A História do Profeta Yussuf (José) (A.S.)

Por Kamal al-Sayyd
Traduzido por Ismail Ahmed Barbosa Júnior

O Profeta Abraão (A.S.) tinha cem anos de idade. Sua esposa tinha noventa anos. Ambos já estavam velhos. Não tinham nenhum filho vivendo com eles. Ismail (A.S.), o filho de Abraão (A.S.), tinha quatorze anos. Vivia em Meca. Abraão (A.S.) o visitava todos os anos.

Na história do Profeta Lot (A.S.), vimos que três visitantes vieram para salvá-lo do povo que praticava más ações. Também vimos que esses visitantes foram primeiramente até Abraão (A.S.). O Profeta Abraão (A.S.) ficou triste pelo povo de Lot (A.S.). Ele esperava que eles enfrentariam uma severa punição por suas ações perversas.

Deus, Nosso Senhor, desejava fazer com que Abraão (A.S.) ficasse contente. Assim, anunciou a ele a boa nova de um filho de Sarah. O nome do rapaz seria Izhak (Isaac). Seria um Profeta. Teria também um filho, que da mesma maneira seria um dos profetas. Sarah ouviu a boa nova e ficou surpresa. De maneira que disse: “Como terei um filho? Meu marido é um ancião. Decerto que isso é algo extraordinário.” Os anjos disseram: “Não te surpreendas com a ordem de Deus. Em verdade, Deus tem o poder sobre todas as coisas.”

O milagre aconteceu desta maneira. A anciã, que tinha noventa anos de idade, deu a luz a um menino. Seu nome era Isaac e seria um Profeta .

O Profeta Abraão (A.S.) ficou feliz com o nascimento de Isaac pois muitos profetas seriam da descendência dele. Conduziriam a missão da Unicidade e da luz (divina) para todas as pessoas. Isaac cresceu. Ele carregou a herança de Abraão e a missão de Deus. Isaac foi fiel em propagá-la. Agiu como os outros profetas. A boa nova dos anjos foi verdadeira. Deus deu a Isaac um filho. Seu Nome era Ya’qub ( Jacó). Deus, o Exaltado, abençoou a família de Abraão (A.S.). Ya’qub se tornou um Profeta. Então, ele assumiu a missão. O Profeta Ya’qub (A.S.) se casou. Deus deu a ele dez filhos. Seus nomes eram Sham’on, Lawi, Rawbin, Yahudha, Yasakir, Zobolon, Dan, Naftali, Jadu e Ashir. Então, o Profeta Ya’qub (A.S.) se casou com sua prima , Rahil e ela lhe deu dois filhos, Yussuf e Benjamin. (Portanto) Ya’qub teve doze filhos.

A família de Abraão vivia na terra da Palestina. Aquela terra era boa. Cheia de prados, campos de pastagem e oliveiras. O Profeta Ya’qub (A.S.), como seu pai Isaac e seu avô Abraão, era generoso. Socorria os pobres e era hospitaleiro aos visitantes e forasteiros. Por esta razão, Ya’qub (A.S.) sacrificava um cordeiro todos os dias, dividia uma parte da carne entre os pobres e ele e sua família comiam o resto. Havia um bom homem chamado Damyal. Damyal era um homem pobre. Um dia ele estava de jejum e não tinha nenhum alimento para quebrar seu jejum. Damyal pensou que Ya’qub enviaria um pouco de carne para ele.

Como de costume, Ya’qub sacrificou um cordeiro e dividiu a carne entre os pobres. Ele e sua família comeram o resto e passaram a noite saciados. Damyal, o homem pobre, passou a noite faminto e tinha a intenção de jejuar no dia seguinte também. Damyal estava jejuando naquele dia. O sofrimento da fome aumentava. Ele não tinha nada para quebrar o jejum ao fim do dia. Ele dormiu faminto. Suportou o sofrimento da fome e adormeceu.

O Sonho

Naquela noite os eventos emocionantes da história que tiveram lugar milhares de anos antes, recomeçaram. Yussuf tinha nove anos, ele era um belo menino. A luz brilhava em seus olhos. Seu coração era cheio de pureza. Sua beleza resplandecia em sua face e em seus olhos que brilhavam de pureza. Porquanto, seu pai o amava muito. O Profeta Ya’qub (A.S.) achava que Yussuf seria um Profeta. Ele acreditava firmemente que Deus escolheria Yussuf como Profeta depois dele. Yussuf não era apenas belo em seu rosto, mas também tinha a beleza em sua alma, em suas qualidades e em sua moral. Quando alguém o via, sentia que estava diante de um anjo que tinha descido do céu. Assim, todos o amavam. Seu pai, Ya’qub, o amava mais do que qualquer pessoa. Yussuf era tão puro como as gotas do orvalho. Seus olhos eram tão claros como o céu. Sua face era tão brilhante como as estrelas.

Por esta razão, seus dez irmãos o invejavam. Primeiro o invejaram e depois passaram a nutrir más intenções em relação a ele. E por fim, começaram a desejar sua morte. Com isso, planejavam se livrar dele.

Naquela noite Yussuf fechou seus olhos. Ele estava desatento às conspirações de seus irmãos. Yussuf teve um sonho maravilhoso. Ele viu onze estrelas. Viu o sol e a lua. Viu que as estrelas, o sol e a lua se prostravam diante dele. A visão era extraordinária. Deslumbrava aquele que a via. Yussuf pensou que aquelas estrelas, o sol e a lua tinham sentimentos, e assim estavam prostradas diante dele. O sonho era maravilhoso. Yussuf estava atônito. Sentia que aqueles seres celestes sorriam para ele e o glorificavam. O sonho iluminou seu coração. Abalou suas emoções. Ele despertou. Porém, o sonho ainda controlava seus sentimentos. Seu coração, seu peito e seu ser estavam preenchidos com aquele sonho. As imagens das estrelas, do sol e da lua estavam ainda em sua mente, como se estivessem diante de seus olhos. O sonho dominava suas emoções, pois ele não sabia como expressá-lo. Estava confuso, sem saber como contá-lo. Ele foi a seu pai e disse: “Ó meu pai, vi onze estrelas, o sol e a lua., e vi que se prostravam diante de mim. Pai, eu vi que eles se reuniam e se prostravam a mim. Senti como se aqueles astros entendiam o que estavam fazendo. Senti que sorriam e se prostravam humildemente diante de mim.” Ya’qub ouviu atentamente o sonho de Yussuf. Ele compreendeu que Yussuf seria de grande importância no futuro. Disse carinhosamente para seu filho: “Ó meu filho, não conte sua visão para teus irmãos, a fim de que eles não conspirem contra ti. Em verdade Satã é um inimigo declarado do homem.”

E acrescentou: “Meu filho, não conte a teus irmãos sobre este sonho maravilhoso, eles o invejarão. Talvez Satã sussurre em seus ouvidos. Ó Yussuf ! Deus, o Exaltado escolheu a ti para anunciar sua missão. Meu filho, Deus o abençoará como abençoou nossos pais. Ele o abençoará como abençoou a Abraão, Isaac e a família de Ya’qub.”

A Conspiração

A inveja cresceu no espírito dos dez irmãos de Yussuf (A.S.). Suas más intenções contra ele também cresceram. Talvez, tenham ouvido sobre o sonho. Talvez sabiam que seu pai amava Yussuf mais do que a eles. Os irmãos de Yussuf se dirigiam aos campos de pastagem todos os dias para pastorear seu rebanho. Eles se perguntavam entre si: “Como poderemos nos livrar de Yussuf?” Satã sussurrou o mal a eles: “Levem Yussuf para os campos e se livrem dele.”

O plano se realizou desta maneira. Os dias passavam e eles demonstravam amor para com Yussuf. Sorriam para ele. Tentavam atraí-lo para que fosse brincar naqueles belos campos de pastagem. Yussuf era inocente e bondoso. Era tão puro como suas vestes brancas. Assim, ele acreditou em seus irmãos. Acreditou em seu falso amor e desejou ir com eles aos belos prados. Contudo, o Profeta Ya’qub temia pela segurança de seu filho. Tinha medo que seus irmãos o matassem. Portanto, ele não permitia que Yussuf os acompanhasse. Um dia, os dez irmãos voltaram dos campos de pastagem. Sorriram para Yussuf e disseram: “Que belos campos e prados são aqueles! Yussuf, por que tu não vens conosco?” Yussuf gostaria de acompanhá-los. Porém, ele era obediente à seu pai. Não fazia nada sem a permissão dele.

