Os Versículos Sagrados

Resposta ao livro “Os versículos Satânicos” de Salman Rushdie

NOTA INTRODUTÓRIA

COMO NASCEU A VERSÃO PORTUGUESA DESSE LIVRO

Numa ocasião em que nos encontramos com Sua Excelência o Embaixador da República Islâmica do Irã, quando da comemoração da independência de um dos países do Irão, quando da comemoração da independência de um dos países islâmicos, informá-lo de que estávamos a recolher elementos para fazer uma análise crítica a “Os Versículos Satânicos” de Salman Rushdie, com a intenção de a publicar, e cujo plano já delineáramos.

Sua Excelência achou boa a nossa idéia, e falou-nos de um livro que lhe fora enviado, editado na Índia, o qual talvez fosse útil para a executarão do nosso trabalho, acrescentando que, se quiséssemos, o poderíamos consultar pois que no-lo emprestaria.

Logo que o vimos, e esfolhamos algumas páginas, entendemos que era obra de fôlego, merecedora de ser traduzida para Português, e que sem ser polemica elucidava, bem, o caráter ofensivo da referida obra aos sentimentos religiosos dos Muçulmanos.

Por conseqüência, se Sua Excelência cedesse o livro, pelo tempo necessário para se fazer a tradução, nós encarregar-nos-íamos da tarefa inteira, até à saída do prelo.

Concordando com a proposta tratamos de o fotocópia para poder ser dividido em partes de modo a serem distribuídas pelos tradutores que, apenas as receberam, logo iniciaram o trabalho.

Nós próprios também traduzimos algumas partes, e além disto, fizemos a revisão da tradução e a das provas tipográficas.

Quanto ao financiamento da edição foi sustentado, na maior parte pela República Islâmica do Irã, graças aos bons ofícios e à generosidade do Embaixador Senhor Dr. Jehanbakhsh Muzaffari, embaixador do Irã. A restante foi suportada pela revista “Al Furqán”, e pelos amigos desta que tiveram a amabilidade de darem o seu auxílio monetário nesta empresa.

Todavia, a tradução de “Os Versículos Sagrados” não impede a saída do nosso trabalho anunciado na contra-capa, porque, se os primeiros são uma análise aprofundada de índice religiosa, em que o autor faz citações Bíblicas e Alcorânicas, o segundo é um estudo crítico as ditos “Os Versículos Sagrados”, quer sob o aspecto religioso, quer sob o ponto de vista literário, acompanhado de opiniões de várias personalidades idôneas, estrangeiras e nacionais.

As citações Bíblicas provêm da Bíblia editada pelos Missionários Capuchinhos, e as Alcorânicas foram extraídas da versão portuguesa do Alcorão de Bento de Castro, editada em Lourenço Marques, em 1974.

Resta-nos agradecer, e muito sinceramente o fazermos, a amabilidade deferindo do Senhor Dr. Muzaffari, Embaixador do Irã, e a generosidade dos bons amigos que nos ajudaram.

Que Deus se digne aceitar este nosso ínfimo esforço feito de boa vontade, e que os leitores de língua portuguesa tirem o proveito necessário acerca do conhecimento da doutrina islâmica que foi porta em causa pelo desastrado e satânico Rushdir.

Sto. Antônio dos Cavaleiros, Loures,
18 de Dezembro de 1989
18 de Jamad-al-Awwal de 1410

M. YIOSSUF MOHAMED ADAMGY
Diretor da “Al Furqán”

ADENDA

SUMÁRIO DAS AGRESSÕES FEITAS POR SALMAN RUSHDIE AO ISLAN

Nunca, na longa história do antagonismo e ódio do Ocidente pelo Islã, foram a crença islâmica e os Profetas, tão escarnecidos e blasfemados como em “Os Versículos Satânicos” de Rushdie. Como se lê na Introdução desde livro, “todo o livro, e não somente um determinado capítulo, é uma paródia clínica e obscena da vida do Profeta (S.A.A.S.). “Os Versículos Satânicos” não é um romance simples – há histórias dentro de uma história. A intriga contém fantasia, romance, milagres, mitos, sonhos e sonhos dentro de sonhos, cada um “interligado com o outro, o que enigma e confunde, muitas vezes, o leitor.” (Dr. A. Ghazi.). O romance lida, inicialmente, com dois indianos, “Gibreil Farishta” e “Saladin Chamcha”. Gibreel Farishta invoca o Anjo Gabriel, encarregue da missão de trazer a última Revelação Divina, o Alcorão, para o Sagrado Profeta Mohammad (S.A.A.S.). No dito romance a mãe do personagem Gibreel Farishta chama-o carinhosamente, tento “Farishta” (Anjo) como “Shaitan” (Satanás ou Diabo). Portanto, a agressão inicial de Rushdie é feita à Revelação (Wahy) recebida de Allah (o Deu Único), pelo Sagrado Profeta (S.A.A.S.)

Por isso, o primeiro capítulo desta obra trata, em pormenor, da Revelação (Wahy) e do Alcorão Sagrado. Rushdie tirou também conclusões erradas e deterpantes da tradição sobre “Gharaniq”, e por isso essa tradição foi pormenorizadamente discutida na última parte deste capítulo.

Rushdie agrediu também aos Profetas em geral e o Profeta Ibrahim (A.S.) em particular, na linguagem mais insultuosa que não pode ser citada devido à sua obscenidade. O segundo capítulo deste livro trata da santidade dos Profetas e das suas práticas. Um capítulo, o terceiro, foi escrito sobre a reverência do Profeta Ibrahim (A.S.). Rushdie disse também que o Profeta Ibrahim (A.S.) abandonou a sua mulher Hajrah e o seu filho mais velho Ismail (Ismael) no deserto da Arábia. Por isso, a má interpretação desse ato do Profeta Ibrahim (A.S.) foi também esclarecida nesse capítulo.
Ele insultou também os anjos e o arcanjo Gabriel, e por isso foi escrito um capítulo separado que demonstra a pureza dos anjos. Rushdie insultou, igualmente, na linguagem mais ofensiva e obscena, as castas esposas do Sagrado Profeta (i.e. “Mães dos Crentes”), e os Sahabah (i.e. os Companheiros do Profeta Sagrado) e, por isso, um outro capítulo demonstra a reverência dessas Personalidades Sagradas. Esse capítulo mostra também a vida pia e exemplar das castas mulheres do Profeta Sagrado, que Rushdie tão abusivamente atacou.

Uma vez que a linguagem de “Os Versículos Satânicos” é extremamente obscena e cheia de insultos atrozes, não vale a pena ser citadas na presente obra. Aconselha-se os leitores a ler a introdução antes de começar a ler o livro.

INTRODUÇÃO

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Durante a minha visita aos EUA para assistir à “International Muslim Educational Conference”, organizada por “Aligarth Muslim University Alumni Association of Greater Chicago, U.S.A.”, em Chicago, em Outubro/Novembro de 1988, deparei com o livro mais polemica dos tempos recentes. “Os Versículos Satânicos”, escrito na linguagem mais abusiva utilizada para o Islã, os seus Profetas, as suas Revelações e as suas personalidades religiosas. Nas palavras de G.H. Jansen “todo o livro, e não somente um determinado capítulo, é uma paródia clínica e obscena da vida do profeta” ( The Times Of Índia, Nova Delhi, 9 Março de 1989). Nesse livro o autor insultou o grande Profeta Ibrahim (A.S.), as castas mulheres do Sagrado Profeta Mohammad (S.A.A.S.), os seus companheiros e até os anjos. Esse livro declaradamente, atentou contra a imagem do Profeta do Islã (S.A.A.S.) retratando-o como alguém que não consegue distinguir entre a voz do Anjo e a voz de Satanás (Shaitan i.e. Diabo) – daí “Os Versículos Satânicos”. Veja o primeiro capítulo deste livro para uma discussão pormenorizada sobre este tópico.

Essa obra “substancialmente mascarada como uma obra literária, não só deturpa a História de Islã em geral como também retrata, nas piores cores possíveis, o caráter do Profeta Mohammad (S.A.A.S) e do Profeta Ibrahim (A.S.). Outrossim desfigura também o caráter dos Companheiros do Profeta – Bilal, Salman Farsi, Hamza e as sagradas mulheres do Profeta – e descreve o credo e os rituais islâmicos na linguagem mais perversa (..)”. ( Islamic Circel of North America, N.Y. 11432, USA).

Salman Rushdie joga com a polêmica de um modo consciente e calculado. “Filhos da Meia Noite” focou as características da ética social indiana pós-independência, enquanto que “Vergonha” vingou o regime político do Paquistão. O primeiro poderia ter sido proibido se não fossem as apologias apresentadas pelo autor a Indira Gandhi, a quem ofendeu no seu romance; mas o livro tornou-se polêmico e por isso, foi bem vendido. “Vergonha” era uma obra de má qualidade que só foi lida por ter sido proibida no Paquistão. Uma vez descoberta a chave para o sucesso, o autor prosseguiu e escreveu “Os Versículos Satânicos” pelo qual foi-lhe previamente paga uma enorme quantia.

Rushdie certamente sabia que se encarregava da empresa mais pérfida jamais tomada por um homem civilizado, a de denegrir e insultar a vida e a mensagem de Mohammad (S.A.A.S.), o ultimo Profeta de Deus, que, na consciência dos muçulmanos, se encontra logo a seguir a Deus.

Inicialmente, Rushdie mostro-se indiferente à critica e à subseqüente interdição do livro na Índia. Disse que o romance não mencionava sequer uma vez o Profeta do Islã e que, as alegações de que magoara os sentimentos do Muçulmanos não tinha, razão de ser. O seu argumento foi somente desmarcado quando alguns leitores apontaram para o fato de “Mahound” umas das personagens principais do romance, não se referir senão ao Profeta e de esse ser o nome (e exatamente a mesma pronúncia) com qual os escritores da Europa Medieval se referiam a Mohammad (S.A.A.S.). Mo romance, vários aspectos da vida e época do Profeta coincidem com a descrição de “Mohound”.

“Uma vez obrigado a admiti-lo, Rushdie, um artigo de duas colunas publicado no “Guardian”, explicou a sua interpretação do Islã e do Profeta, mencionando brevemente a vida e a mensagem de Mohammad Ibn Abdullah (S.A.A.S.) , dizendo que ele não deveria ser deificado. Poder-se-á perguntar porque é que deu uma explicação a respeito de uma figura histórica enquanto defendia a sua obra de ficção (…)” ( Naqi Husain Jafri, The Times of India, Nova Deli. 9 de Março de 1989). Jafri prossegue: “Receio que o que fez com que a obra de Rushdie tivesse sucesso, foi sobretudo o tratamento deturpado e blasfemo de Mohammad (S.A.A.S.), mais do que quelquer mérito literário. É extremamente preocupante que o que ofende e magoa os Muçulmanos de todo o mundo seja motivo de perverso prazer os perseguidores do Islã e editores, em nome da liberdade de expressão!”.

Desde a publicação do livro, existe uma agitação cada vez maior, e a nível mundial entre os Muçulmanos, que viviam em países ocidentais como os E.U.A., quer estejam em países do Oriente como as Filipinas, a Indonésia, o Japão. Eles reagiram e protestaram, mas Rushdie nunca se envergonhou: “Eu já esperava que os “mullahs” não haviam de gostar. Mas não o escrevi para os “mullahs” – esta foi a reação inicial de Salman Rushdie, quando surgiu a violenta polêmica sobre “Os Versículos Satânicos”. O comentário, quase arrogante (característico do autor), obviamente, não foi aceito (…). Rushdie foi arrastado na controvérsia e na conseqüente atenção que chamou: “Francamente, gostaria de ter escrito um livro mais. Uma religião que reivindica ser capaz de qualquer critica – isso não se coaduna”, declarou (…)” (Lalita Panicker, The Times os India, Nova Dali, 6 de Março de 1989).

Assim, a tentativa deliberada de Salman Rushdie de profanar o Profeta do Islã e outras personalidades religiosas, obrigou o chefe iraniano muçulmano Ayatullah Khomeini a declarar a sentença de morte a Rushdie e ao editor do livro. “A Rádio Teerã aqui emitida (em Londres) disse que o livro era contra o Islã, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e o Alcorão. O autor e todos aqueles que estiveram envolvidos na sua edição deverão ser procurados e executados. “Eles estão condenados à morte (…). Peço a todos os Muçulmanos que os executem onde quer que eles se encontrem”, disse Ayatullah Khomeini (…)” (citado em The Times os India, Nova Deli, 15 de Fevereiro de 1989). Vários teólogos (Úlama), incluindo Sheik Syed Hassan Ali Nadwi (Qaumi Awaz, Nova Deli, 20 de fevereiro de 1989) apoiaram a sentença de morte para Salman Rushidie decretada por Ayatullah Khomeini.

Após a proclamação da sentença de morte para Salman Rushdie decretada por Ayatullah Khomeini, levantou-se uma polemica muito grande. As massas muçulmanas, em geral, apoiaram o veredicto (Fatwa) de Ayatullah Khomeini, enquanto os países ocidentais não só o criticaram durante como também prestaram a nível diplomático.

“Imam Khomeini decretou que Rushdie não pode ser perdoado, nem que se arrependa. Imam Khomeini tem a autoridade”, escreveu Zafarul – Islã Khan, “de tomar uma posição independente. Não é somente um chefe temporal como também o (…) mujtahid (chefe religioso capaz de deduzir, independentemente, opiniões legais, na tradição xiita), e tem milhões de pessoas, à sua volta, que o seguem, pessoalmente, em questões religiosas.”

“Os Sunitas costumam, geralmente, dar ao acusado a oportunidade de se arrepender, mas alguns juristas Hanafi (i.e. que seguem tradições “sunni”) não concedem a oportunidade de arrependimento a um Muçulmano que insulte e se escarneça de Profetas e anjos (Abd ‘Al-Qadir ‘Udah, al Tashri ‘al Jin ‘at al-aslami, Beirut, n.d. II, 726). Em circunstâncias normais Rushdie teria sido julgado num Tribunal Islâmica (…)” (The Times of India, Nova Deli, 1º de Março de 1989).
Apesar da polêmica sobre o arrependimento Rushie não se arrependeu (até à data), no sentido que implica o termo “arrependimento”. Em vez disso, como atrás se referiu, tornou-se ainda mais arrogante.

Rushdie gozou, nitidamente, com as prescrições do Alcorão e penosamente magoou os sentimentos dos Muçulmanos. Que o fez intencionalmente com o fim de obter fama e dinheiro, está mais do que provado. Ele deve responder num Tribunal Público pois perdeu qualquer reivindicação ao ‘beneficio da dúvida’ (…). São, na verdade, infelizes as “ultimas” tentativas dos “mass-media” de defender Rushdie. O livro, “Os Versículos Satânicos”, criou um conflito civilizacional, não entre liberdade e dogma, mas sim, entre calunia e decência, uma liberdade sem limites contra o respeito que deve haver pelos pontos de vista dos outros” (Naqi Hussain Jafri, The Times of India, Nova Deli, 6 de Março de 1989).

Nos E.U.A., alguns amigos pediram-me para escrever uma resposta a “Os Versículos Satânicos”. Primeiro, respondi-lhes: “Qual será a resposta a “insultos”? No entanto, mais tarde, pensei que ao menos poderia esclarece as crenças islâmicas, e a posição do Islã em relação a alguns dos pontos duramente criticados e abusados por Rushdie.

Escrevi, portanto, este livro, com a intenção de das uma visão islâmica sobre o conceito da revelação (Wahy); Profetismo e Profetas; Anjos; os Companheiros; as “Mães dos Crentes” (i.e. as castas mulheres do Sagrado Profeta Mohammad (S.A.A.S.)). Além disso, dediquei também dois capítulos deste livro para mostrar a punição aplicada pelo Sagrado Profeta (S.A.A.S.) a poetas que profanaram o Islã, o Profeta e os Companheiros. Após a leitura desses capítulos cada um poderá tirar as suas conclusões em relação à sentença de morte de Rushdie, decretada pelo Imam Khomeini. O último capítulo deste livro destina-se a demonstrar o conceito básico da Ética Islâmica e a sua essência para que os críticos compreendam em que é que se baseia o sistema ético Islâmico.

No que diz respeito à vida do Sagrado Profeta (S.A.A.S.) os leitores deverão consultar o livro “ Mohammad, The Final Messenger”escrito com a intenção de responder ás críticas ao Sagrado Profeta (S.A.A.S.), feitas por escritores Ocidentais. Nesse livro encontrarão também uma resposta ao retrato do Profeta Sagrado (S.A.A.S.), feita por Rushdie, e a explicação pormenorizada da razão de ser de tantos casamentos do Sagrado Profeta (S.A.A.S.).

Que Allah aceite este humilde esforço.

