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O 3° Imam – Al-Hussein Ibn Ali (Senhor dos Mártires)

Ele nasceu na cidade de Medina, no Hijáz, no dia 3 do mês de Chaaban do ano 4 da Hijra (627d.C), e por ordem de Deus Supremo o Mensageiro de Deus o chamou de Al-Hussein, tomando-o nos braços e sussurrando em seu ouvido direito o Azan e o Iqamat no seu ouvido esquerdo, quando os anjos, acompanhados do Arcanjo Gabriel, surgiram diante do Mensageiro (S.A.A.S.) e o felicitaram pelo abençoado nascimento. No sétimo dia o profeta (S.A.A.S.) mandou abater em homenagem do segundo neto um carneiro, tal como fizera com o primeiro neto o Imam Al-Hassan (A.S.).

Seu pai foi o Imam Ali Ibn Abi Táleb (A.S.) o recomendado do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.). Sua mãe foi Fátima “Azzahra” (A.S.), Senhora das mulheres do mundo e filha do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.). Seu avô materno foi Mohammad Ibn Abdallah, Mensageiro de Deus e último dos profetas (S.A.A.S.). Sua avó materna foi Khadija Bent Khuaileid, (A.S.) a Mãe dos crentes. Seu avô paterno foi Abed Manaf Ibn Abedel Muttâleb mais conhecido como Abu Táleb, sheikh dos nobres e protetor do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.).

Seu desenvolvimento

O Imam Al-Hussein (A.S.) se desenvolveu e cresceu sob a sombra de seu avô, do qual absorveu o ensino do Islam, porém sempre conivente com seu pai o Imam Ali e sua mãe Fátima “Azzahra”(A.S.), juntamente com seu irmão mais velho Al-Hassan. Aliás, ambos são considerados a verdadeira Linhagem da Casa Profética, da Revelação e do Al-Uahi, isto é, da Inspiração.

Seus méritos

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) fez muitas alusões sobre seus méritos e os méritos de seu irmão Al-Hassan (A.S.) dizendo:

“Por Deus que os amo e amo aqueles que os amam!”

“Aquele que ama Al-Hassan e Al-Hussein o amo também, e a quem eu amo, Deus o ama; e quem Deus ama, Ele fará entrar no paraíso. Porém quem os desprezar, eu o desprezarei, e quem eu desprezar Deus o desprezará, e quem Deus desprezar o lançará no inferno!”

“Al-Hussein é de mim e eu sou de Al-Hussein!”

“Al-Hussein é o neto dos netos!”

“Deus o escolheu para que os justos e beneméritos Imámes sejam da sua semente!”

Seus Filhos 

Al-Hussein (A.S.) teve nove filhos, sendo seis homens e três mulheres.

Seu Ministério

O Imam Al-Hussein (A.S.) tomou posse do Poder depois da morte, como mártir, de seu irmão, o Imam Al-Hassan (A.S.), prolongando-se por onze anos de 50 a 61 da Hijra (aproximadamente do ano de 672 até 683 d.C).

Eis que citaremos parte dos acontecimentos ocorridos durante a época do Imam Al-Hussein:

Moáuiya Ibn Abu Sufián permaneceu no califado de Damasco após a morte do Imam Al-Hassan (A.S.) por mais dez anos, enquanto que o Imam Al-Hussein (A.S.) honrava os acordos ajustados entre seu irmão e Moáuiya. Entretanto, a tirania de Moáuiya aumentara sobre os muçulmanos, perseguindo-os com o terror e a opressão e matando todo aquele que se tornara obstáculo em seu caminho; bem como, ordenando que se trouxesse à tona a lembrança do Imam Ali Ibn Abi Táleb (A.S.) durante as oratórias nos púlpitos com sacarmos e mordacidade, modificando inclusive, muitos dos fatos religiosos.

