Sermão de sexta-feira – A filosofia do Haj – O Haj dos pobres – Sheikh Youssef Ajudri – 09/07/2021

Primeiro sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Servos de Deus, recomendo a todos a temência a Deus que é o único caminho para a salvação.

Deus disse no alcorão sagrado: “E proclama a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo longínquo lugar,” (22:27)

Em algumas horas iremos ingressar no mês sagrado de Zul Hijjah, o mês da peregrinação. Alguns de nós já foram para o Haj mais de uma vez e outros não. Oramos para que todos tenham sucesso de realizar este sagrado ritual, mas vamos falar hoje sobre o significado e a filosofia do Haj.

Literalmente o Haj significa “A intenção de visitar” ou também quando alguém lugar passar a ser frequentado com mais frequência pode se também.

Já na religião o termo Haj é a intenção de visitar a casa sagrada de Deus, a Caaba, para realizar o Tawaf e demais rituais obrigatórios da peregrinação. Este é o significado do Haj na literatura.

O significado verdadeiro

Mas, queridos irmãos, qual o verdadeiro significado por trás do Haj? Será que é simplesmente viajar a um lugar tão distante, realizar alguns rituais e permanecer alguns dias e depois retornar e então a pessoa começar ser chamado de “Haj”, ou seja, peregrino?! Será que este é o significado verdadeiro do Haj?

Com certeza este não é o significado do Haj. Isso que citamos acima, os rituais, são apenas introduções para o verdadeiro Haj.

Servidão a Deus

Podemos resumir a filosofia do Haj e o seu objetivo em uma única questão: ser verdadeiramente servo de Deus. Alguns podem dizer : “Mas nós já somos servos de Deus!”. Não, não é tão simples assim. A pessoa só será verdadeiramente classificada como servo de Deus em condições muito específicas. A pessoa para ser classificado como servo de Deus tem que ser merecedor deste título. Vocês todos já sabem o que nós dizemos na saudação da oração, dizemos: “Testemunho que Tu (ó Mohammad), é Seu servo e Seu mensageiro”, ou seja o grão de servidão é mais elevado e nobre do que ser um mensageiro ou representante.

Esta é uma questão clara. Não é fácil a pessoa ser verdadeiramente servo de Deus. Quando uma pessoa alega ser servo de Deus mas ele O desobedeceu, esta alegação é uma farsa. Um verdadeiro servo obedecerá a Deus sob toda e qualquer circunstância sem resistir a nenhuma de suas ordens. Esta é a verdadeira filosofia e objetivo de Haj, é fazer a pessoa sentir e colocá-la numa posição de verdadeira servidão a Deus.

O Haj não é apenas no Islam

Além disso, o Hajj, ou seja, a peregrinação, não é apenas um ritual existente no islam mas sim já existia em demais religiões e tradições e culturas.

O ritual do Haj

Deus o altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “A primeira Casa (Sagrada), erigida para o G6enero humano, é a de Bakka, onde reside a bênção servindo de orientação à humanidade (96) Encerra sinais evidentes; lá está a Estância de Abraão, e quem quer que nela se refugie estará em segurança … (97)” (3)

Em outra passagem Deus o altíssimo disse: “E proclame a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo longínquo lugar” (22:27).

Estes dois versos são versos que têm proclamações diretas ao Haj. O Profeta Abraão (A.S.) convocou as pessoas para o Hajj e no final dos tempos o 12º Imam, o Imam Al-Mahdi (A.F.) também surgirá e reaparece em Meca. Que bela ligação. Abraão, o profeta que destruiu os ídolos e estátuas proclamou para o Haj na casa sagrada de Deus e lá mesmo será onde o Imam Al-Mahdi (A.F.) surgirá para estabelecer o estado da justiça e da verdade quando a promessa de Deus mencionada no Alcorão Sagrado será cumprida. Deus disse: “E quisemos agraciar os subjugados na terra, designando-os imames e constituindo-os herdeiros” (28:5).