Capítulo I

A Revelação ( Wahy) e o Sagrado Alcorão

A. O Conceito da Revelação (Wahy)

Distinção de um Profeta:

Na concepção islâmica existe uma marca da diferença, a nível espiritual, entre um homem comum e um Profeta, comissionado por Allah. Apesar de um Profeta (as: Nabi) ser um ser humano no que diz respeito a característica física, hábitos, traços, desejos, vontades e paixões, atinge, no entanto, um grau espiritual muito elevado, comparado com o de um homem vulgar. A nível espiritual, ele é sempre orientado por um tipo especial de Inspiração Divina – Wahy ou Revelação. Cada palavra ou ato do Profeta é orientado pelo wahy (Revelação ou Inspiração ).

O Sagrado Alcorão diz:

“Nem fala do seu próprio desejo. Não é mais que uma inspiração que é inspirada.”

Portanto, a sabedoria de um Profeta é adquirida através da Wahy (Revelação). Na realidade, Wahy é uma forma mais elevada de experiência espiritual – a experiência profética – e conhecimento.

Diferença entre uma Experiência Profética (Wahy) e uma Experiência Mística (Ilham ):

A experiência Profética difere da mística em vários aspectos. “Tanto o místico como o Profeta, que têm uma experiência unitária, regressam para o nível normal da experiência, com a diferença de que o regresso do Profeta pode vir carregado de um significado muito grande para a humanidade, enquanto o regresso de um místico não tem importância relevante para a humanidade em geral. O regresso de um Profeta é criativo. Ele volta e insere-se no correr do tempo com a intenção de controlar as forças da História e, assim, criar um novo mundo de idéias. Ao contrário do Profeta, o místico não deseja regressar da sua e experiência unitária.

Sheik Abul Quddus de Gangoh (Índia), disse certa vez:

“Mohammad (S.A.A.S.) da Arábia ascendeu ao Paraíso mais elevado e regressou.. Juro por Allah que se tivesse atingindo esse nível nunca teria regressado.”

“Isso deve-se ao fato de, para o místico, a resposta à experiência unitária ser o seu objeto final, enquanto, para o Profeta, tratou de um avivar, dentro de si próprio, de forças psicológicas revolucionárias que se destinam a transformar completamente o universo humano.

O desejo de ver a sua experiência religiosa transformada numa verdadeira força mundial é supremo no profeta. Deste modo, o seu regresso torna-se numa espécie de teste pragmático do valor da sua experiência em si, como também em si, como também o universo objetivo no qual ela se esforça por se concretizar. Ao penetrar o material impenetrável perante si, o Profeta descobre-se a si próprio e desvela-se perante a História.

A experiência religiosa de um Profeta, pode também, ser avaliada através da análise de tipo de natureza humana que ela cria e, também, do mundo cultural que o espírito da sua Mensagem gera.”

“Ilm-al-Wahy” segundo Al-ghazali

De acordo com o Imam Ghazali, “a forma mais elevada de “Ilm al Mukashafah” ou experiência intuitiva, é Wahy (inspiração), privilégio dos profetas, na qual o anjo mensageiro assume uma forma visível perante o Profeta. Todas as outras formas de experiência intuitivas são “ilham” (experiências místicas). Num nível ainda inferior de conhecimento intuitivo adquirido pelo homem encontram-se os sonhos ou visões.”

Wahy & Intelecto

Durante o período primitivo da civilização humana a energia psíquica ou consciência profética desenvolveu-se e forneceu julgamentos, escolhas e modos de atuar fixos. No entanto, o nascimento da razão e faculdades críticas suspendeu a formação e desenvolvimento de modos de consciência não-racional. O homem é primariamente governado pela paixão e interesse. A razão indutiva, que também concede ao homem o domínio sobre o seu meio, é um achado, e deverá ser incentivada pela repressão de outros modos de conhecimento. O grande sistema filosófico produzido numa época em que o homem era relativamente primitivo, estava bastante condicionado pelas vagas crenças religiosas e tradicionais e, por isso, não nos da uma segurança sobre a situação concreta da vida.

O Sagrado Profeta do Islã (S.A.A.S.), que a paz esteja com ele, situa-se entre o mundo antigo e o moderno. No que diz respeito à fonte da revelação, pertence ao mundo antigo (c.f. Alcorão Sagrado: “Nós inspiramos-te (através de Wahy, i.e. Revelação ou Inspiração como inspiramos Noé e os Profetas depois de ….”, 4: 163); no que diz respeito ao espírito da revelação, pertence ao mundo moderno ( cf. Alcorão Sagrado: “ Como tal pensei em Allah … e considerai a criação dos céus e da terra…”, 3: 191).

Portanto, o Islã, sendo uma Religião Divina verdadeira, natural e a última, não condena o intelecto como órgão de aquisição de conhecimento. Ao mesmo tempo, as crenças religiosas duma Religião Divina não são interpretações desses dados da experiência que são o sujeito da Ciência da Natureza e do Intelecto. A religião não é Física ou Química que procuram uma explicação da natureza em termos de causa e efeito, ela procura, na realidade, interpretar uma região totalmente diferente da expansão humana, a Wahy (Revelação/Inspiração), constituída por dados que não podem ser reduzidos a dados de outra ciência qualquer, natural ou social. Se existir algum conflito entre a experiência religiosa e científica é devido à concepção errada de que ambas podem interpretar os mesmos dados da experiência, e devido ao fato de nos esquecermos que a religião visa atingir o significado real de um tipo especial de experiência, a que é adquirida através da Wahy, revelada aos Profetas.

O significado do termo “Wahy”:

De acordo com o célebre dicionário árabe Lisan-al-Arab, os significados literais da palavra Wahy são: al-Isharah (intimar ou indicar); al-kitabah (escrever); al-risalah (comunicar); al-Ilham (inspirar ou introduzir na mente/coração de alguém); al-kalam al-khafi (falar ou conversa secreta ou ocultamente); wa Kulla ma alquaita-hu ila Ghairika (e tudo o que se introduz na mente do outro), um outro dicionário idôneo da língua árabe diz-nos que a palavra Wahy significa: al-Isharah (intimar ou indicar); al-Kitabah (escrever), al-Maktub (a coisa escrita); al-Risalah (comunicar); al-Ilham (inspirar); al-Kalam al-Khafi (falar ou conversa secreta ou ocultamente), wa Kullu ma al-qaitahu ila Ghairika (e tudo o que se introduz na mente do outro); wal-Saut yakunu fin-nas wa ghairihim (e o som que é encontrado no homem e outros seres).

Os lexicógrafos árabes deram como exemplo ilustrativo construções poéticas de período pré-islâmico. No entanto, o significado básico da palavra, de acordo com os lexicógrafos árabes, implica “falar secreta ou ocultamente com os outros”.

Por exemplo:

I) Introduzir no coração (i.e. mente) algumas mensagens:
“E nós inspiramos a Mãe de Moisés dizendo:- Amamente-o …”
“E quando inspirei os discípulos (de Jesus), dizendo:
Crede em mim e no Meu mensageiro.”
“… Nós revelamos a José: – Tu lhes contarás o que eles te fizeram
quando não te conhecerem.”

II) Ordem ou Ensinamento Natural:
“E o teu Senhor inspirou a abelha a dizendo: Escolhe a tua habitação nos montes…”

III)Atribuição de um dever:
“… e inspirou em cada céu as Suas ordens…”.

IV)Ordem a objetos não-animados:
No sentido de ordem, esta palavra foi utilizada não só para seres animados como também para objetos não-animados como a terra:
“Porque o teu Senhor ordenou-lhe (inspirou) (i.e. à Terra) …”

(V) Falar Silenciosamente:
“… e falou-lhe: Glorificai o Vosso Senhor ao romper do dia e ao cair da noite.”
A cima mencionada utilização de palavras ‘Wahy’ (Waha-Yahyi-Wahyan e awha-ila’na) no Sagrado Alcorão encontra-se no sentido literal. No entanto a palavra ‘Wahy’tem sido mais freqüentemente utilizada no Livro Sagrado com o sentido de Revelação Divina (ou Inspiração) revelada a Profetas.
“Nós inspiramos-te (awhaina) como inspiramos (awhaina) Noé
e os principais profetas depois dele; como inspiramos Abraão,
Ismael, Isaac, Jacob, as tribos, Jesus, Job, Jonas,
Aarão e Salomão, assim como demos a David
os Salmos; …”

“Nós narramos-te (i.e. Mohammad) e melhor das
narrativas, nela nós revelamos-te (awhaina)
este Alcorão embora, antes disso, tu estivesses
entre aqueles que não sabiam.”

“Agora nós inspiramos-te a ti (awhaina), Mohammad,
dizendo: segue a religião de Abraão, como um
que era por natureza honesto. Ele não fazia
parte dos idólatras.”

“E, na verdade, eles esforçam-se duramente para
conseguir afastar-te, Mohammad daquilo com
que Nós te inspiramos (awhaina) e para que
inventes outra coisa contra Nós em vez disto, e
então eles aceitar-te-iam como amigo.
E se Nós não te tivéssemos feito completamente firme
talvez te houvesse inclinado um pouco para eles.”

“Quando a isso da Escritura que nós inspiramos (awhaina)
em ti é a Verdade e confirma o que foi revelado
antes de ti. Olha: Allah é, na Verdade, Observador,
Vigilante dos seus escravos.”

“E Nós inspiramos (awhaina) Moisés dizendo-lhe: Lança
a tua vara!”

“E Nós inspiramos (awhaina) Moisés quando o seu
povo lhe pediu água …”

“E Nós inspiramos (awhaina) Moisés e o seu irmão
dizendo-lhe: Levantai casas para o vosso povo …”

“E na verdade Nós inspiramos (awhaina) Moisés
dizendo-lhe: Parte com os Meus escravos durante a noite …”

“Então Nós inspiramos (awhaina) Moisés dizendo-lhe:
Fustiga o mar com teu bordão.”

“E isso foi inspirado (uhiya) a Noé…”

A Wahy tem sido vista, como acima foi mencionado, como a diferença essencial entre um homem comum e um Profeta, o qual possui todas as faculdades de um ser humano com a diferença de que o Profeta recebe também Wahy de Allah. O Sagrado Alcorão diz:

“Diz: Eu sou apenas um mortal como vós: O
meu senhor inspirou (Yuha) em mim …”

“E Nós não enviamos mensageiros antes de ti
(i.e. Mohammad) que não tivéssemos inspirado (Nuhi)
dizendo: Não há outro Deus alem de Mim; portando adorai-Me!”

As categorias de Wahy ( Revelação/Inspiração)

Shaik Ahmad (Mulla Jiwan) de Delhi, no seu célebre livro sobre os princípios Jurisprudências Islâmicas, “Nur-ul-Anwar”, define a Revelação ou Inspiração do seguinte modo: Wahi Zahir subdivide-se em três classes:

1) Wahi Quran, que foi transmitida através da boca do anjo Arcanjo Gabriel e for recebida pelo ouvido do Profeta, depois de este saber que era o anjo Gabriel que falava com ele.

2) Isharat-ul-Malak, recebida através do anjo Gabriel mas não por meio de palavras; foi o que aconteceu quando o Profeta disse “Espírito Santo soprou no meu coração.”

3) Ilham ou Qahi Qalib, que foi transmitida ao profeta através da luz da profecia (…).

Wahin Batin é aquele que o Profeta obteve através da razão analógica, tal como os doutores iluminados ou Muftahidin a obtiveram.

O modo como a Wahy chegou ao Profeta Sagrado (SAAS) será tratado mais tarde. Na citação acima feita de Shaikh Ahmad (Mulla Jiwan), ‘Ilham’ ou ‘Wahi Qaib’ não se refere ao liham dos Sufis (místicos) mas sim ao Ilham dos Profetas. Os autores cristãos que retraíam a vida do Sagrado Profeta Mohammad (SAAS) têm confundido ‘Wahy’ com ‘Ilham’ dos Sufis (místicos), uma vez que Ilham é a palavra geralmente utilizada peios missionários cristãos para designar a inspiração das Escrituras Sagradas.

Uma vez que o anjo Gabriel, por várias vezes, trouxe certas ordens de Allah para o Sagrado Profeta (SAAS) e que não foram incluídas no Sagrado Alcorão, os teólogos (apesar da classificação acima citada de Shaikh Ahmad (Mulla Jiwan) de Delhi) classificaram Waly em duas grandes categorias:
( I ) Wahy Matiu e ( II ) Wahy Ghairu Matiu.

Wahy Matiu designa a Wahy que é incluída no Sagrado Alcorão enquanto Wahy Ghairu Matiu designa aquela que, geralmente, não é recitada no Alcorão e encontra-se preservada sob a forma de “Sahih Ahadith” (Ditos Autênticos do Sagrado Profeta). O Sagrado Alcorão confirma-o, dizendo:

“Nem fala do seu próprio desejo. Não é. mais que uma inspiração que é inspirada.”

Portanto, tudo o que foi dito pelo Sagrado Profeta (SAAS) é também uma espécie de Wahy — Wahy Ghair-u-Matlu. Segundo várias tradições, sempre que alguém perguntava ao Sagrado Profeta (SAAS) algo que ele não sabia, mantinha-se em silêncio e esperava pela Wahy- E só respondia assim que era informado através da Wahy.

Certa vez um erudito judeu perguntou-lhe: “qual é o melhor local? O Sagrado Profeta (SAAS) permaneceu calado e, depois disse: “Nada direi até que chegue o anjo Gabriel”. Quando o anjo Gabriel chegou, o Sagrado Profeta (SAAS) perguntou-lhe: “Qual é o melhor local?” Gabriel disse: “Tanto aquele que interrogou (i-e. o Profeta Sagrado) como aquele que foi interrogado (i.e. Gabriel) são iguais no que diz respeito ao conhecimento disso. Farei a pergunta ao meu Senhor.” Depois, Gabriel veio, de novo, ter com o Sagrado Profeta e disse: “Ó Mohammad aproximei-me de Allah como nunca antes me tinha aproximado .” O Profeta ( SAAS) perguntou: “Como foi isso?” O anjo respondeu: “Havia mil véus de luz entre mim e Allah. Allah diz: os piores locais são os bazares e os melhores são os Masjid (Í.e. Mesquitas).

Numerosos hadiths narram que o Profeta Sagrado (SAAS) respondia sempre, as perguntas cuja resposta não conhecia, somente depois de receber a Wahy sobre isso.

No que diz respeito à diferença, em termos de lei, entre estas duas categorias de Wahy, cada palavra de Wahy Matiu (i.e. Sagrado Alcorão) foi narrada e chegou até nós sem o menor erro possível e foi preservada integralmente sem qualquer variação — é a “Palavra de Allah” sem a menor dúvida. No caso de Wahy Ghairu Matiu as palavras precisas de todas as Tradições (Hadith) não foram preservadas do mesmo modo que o Sagrado Alcorão. E, portanto, essas palavras são as “Palavras do Profeta” narradas através de Hadiths apesar de, na suas essência, elas serem também “palavras de Allah” e por isso se chamam “Wahy Ghairu Matiu”.

As diferentes vias pelas quais Wahy (Revelação) chegou ao Profeta Sagrado:

Segundo o Sagrado Alcorão, são seguintes os modos pêlos quais Allah comunica com um ser humano:

“E não foi concedido a nenhum mortal que
Allah lhe falasse, a não ser por revelação (wahyan)
ou por trás do um véu, ou por mensageiro
enviado para revelar o que quiser, com a Sua
permissão. Oh! Ele é sublime e Prudente.”

O primeiro modo aqui mencionado é Wahy. As diversas vias pelas quais Wahy chegou ao Sagrado Profeta ( SAAS ) serão mencionadas mais adiante- Neste momento é mais importante fazer uma outra distinção entre Wahy Matiu e Wahy Ghairu Matiu.

A sugestão feita por Allah no coração ou mente dum profeta, pela qual ele compreende a substância da Mensagem, seja ela uma ordem, uma interdição ou a explicação de uma Verdade, é, geralmente, “Wahy Ghairu Matiu” (i.e. revelação que não é geralmente recitada) e tem também sido designada de “Wahy Khafi” (i.e. Revelação Oculta). Ela é comum a todos os Profetas. A revelação verbal ou literal pela qual as próprias palavras de Allah são transmitidas em linguagem humana é conhecida como “Wahy Matiu” (i.e. revelação que é geralmente recitada) e também é designada de “Wahy Jali” (i.e. revelação evidente). Este tipo de revelação é feita somente aos grandes Profetas e Mensageiros (Rassul). O Sagrado Alcorão foi revelado ao Sagrado Profeta ( SAAS ) através deste modo de Revelação e não através de um outro. É inteiramente “Wahy Matiu” – i.e. a Revelação que foi recitada para o Sagrado Profeta ( SAAS ) distintamente, em palavras -, e é a forma de Revelação Divina mais elevada. Como atrás foi referido, os ditos do Profeta (i.e. Hadiths) constituem a “Wahy Ghairu Matiu” (i.e. revelação que geralmente não é recitada).

O segundo modo através do qual Allah comunica com um ser humano é aquele em que Ele fala através de um véu – não, como é óbvio, um véu material mas sim um véu de Luz, espiritual ou místico, tal como afirma o Sagrado Profeta: “Allah possui setenta mil véus de luz (Nur) e trevas (Zulmat).” O número setenta mil varia conforme as diversas versões – não é uma numeração definida, pelo contrário, denota uma quantidade enorme, indefinida.

