Violência e Paz

Se alguém lhe perguntar: “Qual foi o primeiro caso de assassinato intencional que a terra testemunhou?”, provavelmente você se recordará do assassinato de Abel por seu irmão Caim, filhos de Adão (a.s.). O caso, como foi narrado pelo Alcorão Sagrado, é como segue: “E conta-lhes (ó Mensageiro ) a história dos dois filhos de Adão, quando apresentaram duas oferendas; foi aceita a de um e recusada a do outro. Disse aquele cuja oferenda foi recusada: Juro que te matarei! Disse-lhe (o outro): Deus só aceita (a oferenda) dos justos. Ainda que levantasses a mão para assassinar-me, jamais levantaria a minha para matar-te, porque temo a Deus, Senhor do Universo. Quero que arques com a minha e com a tua culpa, para que sejas um dos condenados ao Inferno, que é o castigo dos injustos. E o egoísmo (do outro) induziu-o a assassinar o irmão; assassinou-o e contou-se entre os desventurados” (5:27-30).


Dois irmãos, sem terem outros irmãos na face da terra – um deles crente e benevolente, o outro maldoso e perverso. Ambos fizeram oferenda a Deus, o Altíssimo. Ele aceitou a oferenda de Abel e recusou a de Caim. Não há parentesco entre Deus e alguém. Ele só aceita a oferenda dos piedosos, feita de maneira sincera e voluntária. Nada tem a ver Abel com a aceitação de sua oferenda. Deus, o Altíssimo, é Quem aceita e Quem recusa. Porém, o fogo da inveja acendeu no coração de Caim e este resolveu se vingar do irmão, mesmo sem ele ter qualquer culpa. Abel chamou a atenção de Caim para a verdade: A aceitação de Deus, glorificado seja, depende da fé e da piedade. Ele não dá preferência a ninguém.


Caim, com o seu ódio, cólera e inveja, recusa deixar o coração e a razão ouvirem as palavras do irmão. Ele estava concentrado numa coisa só, em algo obscuro, um sentimento mau, subindo como fumaça em seu interior. Aquilo lhe cegou a vista, a ponto de não suportar mais ver o irmão em melhor posição do que ele perante Deus. Caim, em estado de ódio e sentimento de vingança, puxou de sua faca, com chispas saindo pelos olhos vermelhos como duas brasas, espumando pela boca, com o fogo da inveja acendendo no peito e disse ao irmão: “Só me resta matar-te.” Abel disse, fazendo-o lembrar que não tinha culpa pelo que havia acontecido, e que era a vontade de Deus e não a dele: “Se quiser me matar, não agirei como estás agindo. Puxe da minha faca para matar-te, pois temo a Deus, Que proibiu a matança.” Caim, furioso como touro, não enxergava mais do que a bruma brotando de seu íntimo e cegando sua vista. Ele não ouvia nada além do apelo de vingança: “Mate-o, livre-se dele e viva sozinho.” Abel, numa última tentativa para apagar o fogo aceso no peito do irmão, disse-lhe: “Se levares a tua ameaça a cabo, irás carregar a minha e a tua culpa, porque não tens nada de bom para compensar a tua maldade.” Caim, cego pelo extravio, surdo, só ouvindo a voz que o estava induzindo à morte, não desejava ver nada além do corpo ensanguentado do irmão, envolto pela terra. Caim obedeceu aos apelos de sua maldosa alma, atendeu o chamado de sua concupiscência cega e enterrou a faca no peito do irmão, matando-o.


Foi o primeiro crime de assassinato na história. Qual foi a sua causa? A inveja, a cobiça e o ódio, o egoísmo, o amor próprio, o predomínio da raiva, o sentimento de vingança e eliminação dos outros. Essas são as primeiras causas e raízes da violência.


O Alcorão não abandonou a cena do crime rapidamente, nem cerrou a cortina sobre a visão do assassinato para deixar que os nossos sentimentos se compadeçam da vítima inocente (Abel) e condenem o assassino (Caim) por meramente ver o sangue jorrar da vítima.


Aí, a voz do Céu se elevou para soar nos ouvidos do tempo e da humanidade: “De sorte que prescrevemos aos israelitas que quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade; quem a salvar, será reputado como se tivesse salvo toda a humanidade…” (5:32). Com o acontecimento do crime, surgiu a rígida lei Divina: A morte de uma só pessoa = à matança de toda a humanidade. A salvação de uma só pessoa = à salvação de toda a humanidade. O que isso quer dizer?