Os irmãos de Yussuf disseram: “Nós falaremos com nosso pai para que te deixes ir conosco.” Yussuf se alegrou com aquilo. Todos eles se sentaram para jantar em silêncio. Os dez irmãos trocaram olhares entre si. Eles traçavam um plano maligno como as aranhas tecem suas teias temíveis Primeiro, sorriram para Yussef e demonstraram amor a ele e em seguida perguntaram para Ya’qub: “Ó nosso pai, por que não confias em nós com respeito a Yussuf? Certamente somos sinceros com ele. Pai, nós amamos Yussuf. O amamos muito. Mande-o conosco amanhã que ele poderá se divertir e exercitar-se e certamente nós cuidaremos bem dele. Pai deixa que ele vá conosco para brincar nos campos. Nós zelaremos por ele e o traremos de volta em segurança.” Ya’qub não queria que Yussuf fosse com seus irmãos. Estava convicto de que eles o invejavam e que Satã os ludibriaria.

Porquanto, Ya’qub disse com tristeza: “Decerto que me angustia que o leveis e eu temo que um lobo o devore enquanto estejais desatentos.” “Meus filhos, eu amo Yussuf. Ele é ainda uma criança. Talvez vós fiqueis desatentos com ele. Há muitos lobos , temo que um o devore.” Os filhos disseram: “Somos dez. Como um lobo o devorará? Somos homens fortes, de modo que zelaremos bem dele. Decerto que se um lobo o devorar a despeito de sermos fortes, então seremos um grupo de fracassados.”

Então, os dez irmãos juraram que protegeriam Yussuf até que este retornasse em segurança.
Ya’qub ficou em silêncio. Não disse nada. Seus filhos entenderam que ele estava satisfeito com o decreto de Deus.

Homens iguais a lobos

A aurora rompeu. Os dez irmãos se aprontaram para ir aos campos distantes de pastagem e pradarias. Yussuf estava feliz em acompanhá-los. Eles sorriam para Yussuf. Assim, Yussuf os amava muito. Ele era como um anjo. Nada havia em seu coração senão amor, bondade e misericórdia. Seus irmãos reuniram seu rebanho e partiram. Eles chegaram aos campos de pastagem. Não podiam ver mais suas tendas. De modo que seu sorriso desapareceu. Desfez-se como o sal se desfaz na água. Yahudha se aproximou. Ele bateu severamente em Yussuf e gritou para ele : “Filho de Rahil, te apressa!” Yussuf ficou assustado com aquela atitude. Olhou para seu irmão com assombro. Pensou que ele estivesse brincando. Porém, seu irmão não estava brincando. Seus olhos faiscavam de maldade. Seus dentes estavam à mostra. Eram como os de um lobo. Yussuf estava com medo de seus irmãos. Ele caminhou rápido.

De repente, um outro irmão o golpeou e ele caiu de bruços. Então, olhou para o irmão que o tinha agredido. Era Sham’on que o havia golpeado. Yussuf disse com amargura: “sham’on , por que me bateste? Eu sou teu irmão. Sou filho de Ya’qub. Rawbin gritou para ele: “Fique calado! Não diga nada! Tú és filho de Rahil!” Yussuf pôs-se a chorar. Disse para seu irmão: “Sou teu irmão! sou Yussuf!” Seus irmãos o cercaram e gritaram: “Tu és nosso inimigo! Tu dominaste o coração de Ya’qub! Os olhos de seus irmãos brilhavam de maldade. Um deles sacou sua adaga para matá-lo. Yussuf correu, sem saber para onde ir. Eles o perseguiram e o agarraram. Começaram a surrá-lo. O nariz de Yussuf sangrava. Os dez irmãos entreolharam-se. Um deles disse: “O que esperais? Esta é uma boa oportunidade para nos livrarmos de Yussuf.” Um outro acrescentou: “O Levemos para um lugar distante. Os lobos o devorarão.” Um outro se opôs a isso, dizendo: “Talvez ele consiga voltar. E então nos desmascarar diante de nosso pai.” Sham’on disse: “Vamos levá-lo a estrada. Há um poço profundo. O lancemos dentro do poço. Ele morrerá . Se não morrer , os viajantes o tirarão do poço. Eles o venderão como escravo.” Todos os irmãos ouviram atentamente a Sham’on e concordaram com aquele plano vil.

Os dez irmãos eram tão selvagens quanto os lobos. Não conheciam coisa alguma senão a traição. Yussuf olhava para seus irmãos com assombro. Pensava que estava sonhando. Então disse para si mesmo: “Não , não é um sonho. É real. Meus irmãos conspiram contra mim há muito tempo.” Assim, os dez irmãos alcançaram seu objetivo. Eles o levaram para o deserto. Não queriam que ninguém os visse ou soubesse do que faziam a Yussuf. Yussuf olhou para o céu. E em seguida disse: “Meus irmãos não sabem que Allah os vê e conhece suas intenções?” Ele os ouviu dizerem: “Nós nos arrependeremos a Allah. Seremos boas pessoas.”

Yussuf no poço

Até aquele momento Yussuf não acreditava que seus irmãos o traíam. Porém, ele se viu na beira do poço. Portanto, percebeu que Satã tinha dominado seus corações. Seus irmãos eram como lobos. Eram impiedosos. Eles arrancaram sua manta , que seu pai havia dado a ele. Yussuf gritou: “Eu sou vosso irmão! Quero voltar para meu pai e minha mãe e para minha tenda ! Irmãos, eu vos amo! Sham’on, Rawbin, Yahudha , por que me jogarão dentro deste poço?” Yussuf chamava seus irmãos por seus nomes. Contudo, nenhum deles demonstrava clemência para com ele. Um deles começou a surrá-lo. Yussuf se desequilibrou na beira do poço, e então, caiu dentro dele. O ar dentro do poço era úmido. Só havia a escuridão. Yussuf olhou para a entrada do poço e viu a claridade do céu azul.

Sentiu seu coração repleto de luz. Um anjo disse a ele: “Yussuf, sejas paciente. Tu sairás do poço. Acusarás teus irmãos pelo que fizeram a ti.”

Yussuf ficou calmo, pois ele acreditava em Allah. Estava confiante de que Allah o estava testando. Portanto, se manteve perseverante. Esperava pelo resultado final. O silêncio dominou o lugar. Yussuf estava dentro do poço e se sentou sobre a pedra de onde a água saía. Ele olhava para o céu. Já escurecia. Pensou que seus irmãos já estavam voltando para casa. Chorou por seu pai e então adormeceu.

A Tristeza

O sol se pôs. Os dez irmãos ainda pensavam numa desculpa aceitável para dar a seu pai. Um deles disse: “A terra está cheia de lobos. Diremos que fomos trabalhar e deixamos nossa comida e água junto a Yussuf. Um lobo se aproximou e o devorou. Devemos manchar a manta de Yussuf com sangue e entregá-la a nosso pai.”

Naquele dia uma ovelha tinha dado a luz a um cordeirinho. Eles o mataram sem piedade diante de sua mãe. Mancharam a manta de Yussuf com o sangue do cordeiro. Em seguida, rumaram para casa.

A escuridão cobriu a terra. Eles queriam chegar em casa na escuridão da noite de modo a que seu pai não visse as marcas da mentira em suas faces. O Profeta Ya’qub permanecia na tenda esperando pela volta de seus filhos. À distância, ele ouviu o rebanho balindo e seus filhos chorando. Pouco a pouco, seus filhos apareceram. Yussuf não estava com eles. Todos chegaram , menos Yussuf. Ya’qub ouviu-os lamentando alto, sem lágrimas. Ele perguntou a seus filhos: “Onde está vosso irmão?” Eles continuavam chorando. Sham’on entregou a ele a manta de Yussuf manchada de sangue. Então disse para seu pai: “Nós fomos trabalhar e deixamos nossa comida e água junto a Yussuf . Um lobo veio e o devorou. Encontramos sua manta manchada de sangue. Pai, o lobo o devorou enquanto estávamos desatentos.” Ya’qub olhou para a manta. Ela estava intacta. Não havia nenhum rasgo nela. Ya’qub percebeu que seus filhos eram mentirosos. Ele chorou e disse: “O lobo foi gentil com meu filho. Devorou meu querido Yussuf mas não rasgou sua manta.” Os irmãos se entreolharam. E disseram entre si: “Como somos estúpidos! Por que não atentamos para isso ? Se tivéssemos rasgado a manta , nosso pai teria acreditado em nós!” Eles não admitiram seu crime. Ao invés disso, disseram: “Pai, por que não acredita em nós? Sabeis que jamais contamos mentiras. O Lobo devorou Yussuf. Eis a manta de Yussuf manchada de sangue.”Ya’qub chorava. As lágrimas vertiam de seus olhos.