O terceiro modo de comunicar com um ser humano é através de um Mensageiro, i.e. o anjo Gabriel (ar: Jibra’il) que trazia as revelações ao Sagrado Profeta.

De acordo com os Hadiths são seguintes as vias pelas quais Wahy (revelação) chegou ao Sagrado Profeta:

( I ) AI-Ru’ya al-Sadiqah (os sonhos verdadeiros) — o que significa que tudo o que o Profeta sonhava de noite, realizava-se no dia seguinte. De acordo com um Hadith, os sonhos verdadeiros são a 46ª parte do profetismo.37 Isto implica que, ta! como não há dúvidas no caso de um sonho verdadeiro, também não deverá haver dúvidas no caso do Profetismo de um Profeta (verdadeiro). É neste contexto que A’isha {Radíailahu Anha) narra: “Inicialmente, a revelação Divina recebida pelo mensageiro de Allah ( SAAS ) foi feita sob a forma de bons sonhos (i.e. verdadeiros) que se realizavam no dia seguinte; depois disso foi-lhe concedido o amor à solidão.”

Segundo alguns autores, o segundo modo de Allah comunicar com o homem , i.e. “através de um véu”, refere-se a “Ru’ya” ou sonhos e “kashf” ou visões, uma vez que, nesses casos, é mostrada uma realidade que contém um significado mais profundo do que à partida parece ter. O sonho ou a visão tem um certo significado, mas esse significado encontra-se por trás de um véu e é aí que deverá ser procurado. Os sonhos mencionados no capítulo 12 do Alcorão (Surah Yusuf) são um exemplo disso. E é com base nisso que esses autores chegam à conclusão de que a fala de Allah, através de um véu, significa que Ele revela certas verdades através de sonhos ou visões. Mas essa conclusão não é correta uma vez que o modo de Allah comunicar através de um véu foi demonstrado em relação a Musa (Moisés), com o qual Ele falava enquanto era Invisível aos seus olhos (cf. Alcorão 20: 13, etc.).

No entanto a importância dos sonhos verdadeiros subsiste. Numa tradição, o Sagrado Profeta chama-os de “mubash-shiraí”. “Nada permaneceu, de Nubuwwah exceto mubash-shirat”, diz ele. Quando lhe perguntaram “o que significa mubash-shirat”, o Sagrado Profeta respondeu: “boas visões”.

Deve-se também salientar que os sonhos dos Profetas são diferentes dos nossos, porque o nosso sono é bastante diferente do sono dos Profetas: “Os seus olhos dormem mas os seus corações não dormem”. O Sagrado Profeta ( SAAS ) disse em relação a si próprio: “Os meus olhos dormem mas o meu coração não dorme.”

Além disso a palavra “Ru’ya” tem sido utilizada em árabe para designar sonhos verdadeiros, enquanto existe uma outra palavra “Hulu” (pl: Ahiam) para designar sonhos confusos. O Sagrado Alcorão utiliza estas duas palavras com sentidos diferentes:

“O rei disse: .. .0 senhores! Explicai-me a minha
visão (fíu’ya) se sois capazes de interpretar sonhos.
Eles responderam: – São sonhos confusos! Nada
sabemos da interpretação de sonhos (confusos)”

O próprio Sagrado Profeta ( SAAS ) disse num Hadith: “AI-Ru’ya (um sonho verdadeiro) provém de Allah enquanto o Hulu (um sonho confuso) provém de satanás”.

Portanto, o termo “al-Ru’ya”, utilizado num contexto juntamente com “Wahy”, significa o sonho verdadeiro ou “mubash-shirat”.

( II ) Nafath fii-Rau’ ou llaqa-‘un fíl Qaib:

Significa que o anjo costumava “sugestionar” diretamente “no coração” do Sagrado Profeta mas este não o via. Sobre isso, o Sagrado Profeta ( SAA ) disse num Hadith: “O anjo Gabriel (Jibra’íl ou Puhut-Quds) ‘sugestionou o meu coração’ que nenhum ser vivo encontra a sua morte antes de acabar a sua providência (que lhe está destinada no mundo). Por isso temam a Allah e adoptem bons meios para adquirir a vossa providência. Se ela tardar, não se deixem conduzir à desobediência de Allah. Obtém-se aquilo que Allah possui somente através da obediência a Ele.”

( III ) Saísalat-al Jaras (como o toque de uma campainha):

Por vezes a Wahy (Revelação) vinha sob a forma de uma grande campainha (ar Jaras). O Sagrado Profeta diz num Hadith: “Por vezes a revelação chega sob a forma do toque de uma campainha. Essa forma de revelação é a mais difícil; e quando eu atinjo o que é revelado, essa condição passa.” Comentando este tipo de revelação, Sayyidah A’isha Radiallahu Anha) afirma: “Eu vi realmente o Profeta ( SAAS ) a receber uma revelação num dia muito frio e reparei que (quando a revelação findou) a sua testa continha gotas de suor”. De acordo com os companheiros do Sagrado Profeta, nessas alturas, o seu corpo tomava-se muito pesado e até o camelo, sobre o qual se encontrava, sentava-se devido ao peso-” Zaid ibn Thabit narra: Certa vez, quando o Sagrado Profeta recebeu a revelação, eu estava sentado com a minha perna por baixo da perna do Sagrado Profeta e senti como se o (osso do) meu pé tosse quebrar, devido ao peso.”48 De acordo com Ya’la ibn Umayyah, certa vez- quando o Mensageiro de Allah ( SAAS ) recebeu a revelação “a sua cara estava vermelha e ele estava a ressonar.” Outras constatações encontradas em Hadith são parecidas com as acima mencionadas. Por exemplo, segundo Sahih Musiim, “Quando a revelação chegava. o Sagrado Profeta parecia exausto e estava pálido.” E, de acordo com uma outra tradição: “Quando a Revelação chegava o Sagrado Profeta deixava descair a cabeça e os seus companheiros faziam o mesmo; e, quando essa condição passava, ele levantava a cabeça.”

Alguns críticos desorientados, dentre os Orientalistas, interpretam essa extraordinária experiência da chegada da Revelação como um ataque epiléptico. Será legítimo perguntar se um epiléptico poderia, após o ataque, proferir as sublimes verdades religiosas que estão descritas no Sagrado Alcorão ou até fazer uma única constatação coerente; será também legitimo perguntar se um epiléptico poderia ter o vigor e a força de vontade que fez com que toda a Península Arábica respondesse, finalmente, ao seu chamamento. e se lhe submetesse, aceitando-o como Profeta, ou se poderia possuir a força e a energia inigualáveis testemunhadas em cada fase da vida do Profeta, ou, ainda, possuir a elevada moral que conseguiu converter os seus infatigáveis inimigos em melhores amigos; será também legitimo perguntar se um epiléptico poderia ter aquela virtude magnética e bondade comovente, sob a influência das quais todo o pais foi purificado da mais densa idolatria e superstição, ou se poderia criar homens de elevada moral e caráter integro como Abu Bakr, ‘Umar, ‘Uthman, ‘Ali e milhares de outros, perante os quais poderosos impérios se submeteram? Alguns dos Orientalistas fabricaram essas histórias falsas e sem fundamento, que são lamentáveis.

As tradições autênticas a respeito deste assunto, algumas das quais foram acima citadas, demonstram somente que a vinda da Revelação trazia uma mudança significativa no Profeta, e que era testemunhada por outros.

( IV ) Tamath-thul, significa a vinda do anjo sob a forma de um homem. Hadiths autênticos dizem que o anjo Gabriel (Jibra’il) visitava, por vezes, o Sagrado Profeta sob a forma de um homem parecido com um dos Companheiros do Profeta, Dihyah at-Kalbi.

( V ) A vinda do anjo na sua forma original: a quinta via pela qual o Sagrado Profeta recebia a revelação era através do anjo Gabriel que vinha na sua forma original e revelava o que Allah queria.

( VI ) A sexta via foi uma forma de revelação especial que ocorreu quando da sua ascensão (Mi’raf). Nessa altura, a revelação veio diretamente sem qualquer intermediário como um anjo, uma voz, etc. As prescrições relativas ao Salat, etc. foram determinadas por esta via.

( VII ) A sétima via é a Fala direta de Allah com o Sagrado Profeta, tal como se passou com o Profeta Musa (Moisés), fato constantemente mencionado no Sagrado Alcorão.

Alguns teólogos mencionam também uma oitava via de revelação. Segundo eles, Allah falava também diretamente com o Profeta, sem a interposição de um véu. Mas existe muita polemica sobre este ponto. Segundo alguns, Allah falou diretamente ao Profeta, sem a interposição de um véu, durante a sua ascensão (Mi’raj), enquanto outros dizem que isso vai contra o versículo 51 do capítulo 42 do Sagrado Alcorão, atrás mencionado e,por isso, esse fato não poderia ocorrer neste mundo.

B. PORQUE É QUE O SAGRADO ALCORÃO É A WAHY (REVELAÇÃO) VINDA DE ALLAH

Após a discussão sobre o conceito de Wahy (Revelação) e o seu significado. gostaríamos de discutir as razões pelas quais o Sagrado Alcorão é considerado Wahy (Revelação / Inspiração) enviada por Allah para o último Profeta Mohammad ( SAAS ). O argumento mais sólido e concreto, para se considerar o Sagrado Alcorão uma Wahy de origem Divina, é o fato de nenhum ser humano ser capaz de produzir um livro de caráter miraculoso como o Alcorão.

O Sagrado Alcorão é considerado o maior milagre do Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ). É um desafio permanente para todos os tempos e espaços. Por outras palavras, o Alcorão Sagrado é o milagre imortal que Allah concedeu ao Sagrado Profeta, enquanto outros milagres foram feitos somente durante a sua vida. Quando os não-crentes de Makkah (Meca) pediram ao Sagrado Profeta para fazer um milagre, foi revelado o seguinte versículo:

“E eles dizem: – Porque é que não desceram sobre ele
os portentos (i.e. milagres) do seu Senhor? Dize-lhes: – os
portentos estão com Allah somente e eu sou apenas
um simples mensageiro.
Não é suficiente para eles que Nós te tenhamos
enviado a Escritura que lhes é lida? Olha: aqui,
na verdade, há misericórdia e uma revelação
para as pessoas que crêem!”

O próprio Sagrado Profeta ( SAAS ) declarou ser este o maior milagre comparado aos milagres feitos por outros Profetas. Num Hadith (Dito / Tradição), afirma: “Antes de mim, a cada Profeta eram concedidos milagres que eles faziam durante a sua vida. Muitos acreditavam neles porque os viam a fazer esses milagres. A mim, foi-me concedida a Revelação (i.e. o Sagrado Alcorão) enviada por Allah. Espero que (por acreditarem nele) os meus seguidores sejam em número muito maior do que os seguidores de outros Profetas.55 Num outro Hadith, declara: “Antes de mim. a cada Profeta foram concedidos milagres que eles praticavam durante a sua vida: por exemplo, Jesus curava os doentes, ressuscitava os mortos, etc.; a Moisés foi dada a vara, etc.; a mim, foi-me dado um milagre imortal, o Sagrado Alcorão, que durará até a Hora (i.e. Qiyamah) ser estabelecida e, por isso, espero que os meus seguidores sejam em número maior do que os dos outros Profetas (ou apóstolos), pois o meu milagre durará até ao Dia da Ressurreição; é um Livro Glorioso, sempreque alguém o lê, mesmo que seja pagão, etc., convence-se de que não foi escrito por um ser humano ou qualquer” criatura de Deus (anjos, etc.), mas que provém do Criador dos céus e da terra.”

Allah constantemente fala desse milagre e no Sagrado Alcorão desafia a humanidade e os Jinns (Génios) para produzirem uma coisa semelhante.

“Dize: Na verdade ainda que os homens e os gênios
se reunissem para produzir obra semelhante
a este Alcorão, eles não a poderiam
produzir embora se auxiliassem uns aos outros.”

Numa outra passagem, o desafio limita-se a dez surahs (capítulos), em vez do Alcorão inteiro:

“Ou dizem : ele inventou isso. Responde-lhes: trazei,
então, dez capítulos semelhantes, inventados
por vós e pedi o auxilio de todos, exceto de
Allah, se sois verdadeiros!”

Numa outra passagem ainda, o desafio é reduzido a um Surah (capítulo) do Alcorão:

“Se duvidais das verdades que temos revelado ao
Nosso Escravo, produzi, então, um capítulo (Surah)
sobre as vossas doutrinas e invocai outros testemunhos
além de Allah.
Se o não fizerdes, e jamais poderei fazê-lo,
guardai-vos então da Fogueira preparada para
os descrentes, cujo combustível é constituído
por homens e por pedras.”

“Este Alcorão não poderia ter sido
inventado para desprestigio de Allah; mas
é uma confirmação das Escrituras
que o precederam e uma exposição daquilo
que foi decretado para a humanidade
– nele não há dúvidas – pelo Senhor
dos Mundos.
Dizem eles: Foi ele que o inventou? Dize-lhes:
Então trazei um capítulo semelhante para
lhe juntar com a ajuda de todos aqueles
a quem vós podereis dirigir além de Allah,
se sois verdadeiros.”

Numa outra passagem, lança-se o desafio aos não-crentes para que apresentem um discurso semelhante:

“Ou dizem eles: — Foi ele quem inventou isto? oh!
Mas eles não hão de acreditar!
Deixa, então, que eles produzam discursos
semelhantes a este, se são sinceros.”

Existem várias razões, para se considerar o Sagrado Alcorão um milagre. Vários teólogos dão explicações diversas sobre o assunto. Jalaluddin Suyuti cita diversas opiniões de vários teólogos. De acordo com Imam FaKhruddin al-Razi, as razões pelas quais o Sagrado Alcorão é considerado um milagre são a sua eloqüência, o seu estilo sublime e a sua perfeição e incorruptibilidade. De acordo com alguns “Mutaziliías” o milagre do Sagrado Alcorão reside no seu estilo extraordinário. Isto é, o estilo do Sagrado Alcorão é bastante diferente da literatura árabe dessa época. O Sagrado Alcorão adaptou um estilo tão excepcional que é inigualável e até os Árabes mais eloquentes eram incapazes de o reproduzir. Alguns dos Mutazílitas como Ja’hiz e a maior parte dos Ashaaritas consideram que o Alcorão é um milagre devido à sua eloquência, fluência e pureza da linguagem. Alguns dos estudiosos incluindo Nizan al-lv1u’tazili e Ibn Hazm al-Zahiri consideram que o milagre do Sagrado Alcorão reside no fato de Allah ter emudecido os Árabes mais eloqüentes da época, pois eles não conseguiram apresentar um discurso eloqüente e fluente como que o Alcorão apresenta.64 Imam Razi apóia também este ponto de vista, além do acima mencionado. De acordo com alguns teólogos, o milagre do Alcorão reside nas várias profecias que se verificaram serem verdadeiras. Outros teólogos crêem que o milagre reside no fato de o Alcorão ter desvelado pensamentos ocultos de certas pessoas, coisa que nenhum ser humano consegue fazer. Alguns estudiosos são da opinião de que é um milagre o próprio fato de um discurso tão eloqüente ter sido produzido por um homem iletrado. O seu efeito extraordinário e a influência que exercia nas pessoas é um milagre segundo alguns estudiosos enquanto outros, como Shah Waliyullah de Delhi, são da opinião de que o milagre do Alcorão reside nos seus ensinamentos e nos discursos esclarecedores.66 Na minha opinião, além de todos os motivos acima mencionados, o Alcorão é um milagre sobretudo porque explica vários fenômenos naturais de um modo aceitável mesmo para a presente época, quando o progresso alucinante das pesquisas cientificas os destrinça, de um modo bastante diferente daquele que era compreendido pelas pessoas há quatorze séculos atrás.

Segundo Qadi Ayaz “existem várias razões pelas quais o Alcorão tem sido considerado um Milagre. As razões principais podem ser reduzidos a quatro: o modo de estar compilado, a construção das palavras, a eloqüência e o extraordinário estilo, novo para a literatura Árabe existente(.. ).

Este autor descreve pormenorizadamente todas essas razões em várias páginas do seu livro, bem como cerca de 93 páginas do seu comentário feito por Shihabuddin que podem ser confrontados na referida obra.

Mohammad Rashid Rida apresenta várias razões pelas quais o Sagrado Alcorão é considerado um milagre. Entre outras, inclui: o seu efeito nos corações das pessoas, o seu estilo extraordinário, a sua eloqüência, a revolução que um homem iletrado, através desse Livro, trouxe para o meio inculto e incivilizado dos Árabes, etc.69 No seu livro “AI-Wahy al-Mohammad”, cerca de 180 páginas são dedicadas a este assunto.

