Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Não à herança da ignorância – Sheikh Youssef Ajordi – 19/02/2021

Primeiro Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Recomendo a todos e a mim mesmo o temor a Deus, pois é a melhor das bagagens, sendo que o seu significado é se distanciar dos atos ilícitos e praticar aquilo que satisfaça a vontade de Deus.

Deus disse no Alcorão Sagrado: “Para que a verdade prevaleça e desapareça a falsidade, ainda que isso não agrade os pecadores”. (8:8)

A herança errada

Queridos irmãos e irmãs, estabelecer a verdade é a base do processo da elevação do homem e de sua perfeição rumo ao caminho de Deus. É difícil imaginarmos uma pessoa religiosa que não busque estabelecer a verdade. A fé é a verdade e a verdade é a fé. São dois elementos totalmente alinhados. Hoje, irei falar no primeiro sermão sobre uma herança que recebemos desde a época da ignorância, e está presente ainda em nossa sociedade. Conforme o ditado: “Eu e meu irmão contra meu primo. E eu e meu primo contra o estranho”. O significado deste famoso ditado, impõe o fator família frente ao fator da verdade, sendo assim, seja lá qual for a questão o indivíduo sempre defenderia o seu irmão ou primo mediante uma causa, mesmo que eles estejam errados. Infelizmente, alguns de nós repetem e praticam este ditado, mesmo que seja contra princípios da nossa religião. Há alguns ditados populares que podem ser repetidos e praticados pelos muçulmanos, pois são compatíveis aos ensinamentos da nossa fé, como por exemplo: “O dono da verdade é o rei” ou aquele ditado que diz “O calado perante a verdade é um diabo calado”.

Na época da ignorância

Nesta época, haviam grupos e tribos que combatiam, matavam e violavam os demais grupos somente para apoiar e defender seus irmãos, mesmo que eles estivessem errados. Graças a Deus, os fiéis se libertaram desta herança, porém alguns ainda continuam seguindo e praticando tais ensinamentos. Atualmente, muitos entre nós confundem as coisas. Alguns alegam a fé, mas quando são testados fazem a escolha errada. Muitos, por exemplo, ao serem intimados para depor contra um irmão, mesmo que para defender um pobre e um injustiçado, não fazem o certo, para não causar insatisfação perante o irmão. Não é assim que o fiel deve se comportar diante de uma questão de justiça e verdade. O fiel deve apoiar e manifestar o seu apoio à verdade.

Eu sendo um fiel, não devo achar que a fé está limitada na oração, jejum ou peregrinação. Com todo respeito aos oradores, aos jejuadores e aos peregrinos, mas do que adianta estas práticas sem o indivíduo se empenhar para estabelecer a justiça e verdade na sociedade?

A verdade é a essência da fé, e nada é mais gratificante quando o homem apoia o oprimido, mesmo que não o conheça. E quem disse que podemos tomar o direito de pessoas que não sejam muçulmanas? E mesmo que o opressor seja um muçulmano perante um não muçulmano, o mesmo deve ser enfrentado e combatido e o oprimido deve ser apoiado.

Ajudar o irmão injusto

Uma outra narrativa que as pessoas fazem uma leitura errônea é que: “Ajude seu irmão, seja ele justo ou não”. Ajudar o irmão até mesmo ele sendo injusto, não significa que devemos apoiá-lo em sua injustiça, mas sim, que devemos pará-lo e freá-lo na prática da injustiça na sociedade. Nosso dever nesta questão é fazê-lo parar em sua prática de injustiça e de opressão. E assim seria a melhor maneira de apoiar o seu irmão injusto.

Mesmo que seja um irmão?