Então, ele disse: “Não, vossas almas iluminaram a questão para vós, mas a paciência é algo bom e Allah é aquele em que o auxílio é buscado contra o que descreveis.” E disse ainda: “Serei paciente. Suportarei. Sei que vossas almas sussurraram o mal para vós.” Naquela noite, O Profeta Ya’qub não dormiu. Perguntava a si mesmo: “Onde estará Yussuf? Onde estará meu filho obediente?” O longo período de tristeza de Ya’qub começou naquela noite.

Uma pérola no Poço

Allah, o Exaltado, não deixou Yussuf sozinho. Ele ajuda a todos. Yussuf estava triste. Porém, era paciente. Acreditava firmemente que Allah o estava testando. Porquanto, olhava para o céu e louvava a Allah. Yussuf sonhou que onze estrelas, o sol e a lua entravam no poço. De modo que este se encontrava cheio de luz. Yussuf viu aqueles astros sorrindo e se prostrando para ele.

Yussuf despertou e olhou para o céu azul. Viu alguns pássaros brancos voando bem alto. Então irrompeu em lágrimas por seu pai. Três dias se passaram. Yussuf ainda estava no poço. Era como uma pérola num mar profundo. Como uma pérola na escuridão. Ninguém sabia que havia a mais bela pérola no fundo de um poço. A alma de Yussuf. Yussuf era um jovem belo e puro, ninguém sabia disso, senão Allah. Por esta razão sua alma era transparente e pura. Como as asas daqueles pássaros brancos emigrando.

A Caravana

Yussuf passou três dias no poço. Não ouviu nada, exceto o uivo dos lobos que perambulavam no deserto. De repente, ele escutou estranhos ruídos. Procurou ouvir atentamente aquilo. E disse consigo: “Sim, é uma caravana de comerciantes.“Concluiu isso do barulho das patas de camelos e as vozes dos homens. A caravana se deteve perto do poço. Os mercadores mandaram seu carregador de água ao poço. O carregador de água atirou seu balde no poço. Yussuf estava aguardando por este momento quando viu a corda do balde, ele ficou cheio de entusiasmo. Supôs que a corda o salvaria do poço. Assim ele a agarrou firme. Allah não esqueceu de seu servo, portanto, salvou-o da escuridão do poço. Yussuf saiu do poço como uma pérola sairia da ostra. Ele iluminou o lugar quando subiu através da escuridão.O carregador de água não teve medo quando o viu. Ele gritou: “Boas novas! Eis um jovem!” Os mercadores acharam que Yussuf fosse um escravo e que tivesse fugido e caído no poço. Em virtude disso, não o inquiriram sobre sua tribo, sua origem e história. O enumeraram como uma das mercadorias que venderiam no Egito.

O Egito

A caravana continuou sua jornada ao Egito. Depois de doze dias, lá chegaram. Neste ponto, se inicia um novo capítulo na história de Yussuf. Yussuf estava então no Egito, onde o Rio Nilo corre. Yussuf era ainda um menino. Estava entre as mercadorias à venda no Egito. Allah desejava testá-lo naquela terra. Yussuf aprendia em silêncio. Contudo, seu coração estava cheio de amor. Ele amava Allah, pois o Glorioso, era bondoso com ele. Os mercadores receavam o silêncio de Yussuf. Diziam entre si: “Se ele contar que não é um escravo, seremos desmascarados.” Porquanto, queriam vendê-lo a um preço baixo.

Yussuf se encontrava numa nova terra. Ele nunca tinha estado ali antes. Viu o rio Nilo vindo do sul e os barcos flutuando em suas águas. Viu os agricultores retirando água com seus baldes para abastecer seus sítios.

Os mercadores exibiam sua madeira e sua prata. Eles também exibiam Yussuf. Queriam vendê-lo a um preço baixo. Naquele dia, o comandante chefe das forças de segurança do Egito chegou ali. Ele mesmo fiscalizava a caravana. O comandante viu Yussuf e perguntou aos mercadores: “Quem é este belo jovem?” “Ele está à venda” responderam. “Quanto devo pagar por ele?” perguntou o Comandante. “Nós o venderemos por vinte dirhams.” O Comandante pagou a eles os vinte dirhams e levou Yussuf embora. Yussuf então viveria num vasto palácio. Belos jardins rodeavam o palácio do Comandante chefe do Egito.Yussuf entrou no palácio e viu uma bela mulher, soube que aquela era a esposa do Comandante. Ela era a dona daquele magnífico palácio. O Comandante disse para sua esposa: “Dê a ele uma aposento digno. É um bom jovem. Talvez nos seja útil, ou podemos adotá-lo como filho. Não temos nenhum filho. Portanto podemos adotar Yussuf.”

Zulaykha olhou para Yussuf. Ele era um jovem belíssimo. Sua face brilhava e seus olhos eram límpidos. Era como um anjo que descera do céu. Naquele dia Yussuf se banhou e vestiu uma roupa nova. Suas vestes eram feitas de linho. Eram mais finas do que seda. Os egípcios naquela época cultivavam o linho e faziam roupas com isso. Yussuf vivia como um senhor no palácio. Porém, a lei do país o considerava um escravo do Comandante e de sua esposa. Já que eram donos dele.

Yussuf vivia num dos magníficos palácios no Egito. Yussuf era feliz em sua nova vida? Não. Tinha saudades de seu pai e daqueles campos de pastagem. Ali ele vivia uma vida tranqüila. Adorava a Allah, o Deus Único, não associava nada nem ninguém a Ele. Quanto ao povo do Egito, cultuavam ídolos e o Faraó. Entretanto, Yussuf levava uma vida de perseverança e fé. Acreditava em Allah e em seus Profetas Abraão, Isaac e Ya’qub. A fé de Yussuf aumentava dia a dia. Seus olhos se tornavam mais claros. Todos gostavam dele. Amavam sua pureza, sua hombridade e sua moral. Ele também amava as pessoas. Praticava o bem para elas. Ajudava os pobres. Quando via um camponês exausto, ele o auxiliava. Quando via um velho trabalhador, também o auxiliava. Assim era a vida de Yussuf. Ele crescia ano a ano. Sua alma se desenvolvia dia a dia. Seu coração crescia, cheio de misericórdia e bondade. Os anos passaram. Yussuf completou dezoito anos. A verdade iluminava seu coração. Ele a sentia em seu cotidiano. A verdade se tornava brilhante como o sol e as estrelas. Yussuf acreditava em Allah e o adorava. Era um jovem temente.

A Difícil Prova

Yussuf estava então na flor de sua juventude. Vivia num magnífico palácio. Porém, todas aquelas coisas não corrompiam sua alma. Sua alma permanecia tão alva como as asas de pombos brancos. No magnífico palácio a prova de Yussuf começou. Todas as pessoas o amavam e a prova começou desse amor. Yussuf vivia naquele magnífico palácio. A dona era uma bela mulher. Seu nome era Zulaykha. Zulaykha amava Yussuf. Ela o adorava. Não amava sua pureza de alma. Ao contrário, amava sua beleza. Por isso, desejava possuí-lo. Yussuf era cheio de esperança na vida. Zulaykha sempre pensava nele, ao ponto de que “ele a afetava profundamente com seu amor.” Ela o olhava com amor. Porém, o tratava como um humilde prisioneiro de guerra. Zulaykha se aproximava de Yussuf, mas ele fugia dela. Yussuf não queria corromper sua alma. Desejava que sua alma fosse pura como as gotas de orvalho. Desejava que fosse tão branca como as asas dos pombos. A prova de Yussuf começou deste modo. Zulaykha queria que ele cometesse um ato abominável. Queria que ele quebrasse a promessa que tinha feito a seu Senhor e que corrompesse sua alma. Contudo, Yussuf queria que ela fosse fiel, pura e casta. Porquanto, Yussuf fugia de Zulaykha. Fugia do pecado. Quanto a Zulaikha, estava apaixonada por Yussuf. Assim, pensava numa maneira de faze-lo submeter-se a ela.