Enfim, existem ‘inumeráveis razões pelas quais se considera o Alcorão uma Wahy (Revelação) e um milagre- Cada teólogo apresenta seus argumentos e opiniões, de acordo com a sua interpretação. Examinemos agora as razões que o próprio Alcorão apresenta a este respeito:

Argumentos Alcorânicos:

( I ) Eloqüência e Fluência:

“E Nós sabemos bem que eles dizem:
– Foi um homem somente que o ensinou.
A linguagem daquele a quem
falsamente aludem não é deste território,
enquanto que isto é fala clara em Arábico”

“E olha.” isto é uma revelação do Senhor dos Mundos.
Que o Espírito Verdadeiro trouxe para baixo,
sobre o teu coração, para que pudesses ser um dos conselheiros,
em simples linguagem arábica!”

“(É) Uma Leitura em Arábico, que não contém frases
tortuosas para que eles possam, felizmente, afastar o mal.”

“E Nós não lhe ensinamos (a Mohammad) a poesia nem isso é
próprio para ele . isto não é mais nada que uma
Recordação (Mensagem) e uma Leitura para esclarecer”.

“Alif. Lam. Ra. Estes são versículos da Escritura
e de Leitura simples (e fácil de compreender).”

( II ) Sem qualquer contradição:

” Acaso não meditarão, eles, sobre o Alcorão? se isto não
viesse de Allah encontrariam nele muita incongruência.”

“Mão meditarão eles, então, no Alcorão, ou estão fechados
por cadeados os seus corações ?”

( II ) O seu efeito:

” E, certamente, que lhes chegaram
noticias que deveriam infundir temor,
e sabedoria firme; mas os avisos
de nada servem.”

Os não-crentes diziam que as recitações do Sagrado Alcorão continham a magia somente, devido ao efeito produzido nos ouvintes e aos seus discursos firmes.

“E quando as Nossas claras revelações lhe são recitadas esses
que não crêem dizem da Verdade, quando esta
os alcança: – Isto é simples magia.”

Os não-crentes faziam barulho sempre que o Sagrado Alcorão era recitado, para que as pessoas não sentissem o seu efeito depois de o ouvir.

“Esses que não crêem dizem: – Não presteis atenção
a este Alcorão e não deixei que seja escutado
(fazendo barulho) para que, felizmente, possais vencer. ”

( IV ) Ensinamentos e Orientação:

“Alif. Lam. Mim.
Este é o Livro que não oferece dúvidas: a regra
de todos que crêem no Senhor.”

“Oh! Este Alcorão guia-vos para o bom caminho…”.

“Agora veio para vós a luz de Allah e uma escritura
simples. Pela qual Allah guia aquele que procura agradar-Lhe
e busca os caminhos da paz. Ele arranca-os
das trevas para a luz pelas suas leis e guia-os
para o bom caminho. ”

“Diz-lhes, ó Mohammad: – Trazei, então, uma escritura
da presença de Allah que dê orientação mais clara
do que estas duas, para que eu possa seguí-las,
se sois verdadeiros.”

“É uma Escritura abençoada que Nós revelamos.
Segui-a, portanto, e afastai de vós o mal para
que possais encontrar o perdão.
A não ser que digais: A Escritura foi revelada
somente a duas seitas antes de nós, e nós,
na realidade, não nos apercebemos do seu conteúdo;
Ou, a não ser que digais: se a Escritura nos
houvesse sido revelada certamente que tentaríamos
sido mais bem orientados do que eles. Foi-nos dada,
agora, uma prova clara do vosso Senhor,
um amparo e misericórdia; e quem é que causa mais danos
do que aquele que nega as revelações de Allah
e se afasta dos seus preceitos ?”

“E Nós revelamos do Alcorão isso que é cura e
misericórdia para os crentes.. ..”

“(…) isto é uma Escritura incontestável!
A falsidade não pode atacá-la pela frente nem por trás.
Isto é uma revelação da parte do Prudente,
o Senhor do Louvor.
Nada te é dito, ó Mohammad, que não tenha sido
dito aos mensageiros que te precederam. Olha:
o teu Senhor é o possuidor do perdão e o possuidor também de
terrível; castigo!
E se Nós houvéssemos determinado que isto fosse uma
Leitura em língua estrangeira eles teriam dito
por certo: — se os versículos, ao menos, nos tivessem
sido expostos de forma que pudéssemos
compreendê-los! O quê ? Uma língua estrangeira
e um ( Mensageiro) Árabe ? — Dize-lhes, ó Mohammad:
-Para os que crêem isto é uma orientação e
um remédio; quanto a esses que descrêm, há,
nos seus ouvidos, uma surdez…”.

“Ó modais.’ Veio para vós uma exortação do vosso Senhor;
um bálsamo para os vossos corações, amparo e
misericórdia para os crentes.”

“Ya. Sin.
Peio Alcorão da Sabedoria.”
“Sad. Pelo celebrado Alcorão.”

“Diz: Na verdade, ainda que os homens e os
gênios se reunissem para produzir obra
semelhante a este Alcorão, eles não a
poderiam produzir embora se auxiliassem uns aos outros.”

“Se duvidais das verdades que temos revelado ao Nosso
Escravo (Mohammad) produzi, então, um capítulo sobre
as vossas doutrinas e invocai outros testemunhos, além de Allah.
Se não o fizerdes (e jamais podereis fazê-lo) guardai-vos
então da Fogueira preparada para os descrentes, cujo
combustível é constituído por homens e por pedras.”

( VI ) O Sagrado Alcorão foi transmitido através de um homem iletrado:

“E tu, ó Mohammad, nunca foste um leitor de escritura
alguma antes desta, nem a escreveste com
a tua mão direita pois que, então, poderiam
duvidar esses que seguem a falsidade.
Mas isto são revelações claras nos corações daqueles
a quem foi dada a sabedoria, e ninguém
nega as Nossas revelações, salvo os malfeitores.
E eles dizem: – Porque é que não desceram sobre
ele os portentos do seu Senhor? Diz-lhes: – os
portentos estão com Allah somente, e eu sou
apenas um simples mensageiro.
Não é suficiente para eles que Nós te tenhamos
enviado a Escritura que lhes é lida? Olha: aqui,
na Verdade, há misericórdia e uma revelação
para as pessoas que crêem!”

( VII ) Allah prometeu preservá-lo e projetá-lo:

“Olha! Nós, exatamente Nós, revelamos a Mensagem e
somos, na verdade, o seu Guardião!”

“Olha: sobre nós resta a sua compilação e a sua leitura!

“A falsidade não pode atacá-la pela frente nem por
trás. Isto é uma revelação da parte do Prudente,
o Senhor do Louvor.”

` ( VIII ) A Força dos Argumentos:

“Foi-vos dada agora uma prova clara do vosso Senhor…”.
“Diz-lhes, o que para Al!ah é argumento final… “.

“Este Alcorão é uma revelação do vosso Senhor, um
guia e salvação para os povos que crêem.”

Os versículos do Alcorão acima mencionados foram citados tendo em conta somente alguns aspectos limitados. Num estudo mais aprofundado depararíamos com vários outros argumentos que demonstram que o Alcorão Sagrado é um Milagre.

Qualquer pessoa que estude esses Versículos (ou outros) do Sagrado Alcorão no texto Árabe Original seria capaz de observar a lógica da argumentação e da interpretação racional que convence as pessoas do seu caráter miraculoso. Um Surah pode ser constituído por uma linha, mas tanto os árabes como os não-árabes não tiveram êxito quando procuravam concretizá-lo. A beleza do Alcorão, a harmonia, a sua força de convicção, a lógica, a simplicidade, a profundeza e a sabedoria estão muito acima de tudo o que os árabes e não-árabes sabiam, ou conjuntamente podiam conceber. Quando o Alcorão estava a ser recebido pêlos Muçulmanos, os idólatras tapavam os ouvidos e alguns faziam barulho — assobiavam ou gritavam — só para não o ouvirem e não terem que aceitar a sua Verdade. Muitos dos não-crentes abraçavam o islã somente porque, casualmente, o ouviam. Os chefes dos não-crentes estavam aterrorizados e não conseguiam encontrar uma explicação plausível para a beleza e poder irresistível do Alcorão. No entanto, tinham que encontrar uma maneira de dissuadir as pessoas e justificar o seu próprio procedimento — inventavam mentiras e logros. Uma pessoa que não seja bem versada na língua Arábica poderá perfeitamente pausar e ponderar sobre a veracidade dessa reivindicação. Talvez não se aperceba de que é que se trata; visto que não compreende a língua Arábica, não conseguirá apreender a beleza, a eloqüência e o desafio dos Versículos Alcorânicos.

A revelação dos Fatos da Natureza:

O alcance do Alcorão não é nem filosofia, nem ciência; é sobretudo, uma orientação de Allah e em direção a Allah e a Sua religião. No entanto, para o reconhecimento de Allah e dos Seus Atributos, o Alcorão chama a nossa atenção para os fatos e processos naturais (e, deste modo, reconhece todos os fatos envolvidos nos fenômenos da Natureza), contendo noções e indicações sobre esses mesmos processos, numa linguagem compreensível até na era científica moderna.100 É um dos grandes milagres do Alcorão o fato de estar escrito numa linguagem que contém uma grande riqueza a nível da significação. Para os menos cultos é uma simples narrativa enquanto para os mais cultos contém grandes filosofias. De fato, o Alcorão debate todos os conhecimentos a respeito de tudo mas, ao mesmo tempo, considera a coerência, lógica dos fatos naturais tais como eles se nos apresentam. Essa coerência é aceite como uma reflexão passiva da liberdade absoluta do Ato Divino. A coerência dos fenômenos naturais deve-se à passividade em relação à criação.

Um exemplo do discurso miraculoso do Sagrado Alcorão:

A riqueza semântica incorporada nos Versículos Alcorânicos pode ser exemplificados através dos seguintes Versículos:

“Em nome de Allah, Beneficente e Misericordioso.
Pêlos corcéis que relicham
Que fazem saltar faíscas de fogo
E que de manha se precipitam para a invasão;
Então, com o seu rasto de poeira
Rachando, como se fosse um, o inimigo ao meio.
Olha: o homem é injusto para o seu Senhor!”

A palavra utilizada para os “corcéis” é “al-Adiyat” e para “fazem saltar(…) fogo” é “al-Muriyat”. Estas palavras têm vários significados. De acordo com “Lisau-al-Arab” e Imam Raghin, “Adiyaí” deriva de “adw” que signifia “correr”, (e dai “al-Adiyat” são “os corcéis” que correm) e também “os assaltantes”; “dab”, a palavra a seguir a “al-Adiyat”, significa produzir qualquer som ao correr”; “Muriyat” deriva de “wara” que significa “fogo” e por isso “al-Muriyat” são “aqueles que fazem saltar(…) fogo” e “qadh”, a palavra seguinte, tem vários significados, entre os quais “fazer uma racha ou um buraco” ou “corrosão” ou o ato de produzir faíscas de fogo.

Tendo em conta os significados acima mencionados, os teólogos comentam-nos de diversos modos. Segundo Abdullah Ibn Abbas, essas palavras descrevem os camelos que correm por ocasião da peregrinação; mas a maioria dos comentadores interpretam essas palavras como referindo-se a cavalos e o papel que desempenham na guerra. Nesse caso, seria uma descrição profética das guerras nas quais os oponentes, que pretendiam destruir a Verdade através da espada, seriam, finalmente, derrotados. No entanto, as palavras contêm uma significação tão extensa que também podem ser aplicadas à guerra. Se a força de um ataque ao inimigo dependesse da rapidez com a qual o ataque era feito e, portanto, nessa época, da rapidez dos cavalos, as palavras descrevem ainda melhor os ataques aéreos dos tempos que correm- Também eles fazem barulho e lançam fogo que faz buracos e fendas, abrindo a terra. Também eles atacam cedo, pela manhã levantando poeira dos edifícios destruídos e peneirando nos espaços mais fechados das cidades.

Segundo alguns sufis, estas palavras referem-se a grupos de guerreiros “espirituais” que correm velozmente na causa de Allah.

Os acontecimentos não-presenciados contados pelo Alcorão Sagrado:

Um dos milagres do Sagrado Alcorão tem sido considerado o fato de aí nos serem narrados, através de um homem iletrado, acontecimentos históricos referentes a nações muito anteriores, e de um modo muito autêntico. Só existem 3 maneiras de o Sagrado Profeta ter adquirido esses conhecimentos:

(I) os acontecimentos teriam ocorrido perante ele;
(II) ele tê-los-ia lido num livro;
(III) ele teria convivido com pessoas que possuíssem esse conhecimentos.

Mas o Sagrado Alcorão nega todas essas vias materiais pelas quais ele poderia ter tido acesso a esses conhecimentos. A primeira via (i) foi negada nos seguintes versículos:

“E tu, Mohammad, não estavas no lado ocidental do Monte
quando expusemos a Moisés os Mandamentos, nem
estavas entre os presentes;
Mas, Nós fizemos surgir (outras) gerações e as suas
vidas prolongaram-se para eles. E tu não eras
um habitante de Madian, para lhes recitar
as Nossas revelações, mas Nós continuamos a mandar
mensageiros aos homens.
E tu não estavas no lado do Monte quando Nós
chamamos; mas o conhecimento disto é uma misericórdia do teu
Senhor para que possas
prevenir um povo ao qual não veio nenhum
conselheiro antes de ti, para que eles possam,
felizmente, tomar atenção.”

Numa outra passagem diz-se:

“teto é revelação de parte das coisas
escondidas. A ti as revelamos, ó Mohammad.
Tu não estavas presente com eles
quando lançaram as suas penas para
saber qual deles seria o guardião
de Maria, nem estavas presente quando
questionaram sobre isso.”

A segunda via de aquisição de conhecimento foi também negada pelo Sagrado Alcorão uma vez que aí se declara que o Sagrado Profeta era iletrado. Os seguintes versículos dão-nos conta disso:

“Tu não sabias o que era a Escritura nem
o que era Fé.. .”.

A terceira via também foi negada uma vez que se diz que o Profeta Sagrado não ouviu nem aprendeu estes acontecimentos através de ninguém (do mundo):

“Isto é das novas do Invisível com as quais te – .
inspiramos, ó Mohammad. Tu mesmo não
sabias isto nem o teu povo o sabia. Tem, portanto, paciência. Olha:
o futuro é para esses que afastam de si o mal.”

Numa outra passagem, o Sagrado Alcorão diz:

“E tu, ó Mohammad, nunca foste um leitor de
escritura alguma antes desta, nem a
escreveste com a tua mão direita pois que,
então, poderiam duvidar esses que seguem a
falsidade.”

Opiniões de alguns estudiosos não-muçulmanos sobre o Sagrado Alcorão:

Bosworth Smith escreve: “Era um dos milagres reivindicados por Mohammad – chamava-o de seu “milagre “imortal” e é, na verdade, um milagre.”

O Alcorão é inigualável no que diz respeito
ao seu poder de convicção, à eloqüência e até
à composição (•..). E a ele se deve, indiretamente,
o extraordinário desenvolvimento de todos os ramos da Ciência,
no mundo Muçulmano”, diz Hirchfeid.”

‘Steígass salienta: “Podemos muito bem dizer que o Alcorão é um dos mais grandiosos livros jamais escritos (…). Sublime e puro, onde a verdade suprema da unicidade de Deus tem sido proclamada; apela, num estilo magnífico, para a imaginação de um povo com talento poético – ai se encontram retratadas as conseqüências eternas da submissão do homem à vontade de Deus ou da rebelião contra ela; comovente, no seu fervor simples, quase ingênuo, quando por várias vezes procura a coragem ou o controlo para o mensagem de Deus, é um aviso solene para aqueles para os quais ele foi enviado, através de histórias de profetas anteriores; a linguagem do Alcorão adapta-se às exigências quotidianas quando esse quotidiano (da vida pública e privada), deve estar em harmonia com os princípios fundamentais das novas leis.”

Sale escreve: “O estilo do Alcorão é, geralmente, belo e fluente(…) em várias passagens, sobretudo onde estão descritas a Majestade e Atributos de Deus é sublime e magnificente(…). Teve tanto êxito e tão estranhamente cativou as mentes da audiência, que vários dos seus oponentes pensavam que isso era um efeito de magia e encantamento.”

G. Margolioth escreve: “O Alcorão ocupa, sem qualquer dúvida, uma importante posição entre os grandes livros religiosos do mundo. Embora seja a mais recente das obras significantes desse tipo de literatura, ultrapassa-as todas pelo efeito maravilhoso que produziu em grandes massas. Criou uma fase totalmente nova do pensamento humano e um novo tipo de caráter.”

Carfyle diz: “Sinceridade, em todos os sentidos, parece ser, quanto a mim, o mérito de Alcorão – foi o que o tomou precioso para os árabes incivilizados. É, afinal, o primeiro e o último mérito num livro e cria méritos de todo o tipo – não, no fundo, é a única coisa que pode criar qualquer tipo de mérito.”
Godfrey Higgins escreve: “Tal como o Evangelho de Jesus, o Alcorão é o amigo dos pobres. A injustiça dos grandes e dos ricos é reprovada em todo o Livro. Não é nenhum venerador de pessoas. E contribuí para a honra imortal desse Livro o fato de nem um preceito nele prescrito conter a mínima indicação de servilismo político. E, como muito bem observa o Westminster Reviewer, se há alguma coisa que detém um opressor oriental é, provavelmente, um versículo cerimonioso do Alcorão na boca de um çontestador audaz.

