Sermão de Sexta-feira da Mesquita do Brás – O porquê do castigo do juízo final 08/11/2019 – Sheikh Wissam Issa

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, na altura de Sua majestade e como Ele merece. Louvado seja o Senhor do Universo, que a paz e as bençãos de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados, Ahlul Bait (A.S.) e sobre todos os profetas e mensageiros, seus bons companheiros e os servos virtuosos.

Deus, peço-lhe perdão por mim e todos os fiéis, estejam eles vivos ou falecidos. Servos de Deus, recomendo a vocês e a mim mesmo o temor a Deus, o temor o qual Deus determina o tamanho do crédito do ser humano nesta e em outra vida.

PERGUNTA: POR QUE DO CASTIGO?

Existe uma pergunta que se faz muitas vezes. Porque Deus castiga uma categoria de pessoas no dia do juízo final? Como todos sabem, existem duas categorias de pessoas que serão julgadas no dia do juízo final: a primeira é a que se dirigirá ao paraíso e será recompensada e a segunda categoria é o grupo que será guiado ao inferno e lá será castigado. A pergunta é por que Deus castiga?

a) O conforto da punição

O castigo de Deus para com as pessoas é muito diferente do castigo ou punição de um de nós perante o outro. As leis de punição humanas não cabem às leis de castigo de Deus. Exemplo: Na terra, quando acontece uma transgressão contra o ser humano, como a tomada de um bem, por exemplo, ou a destruição de uma casa ou ainda o assassinato de um inocente, essa transgressão praticada por parte de um transgressor deixa uma marca de sofrimento e dor na vítima a qual pode diminui-la quando haja uma punição contra a transgressão. Não partindo do ponto de vista da vingança e sim do ponto de vista interno da vítima, ela se sente melhor quando vê que seu transgressor recebeu a punição por aquilo que fez. Então resumindo, a punição do transgressor diminui a dor na vítima. Agora a pergunta é: Será que Deus se sente melhor ou aliviado por punir os transgressores e pecadores? Não. Esta lei não cabe a Deus. Deus não possui sentimentos ou desejo de vingança.

b) Punição para educar

Ou seja, um ladrão ou um injusto que transgrida recebe aquela punição para ser reeducado. Partindo do ponto de vista educativo e partindo do ponto de vista do amor ao próximo, o criminoso é punido para ser educado. Mas essa hipótese também não é o objetivo, pois no dia do juízo final, a pessoa não terá mais condições de retornar à vida para viver a mudança. Ali todos irão receber a sua recompensa e não haverá mais chance para ela ser mudada.

c) Punição para dar uma lição social

A intenção ao castigar o criminoso ou o pecador, é para que a sociedade possa aprender qual será o destino daquele pecado ou daquela transgressão. A punição servirá para dar a lição à sociedade inteira para que aquela prática seja evitada por outros. Deus disse no Alcorão Sagrado: “Tendes, no talião, a segurança da vida, ó sensatos, para que vos refreeis” (2:179). Essa também é a terceira hipótese para entender a gênese do porquê do castigo, mas ela se torna inválida à medida que a punição já é uma situação em que nenhuma pessoa poderá mais ser testada, pois é o ápice da lição. No dia do juízo final ninguém mais vai poder roubar ou praticar um crime, por esta razão, a punição de Deus ali não teria mais o objetivo de dar lição. Portanto esta hipótese é também descartada.

Então, por que Deus castiga? A resposta está em três pontos:

Primeiro: EXPOR A JUSTIÇA DIVINA

O primeiro objetivo para o castigo de Deus é a exposição da justiça de Deus. Ou seja, o castigo de Deus, no dia do juízo final, é para que todos vejam e testemunhem a justiça Dele. Todas as criaturas verão como Ele castigará os transgressores e os criminosos e como cada vítima terá seu direito de volta. Numa outra passagem Deus, o Altíssimo, disse: “… E encontrarão registrado tudo quanto tiverem feito. Teu Senhor não defraudará ninguém.” (18:49)

O SER HUMANO ESPERA JUSTIÇA OU PIEDADE DE DEUS?