Uma narrativa delicada

Esta narrativa é muito delicada e pode ser aplicada sobre todos, especialmente sobre aqueles que têm condições de realizar o Hajj mas não o fazem e com certeza são muitos, é lógico antes da pandemia do Corona. Às vezes a pessoa tem condições financeiras, logísticas e até mesmo sociais para realizar o Hajj mas não o faz. Qual será o destino dele?

Ouça o que o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia: “Aquele cujo nada o impede de realizar o Hajj, um obstáculo ou uma doença ou uma causa política, este morrerá como infiel”.

O dito está bem claro e explícito. Se a pessoa tiver condições de fazer o Haj e não há nenhum obstáculo ou doença ou condições políticas que o impedem de realizar o Haj, este morrerá como um infiel e não sedo muçulmano. Então aqueles que têm condições de fazer o Hajj e não o fazem, prestem bem atenção nesta narrativa. Mesmo que eles paguem para outros fazerem o Haj, o ritual do Haj é obrigatório sobre ele e não adianta ele ajudar os outros a fazer. Ele diz: “O próximo ano eu faço o Haj”, e vai adiando e adiando e adiando até não ter mais condições de realizá-lo.

Uma narrativa do Imam Al-Baquir (A.S.)

Esta narrativa é muito bela e significante sobre a filosofia e verdadeiros objetivos do Haj. Narrasse que um homem visitou o Imam AL-Baquir (A.S.), o 5º Imam, durante o período do Hajj e lhe disse: “Quantos peregrinos e quanta agitação!”. O Imam Al-Baquir (A.S.) então lhe disse: “Não diga isso e sim diga: Quanta agitação e qual pouco são os peregrinos (verdadeiros)”.

Isso porque os peregrinos que serão classificados como verdadeiros e sinceros peregrinos serão poucos e isto está confirmado no Alcorão Sagrado. Sempre a classe mais racional, temente, virtuosa, nobre e fiel a Deus será menor que a outra.

Imam Khomeini (K.S.) dizia: “É de extrema importância que o peregrino saiba para onde está indo, e está atendendo a que chamado e além disso ele será a visita de quem, e para que está indo e quais são as regras desta visita. Além disso ele deve saber que a arrogância e egoísmo não se unem com o amor a Deus”

O peregrino deve saber que sua visita a Meca não é uma visita a um ponto geográfico ou uma visita de turismo ou a passeio. Esta viagem é muito muito além disso. Ele está indo ao centro do monoteísmo e da adoração a Deus, o altíssimo.

Além disso, o peregrino deve meditar que estará atendendo ao chamado de Deus, o clemente, o sábio, o onipotente, o misericordioso, os poderosos, o majestoso, o altíssimo. E fora isso o peregrino deve saber que será o visitante de Deus e o Rei, o majestoso será o seu anfitrião.

Jamais se pode unir o egoísmo e arrogância com o amor a Deus. sendo assim, o Hajj é uma fábrica para destruir o egoísmo e arrogância. Ali acabam os privilégios e classificações sociais, pobre, rico, famoso e anônimo, todos estão em posições iguais perante Deus. Ultimamente está tendo classificações de caravanas, 5 a 6 estrelas, serviços executivos e hotéis e serviços nobres aos peregrinos, mas isso não deveria mudar nada, especialmente em Arafat, onde todos se posicionam perante Deus no 9 dia do Zul Hija.