O autor de um artigo sobre o Islamismo no Quarterly fíeview diz: “E é exatamente nessas transições rápidas e súbitas como um relâmpago que reside um dos grandes encantos do Livro, tal como está agora”; e Goethe pode muito bem dizer: “sempre que o lemos, primeiro desagrada-nos e, aos poucos, atrai-nos, espanta-nos e, finalmente obriga-nos a admirá-lo.”De novo, diz: “Aqueles grandes tons de alegria e tristeza, de amor e coragem, e de paixão dos quais só nos chegam ecos vagos, eram vigorosos na época de Mohammad; e ele não tinha somente que rivalizar os mais ilustres mas também excedê-los e apelar para a superioridade do que dizia e recitava, como o próprio sinal e prova da sua missão.”115 De novo salienta: “Viramo-nos de preferência, para uma das partes intrínsecas desse estranho livro – um livro com a ajuda do qual os Árabes conquistaram um mundo maior do que ao de Roma e somente em dezenas de anos (enquanto os Romanos precisaram de centenas de anos para fazerem as suas conquistas); pela ajuda do qual, só eles, dentre todos os povos Semitas, entraram vitoriosamente para a Europa – enquanto os Fenícios vieram como comerciantes e os Judeus como fugitivos ou cativos – vieram à Europa para mostrar a luz à humanidade .(enquanto todos os cantos do mundo se encontravam envolvidos em trevas) e fizeram renascer a sabedoria e o conhecimento da Grécia, ensinaram filosofia, medicina e astronomia ao Ocidente e ao Oriente, contribuindo para a origem da ciência moderna; nós sempre faremos luto no dia em que Granada caiu das mãos dos Árabes.”

Mr. Sale escreve: “O Alcorão é universalmente considerado ter sido escrito numa linguagem pura a elegante, no dialeto da tribo Koreish – a mais nobre e polida dentre todas as tribos Árabes — mas com uma mistura, embora rara, de outros dialetos. É, confessadamente, a língua árabe “standard” e, como crêem os mais ortodoxos (aliás, segundo o próprio livro), é inimitável por qualquer caneta humana (embora alguns sectários sejam de opinião diferente) e, portanto, insistem que é um milagre eterno, maior do que o de ressuscitar os mortos e, só por si, suficiente para convencer o mundo da sua origem divina. E foi sobretudo a este milagre que Mohammad apelou para a confirmação da sua missão desafiando, publicamente, o homem mais eloqüente da Arábia – e, na época, havia milhares cujo estudo e ambição se dedicava, unicamente em excedê-lo em elegância de estilo e composição — para que produzisse um único capitulo comparável ao Alcorão. Mencionarei somente uma ocasião, dentre várias, para demonstrar que esse livro era, na verdade, admirado pela beleza da sua composição, por aqueles que devem ser considerados juizes idôneos. Um poema de Labeed Ebu Rabia, um dos maiores gênios da Arábia na época de Mohammad, foi afixado na porta do templo de Meca – uma honra permitida somente aos que eram considerados os melhores – (nenhum outro poeta ousava competir com ele); mas o segundo capitulo do Alcorão foi aí afixado logo de seguida. O próprio Labeed, nessa altura um idólatra, assim que leu os primeiros versículos, ficou de tal modo impressionado que imediatamente abraçou a religião proclamada pelo Alcorão, declarando que tais palavras só poderiam vir de uma pessoa inspirada(…). O estilo do Alcorão é geralmente belo e fluente, sobretudo onde imita a maneira profética e frases das Escrituras. É conciso e, muitas vezes, enigmático, adornado com figuras redondas, ousadas ao gosto Oriental, animado com expressões embelezadas e sentenciosas; e, em várias passagens, sobretudo onde estão descritos a majestade e atributos de Deus, é sublime e magnificente.”

Palmer escreve: “Não é surpreendente que o melhor dos escritores Árabes nunca tenha conseguido criar algo semelhante, em mérito, ao Alcorão.”

A má interpretação da Narração de “Gharaniq”

Um vasto número de historiadores islâmicos mencionaram o acontecimento de “Gharaniq” que, segundo eles, ocorreu nos primeiros anos de advento do Islam em Meca (após a Primeira Emigração dos Muçulmanos para a Abissínia, em finais do quinto ano ou princípios do sexto ano da Missão do Sagrado Profeta). “Gharaniq” significa, literalmente, “os grous” (pássaros).

De acordo com os historiadores, aconteceu que certa vez o Sagrado Profeta ( SAAS ) enganou-se enquanto recitava Surat al-Najm. Quando chegou aos seguintes versículos:

“Afara-aytum at-Lat wai-‘Uzza wa
manata ath-thalital ukhra.”
Tradução

“Já pensastes vós sobre al-Lat e aí-Uzza
E Manai, o terceiro, o outro?” (al-Najm 53: 19, 20)

O Sagrado Profeta, por engano recitou:

Tilka al-Gharaniq ai-‘Ula wa
inna shafa – atuhunna la-turtaja”

Tradução:

Estes (ídolos) são (como) os pássaros
exaltados (e honrados) cuja intercessão
é aceite por Allah.”

Depois, o Sagrado Profeta recitou o capitulo Al-Najm inteiro e fez “Sijdat-al-Tilawat” (Prostração para Tilawat i.e. recitação do Alcorão), os não-crentes (i.e. idólatras) de Makkah (i.e. Meca) que se encontravam presentes também fizeram a prostração, e correu o rumor de que Mohammad (Sallailahu aíaihi wa Saltam) aceitara os seus ídolos. Algumas pessoas interpretaram mal o “Sijdah” feito pelos não crentes e pensaram que eles tivessem aceite o Islam. O rumor chegou também à Abissínia (i.e. a atual Etiópia) para onde alguns Muçulmanos tinham emigrado poucos dias antes. Ouvindo o rumor da aceitação do Islam por Quraish, os muçulmanos regressaram da Abissínia 121 mas, ao chegarem a Makkah, descobriram que as noticias eram falsas.

No dia seguinte, quando o Anjo Jíbril (Gabriel) visitou o Profeta Sagrado e ouviu a recitação do capítulo al-Najm (i.e. cap. 53 acima mencionado) apontou para o erro e disse que essa parte não era uma revelação. Então Allah revelou os seguintes versículos para avisar os não crentes assim como o Sagrado Profeta:

“E, na verdade, eles esforçam-se
duramente para conseguirem afastar-te, Mohammad,
daquilo com que Nós te inspiramos
e para que inventes outra coisa contra Nós
em vez disto; e, então, eles aceitar-te-iam como amigo.
E se Nós não te tivéssemos feito
completamente firme talvez te houvesses inclinado
um pouco para eles.
Nós te faríamos, então, provar o castigo
dobrado de viver e o dobrado de morrer,
e não encontrarias quem te socorresse
contra Nós.” (Alcorão, 17 (al-Isra): 73-75).

Mas, de acordo com numerosos teólogos, esta narração é falsa. Allamah Shibli Nu’mani e Mohammad Hussain Haíkal discutiram-na pormenorizadamente.

Allamah Shibli escreve: “(…) essa história é, obviamente, um mito absurdo que nem merece comentário. A maior parte dos tradicionalistas, por exemplo al-Baihaqi, Qadi ‘Ayad, al-Aini, ai Maudhari e al-Nawawi declararam-na falsa e fabricada (,..).”

Aqueles que aceitaram a acima mencionada narração (Hadith) de “Gharaniq” como suficientemente segura para ser acreditada, dizem que, enquanto o Profeta Sagrado ( SAAS ) estava a recitar o capitulo al-Najm (i.e. cap. 53 do Alcorão Sagrado), Satanás acrescentou essas palavras e os que as ouviram (i.e. os não-crentes) pensaram que o próprio Sagrado Profeta ( SAAS ) as tivesse recitado. Zurqani escreve em “Sharsh al-Mawahib”: “Algumas pessoas dizem que enquanto recitava o capítulo al-Najm (i.e. cap. 53), quando o Profeta chegou a “E manat, o terceiro, o outro” (i.e. versículo 20 acima citado), os não crentes (i.e. os idólatras) recearam que o Profeta Sagrado fosse dizer algo contra os seus deuses. Devido a esse receio eles imediatamente disseram “Estes (ídolos) são (como) os pássaros exaltados (e honrados) cuja intercessão é aceite por Allah”. De fato, eles tinham o hábito de interferir nos versículos do Alcorão com as suas troças e zombarias e costumavam dizer “Não presteis atenção a este Alcorão e não deixeis que seja executado (fazendo barulho)” (Alcorão, Ha-Mim al-Sijdah-41:26).

Mohammad Zurqani prossegue: “Aqui Satanás pode também querer dizer “alguns satanases” (i.e. pessoas malévolas) dentre os homens (i-e. não-crentes de Makkah) que interferiam na recitação do Alcorão feita pelo Sagrado Profeta.”‘

Nem que a tradição acima mencionada sobre “Gharaniq” fosse minimamente plausível, é ridículo sustentar a tese de que Satanás (ou “os satanases”) tenham deslizado na língua do Profeta Sagrado uma vez que a mesma tradição nos diz que a correção foi feita pelo anjo da Revelação, Jibril (Gabriel) (que a paz esteja com ele).

Allah declara claramente no Alcorão que “os diabos” dentre Jinns e homens têm sido os inimigos de todos os Profetas, mas os Profetas foram sempre protegidos Divinamente e Allah sempre aperfeiçoou e cumpriu a Sua Palavra em Verdade e Justiça, através deles (i,e. dos Profetas) e as Suas Palavras não podem ser modificadas por ninguém:

“Nós temos, assim, designado adversários para todos
os Profetas — diabos da espécie humana e gênios que
inspiram uns aos outros discursos sedutores
para enganar. Se o vosso Senhor o quisesse
ele nada fariam: deixa-os a sós com as suas invenções.
Para que os corações daqueles que pão crêem
na Vida Futura se possam inclinar para isso,
e para que nisso possam encontrar prazer
e ganhar o que estão ganhando.

Diz (ó Mohammad):

“Deverei procurar outro, que não seja Allah,
como juiz quando foi Ele quem vos revelou esta
Escritura completamente explicada?” Esses a
quem, nos tempos antigos, demos a Escritura
sabem que foi revelada pelo teu Senhor com
a verdade. Não sejas pois tu, ó Mohammad,
daqueles que se afastam.
A Palavra do Teu Senhor é perfeita em verdade
é Justiça. Nada há que possa mudar as Suas
palavras. Ele é o que ouve, o Sábio.
Se tu obedecesses à maior parte dos homens
eles afastar-te-iam para longe do caminho
de Allah. Não seguem nada a não ser uma opinião
e não fazem mais do que conjectura.
Olha! o teu Senhor sabe muito bem, quem se afasta do Seu
caminho como sabe também
quem são os que vão pelo bom caminho.”

Capitulo II

O Profetismo e os Profetas

A. A MISSÃO DO PROFETA

Aparentemente um dos aspectos mais notórios da vida do Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS) o conjunto de batalhas que ele travou depois da grande Hégira (emigração) para Medina. Na realidade, estas batalhas e expedições militares nunca foram o real objetivo da Missão do Profeta. Ele não foi nunca impelido a travar guerras contra o povo ou a forçá-lo a aceitar a mensagem avançada por ele, tal como declara o Sagrado Alcorão:

“Não há compulsão na religião…”

Pois a fé aceite sob coação não é de fato fé, uma vez que a pessoa que aderiu à fé sob qualquer tipo de ameaça não pode jamais ser um verdadeiro crente; pertenceria ao seio dos hipócritas, sobre os quais o Alcorão diz: “Os Hipócritas permanecerão nas profundezas do Fogo (do Inferno).”
O objetivo Principal e básico do Profeta era chamar o povo para o seio de Allah (Deus), transmitir-lhe a Sua Mensagem, pregar a Sua Religião. guiá-lo no cumprimento dos mandamentos de Allah e ensinar ao povo as revelações. Diz o Sagrado Alcorão:

“Foi Ele quem mandou para o meio dos iletrados
um mensageiro do seu próprio meio, para lhes recitar
as Suas revelações e fazê-los crescer, e
ensinar-lhes as Escrituras e a sabedoria ainda que,
até então, estivessem, na verdade, em erro manifesto…”

As batalhas e as expedições militares realizaram-se apenas para permitir ; percurso até ao seio de Allah e afastar as dificuldades e os obstáculos utilizados pêlos Não-Crentes.

Quando o Sagrado Profeta ( SAAS ) chamou os Árabes para o Islam, eles recusaram a sua chamada, opuseram-se e até o forçaram a abandonar o seu local de nascimento, Makkah (Meca). Apesar do Sagrado Profeta e dos Muçulmanos terem emigrado para Medina, os Quaraish (Coraixitas), a principal tribo de Makkah, os quais se opuseram à própria Missão do Mensageiro de Allah, não desistiram da sua perseguição contra eles e contra o Islam. Não toleraram a popularidade crescente do Sagrado Profeta ( SAAS ). Os Coraixiías, que observavam com crescente ansiedade e ira o aumento da popularidade do Profeta e dos Muçulmanos em Medina, estavam determinados a abafar essa força crescente e a influência dos Muçulmanos naquele local. Conspiravam contra eles e atacavam-nos freqüentemente, mais no sentido de os exterminar do que de os afastar. O Sagrado Profeta ( SAAS) defendia-se das suas ofensivas e, por isso, começaram a travar-se as primeiras lutas e expedições militares.

Se os Muçulmanos, conduzidos e chefiados peio Sagrado Profeta, não tivessem envidado esforços Hercúleos para se protegerem, bem como à sua religião contra os bárbaros e bélicos elementos Árabes, o Islam seria banido à nascença. Os malefícios das lutas foram indescritíveis. Acarretaram, inevitavelmente, muitas atrocidades. Simultaneamente, a paz, a todo o custo e por qualquer preço, “pode implicar o aparecimento e a perpetuidade de crueldades ainda maiores, graças à destruição das liberdades, à perseguição e escravização dos fracos por parte de inqualificáveis agressores destituídos de humanidade pacífica”.

As atividades inerentes à Missão do Profeta eram de alertar os transgressores, de dar as boas novas aos Crentes e de trazer a Humanidade para o seio de Allah:

“Ó Profeta! Olha: Nós mandamos-te
como testemunha, como portador
de boas novas e conselheiro; e como um
convocado, para Allah, com Sua Permissão,
e como uma lâmpada que dá luz!”

Nos versículos anteriores podem ser observadas as cinco capacidades inerentes ao Sagrado Profeta:

( I ) Ele foi enviado como o testemunho de todas as verdades espirituais até aí ocultadas pela ignorância e pelas superstições.
( II ) Ele foi enviado para proclamar a boa nova do perdão de Allah a todos os que prevaricaram, desde que acreditassem em Allah e na Missão do Sagrado Profeta e levassem uma vida piedosa.
( III ) Ele foi também enviado como o alerta a todos aqueles que não paravam de prevaricar e de se mostrar descuidados com o seu futuro, a fim de lhes dizer que esta vida é transitória e que existe uma vida futura que depende dos seus atos presentes.
( IV ) Ele foi enviado como aquele que possuía o “direito” de chamar todos os homens para o seio de Allah , através da permissão e da autoridade que lhe foram concedidas por Allah. Isto é expressamente proclamado para que as pessoas não se recusassem a aceitá-lo como o fizeram com outros profetas anteriores a ele.
( V ) Ele foi enviado como uma luz irradiante para iluminar o mundo inteiro com a luz-guia, para o seio de Allah.

B. PROFETISMO

Os estudiosos e filósofos Muçulmanos deram várias definições de profetismo (e profeta). Segundo o Dr. S. M. Iqbal, um profeta pode ser definido como “uma espécie de consciência em que a experiência unitária tende a ultrapassar as suas limitações e procura encontrar todas as oportunidades para reorientar e refazer as forças da vida coletiva”..

Ao descrever a realidade da essência profética (Nubuwwah), Imam Fakhruddin Razi afirma: “Existem dois grupos de pessoas que acreditam no profetismo (Nubwwah). Um dos grupos considera os milagres como o fator evidenciai da credibilidade do profetismo. Este é o ponto de vista das pessoas da religião antiga e foi adaptado na generalidade pelos adeptos das religiões e seitas.

Enquanto que as pessoas com um diferente ponto de vista optam pelas crenças verdadeiras e reais, e pêlos atos virtuosos. Após a determinação de que se deve verificar que (se) o homem (considerado como profeta) encaminha as pessoas para a verdadeira religião (ou não); e que (se) a sua chamada exerce uma grande influência sobre as pessoas no sentido de as afastar do mal e encaminhar para a prática do bem (ou não). Se assim for, então acreditamos que ele é o verdadeiro profeta e deve ser seguido (e obedecido). Esta via está muito mais próxima da razão e deixa, incomparavelmente, muito menos dúvidas”.

