Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Ali está com a verdade e a verdade está com Ali – Sheikh Youssef Ajordi – – 06/03/2020

Primeiro Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Deus, o Altíssimo, disse no seu livro sagrado: Entre os homens, há também aquele que se sacrifica para obter a complacência de Deus, porque Deus é Compassivo com os servos”. (207)

Estaremos celebrando o nascimento do príncipe dos fiéis, o príncipe e o senhor dos monoteístas, o Imam Ali ibn abi Taleb (A.S.), daqui a alguns dias. É muito bom celebrarmos esta data com muita alegria, com doces, com festas e com festivais. No entanto, o mais importante disso é entendermos quem foi Ali (A.S.).

Ali (A.S.) era alguém totalmente temente a Deus, destituído de egoísmo e de amor a si mesmo. Ele enxergava Deus em toda existência, embora a sua própria existência jamais era enxergada. Este testemunho não é pessoal e sim de grandes historiadores, os quais não conseguiram registrar todas as virtudes de Ali (A.S.). O famoso historiador chamado ibn Athir, um dos maiores historiadores árabes da história, diz que: “O ascetismo e a justiça de Ali dificilmente poderão ser descritos”. Isso porque os historiadores buscam fatos e testemunhos que traduzem suas características. Ali (A.S.) não viveu apenas em seu tempo, ao contrário, o tempo se estendeu e se entregou a Ali (A.S.). Sua dimensão foi muito mais ampla que seu tempo e lugar, pois foi a personalidade divina em todo sentido da palavra, razão por ter erguido e construído a história, e ela se ajoelha perante esta personagem divina e santa a qual se entregou e se submeteu totalmente, ou seja, Ali.

A justiça de Ali (A.S.)

Não podemos falar de Ali (A.S.) sem falar sobre sua justiça, que foi um dos seus mais importantes e principais atributos, e por isso devemos analisar estes princípios que permearam sua vida (A.S.).

O questionamento a ser feito é: Por que Ali (A.S.) era odiado por algumas pessoas e por que foi injustamente ofendido nos púlpitos das mesquitas por mais de 40 anos?

Coragem? Será que foi porque Ali (A.S.) matou os líderes e corajosos homens incrédulos e pagãos da época fazendo apagar as tradições e costumes ignorantes da época? A resposta é: Talvez, mas não imagino que seja apenas este o motivo, e nem o mais importante.

Parentesco? Será que foi porque Ali (A.S.) era parente, genro, primo e irmão do Profeta Mohammad (A.S.), o qual o elogiava tanto? Será que era a inveja que eles sentiam de Ali (A.S.)? A resposta é: Talvez, mas não imagino que seja apenas este o motivo, e nem o mais importante.

A resposta é que nenhuma destas razões foi a principal para que Ali (A.S.) fosse tão odiado. O principal motivo foi “Justiça de Ali” que incomodou a muitos, criando assim muitos inimigos. Ali (A.S.) foi um homem que representava a Deus e Deus representa a justiça. O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia: “Ali está com a verdade e a verdade está com Ali. A justiça segue Ali onde ele estiver”. A justiça de Ali (A.S.) era algo tão preciso e tão profundo que poucos se renderiam a ela. Não houve nenhuma personalidade no mundo mais justa do que Ali (A.S.).

Um presente do povo de Isfahan

Ibn Athir, famoso historiador, narra um dos exemplos da justiça do Imam Ali (A.S.). Ele recebeu um presente em nome do povo de Isfahan. Quando recebeu aquele presente, o qual tinha sido exclusivamente enviado a ele, ele pegou aquele valor e começou a dividi-lo em partes iguais, e distribuiu-as aos demais, não aceitando nenhum tipo de privilégio. E ele pegou a sua parte como todos os outros.

Imam Ali (A.S.): reforma e combate à corrupção

O Imam Ali (A.S.) foi o primeiro homem a liderar uma sincera campanha contra a corrupção e a favor da reforma social. O Profeta (S.A.A.S.) esteve durante seus 23 anos de revelação da mensagem do Islam construindo a base da fé e da crença islâmica entre a nação, não tendo tempo para trabalhar esta reforma de uma forma mais profunda naquela nação. O Imam Ali (A.S.) procurou ser justo em seus trabalhos igualando todos os ganhos entre os muçulmanos. Ele (A.S.) dizia: “Todo homem se atender ao chamado de Deus e ao Mensageiro e se converter ao Islam terá os mesmos direitos sobre nós e os mesmos deveres”. Esta era a justiça de Ali (A.S.).

O judeu

Quando um homem judeu se queixou contra ele e o intimou ao tribunal, o Imam Ali (A.S.) atendeu a intimação e compareceu como réu a este local. Lá o juiz foi respeitoso com Ali (A.S.) já que ele era o governante islâmico da época, ele era o comandante do estado e o chefe maior, e o juiz o chamou de “Abul Hassan”, ou seja, por seu apelido de honra. O Imam Ali (A.S.) contestou esse privilégio e disse ao juiz: “Ou me chama pelo meu primeiro nome como chamou o outro réu ou chama a ambos por seus apelidos de honra”. Isso porque Ali (A.S.) enxergava justiça até mesmo neste nível.