A resposta a esta pergunta é clara. Certamente o ser humano jamais deseja a justiça de Deus isso porque o ser humano irá almejar a virtude e a generosidade de Deus que é além da justiça. Vamos dar um exemplo para entender o significado disso: imaginem um empregador com vários funcionários e cada um recebe um salário de R$ 5.000,000 por exemplo. No final do mês, se ele pagar os R$ 5.000,00 para cada um, estará sendo justo pois está cumprindo o acordo, se pagar a mais estará sendo generosos e virtuoso. No caso, se algum empregado trabalhar menos ou faltar alguns dias e mesmo assim o empregador estiver pagando o mesmo salário acima, então ele também estará sendo generoso com o seu empregado.

No entanto, muitos de nós não cumprimos todos os nossos deveres e obrigações perante Deus e por isso não desejamos que Ele nos julgue com Sua justiça, mas que derrame sobre nós Sua generosidade e perdão. Não queremos ser privados das recompensas mesmo tendo falhado em nossas obrigações. Assim, pedimos a Deus que não use da justiça plena conosco no dia do juízo final, pois a justiça nos prejudicará. Queremos que Ele seja piedoso e generoso conosco, apesar de nossas faltas, e isso é o que todos os seres humanos almejam.

COMO A JUSTIÇA DE DEUS SERÁ EXPOSTA?

Os deveres do ser humano perante Deus, ou seja, as obrigações de cada um perante o seu criador, cabe a Ele perdoar e julgar. Já no que diz respeito a direitos de um com o outros, ou seja, alguém que depende de uma outra pessoa para satisfazer ou agradar uma pessoa, tal como um pagamento, um trabalho feito, uma obrigação, um direito, e etc, estes dependem do aval da pessoa para serem creditados e não de Deus. Portanto, quando a pessoa não paga o direito do próximo, não caberá a Deus perdoar esta transgressão. Esse pecado será transformado em uma punição a qual Deus punirá o transgressor e recompensará a vítima desta transgressão.

Tantas injustiças acontecem no mundo de hoje em dia. No mundo inteiro, os povos e nações do mundo inteiro sofrem com as transgressões dos governantes e os tiranos que dão legitimidade às suas injustiças por meio de leis que eles mesmos decretam, dando legitimidade às suas transgressões. Cabe a esses injustos praticarem injustiças contra seus povos e ficarem imunes à punição? Certamente haverá um dia no qual os injustos receberão a punição por suas práticas injustas contra as pessoas e este dia está marcado no julgamento final. Nesse dia, as vítimas se queixarão a Deus contra as opressões e os transgressores, e serão recompensadas por seus direitos tomados. É como se elas fossem indenizadas por Deus no dia do juízo final. Os injustos, governantes e tiranos pagarão por suas transgressões e opressões.

Já no que diz respeito àquilo que depende de Deus, para ser perdoado, cabe a Ele decidir se perdoa ou não. Pecados estes tais como falta de cumprir os deveres pessoais com Deus, tais como, Oração, Jejum, Peregrinação, Zakat, Khomos e etc… Deus é soberano e perdoa nossos pecados, pois Ele é generoso e misericordioso. Mas no que depender de alguém que se sinta injustiçado, Deus não poderá perdoar, pois o injusto escolheu o caminho da transgressão e oprimiu uma pessoa por sua livre escolha.

Segundo: A PIEDADE DE DEUS

Numa outra passagem Deus, o Altíssimo, disse: “Dize: A quem pertence tudo quando existe nos céus e na terra? Responde. A Deus! Ele impôs a Si mesmo a clemência. Ele vos congregará no indubitável Dia da Ressurreição! Porém, os desventurados não crêem nisto.” (6:12)

Por meio deste versículo podemos concluir que o segundo objetivo é expandir a piedade de Deus perante todas as Suas criaturas. Deus olha para todos eles com visão de clemência e jamais com severidade.

Essa grande clemência, que inclui todas as criaturas de Deus, será o elemento que dominará a situação e o dia do juízo final, sendo que a Sua justiça e Seu castigo são exceções, e em casos específicos.

A CLEMENCIA SOBRE OS CRENTES E OS DESCRENTES

Pergunta: No dia do juízo final pessoas serão recompensadas com o paraíso e estes estão sendo incluídos na clemência de Deus. Já aqueles que estão sendo castigados no inferno, como serão incluídos na piedade e a clemência de Deus?

Existem quatro categorias de piedade e clemência, sendo que três não estão sob o domínio do homem e apenas a última é controlada por ele. Seguem abaixo:

1) A criação do ser humano

O ser humano não tem a opção de escolher ser criado ou não. Ele existiu do nada sendo que Deus o criou, e esta é uma grande clemência para com o ser humano.