Um dia, não havia ninguém no palácio exceto Zulaykha e Yussuf. Zulaykha aguardava por esta oportunidade. Enquanto Yussuf cumpria alguma de suas tarefas, Zulaykha trancou as portas do palácio e disse a ele: “Aproxima-te!” Yussuf entendeu o que Zulaykha queria. Portanto, disse a ela com dureza: “Busco refúgio em Allah! Em verdade, meu Senhor tornou boa minha estadia.” Entretanto, a paixão movia Zulaykha. Ela queria força-lo a se aproximar dela. Yussuf, a seu turno, buscava evitar isso. Ele fugiu através dos corredores do palácio. Pouco a pouco Yussuf se acalmou. Estava confuso, sem saber como se abster daquela provação. Zulaykha, por sua vez, achava que ele se submeteria a seu desejo. Ela olhou para um ídolo. Estava envergonhada de si mesma. Assim, ela cobriu a face do ídolo com um pano. Quando Yussuf a viu fazendo aquilo, perguntou: “O que estás fazendo?” Zulaykha respondeu: “Estou envergonhada diante de meu deus. Não quero que ele me veja nesta situação.” Yussuf a repreendeu dizendo: “Estás envergonhada de um ídolo que nada compreende? Então, por que eu não me sentiria envergonhado diante de Meu Senhor, que me criou e me honrou?” Yussuf disse isso e tentou fugir em direção à porta. Porém, Zulaykha o perseguiu, ela agarrou sua veste e rasgou-a. Yussuf conseguiu abrir a porta. Naquele momento viu o marido de Zulaykha diante dele. Zulaykha estava irada. Queria que seu marido castigasse Yussuf severamente. Ela disse: “Qual é a punição para aquele que tenciona o mal para tua esposa , senão a prisão e uma dolorosa tortura?” Yussuf queria se defender, portanto, disse: “Ela queria me seduzir!” O Comandante estava perplexo, sem saber o que fazer. Então, se perguntou: “Quem estará falando a verdade, Yussuf ou Zulaykha?” O primo de Zulaykha o acompanhava . Ele disse ao Comandante: “Atenta para as vestes de Yussuf. Se o rasgo em suas vestes for na frente, então Zulaykha está falando a verdade. Se o rasgo for nas costas então é Yussuf quem está falando a verdade.”

O Comandante chefe verificou as vestes de Yussuf. Viu que o rasgo que estava atrás. Ele compreendeu a verdade. Então, voltou para sua esposa e disse: “Em verdade é um ardil de mulheres, pois que são muitos!” Em seguida, disse a Yussuf: “Yussuf, esqueça isso.” Então, ordenou a sua esposa a que pedisse perdão a deus, dizendo: “Peça perdão por teu erro.”

Tudo tinha acabado. Yussuf e Zulaykha continuaram sua vida costumeira. Porém, Zulaykha continuou importunando Yussuf. Ela o ameaçava, dizendo: “Se não atenderes o que desejo eu o torturarei e o aprisionarei!” Ela sempre pensava em Yussuf. Se recusava a encontrar outro senão ele. Suas amigas na cidade não a viam. As mulheres da cidade ouviram sobre o ocorrido. Elas perguntavam-se: “Por que Zulaykha se apaixonou por seu servo? Ela não é a mais destacada das mulheres do país?”

O Anjo

Zulaykha tinha ouvido sobre o que estava acontecendo na cidade. Ouviu que as mulheres estavam zombando dela. Assim, pensou em algo para silenciá-las. Zulaykha convidou suas amigas e elas prontamente aceitaram seu convite e vieram até sua magnífica mansão. Zulaykha tinha preparado uma excelente recepção para elas. As mulheres se sentaram em silêncio diante dela. Os servos vinham carregando travessas de frutas. Conversas se travavam. Então, Zulaykha pediu a elas que se servissem. Todas as mulheres pegaram facas para descascarem as frutas. Estavam elas ocupadas conversando com Zulaykha. Tinham esquecido o porque de estarem ali. Neste instante, Zulaykha ordenou a seus servos para que chamassem Yussuf. Yussuf obedeceu sua Senhora e veio. Ele trajava uma bela roupa. Quando Yussuf chegou, iluminou o lugar. Ele parou de pé diante de sua Senhora. Naquele momento, Yussuf parecia um anjo. Sua face brilhava. As mulheres olharam para ele e admiraram sua beleza.

A beleza de Yussuf era atraente. Portanto, as mulheres o admiraram. Ficaram distraídas, assim, cortaram seus dedos com suas facas. Yussuf encantou-as com sua beleza. As mulheres disseram em voz alta: “Glória a Deus! Este não é um mortal, é um anjo nobre.” Yussuf viu atônito o olhar das mulheres sobre ele. Sua prova se tornou maior quando ouviu Zulaykha dizer: “Eis aquele por causa do qual me censuráveis e eis que tentei seduzi-lo e ele resistiu. Porém, se não fizer tudo quanto lhe ordenei, juro que será encarcerado e será um dos vilipendiados.”

Não havia nada diante de Yussuf senão duas alternativas: o caminho de Satã ou o da prisão.Yussuf olhou para o céu e disse: “Ó Senhor meu, é preferível o cárcere ao que me incitam.”

Yussuf preferia a prisão e a tortura do que uma vida de corrupção. Por causa disso, pedia a Allah para salvá-lo da malícia de Satã: “Se não afastares de mim as suas conspirações , cederei a elas e serei um dos ignorantes.”

As luzes celestes brilhavam no coração de Yussuf. Assim, ele não se prontificava a ouvir os sussurros de Satã. Preferia a prisão e a tortura à isso. Allah, o Exaltado, atendeu as preces de Yussuf.

O Comandante das forças de segurança do Egito disse: “Devo aprisionar Yussuf por um certo tempo a fim de cessar os comentários.” Yussuf foi aprisionado sem ter incorrido em qualquer erro. O carcereiro percebeu as qualidades e a moral de Yussuf e disse: “Gosto de ti, Yussuf. És um bom rapaz. É um ato de opressão terem te aprisionado.” As palavras do carcereiro comoveram Yussuf. Ele disse ao homem: “Irmão, não desejo que ninguém goste de mim, senão Allah, pois este tipo de amor causou-me muitos dissabores. Minha tia gostava de mim e me acusou de roubo. Meu pai me amava e meus irmãos invejaram-me e me atiraram num poço. A esposa do Comandante me amou e ordenou a minha prisão.”

Na Cadeia

Yussuf encontrava-se na prisão. Os dias e os meses se passaram. Yussuf ainda continuava preso. Ele suportava toda aquela tortura por ser puro. Dois homens foram aprisionados. Eram dois escravos do Faraó. O Faraó se zangou com eles e ordenou que fossem presos. A moral e as qualidades de Yussuf fizeram com que se tornassem seus amigos. Yussuf inquiriu-os sobre seu trabalho. Um deles respondeu: “Eu cuidava dos vinhos do Faraó e o servia.” O outro disse: “Eu sou o cozinheiro do Faraó.” Em seguida, ambos perguntaram a Yussuf sobre o seu trabalho e ele respondeu: “Eu interpreto sonhos.” Os dias se passaram. Muitas pessoas estavam na prisão. Yussuf era atencioso e bondoso com todos. Ele também cuidava da alimentação e dos leitos daquelas pessoas. Os prisioneiros sabiam que Yussuf os amava e era atencioso com eles.

Uma noite, todos dormiam. O zelador dos vinhos do Faraó sonhou que estava espremendo uvas (para o vinho). O cozinheiro por sua vez, sonhou que estava carregando um cesto de pão sobre a cabeça e que o pão era comido por pássaros. Pela manhã, quando despertaram, eles relataram seus sonhos um para o outro. Porém, não foram capazes de interpretar seus sonhos. Assim, decidiram perguntar a Yussuf sobre aquilo. O primeiro deles disse: “Sonhei que estava espremendo uvas.” O segundo disse: “Eu me vi carregando um cesto de pão em minha cabeça, do qual os pássaros comiam. Informa-nos da interpretação disso. Em verdade, vemos que tu és um dos benfeitores.” Allah, o Exaltado, concedeu a Yussuf uma maravilhosa habilidade de interpretar sonhos. Yussuf entendeu o significado daqueles sonhos e interpretou-os como se fossem a realidade.

Yussuf Propagando a Missão Divina

Yussuf aproveitou a oportunidade para convocar os dois prisioneiros a adoração de Allah, o Deus Único. Ele desejava que tivessem absoluta confiança nele, de modo que disse: “Eu conheço todas as coisas , mesmo a comida que os carcereiros trazem a vós. Allah deu-me o conhecimento. Isto porque desprezei o culto dos pagãos e me fiz servo de Allah, o Deus Único. Seguí a religião de meus pais- Abraão, Isaaq e Ya’qub. Tal é a graça de Allah sobre nós, assim como para os humanos, porém, a maioria dos humanos não lhe agradece.”