Ele afirmou ainda numa outra rubrica: “O estudo do Sagrado Alcorão também nos diz acerca do segundo ponto de vista para sermos mais perfeitos e excelsos para o reconhecimento do profetismo”.

Shah Waliyullah de Delhi tratou da realidade e das características do profetismo num capítulo à parte do seu famoso livro, Hujjatullahhil-Baligha. Escreve a dado passo:

“Quando Allah determina, peia Sua Divina Onisciência,
enviar um homem de sabedoria no seio do povo
(Ele fá-lo enviando tal homem) que arranca o povo
das profundezas das trevas para a luz.
Torna-se necessário, como um dever, que as pessoas
se submetam a ele de todo o coração.
Os seres celestes (i.e. os anjos)
estão encarregados de apoiar os seus
seguidores após a graça da sua obediência
a ele, e de pedir o castigo e o afastamento
daqueles que se lhe opõem. Allah informa
as pessoas e pede-lhes que lhe obedeçam
a todo o custo. Tal homem é o profeta”.

Acrescenta mais adiante:

“.. .Esta é a razão pela qual
os milagres (al-Mu’jízat), a aceitação das
preces (por Allah) e outras coisas do gênero
se excluem da (essência da) prática profética”.

De acordo com Iman Ghazali:

“A capacidade profética sobrepõe-se
ao instinto humano, tal como o instinto humano se sobrepõe
ao instinto animal…
Ela é uma dádiva do céu que é exclusivamente
outorgada por Allah e que não pode ser obtida
através do trabalho, do esforço ou da procura. Ele (i.e. Allah) afirma
no Sagrado Alcorão: “Allah é quem melhor
pode avaliar a quem deve transmitir a Sua Mensagem” (i.e. quem
deve escolher como Seu mensageiro)”.

Noutro passo afirma:

“Aceitar a capacidade profética, corresponde
a aceitar uma característica que se sobrepõe
ao intelecto. Acontece, pois, que os olhos (interiores)
ficam abertos de modo a obter-se o
conhecimento de coisas que não podem ser
adquiridas pelo intelecto…”

Segundo Ibn Hazm, um outro estudioso muçulmano:

“A capacidade profética significa que Allah envia
um grupo (de pessoas) que são distinguidas por um dom
de excelência e não por uma excelência que poderá,
eventualmente ser devida a um qualquer tipo de razoes.
Allah transmite a esse grupo um determinado ensinamento
(que não pertence ao mundo material), esse grupo é “iniciado”
(sem ser através de qualquer recurso material) e sem nenhuma
exigência (de tal). Tudo acontece como um sonho
que se toma realidade”.

Analisando e resumindo os diversos pontos de vista poderá dizer-se que o profetismo (Nubuwwah) corresponde à prática do dom Divino. Um profeta distingue-se das outras pessoas por receber a Wahy (Revelação ou Inspiração) de Allah, e todos os seus atos são diretamente guiados por Ele.
Diferença entre um Profeta Judeu e um Profeta Islâmico

O Dr. M. Hamidullah refere as diferenças “entre as noções Judaica e Islâmica de profeta” do seguinte modo:

“Um leitor da Bíblia (do Velho Testamento) vê-se em sérias dificuldades para interpretar as diferentes utilizações da palavra em várias passagens. Deus diz ao bondoso Abimalek num sonho “Abraão é um profeta, conduzi-lo de volta para a mulher, ele orará por ti” (Génesis 20/7). “O Senhor disse a Moisés: Fiz de ti um deus para o Faraó, e Aarão, o teu irmão será o teu profeta” (Exodus 7/1).,. “E Moisés… juntou setenta homens dos mais idosos do povo e reuniu-os à volta do tabernáculo. E o Senhor desceu numa nuvem, e falou-lhe, e retirou o espírito que pairava sobre ele e deu-o aos setenta idosos; e -, . eles profetizaram e não cessaram de o fazer. Mas permaneceram no campo dois dos homens (Eidad e Medad)… e eles profetizaram no campo… E Moisés Joshua… disse: Meu Senhor, Moisés impede-os- E Moisés disse-lhe: Invejá-los por minha causa? Desejaria Deus que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhes impusesse o espírito” (Números 11/24-29). Moisés disse aos Israelitas” E o Senhor disse-me:… Investirei um profeta por entre os seus irmãos, como te investi, e colocarei as minhas palavras na sua boca…” (Deuteronômio 18/17-18) “E desde então não nasceu em Israel um profeta como Moisés” (Deuteronômio 34/10). “E todo Israel sabe que Samuel foi destinado a ser o profeta do Senhor” (I Samuel 3/20). “.-.. pois aquele que hoje é denominado profeta, era anteriormente denominado vidente” (I Samuel 9/9). Durante uma invasão estrangeira, o profeta Samuel escolheu Saul, filho de Cis como Rei, e enviou-o a um determinado local: ”Depois disso irás à colina de Deus, onde se encontra a guarnição dos Filisteus: à entrada da cidade encontrarás um grupo de profetas descendo do lugar alto, precedidos de saltério, tambor, flauta e de citara, profetizando. E o Espírito do Senhor virá sobre ti, profetizarás com eles e tornar-te-ás outro homem”, (I Samuel 10/5-6, cf. 10-11). “… E David ausentou-se e fugiu naquela mesma noite- E Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e assassinarem no outro dia pela manhã,.. E David… foi ocultar-se junto de Samuel, em Rama… E disseram a Saul – -. David está… em Rama. E Saul mandou homens para o prender. E quando viram a comunidade dos profetas em êxtase, com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar- Contaram-no a Saul que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar com os primeiros. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais sucedeu o mesmo. Então, foi pessoalmente a Rama… e o espírito de Deus apoderou-se também dele, e foi cantando e profetizando pelo caminho até chegar a Naiot, em Rama. Despiu também as suas vestes e pôs-se a cantar com os outros diante de Samuel, ficando assim despido e prostrado por terra durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: “Está também Saul entre os profetas?” (1 Samuel, 19/10-24). O idólatra rei Acab procurava o profeta Elias para o matar. Elias encontrou-se acidentalmente com o governador do palácio real e disse-lhe para informar o rei onde ele estava. Sendo um homem temente de Deus, o governador hesita e diz: “‘Porventura não foi dito ao meu Senhor o que fiz quando Jezabel matava os profetas do Senhor? Escondi cem deles, cinqüenta numa caverna e cinqüenta noutra, e alimentei-os. (Elias insiste, o rei aparece e Elias ordena-lhe): “Convoca, pois, na montanha do Carmelo, junto de mim, todo o Israel com os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Astarté. que comem à mesa de Jezabel”. (l Reis, 18/13-19). “David e os chefes do exército separaram, para o serviço, os filhos de Asaf, de Heman e de Idutum, que profetizavam ao som da harpa, da citara e dos címbaios”. ( 1 crónicas, 25/1). “… Sacerdotes e profetas cambaleiam por causa do licor, andam atordoados com o vinho, estonteados com o licor, erram na sua visão e tropeçam na sua sentença”. (Isaías, 28/7). “… e os profetas proferiram oráculos em nome de Baal, e seguiram deuses inúteis.” (Jeremias, 2/8). “Os profetas profetizaram em nome do Mentiroso, os sacerdotes aplaudiam batendo as palmas; e o meu povo mostrava-se feliz! Que será, pois, quando chegar o fim?” (Jeremias, 5/31). O Profeta Jeremias diz: “Mas o Senhor replicou: Esses profetas falsamente vaticinam em Meu nome! Não os enviei. Não lhes dei ordem. Não lhes falei. Visões mentirosas, vás adivinhações…” (Jeremias, 14/14). “O Senhor fez sair Israel do Egito por meio de um profeta, e por meio de um profeta o povo, foi guardado.” (Oseias 12/14). O profeta Amos diz: “… Eu não sou profeta, nem filho de Profeta; sou pastor e cultivo frutos de sicómoros.” (Amos, 7/14). “E tu, menino, (i.e. João Baptista) serás chamado profeta do Altíssimo…” (São Lucas), 1/76). “… O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso…” (São Lucas, 24/19).

“Qualquer leitor ver-se-á em sérias dificuldades para tentar compreender, à luz da Bíblia, o que um profeta é realmente; Abraão e Moisés, João-Baptista e Jesus são profetas, e também o são aqueles que falam mentira, até aqueles que afirmam: “Eu não sou profeta”.

Segundo o Alcorão, o profeta é a pessoa mais pia e obediente a Deus. Recebe revelações e mensagens de Deus, quer através do anjo, quer diretamente inculcados por inspiração no seu coração. Estas mensagens reveladas são muitas vezes compiladas em forma de um código de lei. Às vezes um livro antigo é abrogado e substituído por um outro, e outras vezes um profeta continua a seguir o Livro do seu predecessor. Naturalmente aquele que é portador de um Livro é superior àquele outro que não tem, mas como mensageiro de Deus, ambos são iguais”.

C. CARACTERÍSTICAS DOS PROFETAS

No Islam, um Profeta é a pessoa mais considerada e distinguida, que não desobedece a Allah. A seguir se indicam algumas das principais características dos Profetas, de acordo com os ensinamentos do Islam.

(1) Ismat, isto é, impecabilidade (Resguardado do pecado)

Uma das notáveis características dos Profetas é a sua “Ismat”. Ismat é um termo arábico que significa ”resguardado do pecado” ou “impecabilidade”. Segundo os ensinamentos Islâmicos, todo e qualquer Profeta, escolhido por Allah como Profeta, é “Ma’sum”, i.e. não deve pecar ou desobedecer a Allah. Estão protegidos de Satã (Ar. Iblis ou Shaitan). O Sagrado Alcorão declara;

“… Quanto aos Meus fiéis servidores (os Profetas),
tu (Satã) não tens poder sobre eles e o teu Senhor
(Ó Mohammad) é suficiente como seu guardião.”

Noutro local o Alcorão afirma:

“Nenhum profeta engana os homens. Quem os engana lavará consigo os seus enganos no Dia da Ressurreição. Então, todas as almas receberão por completo a recompensa que lhes é devida. ,.”

“Olha: ele (Satã) não tem poder sobre esses que crêem e põem a sua confiança no seu Senhor. O seu poder é somente sobre esses que fazem dele um amigo e sobre esses
que atribuem associados a Allah.”

Allah afirma no Alcorão que Ele protege aqueles que são pios e tementes a Deus:

“… E não sofras por eles e não desesperes por causa
das suas maquinações. Olha: Allah está com esses que observam
os seus deveres para Ele e com esses que praticam o bem!”

Allah declara que os demônios descem sobre as pessoas fracas e transgressoras (e não sobre os Profetas e os Pios):

“Deverei Eu dizer-te sobre quem é que os demônios descem?
Eles descem sobre todos os pecadores e falsos. Eles escutam
ansiosos mas são, na maior parte, mentirosos.”

Uma vez que os Profetas estão protegidos de não cometerem pecados, tornam-se assim os chefes da humanidade e ordenam-lhes a prática de boas ações e proibiam-lhes as más. O Sagrado Alcorão descreve a liderança dos profetas utilizando as seguintes palavras:

“E fizemo-los chefes que dirigiram sobre as Nossas ordens
e inspira neles a prática do culto e a distribuição de esmolas; e,
eles, eram Nossos adoradores, somente.”

Os Profetas tiram as pessoas do caminho das trevas e mostram-lhes o caminho da luz. O Sagrado Alcorão afirma:

“Foi Ele quem enviou para baixo, para o seu escravo,
as claras revelações para trazer-vos das trevas para a luz;
e olhai: Allah é para vós cheio de Piedade e de Misericórdia!”

Os profetas são coadjuvados no seu exercício por Allah:

“E, na verdade, a Nossa Palavra foi transmitida
no passado aos Nossos servidores que foram enviados -.
para aconselhar, e que eles, na verdade, seriam socorridos…’
“Oh! Na verdade Nós socorremos os Nossos mensageiros
e aqueles que crêem, durante a vida no mundo e no Dia em que
as Testemunhas ressuscitam…”

Os profetas são pessoas a quem Allah envia “Saiam” (paz).

“E que a paz seja com aqueles que forem enviados
para aconselhar. E louvado seja Allah, Senhor dos Mundos!”

(2) Sabedoria (Hikmah):

Os Profetas foram investidos por Allah de Sabedoria. Em Sabedoria eles excedem todas as pessoas da sua época porque são enviados para guiar os seres humanos. Allah diz-nos de todos os profetas em geral:

“Quando Allah fez a sua aliança com os profetas disse:
Olhai pelo que vos dei da Escritura e da Sabedoria…’

O Alcorão também nos fala do nome de alguns Profetas que Allah investiu de sabedoria. Acerca do Profeta Ibrahim (Abraão) e da sua descendência, declara:

“No passado, Nós demos à Casa de Abraão a Escritura
e a Sabedoria, e concedemos-lhe
um reino poderoso.”

Acerca do Profeta Dawud (David) o Alcorão diz-nos:

“Nós fizemos o seu reino forte, demos-lhe sabedoria e a palavra decisiva!”
“… E David matou Golias e Allah deu-lhe a realeza, a Sabedoria e ensinou-lhe o que quis…”

Sobre o Profeta Issa (Jesus) Allah declara:

”Quando Jesus veio com provas claras da Sabedoria de Allah,
disse: – Eu vim para vós com a Sabedoria…”

Allah dirá ao Profeta Issa (Jesus) no Dia do Juízo Final.

“… Como te ensinei as Escrituras, .a Sabedoria, a Torah e os
Evangelhos…”

Uma das missões do Profeta Mohammad ( SAAS ) foi a de transmitir a Sabedoria ao povo:

“Allah, na verdade, tem mostrado graças aos crentes mandando-lhes um mensageiro, deles próprios, que lhes recitou as Suas Revelações, fê-los crescer, ensinou-lhes a Escritura e deu-lhes Sabedoria, apesar de estarem em erro flagrante antes da sua chegada…”

“Enviamos-vos um mensageiro do vosso povo que vos recitou as Nossas revelações e vos engrandeceu; ensinou-vos a Escritura, deu-vos Sabedoria e tornou-vos conhecedores de que não sabíeis.”

“Foi ele quem mandou para meio dos iletrados um mensageiro do seu próprio meio, para lhes recitar as Suas revelações e fazê-los crescer, e ensinar-lhes as Escrituras e a Sabedoria ainda que, até então, estivessem, na verdade, em erro manifesto. “

(3) Conhecimento e Capacidade de Bom Senso

Allah também investiu os Profetas de um conhecimento que não pode ser obtido pelas pessoas vulgares. Já foi dito anteriormente que os Profetas receberam esse conhecimento de Allah através de Wahy (Revelação). Os Profetas não só receberam de Atlah o conhecimento, mas também o justo poder de decisão. O poder de julgamento foi-lhes concedido a fim de não cometerem erros, quando da tomada de várias decisões, quando pregavam no meio do seu povo. O Alcorão afirma;

“Esses (os Profetas) são aqueles a quem Nós demos
a Escritura, a sabedoria e o dom das profecias..

Do Profeta Yusuf (José) Allah diz-nos:

“E quando ele alcançou a idade viril, nós demos-lhe a prudência
e a sabedoria. Assim nós recompensamos a virtude.”

Em relação ao Profeta Lut (Lot) o Alcorão diz:

“E a Lot fizemo-lo justo, demos-lhe sabedoria.. . ”

Acerca dos Profetas Dawud (David) e Sulaiman (Salomão), Allah diz-nos:

“É” Nós fizemos Salomão compreender a causa;
e a cada um dos dois demos juízo e sabedoria…”

A respeito do Profeta Yahya (João) o Alcorão reza:

“Ó João! Sustenta bem a Escritura. E Nós demos-lhe a
Sabedoria enquanto era criança,…”

Os versículos do Alcorão mencionados anteriormente, bem como outros semelhantes, mostram-nos que os Profetas foram investidos por Allah, não apenas de Sabedoria, mas também de autoridade e capacidade de real Julgamento e Conhecimento. O Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ), tal como outros profetas, foi investido por Allah de capacidade e autoridade de real Julgamento. Por exemplo, o Alcorão fala-nos:

“Nós revelamos-te ( Ó Mohammad ) a Escritura com a verdade,
para que possa julgar entre os homens usando os meios
que Allah te deu… ”

Foi ordenado aos crentes que aceitassem o julgamento do Profeta ( SAAS ):
E não dignifica o homem crente nem mulher crente,
depois de Allah e o Seu mensageiro haverem decidido
um seu negócio, que reclamem coisa alguma sobre o negócio.
E aquele que se rebela contra Allah e o Seu mensageiro
desencaminha-se, verdadeiramente, em erro manifesto.”