Admitir a justiça e se submeter a ela

Há algumas semanas, falamos a respeito de uma das características do fiel. Ele deve se submeter a vontade, a decisão e a justiça de Deus. A questão é: será que nós aceitaríamos e acataríamos a justiça e a decisão de Ali (A.S.)? Dificilmente, pois ele mesmo dizia: “Não conseguem me seguir por mim mesmo, pelo menos me ajudem no que podem por temor a Deus”. Ou seja, ninguém conseguiu alcançar Ali (A.S.) em sua justiça, devoção e sua obediência a Deus. O mínimo que podemos fazer é ajudá-lo, a auxiliá-lo a praticar e estabelecer os princípios da fé e do temor como ele nos orienta e nos pede. O mínimo que podemos fazer é não recusar ou rejeitar a decisão ou decreto de Ali (A.S.).

Os problemas existentes entre nós são fáceis de serem resolvidos. Simplesmente quando ambos se entregam e aceitam a verdade não haverá problemas ou intrigas e discussões. Os problemas se estendem quando nós tentamos defender nossos interesses pessoais e não a verdade ou o certo.

O nosso problema é quando enxergamos Ali (A.S.) como um simples homem forte, bravo e corajoso. Gostamos dele por ter arrancado o portão da fortaleza de Khaibar, ele mesmo dizia: “Arranquei este portão com a força de Deus”. Devemos enxergar Ali (A.S.) a partir deste ponto e não o ponto físico ou simplesmente a sua eloquência. Ali (A.S.) era totalmente de Deus, para Deus e por Deus. Tudo que ele fazia, o que vivia, o que dizia e o que decretava havia Deus em sua vida, e nada mais. Ele jamais se enaltecia e nem pensava em seus interesses e só em Deus ele pensava.

No dia de Khandaq

Este dia foi histórico e importante para o Islam, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) perguntou a todos ali presentes quem poderia enfrentar o guerreiro Amra ibn Wad: “Quem de vocês se candidata para enfrentar este homem? E eu lhe garantirei o paraíso”. Quem se ergueu por mais de uma vez foi Ali ibn abi Taleb (A.S.). Será que ele não tinha vida, não tinha corpo ou não sentia dor? É claro que sim, mas ele não se sentia nada quando o assunto era pela causa de Deus. Ele só queria saber de satisfazer a Deus em suas ações e práticas. Neste dia ele foi enfrentar Amra ibn Wad e o matou, e esta foi uma grande vitória para o Islam e para os muçulmanos. O profeta Mohammad (S.A.A.S.), disse seu famoso ditado: “O ataque de Ali no dia de Khandaq vale mais que a adoração dos humanos e dos gênios”. Isso porque esta vitória representava um grande avanço e posição ao Islam e aos muçulmanos. O Islam e os muçulmanos depois desta vitória não eram igual a antes dela.

Sempre para Deus e nunca para a si mesmo

Ali (A.S.) se entregou totalmente a Deus e tudo que ele fazia era para Deus, visando a satisfação de Deus e nunca a si mesmo. Uma das razões pela qual digo isso e é prova de meu testemunho: Ali (A.S.) jamais usou seu cargo ou força por interesses pessoais e isto representa o mais alto grau de justiça e fidelidade a Deus, o Altíssimo. Quando Ali (A.S.) teve seu direito tomado como o legítimo sucessor do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) ele não usou sua força, nem sua influência e nem a sua espada pra tomá-lo de volta. O mesmo ocorreu quando sua residência foi atacada pelos seus opositores e sua esposa Fatima (A.S.) foi agredida por eles.

O mais pobre e humilde

O Imam Ali (A.S.), mesmo sendo o governante e chefe maior do estado da época, fez questão de viver com simplicidade e humildade, entre os habitantes do estado islâmico. Ali (A.S.) era justo e sua justiça representava a justiça de Deus. Ele evitou a injustiça em tudo, sendo que a injustiça nem sempre é algo grande ou surge de um governo ou de um estado, muitas vezes, a pessoa é injusta com sua esposa, filhos, alunos ou clientes.

É esta a mensagem de Ali (A.S.) para todos nós, evitar a injustiça em todos os campos e a substituir com a justiça, pois este será o segredo do nosso sucesso, felicidade e tranquilidade.

Louvados seja Deus o Senhor do universo.

Segundo Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Dando continuidade às características da justiça do Imam Ali (A.S.), o irmão do Imam Ali (A.S.) foi até ele quando ele era o governante do estado e lhe pediu que aumentasse a sua partilha da renda do estado, pois ele tinha muitos filhos. O Imam Ali (A.S.) não disse nada. Esquentou um pedaço de ferro que estava próximo dele e o aproximou de seu irmão, que segundo a narrativa, era cego. Quando Aquil, irmão de Ali (A.S.), sentiu o calor do ferro se afastou. Ali (A.S.) então lhe disse: “Irmão, você se afasta do calor de um ferro que um homem o esquentou e me pede para fazer algo que me leva ao inferno”.

O Imam Ali (A.S.) nos ensina que qualquer coisa, mesmo sendo pequenos delitos, pequenas transgressões sobre o direito dos outros e sobre Deus, tudo leva ao mesmo resultado, desacato a ordem de Deus e a Sua insatisfação, e o resultado disso é o castigo de Deus. Não é porque todos fazem ou qualquer um pode fazer que devemos fazer também. Nada deve ser feito se for errado, mesmo se todos estiverem fazendo.

E que a paz e a benção de Deus estejam com todos vocês.

 

 

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