Sim. Mesmo que o injusto seja do seu próprio sangue, o mesmo deve ser enfrentado, pois no dia do juízo final não sobrarão motivos para com que a pessoa fuja de todos, até mesmo das pessoas mais próximas. Deus disse: “Nesse dia, o homem fugirá do seu irmão (34) Da sua mãe e do seu pai (35) Da sua esposa e dos seus filhos (36) Nesse dia, a cada qual bastará a preocupação consigo mesmo (37)”. (80)

Portanto, vamos nos libertar das heranças da época da ignorância. Um fiel jamais pode pensar ou praticar um ditado que não seja compatível com os ensinamentos da nossa doutrina e religião. É inaceitável apoiar o irmão que esteja errado. Isto não é um pensamento islâmico.

Sabem o que o Profeta fez assim que chegou a Medina? Após a construção da primeira mesquita ele fez o voto de irmandade entre todos os irmãos. Este manifesto foi importante para afirmar que o verdadeiro laço de irmandade entre as pessoas é estabelecido com base na fé e não com base no sangue ou grau de parentesco.

O constrangimento

Alguns acham que é melhor evitar um possível constrangimento, caso apoiem um estranho perante um amigo. Eles preferem insatisfazer a Deus e satisfazer um irmão. Imaginem que eu seja convocado para testemunhar uma verdade contra um amigo, um irmão ou um parente. Meu dever religioso é ir e testemunhar, pois é uma questão de estabelecer a verdade e justiça, e é isto o que mais importa para o Islam. Além disso, o fiel deve saber que tudo o que acontece com ele é um teste, e às vezes, o preço sai caro demais. É aqui que surgem os verdadeiros fiéis e a peneira faz efeito. Os verdadeiros fieis são destacados dos infiéis nestes casos. Imaginem que uma palavra da verdade me custe dinheiro, cargo, ou até mesmo sangue e vida.

O justo

Sabem por que o Imam Ali (A.S.) foi assassinado? Por que ele foi odiado por alguns? Será que é porque ele foi o sucessor do Profeta? Será que é porque ele foi o marido da sua filha Fátima? Será que é porque ele foi o pai de Hassan e Hussein? Será que é porque ele foi o assassino dos heróis da idolatria?

Não, nada disso. Imam Ali (A.S.) foi assassinado pois apoiava o oprimido perante o opressor, e este seu apoio lhe custou sua vida. Ele fez muitos inimigos e foi esta a causa de sua morte.

O Imam Ali (A.S.) não brincava com a verdade. Ele tirou o direito tomado dos opressores e o devolveu para seus verdadeiros donos. Ele acabou com o sonho dos opressores em sua época. É assim que aprendemos com o Imam Ali (A.S.).

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com Mohammad e sua purificada linhagem.

Que a paz e as bênçãos de Deus estejam com todos.

Segundo sermão

“Salman é o filho do Islam”

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a bênção de Deus esteja com Mohammad e sua purificada linhagem.

Deus disse: “Ó fiéis, temei a Deus! E que cada alma considere o que tiver oferecido, para o dia de amanhã; temei, pois, a Deus, porque Deus está bem inteirado de tudo quanto fazeis (18) E não sejais como aqueles que se esqueceram de Deus e, por isso mesmo, Ele os fez esquecerem-se de si próprios. Estes são os depravados! (19) Jamais poderão equiparar-se os condenados ao inferno com os diletos do Paraíso, porque os diletos do Paraíso serão os ganhadores (20)”. (59)

O filho do Islam

Um homem monoteísta, amante da verdade e da justiça. Irei falar sobre o Mohammad Al-Mohammadi Al-Faresi. Seu nome em persa era Ruzbeh, e dizem que ele era de Isfahan.