Os dois prisioneiros ouviam atentamente as sábias palavras de Yussuf. Então, Yussuf perguntou a eles: “Ó meus companheiros de prisão, que é preferível: servir a divindades discrepantes ou ao Deus Único, o Irresistível? E acrescentou: “Não adorais a Ele, mas a nomes que inventastes, vós e vossos pais, para o que Allah não vos investiu de autoridade alguma. O juízo só pertence a Allah, que vos ordenou não adorar senão a Ele. Tal é a verdadeira religião.” Yussuf manteve-se em silêncio por alguns momentos e então disse: “Ó meus companheiros de prisão, um de vós servirá vinho a seu rei e o outro será crucificado e os pássaros picar-lhe-ão a cabeça.” Aquele que tinha sonhado com pássaros comendo o pão no cesto sobre sua cabeça ficou com medo, e disse : “Eu não sonhei nada. Eu menti.” “Já está decretada a questão sobre a qual me consultastes” explicou Yussuf.

Então, Yussuf se voltou para o cuidador dos vinhos do Faraó e disse: “Lembra-te de mim ante teu Soberano.” No dia seguinte, o carcereiro veio e levou os dois prisioneiros. O cuidador de vinhos voltou ao Faráo e continuou seu trabalho. Quanto ao cozinheiro, foi crucificado. O cuidador dos vinhos do Faraó disse para Yussuf: “Mencionarei teu nome ao Faraó. Contarei a ele que tu foste injustiçado e aprisionado sem culpa.” Todavia, esqueceu sua promessa. Por esta razão, Yussuf permaneceu na prisão por muitos anos. Ele suportou aquele longo tempo de aprisionamento com paciência e fé. Confiava que Allah não o esqueceria.

O Sonho do Faraó

Numa noite o Faraó se recolheu para dormir. Ele teve um sonho estranho. Ele viu sete vacas gordas pastando em campos verdejantes junto à margem de um rio. De repente, surgiram sete vacas magras. Elas se aproximaram das vacas gordas e as devoraram. O Faraó acordou assustado com o sonho. Em seguida, adormeceu de novo e tornou a sonhar. Ele viu sete espigas verdes e cheias de grãos. Ao lado, sete espigas secas e sem grãos. Estas devoravam as primeiras. O Faraó voltou a despertar. O sonho o deixou preocupado. Ele mandou chamar seus ministros. Então, realizou uma reunião com eles. O Faraó contou sobre seu estranho sonho. Contou sobre as sete vacas magras que surgiam e devoravam as vacas gordas, e sobre as espigas vazias e secas que engoliam as sete espigas verdes. Os ministros pensaram sobre o significado do sonho do Faraó, porém, todos seus esforços foram inúteis. O homem que cuidava do vinho estava enchendo os copos. Os ministros disseram ao Faraó: “São sonhos confusos e sem sentido.” Quando o viram aflito, disseram: “Não sabemos como interpretá-los.” De repente, enquanto o Faraó procurava por uma interpretação para seu sonho, o homem que cuidava do vinho disse: “Eu vos informarei quanto o significado deste sonho, enviai-me”. O Faraó ficou surpreso com o seu servo. Contudo, este contou ao Faraó o que tinha acontecido a ele alguns anos antes. Disse: “Eu e meu amigo, o cozinheiro, estávamos na prisão. Tivemos sonhos estranhos. Relatamos estes sonhos a Yussuf. Yussuf interpretou-os e sua interpretação se cumpriu”. O Faraó enviou seu servo a Yussuf.

A Crise Econômica

O servo foi à prisão. Encontrou Yussuf e lhe disse: “Yussuf, veraz, interpreta-me o sonho do Faraó. Ele viu sete vacas magras devorando sete vacas gordas. Viu sete espigas verdes e sete outras secas.Yussuf, interpreta-me este sonho. Então, retornarei ao Faraó e seu conselho de ministros. De maneira que conhecerão tua posição e veracidade.”

Yussuf viu os fatos claramente. Allah o tinha agraciado com o dom da interpretação dos sonhos. Avisando-os de uma futura crise econômica, Yussuf disse: “Semeareis durante sete anos. E do que colherdes deixai ficar tudo em espigas, exceto o pouco que deveis consumir. Então, virão, depois disso, sete anos estéreis, que consumirão o que tiverdes colhido para isso, menos o pouco que tiverdes poupado. Depois disso virá um ano no qual as pessoas serão favorecidas com chuvas , em que espremerão (os frutos).”

O servo partiu levando a mensagem de Yussuf ao Faraó e a seus ministros. O servo se apresentou diante do Faraó e relatou as palavras de Yussuf em detalhes. O Faraó ficou surpreso, e disse para si mesmo: “Isso significa que o Nilo transbordará por sete anos (de chuvas). Então, não choverá por sete anos. O nível das águas no Nilo cairá, de maneira que haverá fome.” Yussuf interpretou o sonho e ofereceu um plano econômico, quando disse a eles: “Semeareis durante sete anos. Guardai vossa colheita em armazéns. Economizai vosso alimento. Quando os anos de seca chegarem ao fim, virá um ano abençoado com chuva e prosperidade.”

O Faraó compreendeu que tinha um homem com muitas habilidades. Seu nome era Yussuf. O que sofreu na prisão por muitos anos. Porquanto, o Faraó ordenou que se libertasse Yussuf, dizendo: “Trazei Yussuf a mim.” O servo do Faraó foi a prisão para libertar Yussuf. Yussuf ficou contente com a libertação? Não. Ele se recusava a deixar a prisão. Disse ao servo do Faraó: “Volta a teu amo e dize-lhe que se inteire sobre a intenção das mulheres que haviam ferido as mãos. Meu amo é conhecedor de suas conspirações.”

O Faraó retornou ao Faraó e contou sobre a atitude de Yussuf, dizendo: “Yussuf não deixará a prisão até que afirmeis sua inocência. Disse ele: “que o Faraó inquira as mulheres da razão pela qual feriram suas mãos. O Comandante chefe sabe que sou inocente.”

O Faraó intimou as mulheres. A esposa do Comandante estava entre elas. O Faraó perguntou: “Por que tentaram Yussuf?” Todas elas responderam: “Valha-nos Deus! Não cometeu delito algum que saibamos. É inocente de todas as acusações e é puro como as gotas de orvalho.” A própria Zulaykha confirmou a inocência de Yussuf, dizendo: “Agora a verdade se evidenciou. Eu tentei seduzi-lo. Ele é, certamente, um dos verazes.”

O Faraó admirou a honestidade, a paciência e a sabedoria de Yussuf. Porquanto, ordenou: “Tragam-no a mim , eu o escolherei como um dos meus.” A inocência de Yussuf era tão clara como a luz do dia. Portanto, o Faraó ordenou sua libertação. Yussuf se apresentou ao Faraó. Eles conversaram e o Faraó se admirou com sua vasta sabedoria. Então, o Faraó disse a Yussuf: “Em verdade és em nossa presença um homem honrado e fiel.” Yussuf se tornou um grande personagem no Egito. Porém, pensava numa coisa apenas: tinha que salvar o Egito do iminente desastre econômico. Assim, ele disse ao Faraó: “Invista-me de autoridade sobre os armazéns do país, que eu serei um bom guardião.” Yussuf desejava administrar as atividades agrícolas e de irrigação, estocar as colheitas para preparar o país para os anos de seca e fome. Imediatamente o Faraó aceitou a sugestão de Yussuf. Ele se tornou um oficial do estado no Egito.

Yussuf foi paciente. Suportou todas as dificuldades. Acreditou em Allah, de modo que seu coração era puro e cheio de fé. Allah, o Exaltado, teve misericórdia dele. Salvou-o do poço, do extravio e da prisão. Então ele se tornou um oficial de estado no grande país do Egito.

A Agricultura

Allah agraciou o país do Egito com o Rio Nilo. Na antiguidade, o povo dependia do Nilo para irrigar seus campos e sítios de um modo primitivo. Yussuf, o veracíssimo (A.S.), assumiu seu cargo de poder. Ele desenvolveu um método de irrigação e agricultura que se tornou proeminente. O povo naquela época utilizava baldes para irrigar seus campos. Quando Yussuf assumiu seu cargo, ordenou que se construíssem diques nas margens do rio. Quando o Nilo transbordava, os diques se enchiam de água. Em seguida, Yussuf ordenou que se fizessem canais através das terras a fim de levar a água para os campos. A agricultura floresceu e a produção aumentou. Por sete anos, o povo egípcio semeou, colheu e armazenou grãos. Aqueles anos foram bons, abençoados e prósperos.