O Alcorão afirma num outro passo:

“As palavras de todos os crentes sinceros, quando apelam
para Allah e para o Seu ‘mensageiro, para julgá-los
a uns e outros, são somente estas: — Nós escutamos
e obedecemos. Tais os que são bem sucedidos.”

(4) O Profetismo é uma graça dê Deus (Wahabi):
Uma das crenças básicas que o Islam nos transmitiu acerca do Profetismo (Nubuwwah) foi que ele é apenas uma “graça de Deus” ou uma “investidura de Deus” (Wahabi), como um dom. Ninguém o pode adquirir graças ao seu trabalho, treino ou conhecimento, etc. Allah afirmou claramente no Alcorão:

“Esta é a graça de Allah, que Ele dá a quem quer.
A Graça de Allah é infinita.”

Allah declara mais adiante:

“… Allah sabe muito bem a quem deve confiar
a Sua Mensagem…”

Num comentário a este assunto, Abdullah Yusuf Ali escreve o seguinte: “O Projeto Universal de Deus é o “Qadha wa Qadr”, o qual é tão mal entendido. Este Projeto é inalterável, e é a Sua Vontade. Significa que no mundo espiritual, tal como no mundo material, existem leis de justiça, clemência, graça, castigo, etc., que funcionam seguramente, como sabemos. Se um homem recusa, pois, a Fé, torna-se um rebelde, e a cada passo que dá se vai afundando cada vez mais; só muito dificilmente ele será capaz de retomar o fôlego espiritual e de recuperar; — contudo, por outro lado, os que caminham em direção a Deus, descobrirão que por cada passo dado, o seguinte se torna mais fácil. Jesus exprimiu esta verdade de forma paradoxal: “Àquele que possui (Fé), ela ser-lhe-á dada; mas àquele que a não possui, ela ser-lhe-á retirada, mesmo a que ele possuir”: Marcos, (iv. 25). João (vi. 65) transmite a fala de Jesus: “Nenhum homem pode chegar até mim, sem isso lhe ter sido facultado por meu Pai”.

(5) Os Profetas são seres humanos (Bashar)

Apesar das afirmações anteriores, segundo as quais os Profetas estão protegidos de cometer pecados, de obedecerem cegamente a Allah, de o seu exercício ser uma dádiva de Deus, eles são, contudo, seres humanos. O Islam não criou a aparência física dos Profetas à semelhança de um super-homem ou a um nível extra-humano. O Sagrado Alcorão diz-nos:

Os Seus mensageiros disseram-lhes: — Nós não somos
mais que uns simples mortais, como vós,
mas Allah concede a Sua Graça a quem quer
entre os seus escravos. Não nos cumpre trazer-vos uma prova,
a não ser com a permissão de Allah. Que os crentes ponham
em Allah a sua confiança!”

Os Não-Crentes espantaram-se com a possibilidade de um homem ser um Profeta ou Mensageiro de Allah. O Alcorão cita os seus comentários, nos passos seguintes:

“…eles (os Não- Crentes) dizem: – Allah enviou um mortal como Seu mensageiro?”
“… Não é ele um mortal como nós?…”
“Mas os chefes do seu povo, que eram descrentes, disseram: –
ele é, apenas, um mortal como vós…”
“.. .Tu não és mais que um morta! semelhante a nós; traz-nos,
portanto, qualquer sinal, se és dos que são sinceros.”
“Eles {os, Não-Crentes) disseram: —Vós (os Profetas)
sois mortais como nós. O Beneficente não revelou
coisa alguma. Vós mentis!…”

O Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ) também declarou que ele próprio não passava de um simples homem (no que respeita ao aspecto e qualidades físicas):

“… Diz (Ó Mohammad!): Que o meu Senhor seja
Glorificado! Sou eu, coisa alguma, salvo um mensageiro mortal?

Abdullah Yusuf Ali ao comentar este versículo, declarou: “Quando um homem ascende à honra e à dignidade, os seus irmãos sinceros rejubilam, pois é uma honra que reflete a sua glória neles. Mas aqueles que abrigam nos seus corações o mal tornam-se ciumentos, como o seu protótipo Iblis (XVIII. 61, r,° 2251) (i.e. Satã). Para estes homens o simples fato de os seus próprios irmãos receberem a graça de Deus é suficiente para se virarem contra esse irmão. Quaisquer outras razões que eles possuam invocar são puro fingimento.

Num outro passo o Profeta Mohammad ( SAAS ) é levado a declarar:

“Diz: Eu sou apenas um mortal como vós. O meu Senhor
inspirou-me em mim que o nosso Senhor é o único Deus.
E aquele que tem esperanças no encontro com o
seu Senhor deixai-o praticar o bem, e que não associe
(outra divindade) ao serviço do Senhor.”

“Integridade e verdadeiro respeito a Deus — o que exclui qualquer tipo de adoração, quer seja por ídolos, ou homens, ou forças da natureza, ou capacidades humanas, ou por si mesmo — são estes os critérios da verdadeira adoração”.

O Profeta ( SAAS ) declarou mais adiante:

“Diz-lhes, ó Mohammad: — Eu sou apenas um mortal
como vós. Tive a inspiração de que o vosso Deus
é o Único Deus, por conseguinte segui o caminho reto
para ele, e implorai o Seu perdão…”

“… o portador da mensagem não é um anjo nem um Deus, por isso não pode nem deve existir nenhuma barreira entre ele e os seus auditores; e ele foi escolhido para trazer a Mensagem da Verdade e da Esperança a todos os homens; eles têm de aceitar o Princípio da Unidade, e, pelo arrependimento, obter a Graça de Deus e o Seu Perdão. ”

O Alcorão declara mais adiante:

“Antes de ti, não enviamos mensageiros à tua presença,
salvo os homens dos povos das cidades que Nós inspiramos… ”

Deus enviou homens como Seus Mensageiros para 0 explicarem aos outros homens. Não enviou anjos nem deuses. Ele investiu os Seus escolhidos da Sua inspiração, para e!es poderem ver mais claramente que os outros homens. No entanto eram homens que habitavam casas na cidade ou no campo; não eram reclusos nem cenobitas, sem experiência dos assuntos humanos, que jamais poderiam ser educadores de homens em pleno sentido. Os seus atos falavam por si.”

Quando os Árabes Pagãos, devido à sua ignorância religiosa, duvidaram e se perguntaram como seria possível que um homem como eles tivesse sido alvo de Wahy (Revelação) e portador da Mensagem de Allah (Deus), Ele ordenou-lhes que perguntassem aos Judeus, os quais eram considerados como sendo os “homens da Sabedoria” e o “povo das Escrituras” na Arábia. Por isso o Alcorão diz:

“E não enviamos como Nossos mensageiros, antes de ti
(ó Mohammad) senão homens inspirados por Nós — perguntai-o
aos que seguem as Escrituras se vós o não sabeis.”
“E Nós não enviamos como mensageiros, antes de ti,
(ó Mohammad) homens que não tivéssemos inspirado. Perguntai-o
aos seguidores da Escritura se não o sabeis.”

Na realidade esta é a réplica dada à inflexibilidade dos Não-Crentes: “ele (i.e. o Profeta) é um homem exatamente como nós!” (cf. O Alcorão, 21.(AI-Ambiya):3; 17 (AI-Isra): 94; 64 (AI-Taghabun): 6, etc.)

“O Alcorão deu uma tal importância”, escreve Maulana Manzoor Nomani, “ao tema da humanidade dos Profetas que adquiriu o estatuto de artigo de fé para os Muçulmanos. Na teologia Islâmica, o Profeta é definido como sendo “um homem que Deus escolhe para revelar e transmitir a Sua Mensagem e Orientação aos Seus servos, e investe-o das responsabilidades de um Apóstolo”. A extensa hoste dos Profetas surgiu com o nascimento da espécie humana – desde que os homens iniciaram a sua vida na Terra, Deus, como universal Amante e Apoiante, concedeu-lhes todo o auxílio espiritual e físico. Através de Mensageiros especiais, Ele enviou a Sua palavra a todo o mundo e a todas as comunidades. Não é possível apresentar o número exato de Profetas; o Alcorão não o menciona – nem isso seria necessário. Mas é claramente declarado, e com uma ênfase inimaginável, que não existe nenhuma nação ou povo que tenha sido deixado sem que se lhe tenha sido enviado um Mensageiro Divino.”

“A cada povo (foi enviado) um Apóstolo”. (Alcorão)

Os nomes de alguns Profetas e a sua descrição breve surge em vários passos do Alcorão, enquanto que outros não são mencionados. Mas é imperativo acreditar na verdade e na indesmentível virtude de todos os Sagrados Apóstolos de Deus e tomá-los com igual respeito. Sem isso, não é possível ser um Muçulmano.

“Nós não fazemos distinção alguma entre nenhum
dos Seus Apóstolos”. (Alcorão).

“Como é sabido, é indispensável aos Crentes, acreditar em todos os Profetas de Deus, contudo, a obediência é devida apenas ao Profeta da atualidade, Profeta cujos ensinamentos são válidos e obrigatórios. E é assim porque a Lei que o Profeta transmite não é da sua própria autoria, mas sim emana diretamente de Deus, e é a Sua vontade que apenas as Suas diretivas sejam obedecidas, diretivas essas que Ele envia nesse particular momento. Qualquer nova decretação se sobrepõe aos elementos anteriores…”

O Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ) é o último de todos os Profetas e nenhum Profeta virá depois dele. O Seu tempo dura até ao Último Dia (i.e. Dia do Juízo Final).

Saikh Abul Hasan Nadwi escreve em “Especiais características do Profetismo”: “Destas pessoas (i.e. os Profetas) sabemos que – ( I ) sua conduta moral está acima de qualquer censura, a sua natureza e maneira de ser é nobre e generosa e, em todas as circunstâncias, a sua atitude é sempre pautada pela verdade, transparência e generosidade. Não existe nenhuma situação em que eles mintam ou decepcionem alguém.

“Vivi entre vós toda a minha vida antes que isto
viesse para m/m”. (Alcorão, Yunus: 16).

( II ) O seu intelecto é são e equilibrado; as suas decisões são ditadas pela sabedoria, cautela e paciência e eles não são nunca culpados de qualquer ato que possa acarretar dúvidas acerca da sua saúde mental ou das suas capacidades intelectuais.

“Tu não és, pela Graça do Teu Senhor,
um homem doido.” (Alcorão. Al Calam: 2).

( III ) Eles são exatamente como as outras pessoas, exceto no que respeita à missão para que foram destinados.

( IV ) Aquilo que pregam acerca da palavra extra-terrena não lhes advém de qualquer tipo de conhecimento que esteja à disposição das pessoas da sua época; de fato, freqüentemente, eles não são versados nas ciências da sua época nem utilizam os lermos técnicos aprovados pêlos sistemas do pensamento especulativo. Por outro lado, a sua linguagem é simples, direta e de fácil compreensão; transmitem de um modo claro tudo o que o seu coração sente e o modo como ele entende a realidade.

( V ) Não reivindicam o profetismo a não ser numa idade já avançada.

( VI ) Desde a infância que ultrapassam os outros nas qualidades morais e são sempre um modelo de virtudes e retidão.

( VII ) Ao contrário das outras ciências e artes efêmeras, o conhecimento da realidade não é obtido pêlos profetas gradualmente através de esforços deliberados; é-lhes concedido de uma só vez e não sofre nenhuma alteração. nem com a idade avançada, nem devido a qualidades intelectuais.

“Acaso não meditarão, eles, sobre o Alcorão?
Se isto não viesse de Allah encontrariam nele
muita incongruência.” (Alcorão, AI-Nisa: 82)

( VIII ) Os profetas tomam conhecimento da Realidade com uma garantia oracular de verdade e certeza, sem paralelo possível com as descobertas dos sentidos e do intelecto. Tais Realidades representam para eles percepções pessoais isentas de qualquer dúvida ou discordância.

“Diz: este é o meu caminho: Eu invoco Allah com
seguro conhecimento.” (Alcorão, Yusuf: 108).

( IX ) À exceção da realidade Suprema que, sendo inatingível peta percepção humana, não pode ser adequadamente apreendida pelo pensamento especulativo, eles pretendem serem aceites como uma verdade fundamental. O intelecto comanda sinceramente os seus ensinamentos e nós deparamo-nos com a sua incomensurável sabedoria. Eles apresentam uma ordem de tal modo bem estruturada no que respeita ao campo moral, à adoração, às relações sociais, à política e coisas afins, estrutura essa que não pode ser superada, nem sequer pêlos peritos nesses ramos. De fato, o mundo jamais pôde testemunhar uma ordem social superior àquela que foi ensinada pêlos profetas…”

O famoso estudioso Indiano, Syed Sulaiman Nadwi, afirma: “Os profetas embelezam e iluminam as almas dos homens: os zelosos sermões de Noé, o inquebrantável princípio da unidade de Deus sustentado por Abraão, o patrimônio da resignação à vontade Divina legado por Isaac, a abnegação de Ismael, os infatigáveis esforços de Moisés, a fidelidade de Aarão, a resignação de Jacob, as lamentações de David, a sabedoria de Salomão, as lituânias de Zacarias, a castidade de João, a piedade de Jesus e a penitência de Job tornaram a vida humana válida e brilhante”.

Em resumo, a crença no Profetismo é uma das crenças fundamentais do Islam. No Islam é ilegal injuriar um Profeta ou desonrá-lo. Se um muçulmano cometer tal crime e negar a santidade e a reverência de um Profeta, ele ou ela incorre em falta e é passível de punição, por descrença no Profetismo como um todo e no Profeta em particular, Profeta cujo nome tenha vindo mencionado no Alcorão; esse homem ou mulher é considerado um infiel. Mesmo não sendo Muçulmano, aquele que desonrar os Profetas cujos nomes tenham vindos mencionados no Alcorão, é também passível de castigo, de acordo com as leis Islâmicas.

Capitulo III

O Sagrado Profeta Ibrahim ( Abraão)

Um dos grandes Profetas e Mensageiros enviados por Allah para guiar o ser humano foi o Profeta Ibrahim (Abraão), “alaihis saiam” (que a paz de Allah esteja com ele). Ele tornou-se não somente no antepassado de todos os Profetas Judeus como também no do Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ); por isso ele tem sido considerado também pêlos Muçulmanos. Como outros verdadeiros Profetas, o Profeta Ibrahim “alaihis saiam” possuía todas as qualidades e características proféticas, integralmente. Era um “Ma’sum” (resguardado de cometer pecado), cheio de prudência e sabedoria, munido de um dom de discernimento correto, honrado, verdadeiro, crente e submetido à vontade de Allah. O Alcorão descreve as suas qualidades em inúmeras passagens:

“Abraão era chefe (guia) de um povo obediente a Allah; era honesto por natureza e não fazia parte dos idólatras; grato pela Sua bondade; o Senhor escolheu-o e guiou-o para um caminho reto. E Nós demos-lhe bens neste mundo; e na vida futura ele estará entre os justos”

“Allah escolheu (preferiu) Adão e Noé, a família de Abraão e a família de Imram acima de iodas as criaturas. Eles descenderam um dos outros. Allah escuta e sabe tudo.”

“E faz menção dos Nossos servidores Abraão, Isaac e Jacob, homens dotados de talento e visão. Na verdade Nós tornamo-los puros por uma qualidade que lhes é própria: a recordação da Vida Futura. Aos Nossos olhos eles são verdadeiramente dos eleitos, dos excelentes.”

“Este é o Nosso argumento. Demo-lo a Abraão contra a sua gente. Ele vamos em grau de sabedoria a quem Nós quisermos. Olha: o teu Senhor é Sábio e Vigilante. E nós demos-lhe por filhos Isaac e Jacob; a ambos guiamos como no passado havíamos já protegido a Noé; e da sua descendência nós guiamos David. Salomão, Job, José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os que praticam o bem. E Zacarias, João, Jesus e Elias: todos eles foram do número dos justos. E Ismael, Elisha, Jonas e Lot foram elevados por Nós acima dos mundos. E com alguns dos seus antepassados, dos seus descendentes e dos seus irmãos Nós escolhemo-los para o bom caminho. Tal é a luz de Allah com a qual Ele guia a quem quer dos seus servidores. Mas, se eles erguem (alguma coisa) para adoração, seja lá o que for, ao lado do Senhor, tudo o que tiverem feito foi em vão. Esses são aqueles a quem nós demos a Escritura, a sabedoria e o dom das profecias. Mas, se estes descrêem do seu conteúdo, então, certamente que a confiaremos a povos que não serão descrentes. Esses são aqueles a quem Allah guiou. Segui, portanto, os seus ensinamentos. Diz, Mohammad, aos homens: Eu não vos peço recompensa alguma por isto. Olhai’ isto não é mais do que um Guia para as escrituras do Senhor.”

“E recordai-vos: Quando o Senhor experimentou Abraão com Suas ordens que, humildemente, ele cumpriu, disse: – Nós faremos de ti o chefe dos povos…”

O Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ) foi inspirado a seguir os modos (de culto) do Profeta Ibrahim (Abraão):

“Agora, Nós inspiramos-te a ti, Mohammad, dizendo: Segue a religião de Abraão, como um que era per natureza honesto. Ele não fazia parte dos idólatras.”