Moáuiya nomeou seu filho Yazid como seu sucessor e governante dos muçulmanos, apesar de sua fama de devasso e blasfemo, desrespeitador das coisas sagradas e praticante de tudo que é vedado e ilícito diante de Deus Supremo. Quando Moáuiya morreu no ano 60 da Hijra (683 d.C), seu filho Yazid tomou posse do Poder. Imediatamente ele escreveu a todos os Governadores das Províncias para reconhecê-lo, obedecê-lo e defendê-lo com a própria vida e as próprias finanças, determinando executar todo aquele que se opuser a ele. Dentre as Províncias notificadas, Yazid escreveu também para o Governador de Medina, a fim que se notificasse a missiva e seu teor ao Imam Al-Hussein e, caso ele contestasse o seu conteúdo e ordens, deveria ser executado, nem que se pendurasse no cortinado da Caaba, apesar da mesma simbolizar a Unicidade e ser a Casa Sagrada de Deus; pois o Onipotente proibiu terminantemente a agressão e o derramamento de sangue naquele local sagrado.

O Imam Al-Hussein (A.S.) recusou acatar e obedecer as ordens de Yazid dizendo: “Somos da Linhagem da Casa Profética. Somos da fonte da Mensagem de Deus e da revelação dos anjos, e Yazid é um homem devasso e escandaloso, que se embriaga com a bebida alcoólica. Portanto um homem como eu, nem sequer negocia com outro como ele”. A recusa do Imam Al-Hussein foi declarada diante da multidão, desencadeando a sua revolta contra o Governante cruel.

O Imam Al-Hussein (A.S.) decidiu sair da Preciosa Mecca, juntamente com sua família e seus amigos, com destino ao Iraque, para que seu sangue não fosse derramado na Sagrada Caaba e, em obediência a ordem divina que o alertava contra a ingratidão comunicou ao povo iraquiano a mensagem que dizia: “Saio de Mecca por minha livre e espontânea vontade sem descontentamento ou despotismo, mas sim para conciliação e a harmonia da nação do meu avô, o Mensageiro de Deus, e de meu pai Ali Ibn Abi Táleb (A.S.)”. O Imam Al-Hussein (A.S.) mandou a mensagem através de seu primo Moslem Ibn Aquíl; homem integro e valente o qual dirigiu-se diretamente para Al-Cufá notificando o povo que prometera a vitória para o Imam Al-Hussein (A.S.).

Yazid Ibn Moáuiya ordenou ao governador do Iraque Obaid’Allah Ibn Ziád que tomasse as providências mais drásticas contra o povo de Al-Cufá, caso houvesse qualquer contrariedade ao seu arbítrio, executando todo aquele que tentasse ajudar o Imam Al-Hussein (A.S.), e inclusive ordenou ao governador que preparasse um poderoso Exército comandado por Omar Ibn Saad para investir contra o Imam, se este se recusasse mais uma vez em apoiar o filho de Moáuiya Ibn Abu Sufián. Yazid prometeu a Obaid’Allah Ibn Ziád alta posição social, poder e somas fabulosas se ele matasse o Imam Al-Hussein, sua família e seus companheiros.

Quando o Imam Al-Hussein (A.S.) chegou à região de Karbalá e viu-se sitiado no deserto às margens do rio Eufrates, ele tentou dialogar com seus adversários, alertando-os de sua posição e parentesco com a filha do Profeta Mohammad, questionando-os sobre os motivos que os levaram a guerrear contra ele e matá-lo junto com os seus. Infelizmente foi em vão, pois nada disso os demovia de seu intento. Diante da intransigência do inimigo, o Imam e seus companheiros enfrentaram com fé e coragem uma luta feroz e desigual no dia 10 de Muharram do ano 61 da Hijra, apesar desse mês ser tido como sagrado, pois Deus proíbe nele as lutas e as guerras. Naquele dia o Imam Al-Hussein (A.S.) foi barbaramente assassinado juntamente com seus bravos companheiros e irmãos, porém depois de ter sido boicotada à eles a água, não poupando sequer as mulheres e crianças, deixando-os no desespero da sede.