2) Os meios e ferramentas do ser humano

Além do ser humano ter sido criado por Deus, Ele lhe deu as melhores ferramentas e meios para viver uma vida feliz. A razão, a visão e os sentidos, a condição de aprender, de andar, de tocar, de pensar, e todas as demais coisas que formam um ser humano perfeito. Certamente, se a pessoa tivesse sido criada sem estes meios e ferramentas seria um ser muito deficiente. Deus criou o ser humano e além disso o criou em um melhor formato e forma. Deus criou o ser humano com perfeição e esta é a segunda clemência que Deus garantiu ao ser humano.

3) O envio dos Profetas e Mensageiros

Além de tudo que Deus concedeu ao ser humano Ele lhe enviou guias, professores e mestres que pudessem orientá-lo a não seguir o caminho errado, para ter um final feliz e conquistar a satisfação e o agrado de Deus.

4) O paraíso

O paraíso foi criado como uma grande clemência e misericórdia ao ser humano. No entanto, a entrada ao paraíso depende do ser humano (é a quarta clemência). Todas as três primeiras não são clemências impostas sobre o ser humano, já a última depende de Sua escolha. Esta última não é limitada a nenhuma nação ou povo, nenhuma nacionalidade ou raça, nenhum gênero e nem idade. Todo o ser humano será agraciado pelo paraíso se Obedecê-lo (Deus). É como se Deus dirigisse um discurso ao ser humano e dissesse: “Ó humano, aqui está o paraíso e para ingressar nele deve seguir este caminho”. Este discurso foi dirigido a todos sem nenhuma exceção, até mesmo aos opressores e tiranos como os Faraós. Mesmo assim alguns o rejeitaram. Já outros se empenharam ao máximo para conquistá-lo. O paraíso é acessível a todos e o significado do versículo acima é justamente este. Portanto, o fato de ingressar ao paraíso depende das nossas escolhas e nossos atos, mas antes disso Deus nos concedeu três grandes clemências, da criação, da perfeição e da orientação, e todas formam o ambiente ideal para que sigamos o caminho de Deus e não transgridamos, e não sejamos injustos com alguém.

Exemplo: Alguém sentado na escuridão e vem uma pessoa e concede a ela a luz. Diz pra ela que fará a ligação e concederá a luz, mas mesmo assim aquela pessoa não quer e prefere ficar na escuridão do que na luz. O mesmo acontece quando alguém vem e constrói uma escola por exemplo numa cidade, e esta escola é acessível a todos, mas mesmo assim alguns não a procuram. Eles viverão na ignorância e não aprenderão, já os outros que frequentarem a escola serão beneficiados pelo conhecimento. Deus criou o paraíso e o deixou acessível a todos, e mostrou o caminho para a humanidade por meio de seus profetas e mensageiros. Se alguém não quiser chegar a ele será, infelizmente, por sua própria culpa, pois fez esta escolha e, portanto, responderá por seus atos.

OUTRA PIEDADE E CLEMÊNCIA DE DEUS

Como dissemos acima, no dia do juízo final, Deus agirá com Sua clemência e com Sua justiça. Então, aquele que é obediente a Deus certamente será incluído, pois pela clemência de Deus seremos perdoados, já os desobedientes esperarão a clemência, a piedade e o perdão de Deus. Imagine quando você praticar uma maldade com uma pessoa virtuosa e piedosa e ela tiver condições de se vingar de você, mesmo assim esta pessoa jamais irá se vingar, pois esta característica não é cabível à sua postura.

Deus, o criador do universo recompensará os obedientes e perdoará os desobedientes. Então quem ele irá castigar no inferno? Serão aqueles que transgredirem além dos direitos de Deus. Eles praticaram injustiças para com as pessoas e isso não dependerá de Deus para perdoar e sim das vítimas.

O PERDÃO DE DEUS NAS TRADIÇÕES DOS AHLUL BAIT (A.S.)

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia: “Quando for o dia do juízo final Deus espalhará tanto o seu perdão e clemência, e até mesmo Satã ansiará ser incluído no campo do perdão de Deus”.

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia: “Juro por Deus, Ele perdoará tanto no dia do juízo final que até mesmo o Satã ansiará ser incluído em Seu perdão”.

Rogamos a Deus, o Altíssimo, que sejamos incluídos no perdão e na clemência de Deus. Pedimos a Deus o perdão pelos nossos pecados e rogamos a Deus que abençoe Mohammad e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos!

 

 

 

 

 

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