1. A humanidade forma uma só unidade;
2. A honra e a segurança do ser humano são sagradas e não podem ser maculadas, a não ser quando ele se transforma em elemento de corrupção;
3. Quem se permitir matar uma pessoa inocente, pode cometer aquilo duas, três,… dez ou mais vezes. Ou seja, está preparado para eliminar toda a raça humana, se puder fazê-lo.


O Emprego Negativo das Dádivas de Deus


O que Caim utilizou para matar o irmão?


1. Seu instinto;
2. Sua língua;
3. Sua mão.


A mente de Caim deixou de funcionar, ficou paralisada, foi eliminada, extinta pelo ódio. Quando a mente da pessoa desaparece, o instinto animal e as reações satânicas ocupam o seu lugar. Eles estão sempre juntos. O instinto do animal feroz que mata qualquer presa que encontra, presente na natureza humana, é freado pela razão, que controla o seu movimento e não deixa a sua brida se soltar. O instinto de Caim foi que dominou a situação, subjugando-o completamente. Quanto à sua mente, estava envolta num sono profundo, paralisada, deficiente, sem energia. Caim apagou a luz que poderia iluminar seu caminho. A sua língua também esqueceu a sua função benéfica e passou a proferir a linguagem da ameaça, da matança e da vingança. Disse: “Vou matar-te.” A sua mão negou a sua responsabilidade, traiu a sua confiança, golpeou uma alma inocente, sem que ela tivesse praticado crime algum.


A língua e a mão, imparciais, seriam como qualquer instrumento utilizado para a prática do bem ou do mal. O homem é que escolhe em quê utilizá-las: nos atos maléficos ou benéficos. A mente, o melhor elemento que distingue o homem, tem muita utilidade. Todas as produções culturais humanas são oriundas dela. Há pessoas desviadas que a utilizam para a maldade. Empregam-na em fraude, falsidade, destruição e infâmia, em tudo que é negativo.


A língua possui várias funções, boas e úteis, que não se devem contrariar. Há, porém, quem a restrinja a funções baixas: xingamento, injúria, maldições e obscenidades.


A mão possui inúmeras utilidades benéficas. Por que, então, é utilizada para roubar, para agredir, para matar, ou para outros atos de violência?


Todas as dádivas de Deus são boas. Nós é que as utilizamos para o mal, em atos que Deus não deseja que sejam realizados. Esta é a diferença entre a pessoa boa e a má. Esta é a diferença entre o agradecido e o soberbo. Esta é a diferença entre Caim e Abel.


O Sentimento de Exclusão


Num instante qualquer, antes de matar, a mente satânica de Caim e seus sentimentos insistentes lhe disseram: “Abel é melhor do que você. Por isso, Deus aceitou a oferenda dele e recusou a sua. Você não consegue ser como ele. É o seu rival, competidor e inimigo. Você não suporta vê-lo como superior. Qual é a solução, então?”. “Vou eliminá-lo. Vou matá-lo. Vou fazê-lo desaparecer da minha vista. Assim o caminho fica livre para mim, fica só para mim, livro-me da preocupação. Depois de hoje não haverá mais uma pessoa com o nome de Abel que perturbará a minha vida. Só haverá ‘eu’.”


Temos aqui um claro exemplo de intolerância em relação ao outro, quer seja irmão ou não. Não suportamos vê-lo presente e isso nos induz a pensar em eliminá-lo, importuná-lo, matá-lo. A mentalidade de exclusão e de embargo forma-se a partir de uma imaginação doentia: “a vida não comporta duas pessoas, eu e o outro. Ou eu ou o outro”. O egoísmo é que move o instinto humano na direção da eliminação do outro, que é superior em algum aspecto ou se distingue, afastando-o das vistas, mandando prendê-lo ou matá-lo. A violência tornou-se a linguagem dominante, provocando os sentimentos de eliminação, exclusão e domínio. Querem, as pessoas que pensam assim, destacar-se utilizando métodos espúrios, dos quais talvez o mais terrível seja a eliminação pura e simples do “outro”. Porém, o Islã ensina que o afastamento dele do caminho não resolve o problema; pelo contrário, complica, piora a situação, porque, se matarmos todo rival ou adversário, a vida torna-se selvagem. O diálogo, o entendimento, o bom relacionamento, a convivência, a utilização de métodos saudáveis deve ser a solução exemplar: “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Repele (óh, Mohammad!) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo!” (41:34).