As regras educacionais e morais do Haj

Irei citar uma narrativa aqui do Imam Ali ibnol Hussein (A.S.) ao seu companheiro Chibl. O Imam perguntou ao seu companheiro: “Você fez o Haj?” o Chibl respondeu: “Sim, ó Mensageiro de Deus”. Imam perguntou então: “Você foi ao Miqat* e se livrou de suas vestes e se banhou ali?”. Ele respondeu: “Sim, ó filho do Mensageiro de Deus”. Então o Imam (A.S.) perguntou: “Quando você se livrou de suas vestes, você se livrou dos seus pecados e tirou as vestes da desobediência?!”. Ele disse: “Não”. O Imam perguntou: “Quando você tirou as vestes do dia dia, você intencionou tirar a ostentação, hipocrisia e oscilações do seu coração?!”. Ele disse: “Não”. O Imam perguntou: “Quando você se banhou você intencionou se purificar de seus pecados e ilicitudes?!” Ele disse: “Não”. O Imam perguntou: “Então você não esteve no Miqat, nem se livrou de suas vestes e nem se banhou”. Ou seja, o Imam Ali ibnol Hussein (A.S.) quis dizer que aquele homem chegou a realizar aqueles rituais apenas fisicamente e não as observou corretamente como deveria ter observado em sua prática.

Em seguida o Imam Assajad (A.S.) perguntou ao seu companheiros Chibl: “Você fez o Tawaf em volta da casa, segurou nos cantos (da Caaba), fez a caminhada entre Safa e Marwa”. O Chibl disse: “Sim”. O Imam perguntou: “Quando você caminhou você intencionou que está se refugiando e fugindo a Deus de seus pecados e Ele entendeu isso de você?” Então ele disse: “Não”. O Imam (A.S.) disse então: “Então você não fez o Tawaf, nem segurou os cantos da Caaba e nem caminhou entre Safa e Marwa”.

E por fim, sobre a permanência em Arafat, o Imam Assajaf (A.S.) perguntou a seu companheiro Chibl: “Ao permanecer em Arafat você chegou a admitir como Deus conhece tudo sobre tu e sobre seu registro e seus pecados”. Ele disse: “Não”. O Imam então disse: “Então você não esteve em Arafat”.

O ato de vestir o Ihram

Se livrar das vestes deve ser traduzido em se livrar dos pecados, da inveja, do ódio, da ambição, das paixões mundanos e tudo que desagrada a Deus.

O ato de se banhar

Que belo quando o fiel ao realizar o ato de se banhar, até mesmo na sexta-feira, ele intenciona se purificar dos pecados e pedir o perdão a Deus para não se sujar com suas imundícies.

O ato de Caminhar entre Safa e Marwa

Aquele belo ritual de caminhar entre Safa e Marwa é muito significante. É como se a pessoa estivesse fugindo de seus pecados a Deus, caminhando para Ele e se afastando delas se refugiando a Deus.

O que entendemos da narrativa do Imam Assajad (A.S.)?

Entendemos que a reserva de passagem aérea, visto de entrada, reserva na caravana e a realização dos rituais, tudo isso são apenas introduções para o verdadeiro Haj o qual devemos sentir e determinar em nossas almas e espíritos. O verdadeiro Haj é quando quebramos os ídolos e imagens do egoísmo e da arrogância dentro de nós como fez o Abraão com os ídolos de sua época. Quando pensarmos em fazer isso, estaremos pensando em realizar o Hajj de verdade. Quando decidirmos nos extrair do ódio, da hipocrisia, da inveja e da ganância e ambição estaremos realizando o verdadeiro Haj.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem.

Segundo sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Servos de Deus, recomendo a todos a temência a Deus que é o único caminho para a salvação.

O Haj dos pobres 

Aqueles que não possuem condições de realizar o Hajj por suas condições financeiras. Este até então não tem o dever de realizar o Hajj. Mas ele tem uma alternativa? Tem algo que ele pode ser ao invés de realizar o Hajj? Sim, ele pode sim. O Haj dos pobres é a oração de sexta-feira. O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse a um homem cujo se queixava sobre suas condições financeiras e que não podia fazer o Hajj. o Profeta disse a ele: “Realize a oração de Sexta-feira pois é o Haj dos pobres”.

Não estimar a oração de sexta-feira

Está certo que a participar da oração de sexta-feira durante o período da ausência do Imam Al-Mahdi (A.F.) não é obrigatória mesmo que alguns sábios eruditos afirmem que ao ser realizada aqueles que moram dentro de um certo raio tem o dever de participar. É um dever que todo fiel participe da oração de sexta-feira durante a presença do Imam (A.F.) mas por enquanto vivemos o período de sua ausência e mais ainda durante este período da pandemia, o que temos para dizer é tamanha recomendação da participação desta oração.