Posteriormente os inimigos se apoderaram de seus valores e queimaram suas tendas. Nem os recém-nascidos escaparam do barbarismo hediondo daquele Exército enlouquecido, e como se não bastasse tudo aquilo, amarraram o corpo do Imam Al-Hussein (A.S.) ao cavalo e o arrastaram impiedosamente pelo campo de batalha para depois cortarem a cabeça de todos os combatentes mortos, afixando-as nas pontas de suas lanças, afim de exibi-las pelas ruas de Al-Cufá, juntamente com os prisioneiros em procissão, formados de mulheres e crianças, para depois levá-los até Yazid Ibn Moáuiya em Damasco, o qual colocou a cabeça do Imam Al-Hussein (A.S.) diante dele e começou a cutucar com um bambu a boca e os dentes da cabeça decapitada, sem o mínimo de respeito, tal qual se procedia no tempo do pré-islâmico, aspirando que seus ancestrais pagãos pudessem presenciar o que estava acontecendo à descendência do Mensageiro de Deus.

Os corpos do Imam Al-Hussein e de seus irmãos e companheiros, permaneceram no campo de batalha em Karbalá por três dias, sob o sol abrasador do deserto, até que o Imam Ali Ibn Al-Hussein, juntamente com um grupo de homens que viviam perto de Karbalá, dos Bani Assad, trataram do sepultamento do Imam Al-Hussein e dos mártires naquele mesma localidade sagrada de Karbalá, reservando um lugar especial para as sepulturas de seu pai Al-Hussein e de seu tio Al-Abbás Ibn Ali Ibn Abi Táleb, e isto, pela posição que Al-Abbás obteve junto a Deus Supremo, por defender a justiça e o triunfo de seu irmão, o Imam Al-Hussein (A.S.).

O papel da mulher na Revolução do Imam Al-Hussein

Antes de ir à luta contra o inimigo que o sitiava, o Imam Al-Hussein deixou os de sua casa e sua prole a cargo de seu filho, o Imam Ali Ibn Al-Hussein, e de sua irmã mais velha, Zeinab Ibn Ali Ibn Abi Táleb (A.S.). Quando o Imam Ali Ibn Al-Hussein (A.S.) foi acometido de uma grave doença, impossibilitando-o de se levantar de seu leito, sua tia Zeinab, esta grandiosa senhora, reconhecida pela sua íntegra moral e fervorosa fé, e pela eloquência, teve o papel importantíssimo na defesa do Imam Ali Ibn Al-Hussein e os cuidados para com a sua família, bem como, foi magnificente na divulgação dos ideais da revolução de seu irmão Imam Al-Hussein e as estratégias vis dos Omíadas e seus subterfúgios utilizados para obliquar os princípios do Islam, e isto, quando de suas oratórias expressivas na cidade de Al-Cufá diante do ambicioso e ganancioso Obaid’Allah Ibn Ziád, e na cidade de Damasco diante do cruel e déspota Yazid Ibn Moáuiya, retratando o próprio papel da mensagem, o que toda mulher muçulmana deve fazer na sociedade em que vive.

Depois do hediondo massacre no campo da batalha, em Karbalá, Zeinab Bent Ali Ibn Abi Táleb, começou a andar entre os corpos dos mártires com paciência, dignidade e resignação, até chegar ao corpo do Imam Al-Hussein (A.S.), seu irmão já decapitado e com os músculos dilacerados pelas patas dos cavalos. Com infinita tristeza colocou suas generosas mãos debaixo do corpo imaculado de seu dileto irmão e levantou a própria cabeça aos céus clamando com a voz cortante pela profunda mágoa: “Senhor! Aceite esta hóstia para a Vossa Face generosa, se isto for de Vosso agrado Senhor!”