Os irmãos de José (a.s.) não o mataram. Afastaram-no, jogando-o no poço, pois não suportavam vê-lo por ter ocupado um local de destaque no coração de seu pai. Não pensaram em alcançar uma posição semelhante à dele, empenhando-se nisso. Escolheram o caminho mais fácil: A eliminação. Tentaram apagar José (a.s.) do mapa de sua vida. Para isso, culparam o lobo de tê-lo comido, mesmo sendo o animal inocente. Os que pensam como os irmãos de José (a.s.) estreitam o horizonte, o pensamento e a imaginação. Fogem do enfrentamento da verdade e procuram outros caminhos. A verdade, porém, é como o sol que se põe no horizonte ou é coberto pelas nuvens. Ele aparece novamente, denunciando as ações dos corruptores, das pessoas que se colocam fora da vida, mesmo estando dentro dela.


Qual é o significado da violência?


A violência é grosseria e aspereza, a utilização de força ilegal atrelada ao amedrontamento; corresponde à prática de qualquer ato desprovido de bondade e solidariedade. É representada pela agressão às liberdades. Em resumo, significa eliminar os outros, alegando falsos motivos e utilizando métodos ilegais e irracionais, como no caso dos irmãos Caim e Abel. O homem, que pode até ter o impulso violento, num segundo momento a rejeita, porque contraria a sua natureza. A imposição, a coerção, a coação, a subjugação, o predomínio são atitudes de caráter violento. Levam o outro a adotar o método da resistência, oposição, rebeldia e revolta, chegando a enfrentar a violência com violência. Para eliminar a opressão e a atitude violenta, podemos tomar as seguintes atitudes:


1. Enfrentar a violência com violência;
2. Enfrentar a violência com tolerância e perdão;
3. Enfrentar a violência com atos de bondade.


A experiência humana confirma:


* Enfrentar a violência com violência significa fomentar o fogo da guerra, cujos resultados e perdas são incalculáveis;
* Enfrentar a violência com tolerância evita o acontecimento de alguma desgraça, ou males outros que poderiam advir;
* Pagar o mal com o bem é a melhor solução para aproximação dos corações e a obtenção da segurança e da paz.


Os coraixitas combateram o Profeta (S) com violência. Ele, porém, não revidou na mesma moeda. Quando teve domínio sobre eles, no dia da conquista de Meca, perguntou-lhes: “Que esperam de mim?” Eles responderam: “És um irmão generoso, filho de um irmão generoso.” Ele lhes disse: “Podem ir. Estais livres.” Ele não aproveitou aquela oportunidade para se vingar ou castigar as pessoas que feriram seu rosto e pernas, torturaram seus companheiros e seus seguidores. Os seus Familiares (a.s.) fizeram o mesmo. Eles pagaram o mal com perdão e tolerância, o que fez seus inimigos adotar o Islã ou parar as suas maldades. Um deles ofendeu o Imam Ali (a.s.), primo e genro do Nobre Profeta (S), dizendo: “Que Deus o combata. Nenhum incrédulo é mais eloqüente do que ele.” Seus companheiros se lançaram sobre ele para matá-lo. Porém, o Imam (a.s.) exclamou: “Acalmem-se e perdoem! Esta é uma ofensa que pode ser paga com outra ofensa ou com perdão! Eu tenho a capacidade de perdoar!”.


Será que o Imam (a.s.) estava em posição de fragilidade? Não pagar a violência com violência e a prática do mal com o mal não significa covardia, mas elevação. Como se dissesse ao agressor: “Esta é a sua natureza, e a minha difere da sua. Posso responder da mesma forma, talvez em dobro, porém, envergonho-me de ser pequeno, insignificante e vil, como você.” Em outras palavras: “Deixo-o castigar a si próprio.” O caráter normalmente penaliza a si mesmo porque denuncia a pessoa como sendo maldosa e isso, por si, é castigo. Observemos com atenção: Ali (a.s.), o herói do Islã, matou muitos politeístas, hipócritas e kharijitas . Porém, se perguntássemos a ele. “O que você teria preferido: que eles tivessem se orientado ou que os tivesse morto?” Ele teria respondido: “Se esses grupos se orientassem, reconhecessem os seus erros e aproveitassem a minha luz, seria preferível para mim a ter de combatê-los.” A luta do Imam (a.s.) sempre foi em legítima defesa.