Os Anos de Seca

Os anos de seca começaram. Não choveu naquele ano. O Nilo não transbordou. As plantações secaram. Os campos perderam sua vegetação. O ano seguinte veio. A água do Nilo minguava. A seca dominou o Egito e os países vizinhos. O povo do Egito amava Yussuf, pois ele salvou-os daqueles anos de seca e fome. Seus armazéns estavam cheios de víveres. Yussuf, o bondoso e afetuoso, alimentava os famintos. Dividia o que havia armazenado igualmente entre o povo. Graças a Yussuf o Egito superou a crise econômica com sucesso. Yussuf não negava que Allah o tinha favorecido. O Egito e muitas outras áreas sofreram com a seca. O povo vinha para comprar sementes do Egito. Yussuf, investido de poder, fornecia-lhes o que precisavam. Todos deixavam o Egito carregando trigo e outros produtos alimentícios. Eles admiravam Yussuf. Durante os dias de Yussuf, como autoridade no país, o Egito foi cheio de bondade. O povo vinha ao Egito de todos os lugares. Yussuf os recebia calorosamente. Não era egocêntrico em seu trabalho e no exercício do poder. Era humilde. Recebia as pessoas com um sorriso. Preparava acomodações para os viajantes que vinham de lugares distantes.

A Caravana da Palestina

Um dia uma caravana da Palestina chegou ao Egito. A caravana tinha dez irmãos. Eles também vinham comprar trigo. Não tinham senão algumas moedas de prata. Os dez irmãos vieram a Yussuf. Eles se inclinaram diante dele e em seguida se colocaram de pé. Yussuf se levantou, olhou para eles e os saudou. Yussuf os reconheceu. Percebeu que eram seus irmãos. Lembrou que eles o invejaram e quiseram matá-lo. Lembrou que o haviam atirado num poço no deserto. Seus dez irmãos não o reconheceram. Ele tinha se tornado adulto. Tinha então trinta anos. Eles tinham arrancado sua manta e o atirado num poço. Porém, Allah não tinha desamparado seu servo sincero, Yussuf. Yussuf, era agora um homem poderoso do Egito. Trajava um uniforme real. Guardas e soldados o rodeavam. Em sua mão estavam as chaves dos armazéns cheios de trigo.

O que faria Yussuf? Mandaria embora seus dez irmãos? Os castigaria? A resposta é não. Por que não fez isso? Não fez isso porque seu coração era cheio de fé. Seu coração não tinha nada, exceto bondade e amor. Yussuf era um Profeta. Desejava instruir a moral das pessoas. Desejava guiá-las a crença em Allah.

Yussuf recebeu seus dez irmãos calorosamente. Acomodou-os nos aposentos para os viajantes. Aceitou suas mercadorias e forneceu-lhes trigo. Assim, eles gostaram muito dele.

Yussuf encheu para eles sacos de trigo. Tratou-os de modo afetuoso. Inquiriu-os sobre sua terra natal. Perguntou também quantos eram. Eles o informaram sobre tudo. E disseram:

“Ya’qub é um dos filhos de Abraão. Somos doze irmãos. Um de nós morreu. Seu nome era Yussuf. Um lobo o devorou.” “Onde está vosso outro irmão?” Perguntou Yussuf. “Nosso pai não o enviou conosco.” responderam. “Por que?” perguntou Yussuf. “Porque enviou Yussuf conosco e um lobo o devorou.” responderam, “portanto, não enviou Benjamin conosco. Ele teme por sua vida como temia pela vida de Yussuf.”

Yussuf recepcionou seus irmãos. Contudo, não deixou que o reconhecessem. Não disse nada sobre si mesmo. Yussuf perguntou a eles sobre sua terra natal. Contaram que seu pai, Ya’qub, estava triste. Que chorou por Yussuf até perder a visão. Contaram que os olhos de seu pai tornaram-se brancos em razão de sua tristeza. Que amava Yussuf, que um lobo havia devorado vinte anos antes. Yussuf ordenou a seus assistentes para que enchessem sacos de trigo para seus irmãos. Quanto a ele, se dirigiu a um lugar afastado entre árvores e começou a chorar. Chorou por seus pais e por seu irmão Benjamin. Tinha saudades deles.

A Devolução

Yussuf foi então supervisionar o fornecimento de trigo a seus irmãos. Ele ordenou aos encarregados da distribuição de trigo que pusessem secretamente moedas de prata nos sacos de trigo de seus irmãos. Yussuf compreendia que seus irmãos levavam uma vida difícil. Ele devolveu seus dirhams e não lhes informou sobre isso. Yussuf veio para se despedir deles. E então perguntou: “Estais satisfeitos com a medida ?” “Sim, estamos,” responderam. Em seguida, Yussuf solicitou: “Quando voltardes ao Egito, trazei vosso irmão Benjamin. Quando o fizerdes, adicionaremos uma medida a vossa parte. Se não o fizerdes, não volteis ao Egito.” Um deles disse: “Faremos o que pudermos para persuadir nosso pai a permitir que ele nos acompanhe.”

Os dez irmãos de Yussuf retornaram a terra de al-Khalil. Contaram a seu pai sobre o que havia acontecido. Disseram a ele: “O Governador do Egito (Yussuf) não nos fornecerá trigo se não levarmos Benjamin conosco.” Ya’qub disse: “Eu não posso confiar em vós com respeito a ele senão como confiei quanto a seu irmão, mas Allah é o Melhor Guardião e é O Misericordioso.” Ya’qub chorou. Lembrou de Yussuf, que estava desaparecido por vinte anos. Quando os dez irmãos abriram seus fardos, encontraram seu dinheiro dentro deles. Eles ficaram muito contentes. Voltaram a seu pai para informá-lo daquela boa notícia, dizendo: “Pai, podemos pedir mais do que isso? Nosso dinheiro nos foi devolvido com o trigo. Portanto, envia nosso irmão conosco para trazer trigo para a nossa família. Nós cuidaremos dele e teremos uma medida adicional de um camelo de carga.” Ya’qub respondeu: “Eu não o enviarei convosco até que tenha de vós um firme compromisso em nome de Allah que o trareis a salvo, a menos que sejam impedidos disso.” Os dez irmãos prometeram (em nome de Allah) a seu pai que cuidariam de Benjamin.

Os Temores de Ya’qub

Os dez irmãos e Benjamin se prepararam para viajar ao Egito. Ya’qub veio se despedir deles. E então os instruiu: “Filhos, não entreis no Egito pela mesma Porta. Adentreis por portas diferentes. Temo que o povo vos inveje. Contudo, nada ocorrerá a vós contra a Vontade de Allah, o Altíssimo.” Ya’qub temia que o povo invejasse seus onze filhos. Achava que algo poderia acontecer e os separar. Porém, sabia que a vontade de Allah estava sobre todas as coisas. Assim, disse: “O Julgamento pertence apenas a Allah. Somente Nele confio. E que a Ele se encomendem os que Nele confiam.”

Os onze irmãos partiram. Cruzaram o deserto para chegar ao Egito. Depois de doze dias, alcançaram um lugar próximo aquele país. Daquele ponto decidiram entrar no Egito dois a dois por diferentes pórticos. Eles eram onze. Quem entraria sozinho? Benjamin iria sozinho. Por isso, ele ficou triste.

A Verdade

Benjamin gostou do Chefe do Egito (Yussuf). Não sabia porque, mas gostava dele. Ele o achou cheio de bondade, misericórdia e gentileza. Yussuf perguntou a Benjamin: “Se tu encontrastes teu irmão , o reconhecerias ?” “Talvez reconheceria seus traços,” respondeu Benjamin.

Yussuf queria deixá-lo satisfeito, assim disse a ele: “Benjamin , ouça com atenção. Seus irmãos invejavam a Yussuf. Eles o levaram ao deserto e o atiraram num poço. Yussuf ainda está vivo. Ele suportou muitos sofrimentos. Decerto Allah não retém a recompensa dos pacientes. Eu sou o teu irmão. Allah me favoreceu e fez de mim o Chefe do Egito.”

