, seremos capturados e mortos.” Um outro disse: “Deveras, eles apedrejam aqueles que se recusam a adorar seus deuses.” Um outro comentou: “Talvez, nos obriguem a nos prostrar a seus ídolos.” E um outro disse: “Pois que miserável destino é este!”

No Mercado

Um dos sete jovens se apresentou como voluntário para ir até a cidade comprar comida no mercado. Ele deixou a caverna e desceu o monte. Pensava em como entrar na cidade e como responder aos guardas romanos quando eles o inquirissem. Ele não viu as mudanças que a chuva, as enchentes e o vento tinham feito por três séculos. Estava nervoso, pois não tinha ido caçar ou fazer uma caminhada quando fugiu com seus companheiros para a caverna. Voltava para comprar comida, mas estava com medo. Pensava que a situação estava tal como antes. Chegou à cidade e olhou para suas muralhas e construções. Ele caminhava perplexo, achava estar numa outra cidade. Ninguém o impediu de entrar na cidade. Também não encontrou as estátuas das divindades, porém, se sentia um estranho na cidade. As pessoas olhavam para suas roupas com espanto, pois não estava trajado de acordo com a época. Ele viu as pessoas da cidade vestindo um novo tipo de roupas, e não encontrou os soldados romanos que perseguiam e puniam aos demais em razão de suas crenças. Viu o povo da cidade vivendo, trabalhando e plantando em paz. Ao mesmo tempo, não encontrou em suas faces as marcas da ansiedade. O jovem continuou a caminhar até o mercado. Perguntou a uma pessoa sobre o mercado e esta o orientou. Ele ficou surpreso ao ouvir o sotaque do povo, visto que se diferenciava do dele. Eles falavam com um sotaque novo. “Que coisa maravilhosa!” disse o jovem. Então, perguntou-se: “Eu me perdi e cheguei a uma outra cidade?”

A Grande Verdade

O jovem passou a prestar atenção em seu comportamento. Pensou que tinha que comprar a comida e retornar ao esconderijo na montanha. Assim, se comportou de uma maneira normal, como se fosse um habitante da cidade. O povo considerou-o como um estrangeiro vindo de uma aldeia distante entre as montanhas. O jovem procurou por um bom homem que vendia comida, e não o encontrou. Então, ele percebeu o que tinha acontecido. Quando o vendedor recebeu suas moedas de ouro, olhou para ele com surpresa. Em seguida, disse consigo: “Estas moedas são do tempo do Imperador Trajano. Foram cunhadas há três séculos atrás.” O vendedor olhava atônito para o jovem. Supunha que o jovem tinha encontrado um tesouro, assim, disse a ele: “Encontraste um tesouro?” “O que queres dizer ?” perguntou o jovem. O vendedor respondeu: “Quero dizer que estas moedas são de séculos atrás.” “São minhas e eu vim para comprar comida,” disse o jovem. “Veja, nós negociamos com estas moedas!” disse o vendedor. O jovem olhou para o dinheiro do vendedor. Ele não o tinha visto antes, então ele perguntou : “Meu Senhor, o que aconteceu ?” O vendedor disse: “Se tu deres a mim uma parte do tesouro, eu não contarei a ninguém.” “Que tesouro? perguntou o jovem “Eu não tenho nada além dessas moedas.” O vendedor agarrou o jovem e gritou, de modo que o povo se reuniu ao redor deles. O jovem se virou de um lado a outro e disse: “Por favor, soltem-me! Os soldados de Trajano me matarão se me capturarem! Não terão pena de mim.” “Trajano! exclamou o vendedor. As pessoas olharam surpresas para o jovem, e então riram. Uma pessoa disse: “Trajano morreu há muitos anos atrás. Estás louco?” “Quem está no governo do império agora?” perguntou o jovem. “Teodósio está no governo. Ele é um bom imperador. Adotou a religião de Issa há dois ou três anos atrás” respondeu alguém. O jovem perguntou: “Tu queres dizer que eles não matam os cristãos?” “O que dizes?” perguntou uma pessoa, “O povo creu na religião de Deus . O tempo da opressão e da tortura acabou.” Um ancião esfregou sua testa e disse: “Meu Senhor! Quando eu era criança, minha avó me contou que alguns jovens piedosos temiam por sua religião, assim fugiram, e nenhum deles foi encontrado.’ O jovem estava prestes a desmaiar. Estava prestes a tombar no chão pelo que tinha ouvido. Então, perguntou a si mesmo: “Será que dormimos por todos esses anos? É possível para um homem dormir por três séculos?” O jovem não se lembrava de nada. Achava que tinha dormido um dia e uma parte de outro. Ele esfregou seus olhos. Pensou que tinha tido um sonho. Em seguida disse: “Não! Não! Esta é a grande verdade!