A Violência em Números


As estatísticas revelam aspectos apavorantes da violência:


• O século passado foi marcado pela violência, pois nenhuma região ou cultura escapou desse fenômeno. O século atual testemunha a extensão desse fenômeno;


• A violência não representa apenas uma ameaça às conquistas humanas materiais e sociais, mas se estende para as parcelas mais desprotegidas da humanidade: a mulher e a criança;


• O fenômeno da violência contra a mulher é mundial. Um relatório das Nações Unidas de 2001 revelou que uma em cada três mulheres do mundo sofreu agressão física, imposição de relações sexuais ou maus tratos de uma forma ou de outra;


• Os psicólogos classificam o estupro como a pior forma de violência, devido às maléficas sequelas psicológicas que deixa no indivíduo e na sociedade;


• A transformação do crime organizado e da violência premeditada em comércio. Quadrilhas de mafiosos, na maioria constituída de jovens, utilizam bombas, carros-bombas, cintos de explosivos, bombas-relógios, e outros meios sofisticados para apavorar pessoas em muitas cidades do mundo, com motivos suspeitos, em troca de uma quantia em dinheiro que será desperdiçado em diversões ilícitas;


• Jogos violentos de vídeo; cenas cinematográficas e televisivas de violência. Mesmo as lutas de boxe, luta-livre e touradas incentivam a violência. Há um jogo de vídeo-game, por exemplo, denominado “Estado de Emergência”, que envolve golpes, ataques e aniquilamento de pessoas. Uma psicóloga, ao analisar o jogo, disse: “Se você quer que seu filho seja desorganizado e violento, esse jogo oferece um treinamento inigualável”. Apesar disso, foram vendidas inumeráveis cópias dele.


• Dissolução do lar e da família: Graves desavenças domésticas, situações de separação e divórcio, negligência devido ao trabalho excessivo fora de casa, tudo isso gerou condições para a disseminação e incentivo da violência entre os filhos, de diferentes formas.


O que esses dados significam, mesmo sendo uma gota d’água num oceano? Significam uma coisa só: seguir o exemplo de Caim na vida. Ele não teve a felicidade esperada, nem alegria espiritual com o crime que cometeu, mesmo que tivesse o campo livre. Cometeu um grave erro devido a sua ignorância, seu vacilo e sua pressa. Ele viveu com dor de consciência, arrependido pelo que fez: “Tornou-se então cheio de remorsos” (5:31). Muitos cometem atos maldosos e então sentem remorso e arrependimento. São sentimentos positivos. Sentimentos de penitência, informando que o pecador, não dominado pelo prazer de cometer o crime (a vitória utópica), foi acometido por uma espécie de censura (dor de consciência). O Alcorão Sagrado demonstra essa situação da alma que se reprova: “E juro, pela alma que reprova a si mesma” (75:2). Ela se pergunta: “Por que fiz isso? Por que não segui a Lei de meu Senhor? Se eu tivesse feito isso não teria sido melhor?” Isso significa que ela não está cega pelo seu engano, nem mergulhada em seus desejos, nem afundada em sua negligência.


O que nos faz ser solidários a Abel, condenando e rejeitando a atitude de Caim, apesar de não conhecermos pessoalmente nem um nem outro? Rejeitar Caim e ser solidário a Abel tem um significado. Significa que carregamos dentro de nós uma luz, um instituição valorosa e uma educação moral. De onde vem isso? De natureza com a qual Deus nos criou; da educação que recebemos de nossos pais, no seio de uma família bondosa; de nossos professores na escola; de um período posterior, pelo empenho e o estudo para se aprofundar nestas questões de ordem moral.


Os valores são as medidas, as normas e os sinais no caminho, são o mapa e o laboratório onde separamos e distinguimos entre o que é bom e o que é ruim. O valor é que desvenda se algo merece ser avaliado e valorizado, como o direito, a justiça, a boa ação, a beleza, a hombridade, a sinceridade, a veracidade e a firmeza, considerando-o absolutamente valioso. Ou indica que um sentimento ou ação não é merecedor de consideração e engrandecimento. Ficamos sabendo que é inútil, efêmero, intruso, imposto pela força, como a exagerada consideração do valor real do dinheiro, do nome familiar, da posição social e da aparência exterior. Todas as mensagens celestiais, sem exceção, foram enviadas para plantar a instituição absoluta dos bons valores nas pessoas. Foram enviadas com a excelência moral e de conduta. O Islã também. Quantos países se envolvem em guerras perniciosas que consomem seus filhos e seus recursos? Porém, no fim, não encontram mais do que uma mesa para as negociações e relações pacíficas para resolverem os problemas surgidos entre eles. As guerras começam com atear o fogo, uma centelha que brilha aqui, outra ali, e termina – muitas vezes após décadas de tragédias e sofrimentos – com a extinção do fogo.