Benjamin não podia tolerar aquela situação. Ele esfregou seus olhos. Era como se estivesse dormindo. Então ele olhou com atenção para os traços de Yussuf. E o reconheceu. Ele abraçou-o e em seguida chorou. Yussuf também chorou e disse a seu irmão Benjamin: “Benjamin, não conte a seus irmãos sobre mim. Eu farei tudo para que tu permaneças no Egito. Porei em prática um plano , portanto, não fique triste por conta disso.”

O Plano

Os dez irmãos entraram no Egito e foram até o Chefe (Yussuf) e lhe disseram: “Nosso pai nos pediu para tomar conta de Benjamin, e nós prometemos isso a ele.”

Yussuf ordenou aos seus trabalhadores que preenchessem a carga de seus irmãos com trigo. Ele próprio supervisionou o trabalho. Os trabalhadores estavam ocupados fazendo o carregamento e os irmãos estavam ocupados preparando seus camelos.

Yussuf se aproximou do camelo de Benjamin e pôs uma cara taça de prata dentro de sua bolsa, e a cobriu com trigo.

Yussuf fez este plano para que Benjamin ficasse no Egito.

A caravana seguiu para a Palestina. E adistância os viajantes ouviram um grito: “Parem! Seus ladrões!”

Os irmãos estavam surpresos exceto Benjamin, pois ele conhecia o plano. Todos os irmãos voltaram e estavam surpresos.

O guarda disse: “A taça do rei foi levada. Quem trazê-la terá uma carga extra.”

Os irmãos juraram que não tinham furtado coisa alguma. E disseram: “Por Allah, bem sabemos que não viemos para corromper a terra (egípcia) e que não somos ladrões! Viemos para comprar trigo para nossa família!”

Alguém (da guarda) perguntou: “Revistaremos vossos fardos, se encontrarmos um ladrão, como o puniremos ?” Responderam: : “Que o ladrão seja escravizado!” “Bem, procuraremos em vossos fardos” os guardas disseram. O próprio Yussuf veio e revistou seu fardos. Primeiro, revistou os fardos dos dez irmãos e depois o fardo de Benjamin. Ele pôs a mão dentro do fardo de trigo e retirou a ânfora Real. Os irmãos ficaram surpresos ao ver aquilo. Quanto a Benjamin, olhou para a ânfora em silêncio e com tristeza. Yussuf perguntou-lhes: “Então, o que acham?” Olhando com raiva para Benjamin, os dez irmãos responderam: “Seu irmão também era um ladrão.” Yussuf sentiu-se triste. Percebeu que seus irmãos ainda invejavam a ele e a seu irmão Benjamin. Sentiu que eles ainda nutriam más intenções contra ele e seu irmão. Se dirigindo a eles, disse: “Estais numa má situação e Allah é conhecedor do que inventais!” O irmão mais velho se aproximou de Yussuf e implorou por Benjamin dizendo: “Seu pai é um homem velho. Pediu-nos que cuidássemos de seu filho Benjamin. Assim, escraviza um de nós em seu lugar.” Yussuf disse: “Allah me perdoe! Não reteremos senão aquele em cujo poder encontramos a nossa ânfora, porque do contrário seríamos iníquos.” Estando sem esperança de levar Benjamin com eles, os irmãos se reuniram e disseram entre si: “O que faremos? O que diremos a nosso pai? Devemos contar a verdade?” Um deles respondeu:”Sim, contaremos a verdade a nosso pai. Diremos a ele que Benjamin furtou a ânfora real e que os egípcios o fizeram escravo por isso.” O irmão mais velho perguntou: “Iremos sem Benjamin? Não prometemos a nosso pai cuidar dele? Esqueceis o que fizemos a Yussuf? Não tendes misericórdia de nosso velho pai?” Então ele rejeitou suas sugestões, dizendo:”Não! Não! Eu não retornarei para meu pai! Permanecerei no Egito até que meu pai permita que eu retorne! Quanto a vós , volteis para vosso pai e dizei a ele: Pai, vosso filho Benjamin furtou a ânfora real! Não conhecíamos o que estava oculto. Não sabíamos que Benjamin era um ladrão!”

Os irmãos ficaram em silêncio. Eles eram onze irmãos. O Chefe do Egito (Yussuf) prendeu Benjamin. O mais velho decidiu ficar no Egito. Se recusou a ir ao encontro de seu pai de novo, pois tinha prometido cuidar de Benjamin. Os nove irmãos retornaram a Palestina. Retornaram para contar a seu pai o que tinha acontecido. O Profeta Ya’qub tinha medo que as pessoas invejassem seus filhos. Tinha ordenado a eles que entrassem no Egito por portas diferentes, de maneira que pudessem voltar em segurança. Os nove irmãos retornaram trazendo más notícias para seu pai.

Eles se apresentaram a ele e disseram: “Pai, vosso filho Benjamin furtou a ânfora real. Testemunhamos o que sabemos.” Ya’qub se manteve em silêncio. Os nove irmãos sentiram que seu pai não acreditava neles. Assim, disseram: “Se não acreditas em nós, perguntai ao povo que esteve conosco no Egito.” O Profeta Ya’qub pegou seu cajado. Em seguida se levantou e disse : “Não, vós tentastes a vós mesmos. A paciência é algo bom. Serei paciente outra vez. Talvez, Allah me devolva ambos.” Porém, o Profeta Ya’qub estava triste pelo que havia acontecido. Ele lembrou de Yussuf, que tinha desaparecido vinte anos antes. Compreendeu que o que havia acontecido a Benjamin estava relacionado ao que havia acontecido a Yussuf. Porquanto, disse : “Minha tristeza é por Yussuf!” Os nove irmãos disseram: “Vós sempre mencionais Yussuf. Morrerás da vossa tristeza e vosso choro por ele.” Ya’qub disse: “Exponho meu pesar a Allah porque sei de Allah o que vós não sabeis.”

Ele silenciou por um instante e continuou: “Filhos, ide! Ide e informai-vos sobre Yussuf e seu irmão e não desespereis quanto a misericórdia de Allah, apenas os descrentes o fazem!”

Eu Sou Yussuf

A família do Profeta Ya’qub consumiu todo o trigo. Ele estava triste por ter perdido seus três filhos , Yussuf, Benjamin e o mais velho deles. Ya’qub ordenou a seus filhos que fossem ao Egito para comprar trigo e procurar saber de seus outros filhos. Os irmãos se dirigiram ao Egito pela terceira vez, tinham apenas uns poucos dirhams. Porém, foram lá para trazer de volta seu irmão Benjamin. Eles chegaram no Egito. Ninguém os recebeu calorosamente em virtude do que havia acontecido antes. Os irmãos foram ao Chefe do Egito (Yussuf), que tinha retido Benjamin. Foram e falaram com ele gentilmente. Pensavam que poderiam comprar trigo com seus poucos dirhams. Também julgavam que aquele bom líder libertaria Benjamin. Ao chegarem diante do Chefe do Egito (Yussuf) disseram: “Ó Excelência, a miséria caiu sobre nós e nossa família, trazemos pouco dinheiro. Cumula-nos pois, a medida, e faze-nos caridade, porque Allah retribui os caridosos.” Algo maravilhoso chamou a atenção dos irmãos. Eles viram Benjamin sentado ao lado do Chefe do Egito (Yussuf). Perceberam que suas vestes eram de um excelente linho.

Naqueles momentos de emoção, Yussuf, que era perdoador, perguntou-lhes: “Sabeis, acaso, o que nesciamente fizestes a Yussuf e a seu irmão com a vossa ignorância ?” Yussuf esqueceu todas as dores causadas por seus irmãos a ele e a seu pai. Esqueceu todos os sofrimentos. Queria dizer a eles: “Vossa ignorância trouxe-me a esta posição. Allah escolheu-me e me favoreceu. Recompensou-me por minha paciência e fé.”

Naquele instante os nove irmãos compreenderam a verdade. Disseram entre si: “Este Chefe, a quem os guardas rodeiam e cuja espada é a primeira no Egito, é Yussuf. Ele é nosso irmão Yussuf, contra quem conspiramos. Ele é nosso bom, puro irmão Yussuf, que nos remunerou com bondade o nosso maltrato. É nosso irmão , que encheu nossos fardos com trigo e nos devolveu nossos dirhams de prata.” Os irmãos disseram espantados: “Tú és Yussuf!” Yussuf, cujos olhos estavam cheios de lágrimas, por causa de seu temor a Allah, disse: “Sim, eu sou Yussuf e este é meu irmão. Allah nos agraciou com a sua mercê . porque quem teme e persevera sabe que Allah jamais frustra a recompensa dos benfeitores.” Os irmãos descobriram a verdade depois de vinte anos de desvio e do erro quanto a senda correta. Disseram: “Por Allah! Ele te preferiu a nós, e confessamos que fomos culpados.”