Zeinab Bent Ali Ibn Abi Táleb teve sua posição corajosamente confirmada na cidade de Al-Cufá, quando enfrentou com altivez e dignidade o Governador do Iraque, Obaid’ Allah Ibn Ziád, e em Damasco o Governante Yazid Ibn Moáuiya, dialogando com ambos, sempre com dinamismo, sempre usando o seu hijab sem nunca perder a compostura que Deus retratou sobre ela, principalmente quando o vil Obaid’Allah Ibn Ziád a questionou cínica e sarcasticamente: “O que me dizes do feito de Deus sobre o teu irmão e o infortúnio que recaiu sobre a cabeça dos teus?” Altiva e firme ela lhe respondeu: “Só vejo coisas lindas do que ocorreu com eles, que lhes foi prescrito por Deus para serem mártires, pois eles se revelaram e confirmaram suas raízes! Ó filho de Morgana, virá o dia em que Deus nos reunirá com eles e vós pedirá prestação de contas, e então sentirás na própria alma qual de vós ficará paralisado e despojado da ternura da própria mãe. Ó filho de Morgana!”

Entretanto, quando se defrontou com Yazid Ibn Moáuiya, em Damasco, e diante de todos Zeinab se revelou com maior energia e vigor, surpreendendo-o, pois o tirano usurpador do poder imaginava deparar-se frente a frente com uma mulher frágil, totalmente arrasada por ter sido despojada de seus três filhos e dos entes queridos, todos barbaramente massacrados e assassinados no campo de batalha de Karbalá. Zeinab Bent Ali Ibn Abi Táleb (A.S.) se revelou pela coragem e pela justiça, tal como foi seu pai, o Príncipe dos Crentes, e em seu longo discurso lançou sobre Yazid todo o seu desprezo, diminuindo-o e ameaçando-o dizendo: “… e por Deus, ó Yazid! Tu na verdade cortaste a tua própria pele e feriste a tua própria carne, e terá que responder ao Mensageiro de Deus com coerência de tudo que praticaste ao derramar o sangue de sua descendência, e profanaste as mulheres de sua Casa e de sua prole, que é sangue de seu sangue e carne de sua carne e, na certeza, Deus os reunirá e lhes fará justiça… e eu te conjuro de que, apesar de passar de mim o destino, eis que me encontro diante de ti, para que eu possa te minimizar na condição de tua categoria e proclamar diante do mundo a tua infâmia e aumentar a tua desmoralização, porém, naturalmente, com olhos mergulhados na tristeza e o peito vazio, por pretenderes tomar-nos por ovelhas. É deveras de se surpreender ao preterires e dizimares o Partido de Deus, favorecendo o ímpio Partido de Satanás! E estas tuas mãos, estão pingando do nosso sangue e as bocas devoram de nossa carne por tomar-nos por ovelhas, e isto, pode crer, vos custará pesado tributo, quando somente encontrarás aquilo que tuas mãos ofereceram e vagarás em densas trevas, e, por mais que te empenhas em tua astúcia e se impugnares com todo o teu poder, jamais conseguirás apagar a nossa memória e os atos vergonhosos que praticaste contra nós. Pensas que conseguirá escapar do julgamento do Convocador no dia da tua morte? Sim! Ele te convocará. Saibas, ó criatura vil, que a maldição recai sobre os tiranos e opressores”.

Tanto Zeinab quanto Omm Colçum, ambas filhas do Imam Ali Ibn Abi Táleb e de Fátima “Azzahra” (a paz esteja com elas) se empenharam em propagar e desmascarar o crime hediondo praticado pelos Omíadas contra o neto do Mensageiro de Deus, fazendo com que o povo lamentasse e chorasse a perda tão preciosa.

Em homenagem póstuma à memória do Imam Al-Hussein e sua revolução culminada no dia 10 de Muharram do ano 61 da Hijra (683 d.C), os muçulmanos, e particularmente os xiitas, relembram todo ano este dia tão funesto, para que não seja esquecido o levante que custou a próprio sangue do Imam Al-Hussein, a fim de que sejam preservados na memória dos crentes os princípios do Islam e as lições de coragem, sacrifício e renúncia em prol da justiça e consolidação dos ensinamentos de Deus e seu magnificente preceito.