A segurança coletiva, que oferece tranqüilidade a cada cidadão, é o filho legal da obediência aos valores e exemplos morais. Se estudarmos a situação de qualquer sociedade, em qualquer época, iremos encontrar que a sua segurança e estabilidade não foram conquistados com a autoridade do governo e o seu domínio. Muito menos com a manifestação de sua severidade, com a aplicação de leis opressivas de segurança. Sua segurança e estabilidade surgiram quando os seus membros aceitaram e seguiram valores vitais, levando em consideração a consciência viva, sentimentos sublimes de responsabilidade e respeito voluntário a um código moral.


Caso uma roupa cara descosture, seu proprietário a costurará novamente para não se rasgar, pois é cara e querida para seu dono. Se um automóvel valioso deixa de funcionar, seu proprietário o conserta, porque lhe custou muito dinheiro. Nosso irmão é mais caro do que nossa roupa ou nosso automóvel. Devemos “consertá-lo” com bons tratos. O ensinamento islâmico diz: “Sê misericordioso com os outros, pois eles serão misericordiosos contigo.” O Profeta (S) disse e também agia de acordo com que dizia:  
“Quem não for misericordioso na terra, Quem está no céu não será misericordioso com ele.”


Uma misericórdia maior do que a outra. Deus, o Altíssimo, tem misericórdia de Seus servos, que devem ter o mesmo sentimento em relação aos outros. Uma misericórdia que abrange tudo e todas as pessoas, o virtuoso e o rebelde. Pela nossa natureza, como seres humanos, tendemos para a brisa agradável, suave e branda. Nós fugimos do vento forte, que arranca as árvores e destrói as casas. Nós nos familiarizamos com a água do rio tranqüilo e fugimos do transbordamento devastador, que ceifa as almas e arruína as propriedades. Pela nossa natureza, também, aceitamos a palavra tranquila, agradável, benéfica e fugimos das palavras ásperas, ofensivas e indecentes, que deixam, na pessoa, feridas e fraturas. Estamos sempre procurando o “segredo” na grandeza das pessoas famosas: como conseguiram atrair os corações dos demais para si mesmos? Será que nunca nos perguntamos sobre o segredo do Profeta (S), que conseguiu conquistar os corações das pessoas mais difíceis, até mesmo de seus inimigos mais empedernidos? O Alcorão Sagrado responde: “Pela misericórdia de Deus, fostes gentil para com eles; porém, tivesses tu sido insociável ou de coração insensível, eles se teriam afastado de ti” (3:159). Um dos conselhos e admoestações do sábio Lukman é: “Há palavras mais fortes do que as pedras, mais penetrantes do que as agulhas, mais amargas que o fel, e mais quentes do que as brasas. Os corações são campos para se plantar. Por isso, deve-se plantar neles a boa semente. Se ela não brotar por completo, uma parte dela o fará.”


A utilização da violência ilegal ou a ameaça com morte, sequestro, tortura, ataque, quer seja praticada por indivíduo, grupo ou país, é rejeitada, definitivamente. O Islã convoca para a convivência entre muçulmanos e não-muçulmanos por meio do conhecimento mútuo e da colaboração: “Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente” (49:13). “Auxiliai-vos na virtude e na piedade. Não vos auxilieis mutuamente no pecado e na hostilidade” (5:2). O Islã convoca para o diálogo e o entendimento entre muçulmanos e não-muçulmanos: “Dize-lhes: Ó adeptos do Livro, vinde, para chegarmos a um termo comum, entre nós e vós: Comprometamos-nos, formalmente, a não adorarmos senão a Deus, a não Lhe atribuirmos parceiros e a não nos tomarmos uns aos outros por senhores, em vez de Deus” (3:64). Os jurisconsultos muçulmanos condenaram o terrorismo e o amedrontamento dos cidadãos inocentes. Não é permitido, definitivamente, sujeitar a vida das pessoas à morte, ao terror, à injúria, nem as suas propriedades ao roubo e à destruição. Os muçulmanos diferenciam entre a revolução contra a injustiça e a resistência contra a ocupação e o que é chamado de “terrorismo” ou “violência por causa da violência”. A revolução e a resistência são permitidas; o terrorismo é injustificável, porque, basicamente, é contra a lei. Por onde começamos? Pelo ponto de partida: Assalamu Alaikum (“que a paz esteja convosco!”).


“Extirpe o mal do coração dos outros, extirpando-o do seu coração.”

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