Salman era monoteísta e acreditava em Deus, o único, sendo que sua natureza o fez estar em busca da verdade. Ele viajou da Pérsia para Sham e até Mossul, e em seguida até o Hijaz, para chegar a verdade. Em cada lugar que ele passava procurava os arcebispos e os sábios da região e aprendia com eles. E antes da morte destes, Salman perguntava onde estava a verdade. Os sábios que eram os mestres de Salman o indicavam a outros sábios, e assim ele passou de região em região até chegar em Mossul, onde, antes do falecimento de seu mestre, foi informado por ele que a verdade estava com um homem localizado na Península Arábica. Assim que soube, pediu transporte aos homens de uma tribo árabe que fora a Mossul. Infelizmente, estes homens o traíram no meio do caminho e o venderam como escravo para um judeu. Este judeu vendeu Salman para o seu primo que vivia em Medina, sendo que foi lá que ele ouviu mais sobre um homem que alegava a profecia, ali mesmo na cidade.

Quando Salman soube disso, pediu ao seu mestre que o deixasse ir para encontrar aquele homem que declarava sua profecia. O preço de sua libertação foi estipulado pelo escravagista, que era a plantação de 300 tamareiras. Salman aceitou aquele desafio, começou a plantar, e quando terminou foi libertado.

Salman havia sido informado por seus mestres espirituais em Sham e Mossul que o último dos Profetas tinha algumas características, e que por meio delas ele conseguiria identificar a pessoa. A primeira característica é que o selo dos Profetas não aceitaria doações e nem caridades, por isso Salman foi até ele e lhe deu algumas tâmaras de caridade. O Profeta não aceitou. No dia seguinte, Salman foi ao Profeta e apresentou tâmaras, mas não como caridade e sim como presente. O Profeta as aceitou, se serviu e serviu os demais companheiros. Estas questões entre outras fizeram com que Salman ficasse convencido de que aquele homem era o verdadeiro selo dos Profetas e o último entre os Mensageiros de Deus, e que sua doutrina e mensagem era a verdade.

Deixou tudo para trás e buscou a verdade

Salman, um homem de Deus e totalmente dedicado à Ele, deixou tudo que tinha em busca da verdade. Dizem que seu pai e sua família eram ricos e poderosos na Pérsia, mas isso não importava para Salman. Ele procurou e não desistiu de procurar a verdade até que chegou a ela. Quando a conheceu se entregou de corpo e alma e declarou seu testemunho ao Islam.

A palavra da verdade

Certo dia, quando Salman entrou na mesquita saudou seus irmãos. Infelizmente, eles intencionaram machucar e desprezar Salman, então cada um começou a falar de qual origem e família eram. O primeiro disse que era da família de Tamim. O segundo disse que era de Quraish. O terceiro disse que era de Quraish. Então, por fim eles perguntaram a Salman: “E você Salman, de qual tribo você é?”

Salman então, olhou para eles e os respondeu e disse com muita firmeza e fé no coração: “Eu sou o filho do Islam”. Só isso. Deus disse: “Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado”. (49:13)

Além disso, Salman não se contentou em dizer que era o filho do Islam. Ele explicou o porque daquilo. Ele disse: “Eu estava desviado, Deus me orientou com Mohammad. Eu era pobre, e Deus me enriqueceu com Mohammad. E eu era um escravo e Deus me libertou com Mohammad. Esta é a minha origem e minha integração”.

Salman é o exemplo

Temos que seguir Salman como exemplo. Ele abandonou tudo e seguiu na jornada rumo e em busca da verdade e da justiça. Este é o maior exemplo para todos nós. Veja só o nosso planeta, quanto de injustiça e de opressão há nele, em todos os cantos do mundo. O mundo inteiro fica calado perante a injustiça, a destruição, a guerra e a matança de inocentes. Exceto um pequeno grupo de pessoas que ama a prática da justiça e da verdade. Eles apoiaram o Islam e aprenderam com Ali (A.S.) como o homem deve ser praticante da verdade e da justiça. Vemos que esta força e esperança é o refúgio de todo oprimido no mundo. Só o fato dele ser um injustiçado, isto por si só, já é o mais importante para que se torne motivo de apoio das demais pessoas. É isto que aprendemos no Islam, como apoiar e ajudar os oprimidos no mundo inteiro, independentemente de suas raças, crenças ou nacionalidades.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

 

 

 

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