O governador da cidade ouviu sobre os acontecimentos. Ouviu que havia um jovem crente, de modo que ordenou que se apresentasse a ele. O governador compreendeu que estava diante de uma grande verdade, e que Deus, o Glorioso, desejara demonstrar a humanidade um sinal de seu Poder de ressuscitar os mortos. O governador pediu ao jovem que os levasse a caverna. Assim, o jovem se encaminhou para lá, seguido pelo governador e seus soldados. Os jovens na caverna estavam aflitos pois seu companheiro estava demorando muito. Um deles disse: “Talvez ele tenha sido detido!” Um outro comentou: “Talvez, ele tenha se demorado a entrar na cidade, sabemos que os guardas são impiedosos!” Naqueles momentos difíceis, um deles saiu da caverna e subiu ao topo do monte. Dali, ele avistava as estradas que levavam à cidade. Ele viu com seus próprios olhos o que temia. Então gritou: “Os soldados romanos estão vindo até nós!” Em seguida, ele retornou rápido a seus companheiros e disse a eles: “Eu vi os soldados vindo em nossa direção! Eles capturaram nosso companheiro e ele está os guiando até nós!” Um dos jovens disse: “Eu não penso assim! Esperemos! Talvez os soldados estejam indo a um outro lugar.”

Os momentos de tensão se passaram rápido. De repente, seu companheiro entrou na caverna e contou a eles sobre a grande verdade: “Vós não adormecestes por um dia e parte de outro. Adormecestes por três séculos. Deus fez de vós um sinal de que Ele é capaz de ressuscitar os humanos e que fará suas almas retornarem à seus corpos.” Naquela época algumas pessoas costumavam dizer: “Quando a alma deixa o corpo, não retorna para ele, vai para um outro corpo!” Ao passo que os crentes diziam: “Deus tem poder sobre todas as coisas. É Ele quem cria o homem, o faz morrer e o ressuscita.”

O jovem havia pedido ao governador para ir só à caverna, dizendo: “Meus companheiros estão com medo da opressão e não sabem o que aconteceu.” Quando os jovens descobriram a verdade, derramaram lágrimas de temor e amor a Deus. Em seguida, suplicaram a Deus para que os fizesse morrer já que pertenciam a uma outra época, distante daquela em três séculos. Assim, Deus o Glorioso, aceitou a súplica deles e os fez morrer, de modo que suas almas ascenderam aos céus e encontraram um mundo cheio de bondade e paz. O governador e seus soldados esperaram fora da caverna. Quando a espera se tornou demasiada, decidiram entrar. Quando entraram ali, viram uma imagem impressionante: Os sete jovens e seu cão estavam mortos. Perceberam que os jovens tinham acabado de morrer pois seus corpos ainda estavam quentes. O governador e seus soldados se prostraram diante de Deus.

O povo daquela época discutia entre si acerca do espírito. Alguns diziam que a alma retornaria ao corpo no dia do Julgamento, outros, que a alma se transferia para um outro corpo. Quando viram com seus próprios olhos, os companheiros da caverna, acreditaram no poder de Deus. Os politeístas duvidaram do fato, e disseram: “Ergam um monumento sobre eles, o Senhor deles os conhece melhor.” Quanto aos crentes disseram: “Certamente ergueremos um Masjid sobre eles.” E acrescentaram: “Consigamos a benção desse lugar onde Deus mostrou-nos seu poder.” Assim, os crentes triunfaram sobre os politeístas e então ergueram um Masjid sobre os sete jovens, onde adoraram a Deus, o Deus Único.

Quando alguém visita a capital da Jordânia atualmente, pode ver os companheiros da caverna. A caverna se situa à 8 km de Amman. Entre os povoados de Al Raqim e Abu Alanda. Ali se pode ver sete esquifes. Além disso, há um pequeno esquife, que provavelmente é o túmulo do cão dos Companheiros da Caverna. Graças ao arqueólogo Rafiq Wafa Al Dajjani, que publicou o resultado de suas escavações no ano de 1964, provou-se que a caverna se encontra onde o Alcorão menciona e não na cidade de Afsus, na Turquia, como os historiadores europeus afirmavam.

Os exegetas perguntaram : “Quanto tempo os companheiros da caverna dormiram?” O Sagrado Alcorão diz : “E permaneceram na caverna trezentos anos e mais nove.” A resposta é: o período de seu adormecimento é de 309 anos do calendário lunar, que equivale a 300 anos do calendário solar .

O ano solar é igual a 365 dias e o ano lunar a 354 dias. 300 vezes 365 é igual a 109500 dias e 309 vezes 354 dias é igual a 109386 dias. Como o ano lunar é de 354 dias, 8 horas e 48 minutos, portanto 8 horas e 48 minutos = 528

“Pensas, acaso, que os ocupantes da caverna e da inscrição forma algo extraordinário entre os Nossos sinais? Recorda de quando um grupo de jovens se refugiou na caverna, dizendo: Ó Senhor nosso, concede-nos Tua misericórdia, e reserva-nos um bom êxito em nossa empresa! Adormecemo-los na caverna durante anos. Então despertamo-los, para assegurar-Nos de qual dos dois grupos sabia calcular melhor o tempo que haviam permanecido ali”. (Alcorão, C.18 – V. 9 a 12)

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