Queria que todos vocês refletissem sobre a seguinte passagem do Imam Ali (A.S.), o 1º imam, dizia sobre aqueles que deixam de frequentar a oração de sexta-feira: “Aquele que deixar de participar 3 vezes consecutivos da oração de sexta-feira sem justa causa (Doença etc..), será registrado como hipócrita”. Não sou eu que disse este dito, é o Imam Ali (A.S.). Esta tradição é muito delicada e grave.

Numa outra passagem, Imam Al-Baquir (A.S.), o 5º Imam, dizia: “Aquele que deixar de participar em 3 orações de sexta-feira consecutivas sem justa causa, seu coração será selado”. Ou seja, aquele coração sela lacrado e selado.

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia: “Aquele que deixar de participar em 3 orações de sexta-feira consecutivas sem justa causa seu coração será selado com o carimbo da hipocrisia”, ou seja, aquele homem é um hipócrita.

O mínimo que entendemos destas tradições é que não é nada normal que uma pessoa, um fiel, seguidor dos Ahlul Bait (A.S.) que vive em um local onde se realiza a oração de sexta-feira e ele deixa de participar sem justa causa. Tem uma coisa errada.

O que quero que vocês façam agora é comunicar os irmãos e queridos fiéis que não participam desta nobre oração que é classificada como o Haj dos pobres.

Vou finalizar com a seguinte tradição. O Imam Ali (A.S.) deixou o seguinte testamento a seu filho Imam Al-Hassan (A.S.): “Se tu encontrares pobres cujo podem te ajudar a carregar sua bagagem no dia do juízo final e lá ele te entregará então não perca a chance e aproveite aquela chance e entregue a ele naquele momento pois talvez mais adiante não poderá mais encontrá-lo”. Ou seja, o significado desse dito é o seguinte: quando estivermos numa situação de ajuda aos necessitados, que aproveitemos daquela situação para ajudá-los, pois como diz a narrativa acima os pobres que ajudaremos aqui nesta vida carregaram nossa bagagem de boas ações na outra e nos entregaram elas. Por isso, quanto mais nos ajudarmos melhor, teremos bagagens mais pesadas.

Além disso, quando estiver perante uma chance de ajudar alguém aproveite e ajude ali mesmo e naquele momento pois talvez mais adiante não conseguirá encontrar aquele indivíduo para ajudá-lo.

Por que digo isso?

Sabemos que a caridade verdadeira é recebida por Deus antes mesmo que seja recebida pelo pobre e necessitado. Hoje, e durante o período do corona, alguns membros da nossa comunidade estão passando por situações financeiras extremas e algumas famílias não têm condições de comprar livros ou material escolar para seus filhos ou pagar van ou mensalidade. Alguns podem dizer: “Mas e daí? O que nós temos a ver com isso”. Eu digo o seguinte: “Se esta criança, Deus não queira, por falta de uma boa educação e um ambiente acolhedor islâmico ser um elemento desviado no futuro você carregará parte da culta sobre suas costas. Não é um dever mas será de toda nossa resposta”.

O nosso atual colégio islâmico é um local de acolhimento islâmico e cultural, é onde as crianças apenderam nossas tradições e culturas. Nosso colégio passa por um momento muito delicado financeiramente e por isso precisamos da ajuda de todos. Tanto no que diz respeito a pagamentos de tributos, ou salários, ou mensalidades, é necessário que todos se ajudem para que possamos preservar e garantir a continuidade deste colégio.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem.

Miqat: Local onde o peregrino deve iniciar o Ihram. São vários Miqat espalhados ao longo de estradas que levam a Meca. O peregrino não deve passar daqueles locais se não fizer a intenção do Ihram e trocar suas vestes.

Tawaf: O ritual de circular em volta da Caaba.

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