Os versículos iluminados sobre a nobre cabeça

Muitos fatos ocorreram que são alusivos à magnificente nobreza da cabeça decapitada do Imam Al-Hussein, fatos estes ocorridos durante o trajeto de Karbalá até Al-Cufá e depois para Damasco, enquanto os inimigos arrastavam atrás de si, sob sol escaldante do deserto, os prisioneiros formados de mulheres e crianças das quais constavam os filhos do Imam Al-Hussein, levando consigo as cabeças decapitadas de todos os mártires que pereceram na batalha de Karbalá, exibindo-as e aos prisioneiros pelas cidades por onde passavam até chegarem a Damasco, capital da dinastia dos Omíadas (que reinaram de 661 a 750 d.C.).

Quando exibiram a cabeça do Imam Al-Hussein (A.S.) diante de Obaid’Allah Ibn Ziád, Governador de Al-Cufá, no Palácio do Governo, este, com o olhar aceso de sadismo e satisfação não tirava os olhos da cabeça santificada. De repente, começou a escorrer sangue pelas paredes e saírem labaredas de fogo dos cantos do palácio, como se quisessem alcançar Obaid’Allah o qual apavorado tentava fugir dali, porém, inutilmente, pois o pavor o paralisava, enquanto ele e os presentes ouviam a cabeça falar-lhes em voz alta: “Para onde foges? Jamais escaparás nesta vida, pois estais presenciando a vossa morada na eternidade!” A cabeça só se calou quando o fogo se extinguiu.

Záid Ibn Arqam, certa vez falou: “Eu ouvi a cabeça do Imam Al-Hussein, em Al-Cufá recitar versículos do Alcorão Sagrado, extraídos da surata Al-Cahf: “Acaso pensaste que os ocupantes da Caverna e do Livro foram assombrosos de nossos versículos’” (18:9) e prosseguindo em sua narrativa, Záid falou impressionado: “Nisso senti todo o meu corpo se arrepiar e, surpreso exclamei: “Por Deus, ó Filho do Mensageiro de Deus, que a vossa cabeça é muito mais assombrosa! E não só isso! A cabeça continuou recitando versículos do Alcorão, tais como: “…Eram jovens que creram em meu Senhor e Nós os iluminamos… e aos injustos lançaremos a destruição” (18:13). Depois disso, penduraram a cabeça sagrada numa árvore em praça pública, na Al-Cufá mesmo, e o povo curioso, foi se aglomerando ao seu redor, e todos viram sair dela uma luz brilhante e a ouviram recitar as palavras do Supremo: “E os injustos saberão em qual metamorfose se transformarão!””

Durante o trajeto para Damasco, aconteceram muitos fatos curiosamente magníficos alusivos à cabeça decapitada do Imam Al-Hussein (A.S.), e que mencionaremos alguns a seguir:

 

Em certo lugarejo, levantaram com a lança a cabeça decapitada do Imam Al-Hussein (A.S.), perto da morada de um monge, onde os algozes descansaram naquela noite. Horas mais tarde, o monge começou a ouvir uma voz enaltecendo a Glória de Deus. Ao sair para averiguar de onde vinha o cântico, viu que a cabeça purificada estava plena de luz e a voz saudando: “A paz esteja contigo ó Abi Abdullah!” O monge desconhecia os fatos do hediondo crime e, pela manhã, foi se informar com as pessoas e eles o informaram de que se tratava da cabeça do Imam Al-Hussein Ibn Ali e sua mãe era Fátima filha do Profeta Mohammad (S.A.A.S.). Pasmado, exclamou: “Ó fatalidade, senhores! Eis que se confirmaram os noticiários e, por ter sido assassinado, os céus lançarão chuvas de sangue!” Pouco depois, o monge foi ter com a sentinela e pediu-lhes a permissão para beijar a cabeça honrada, porém, eles negaram e só o permitiram depois que o sacerdote lhe ofereceu algumas moedas. Quando o grupo partiu com os prisioneiros verificou o dinheiro que o monge lhes pagou, notaram que estava escrito nas moedas o seguinte: “Os injustos saberão em qual metamorfose se transformarão!”