Yussuf sorriu para eles. Eram seus irmãos. Satã havia os desviado num momento de inveja. Em seguida, retornaram ao caminho certo. Yussuf disse: “Hoje não sereis recriminados ! Eis que Allah vos perdoará, porque é o mais Clemente dos misericordiosos.” Yussuf era bondoso. Ele perdoou seus irmãos por seus erros. Assim queria pôr um fim no sofrimento de seu pai. Vinte anos antes seus irmãos pegaram sua manta e a mancharam com sangue. A levaram a seu pai e disseram a ele que um lobo o havia devorado. Yussuf queria, ele mesmo, desfazer esta mentira.

Yussuf retirou sua túnica e disse a eles: “Levai esta minha túnica e lançai-a sobre o rosto de meu pai , que assim recuperará a visão., em seguida trazei-me toda a vossa família.” Todos os irmãos começaram a cheirar a túnica de Yussuf. Choraram de alegria e de remorso. Estavam contentes de encontrar seu irmão Yussuf, que havia se tornado o homem mais importante no Egito. Estavam tristes pelo que tinham cometido vinte anos antes. Por esta razão se prostraram diante de Yussuf, o Chefe do Egito e deixaram seu palácio com pressa. Queriam voltar o mais rápido possível a seu pai para levarem alegria a seu coração entristecido. A caravana partiu e começou a cruzar o deserto. Esta caravana não carregava trigo. Ao invés disso, carregava a túnica de Yussuf e a boa notícia.

O Fim da Provação

O Profeta Ya’qub voltava à rota da caravana todos os dias. Esperava pelo retorno de seus filhos. Um dia, enquanto o sol descia no horizonte, a brisa suave soprava sobre Ya’qub. Carregava a fragância de Yussuf. Ya’qub disse para os seus filhos que não tinham ido ao Egito: “Em verdade pressinto a presença de Yussuf, muito embora pensais que deliro.” Disseram-lhe: “Por Allah! Certa,emte continuas com a tua velha ilusão.” E disseram ainda: “Continuas com tua velha ilusão. Amas a Yussuf e a seu irmão Benjamin mais do que a nós.” Naquele momento todos viram um camelo correndo na direção de deles. Viram um homem sobre o animal acenando com uma túnica à distância. Um dos filhos de Ya’qub vinha à frente da caravana para dar a boa notícia sobre Yussuf. E disse: “O lobo não devorou Yussuf! Ele sobrevive nesses vinte anos passados!” O portador da boa notícia lançou a túnica de Yussuf na face de Ya’qub. Um prodígio ocorreu. A luz retornou aos olhos de Ya’qub. Ya’qub reencontrou o brilho e a beleza do mundo depois de vê-lo escuro e triste. Ele chorou de alegria e disse a seus filhos: “Eu não disse a vós que eu sei de Allah o que vós não sabeis?” Seus filhos curvaram suas cabeças envergonhados e tristes e em seguida disseram: “Pai, peça a Allah que nos perdoe de nossos erros, porque somos culpados!” O pai , cuja luz retornara através da misericórdia de Allah, disse: “Suplicarei por vosso perdão a meu Senhor , porque Ele é Indulgente, Mui Misericordioso.” Ya’qub disse isso porque desejava adiar sua súplica para o amanhecer. Acreditava que Allah aceitaria seu pedido naquela hora e perdoaria seus filhos. O Profeta Ya’qub sentia que recuperava sua força, pela felicidade que iluminava seu coração e seus olhos. Ele contou a sua esposa, a mãe de Yussuf , sobre a boa notícia e ela ficou muito feliz. Ya’qub ordenou a todos os membros de sua família para que se preparassem para ir ao Egito. Então eles todos partiram para o Egito a fim de viver sob a custódia do justo, bom e fiel governador, Yussuf (A.S.).

O Sonho de Yussuf se Realizou

Vinte anos antes, Yussuf sonhara que via o sol , a lua e onze estrelas se prostrando diante dele. Ele ficou surpreso com aquele sonho . Então tudo aconteceu. Ele se viu longe de sua família numa terra distante. Vinte anos se passaram. Ele se viu como governante no Egito e esperando pela chegada de seus pais do deserto para aquela bela terra que estava cheia de bondade. Yussuf ordenou a seus soldados para que montassem uma grande tenda no deserto para receber seus pais e irmãos. Os soldados vigiavam a tora das caravanas aguardando a chegada da caravana vinda da Palestina. A caravana conduzia a família de Yussuf que vivia no deserto. Uma manhã, os soldados avistaram a caravana de Ya’qub. Um cavaleiro partiu para o Egito a fim de anunciar a boa notícia a Yussuf , da chegada de seus pais e irmãos.

O Sol, A Lua e As Estrelas

Os soldados receberam o Profeta Ya’qub com grande respeito. Eles conduziram-no com sua família para a tenda. Ya’qub e seus familiares aguardaram na tenda até que o Chefe do Egito (Yussuf) viesse. O Profeta Ya’qub estava aguardando com ansiedade pela chegada de seu filho Yussuf. Não via a hora de encontrá-lo, pois não o via há vinte anos. Ele chorou por seu filho todo esse tempo. Yussuf veio em uma carruagem com cavalos velozes. Os cavalos cobriram a distância rapidamente como se entendessem que Yussuf estava saudoso de seus pais. Yussuf chegou a tenda e entrou nela. Vestia um traje de gala. A luz brilhava em sua face. Todos se levantaram para demonstrar respeito ao Chefe do Egito e em seguida se inclinaram por deferência a Yussuf. Naquele instante, a visão que Yussuf teve vinte anos antes se realizou. Ele viu o sol, a lua e as onze estrelas se prostrando diante dele. Seu pai , sua mãe e seus irmãos se prostravam diante dele. Yussuf abraçou seus pais. Em seguida levou-os ao trono.

Então, Yussuf disse a seu pai: “Ó meu pai, este é o significado de minha antiga visão. Meu Senhor verdadeiramente a tornou realidade. Meu Senhor foi generoso comigo quando me tirou da prisão e me trouxe do deserto depois que Satã tinha semeado dissensão entre mim e meus irmãos. Em verdade Meu Senhor é generoso para quem o apraz. Ele é o Conhecedor, o Sapiente.” Em seguida Yussuf ergueu suas mãos para o céu e agradeceu a Allah por suas bênçãos, dizendo:” Ó Senhor meu, já me agraciaste com a soberania e me ensinaste a interpretação das histórias! Ó Criador dos céus e da terra , Tu és o meu protetor neste mundo e no outro. Faze com que eu morra muçulmano e junta-me aos virtuosos.”

Quão puro e bom foi Yussuf! Ele esqueceu todos os acontecimentos dolorosos que tiveram lugar naqueles vinte anos passados. Recebeu seus irmãos calorosamente e disse: “Satã tinha semeado dissensão entre mim e meus irmãos.” Nisto reside a grandeza de Yussuf: na pureza de alma e no bom coração.

O Profeta Ya’qub e seus filhos viveram no Egito. Viveram no país de bênçãos, sob o governo justo de Yussuf, que renovou o país e salvou-o de uma grande crise econômica. Ya’qub viveu e teve filhos. Sua descendência cresceu em número e foram chamados os filhos de Israel.

Mais tarde descobriremos onde o Profeta Yussuf foi enterrado e como seus restos mortais foram transladados para a Palestina. Descobriremos isso quando lermos a história do Profeta Mussa (A.S.).

“Nós te relatamos a mais formosa das narrativas, ao inspirar-te este Alcorão, se bem que antes disso eras um dos desatentos. Recorda-te de quando José disse a seu pai: Ó pai, vi, em sonho, onze estrelas, o sol e a lua; vi-os prostrando-se ante mim. Respondeu-lhe: Ó filho meu, não relates teu sonho aos teus irmãos, para que não conspirem astutamente contra ti. Fica sabendo que Satanás é inimigo declarado do homem. E assim teu Senhor te elegerá e ensinar-te-á a interpretação das histórias e te agraciará com a Sua mercê, a ti e à família de Jacó, como agraciou anteriormente teus avós, Abraão e Isaac, porque teu Senhor é Sapiente, Prudentíssimo.” (Alcorão Sagrado C.12 – V.3 a 6)

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