Quando a caravana dos prisioneiros chegou a Damasco com as cabeças dos mártires, envolvidos com panos, foram levados à presença de Yazid Ibn Moáuiya, o qual ordenou que se colocasse diante de si a cabeça do Imam Al-Hussein (A.S.), posta em uma bandeja de ouro. Assim feito, o tirano, com um bambu na mão, começou a cutucar desrespeitosamente a boca e os dentes do Imam Al-Hussein dizendo: “Este dia é pelo dia de Badr!” Quis o cruel governante Omíada aludir vingança para seus ancestrais idólatras, que pereceram pela espada do Islam na batalha de Badr (ano 2 da Hijra, ou seja, em 624 d.C). Entretanto, um dos presentes, ao ouvir as expressões vingativas de Yazid Ibn Moáuiya, e, não mais se contendo exclamou: “Eu vi com os meus próprios olhos o Profeta saciar a sede de Al-Hussein e de seu irmão Al-Hassan e dizer-lhes: “Vós sois os Senhores da Juventude do Paraíso e Deus exterminará quem vos matar e os amaldiçoará e lançará no fogo do inferno”. Ao se ouvir o que o homem acabara de proferir Yazid se enfureceu e ordenou a expulsão dele do recinto. No entanto, um dos presentes era o emissário do rei do Império Bizantino, o qual, ao saber que a cabeça exposta diante dele pertenceu ao neto do Profeta (A.S.), levantou-se indignado e falou para Yazid: “Nós temos em algumas ilhas, cascos do burrico que pertencia a Issa (Jesus) e por isso, fazemos peregrinação todos os anos para estes locais, onde inclusive, se cumprem promessas feitas pelos fiéis, enaltecendo o nosso Profeta! Portanto, dou meu testemunho de que caíste em desgraça ao matar o neto de vosso Profeta!” Naquele momento, a fúria tomou conta do Yazid, o qual, cego de ódio, mandou matar o emissário, o qual antes de ser executado, dirigiu-se em direção a cabeça e beijou-a na testa pronunciando o Testemunho de Fé, e quando foi executado, todos ouviram uma voz clara saindo da nobre da cabeça do Imam Al-Hussein (A.S.) dizendo: “Não há poder nem força maior que Deus Supremo!” Depois disso, Yazid ordenou a retirada da cabeça sagrada e penduraram-na no portão do Palácio. Mas, quando Hend Bent Omar Ibn Suhél, uma das esposas de Yazid, viu a cabeça do Al-Hussein pendurada no portão de sua casa, uma luz saindo dela, o sangue ainda gotejante e não coagulado, exalando um aroma agradável, não mais se conteve e revoltada, entrou na sala de audiência sem o “Hijab” gritando e chorando: “A cabeça do neto do Mensageiro de Deus está pendurada no portão de nossa casa, Ó Yazid!” Desde então, aquela mulher passou a desprezar seu marido pelos seus crimes. A sagrada cabeça do Imam Al-Hussein (A.S.) e as demais cabeças dos mártires de Karbalá, permaneceram em Damasco até que Yazid permitiu à família e aos parentes do Imam Al-Hussein (A.S.) que retornassem para a cidade de Medina, a Iluminada. Mas, antes de partir, o Imam Ali Ibn Al-Hussein (A.S.) pediu a permissão pra levar consigo a cabeça de seu pai e dos demais mártires, no que Yazid consentiu. Durante o trajeto para Medina, o grupo passou por Karbalá, onde enterraram as cabeças com os devidos corpos em suas sepulturas purificadas, e tudo isto ocorreu quarenta dias depois da batalha de Karbalá.

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