Allah censurou aqueles que rejeitam o modo (de culto) do Profeta Abraão:

“Quem é que rejeita a religião de Abraão a não ser o insensato? Na verdade, escolhemo-lo neste mundo: e na Vida Futura estará entre os justos.”

O Profeta Ibrahim ( AS ) abandonou a sua esposa para cumprir a ordem de Allah

O pai do Profeta Ibrahim (Abraão) era Adhar ou Tarakh. Adhar ou Tarakh (Bib. Terah) era filho de Nahur. filho de Sarugh (Bib. Sarug), filho de Arghu (Bib. Shilah), filho de Arfakhshad (Bib. Arpadishad), filho de Sam (Bib. Shem), filho de Nuh (Bíb. Noah). É um facto provado e histórico que o Profeta Ibrahim (Abraão) deixou a sua segunda esposa Hajrah (Bib. Agar) e seu primeiro filho Ismail (Bíb. Ismael) em Makkah (Meca). Isso aconteceu por Ordem de Deus (Allah). Alguns historiadores ocidentais hesitam em aceitar estes fatos, mas a fonte histórica, o Sagrado Alcorão, a Bíblia (Antigo Testamento) e todos os Muçulmanos estão de acordo com este ponto: que Hajrah (Bib. Agar) emigrou para a Arábia com seu filho Ismail (Ismael) e fixou-se em Meca, onde a fonte de “Zam Zam” brotou milagrosamente quando a água faltou a Hajrah. Em abono a esta conjuntura, gostaria de citar alguns versículos da • Sagrada Bíblia (Antigo Testamento). O seguinte versículo Bíblico diz que o Profeta Ibrahim (Abraão) levou Hajrah (Agar) e Ismail (Ismael) e deixou-os num lugar agreste (deserto), em cumprimento da ordem de Allah: “Mas Deus disse a Abraão: “Não te preocupes com a criança e com a tua escrava. Faz tudo quanto Sarah te pedir, pois de Isaac há de nascer a posteridade que usará o teu nome. Contudo, farei sair também uma nação do filho
da escrava, porque também ele é teu filho”. No dia seguinte de manha, Abraão tomou o pão e um odre de água, deu-o a Agar e colocou-o sobre os ombros dela; depois mandou-a embora com o seu filho. Ela partiu e, embrenhando-se no deserto de Bersabé, por ia andou ao acaso.”
(Gênesis, 21: 12-14).

No versículo acima transcrito Hajrah (Bib. Agar) foi referida como uma mulher escrava. Na realidade, ela foi oferecida pelo rei do Egito ao Profeta Abraão quando este visitou o Egito. De acordo com algumas tradições Muçulmanas, ela era filha do rei. Segundo o costume daquela época, a segunda esposa de um homem era justamente considerada como criada da primeira. Por isso, Hajrah ficou conhecida como criada da Sarah, conforme vem mencionado, também, na Bíblia, numa forma distinta (Gênesis, 16: 3).

Ismail ( AS ) nasceu quando o Profeta Ibrahim ( AS ) tinha oitenta e seis anos de idade (Gênesis, 16:15)12 e Isaac ( AS ), seu segundo filho, nasceu da Sarah quando ele tinha cem anos de idade (Gênesis: 21: 5, 6). De acordo com alguns historiadores Muçulmanos, o Profeta Ismael nasceu quando o Profeta Abraão tinha noventa anos de idade, e o Profeta Isaac nasceu quando o Profeta Abraão tinha a idade de cento e vinte anos.13 Portanto, Ismail ( AS ) era catorze anos mais velho que Isaac (Ar. ls’haq AS ). No versículo Bíblico atrás mencionado uma profecia é dada de que Allah fará uma nação de Ismael (referindo-se a ele como filho da mulher escrava). Esta profecia é parecida como aquela dada no Sagrado Alcorão (cap. 2, AI-Baqarah: 124). A profecia foi cumprida em forma de Ismaelitas (Árabes) aos quais pertenceu o Último dos Profetas e o Mensageiro Final Mohammad ( SAAS ).

Segundo tradições não-Islâmicas, Bersabé referido no versículo atrás indicado, é um lugar na Palestina. De notar, contudo, que o versículo da Bíblia acima mencionado (Gênesis, 21:14) não diz que Hajrah fixou-se em Bersabé mas, sim, que ela “andou ao acaso no deserto de Bersabé”. Visto que Bersabé fica ao Norte da Arábia, ela emigrou daí para a Arábia. Alguns outros versículos da Bíblia provam que Hajrah (Agar) fixou-se na Arábia. No versículo seguinte do “Novo Testamento” é oferecida uma alegoria a Hajrah (Agar), referindo-a como uma Árabe:

“Mas o da escrava nasceu segundo a carne, e o da
mulher livre, em virtude da Promessa- Isto foi dito por
alegoria, pois as duas mulheres representam as duas alianças:
Uma, a do Monte Sinai, que gera filhos para a escravidão,
é Agar. Ora, o Sinai é um monte da Arábia e corresponde
a Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos.
Mas a Jerusalém, lá do alto, é livre, e esta é
Nossa mãe.” (Gaiatas, 4: 23, 24, 25 e 26).

Os versículos Bíblicos acabados de transcrever dizem-nos, claramente, que o Monte Sinai fica na Arábia, onde Hajrah (Bib. Agar) residiu, isso também clarifica a situação da Grande Casa de Allah que realmente corresponde a Jerusalém, aliás assim referido nos mesmos versículos: “O Sinai, é um monte da Arábia e corresponde à Jerusalém atual”.

Numa outra passagem Bíblica diz-se que Ismail ( AS ) viveu perto do Monte Faran:

“Ele permaneceu no deserto de Faran…” (Gênesis, 21: 21).

Segundo os eruditos Islâmicos “Faran” é sinônimo da palavra arábica “Faran”, que é o nome de uma montanha em Makkah (Meca). Além disso, na seguinte passagem da Bíblia, o lugar de ismail ( AS ) e seu filho diz-se ser em frente do Egito, em direção de Assíria.

“A duração da vida de Ismael foi de cento e trinta e sete anos. Entregou a alma e morreu, indo reunir-se aos seus. Os seus filhos habitaram desde Havila até Chur, que está em frente do Egito, em direção da Assíria. Instalou-se, assim, diante de todos os seus irmãos.” (Gênesis, 25: 17, 18).

Olhando para o mapa do antigo Próximo Oriente (durante os séculos dezessete, dezoito e dezenove A.C.), verificaremos, claramente, que a área entre Aran, Assiria e Egito não é outra senão a do Norte de Arábia.

O Sagrado Alcorão também diz-nos sobre a fixação da Hajrah (AS) junto da “Sagrada Casa” de Allah em Makkah (Meca). Cita-se a oração do Profeta Ibrahim ( AS ) a este respeito:

“Senhor Nosso! Olha: eu estabeleci parte da minha
posteridade num vale com os campos por cultivar perto da Tua
Sagrada Casa (Vale de Meca), Senhor nosso, para que
pudesse estabelecer o culto com propriedade; inclina, portanto,
os corações dos homens a seu favor e com simpatia; e provê
à sua subsistência com frutos para que possa render graças.
Senhor Nosso! Olha: tu sabes aquilo que escondemos
e aquilo que proclamamos. Nada na terra ou nos céus
está escondido de Allah! Louvado seja Allah que me deu,
na minha adiantada idade, Ismael e Isaac! Oh! O meu Senhor
escuta, na verdade, as preces.”

O Vale de Meca, referido no versículo acima citado, está rodeado de montes por todos os lados, diferente de Madinah (Medina), que tem lisas planícies cultivadas. Devido ao seu natural isolamento, é o lugar mais conveniente para Orações e Louvor.

Por conseguinte, o ato de abandonar a sua esposa, Hajrah, foi feito pelo Profeta Ibrahim ( AS ) de acordo com a ordem de Allah, Todo-Poderoso. Visto que os Profetas são sempre obedientes a Allah, ninguém pode censurá-lo por este ato; e se alguém o fizer, ele censurar-se-á a si próprio porque não faz idéia do grande cargo de Profeta. O mundo percebeu o grande segredo que foi oculto por detrás daquele ato do Profeta Ibrahim ( AS ). Seu filho, Ismail, tornou-se no pai de uma grande nação (Árabes);e a grande Ummah – a Comunidade Muçulmana no seu todo – surge mais tarde por intermédio dos ensinamentos do chefe dos Profetas, Mohammad ( SAAS ), que proveio de entre os filhos de ibrahim e Ismail ( AS ). Por conseqüência, o seguinte rogo do Profeta Ibrahim ( AS ) realizou-se:

“E recordai quando Abraão e Ismael levantaram as fundações
da Casa de Allah, Abraão implorou: Senhor nosso! aceitai-nos
esta homenagem. Escuta: Tu, só Tu, és o que Escuta e o
que Sabe. Senhor nosso: faz-nos obediente para Ti e dos nossos
descendentes faz uma nação submissa à Tua Vontade.
Ensina-nos os nossos deveres sagrados e sê benévolo
conosco. Escuta: Tu, só Tu, és Benevolente e Misericordioso!
Senhor Nosso! Faz erguer no seu meio um mensageiro
escolhido entre eles que lhes pregue as Tuas revelações,
os instrua no Livro, lhes dê sabedoria e os faça puros. Olha:
Tu, só Tu, és Poderoso e Sábio.”

Capítulo IV

Os Anjos e o Arcanjo Jibril (Gabriel)

A. Os Anjos

Acreditar nos anjos é das crenças fundamentais do Islam. Allah diz no Sagrado Alcorão:

“Não é justo que (apenas)
volteis os rostos para o
Oriente e para o Ocidente.
Mas, justo é aquele que crê
em Allah, no Último Dia,
nos Anjos, na Escritura revelada
por Allah) e nos Mensageiros;
o que, pelo amor do Senhor,
distribui riqueza pêlos parentes,
órfãos, necessitados
e caminheiros e àqueles
que esmolam e liberta escravos;
o que observa com escrupuloso rigor
as suas devoções e paga
o que é devido aos pobres.
E esses que honram os contratos
que celebram; que são pacientes
nas suas atribulações,
na adversidade
e em tempos de crise,
são os sinceros:
– os que temem a Deus”.

Noutra passagem o Alcorão diz:

“O Mensageiro (Profeta ou
Apóstolo) crê no que lhe foi revelado
pelo Senhor e, assim fazem
os crentes. Cada um
crê em Allah, nos
Seus anjos, nos
Seus Livros e nos Seus mensageiros.
E dizem: “Não fazemos
distinção entre nenhum
dos seus mensageiros.
Ouvimos e obedecemos.
Perdoa-nos os nossos pecados,
Senhor nosso, pois voltaremos
para junto de ti”.

É “Kufr” (Descrença) não crer nos anjos.3 O Alcorão diz-nos:

Ó vós que credes! Crede
em Allah, nos Seus mensageiros,
e na Escritura (Alcorão)
que Ele revelou ao Seu
mensageiro (o Sagrado Profeta Mohammad)
e na Escritura que Ele revelou antes.
Aquele que não crê
em Allah nos Seus anjos,
nos Seus Livros, nos Seus mensageiros
e no Dia de Julgamento,
na verdade desencaminhou-se
e anda perdido.”

Em “Sahih Hadith” (tradição autêntica), o Profeta ( SAAS ) mencionou sobre s fé (Iman), baseado numa pergunta feita adiante pelo arcanjo Gabriel (AS ), da seguinte maneira: “…que devereis crer em Allah, nos Seus anjos, nos Seus Livros, nos Seus mensageiros e no Último Dia; e devereis (também) crer no destino de que toda a coisa boa ou má provém de Allah .. .” Há, igualmente, vários outros Hadiths sobre este tópico.

A respeito da crença nos Anjos o dr. M. Hamidullah escreve: “Sendo Deus invisível e estando para lá de toda a percepção física, foi necessário encontrar alguns meios de contacto entre o homem e Deus; de outra forma não teria sido possível seguir a vontade Divina. Deus é o criador não só dos nossos corpos, mas também de todas as nossas faculdades – as quais são diversas e capazes de serem desenvolvidas. Foi Ele que nos deu a intuição, a consciência moral, e os meios que empregamos para nos guiarmos no caminho certo. O espírito humano é capaz de boas e más inspirações. No seio das pessoas comuns é possível que pessoas boas recebam às vezes más inspirações (tentações), e pessoas más boas inspirações. As inspirações podem vir de outra fonte que não Deus, tal como as más sugestões vêm do Diabo. É a graça de Deus que – permite à nossa razão distinguir entre o que é celestial e merecedor de ser seguido, e aquilo que é diabólico e próprio de ser evitado.”

“Houve várias formas de estabelecer contacto ou comunicação entre o homem e Deus. A melhor teria sido a encarnação; mas o Islamismo rejeitou-a. Teria sido muito aviltante para um Deus transcendente tornar-se homem, comer, beber, ser torturado pelas Suas próprias criaturas, e até ser morto. Por mais perto que um homem se possa aproximar de Deus, na sua jornada em direção a Ele, até na mais alta ascensão, o homem permanece homem, e muito longe de, Deus. O homem pode aniquilar-se, como diz a mística, e apagar completamente a sua personalidade, no sentido de atuar de acordo com a vontade de Deus, mas mesmo assim – deixem-me repetir – o homem permanece homem e sujeito a todas as suas fraquezas, e Deus está acima de todas estas insuficiências.”

“Entre outros meios de comunicação, entre o homem e Deus, os que estão ao dispor do homem, o mais tênue talvez seja o sonho. De acordo com o Profeta, os bons sonhos são sugeridos por Deus e guiam o homem na direção certa.”

“Outro meio consiste no “ILQA” (atirar algo em direção a alguém): é uma espécie de auto-sugestão, intuição, pressentimento de soluções em caso de impasse ou insolubilidade de problemas difíceis.”

“Existe também o “ILHAM”, que podemos traduzir como sendo “Inspiração Divina”. As coisas são sugeridas ao coração (mente) do homem cuja alma esteja suficientemente desenvolvida nas virtudes da justiça, caridade, altruísmo e benevolência para com os outros. Os santos de todas as épocas e em todos os Países gozaram desta graça- Quando alguém se entrega a Deus e tenta esquecer-se de si, existem momentos – de muito curta duração – onde a presença de Deus lampeja com uma luz, na qual compreendemos sem esforço que nada teria sido tão bem sucedido em torná-lo consciente. O espírito humano – ou o seu coração, como dizem os antigos – é assim iluminado; e assim surge um sentimento de convicção, contentamento e percepção da verdade. É Deus que o guia e lhe controla os pensamentos bem como as ações. Até os Profetas – os mensageiros humanos de Deus – têm este tipo de orientação, entre outras. Em qualquer caso permanece a possibilidade de erro de julgamento ou de compreensão por parte do homem. A mística afirma que algumas vezes até o mais devoto dos homens é levado a desviar-se do bom caminho pelo seu imperceptível ego, não sendo capaz de distinguir a origem da inspiração que lhe chega como um julgamento.”

O mais alto grau de contacto, o mais seguro e infalível meio de comunicação entre o homem e o seu Criador é chamado “WAHY” pelo Profeta Mohammad. Não é uma inspiração vulgar, mas a verdadeira revelação feita ao homem por parte do seu Senhor, uma comunicação celestial. O homem é matéria, Deus pelo contrário está acima até do espírito, e por isso mesmo para além de qualquer possibilidade de contacto físico direto com o homem. Deus é onipresente, e como diz o Alcorão (50:16), “mais perto do homem do que a sua veia jugular”; no entanto sem nenhum contacto físico forte, um mensageiro – portador celestial, é possível. Por esse motivo é um “MALAEK”, literalmente um mensageiro, um portador da mensagem celestial, vulgarmente conhecido por “ANJO” — que serve de intermediário, ou canal de transmissão da mensagem de Deus ao seu agente humano ou mensageiro, i.e. o Profeta. Ninguém recebeu tal revelação por intermédio de um mensageiro celestial a não ser um Profeta. Deve ser lembrado que no Islamismo, Profeta’ não significa aquele que faz profecias ou vaticínios, mas somente um enviado de Deus, um portador da mensagem Divina destinada ao seu Povo.

Sobre os Anjos, não cabe no âmbito deste nosso estudo discutir aqui se serão seres espirituais, distintos dos outros seres materiais no Universo, ou qualquer outra coisa.

“Segundo o Alcorão, o mensageiro celestial que trouxe revelações ao Profeta, chama-se Jibra’il (Gabriel), o que etimologicamente ente significa “o poder de Deus”. O Alcorão cita também Mikail (Miguel), sem indicar as suas funções. O funcionário encarregue do inferno chama-se Malik. Fala também de outros anjos sem lhes dar quaisquer atribuições, todos eles executam as ordem do Senhor. A crença Islâmica é a de que Gabriel, também referido no Alcorão como “espírito digno de confiança” (al-ruh al-amin), e que está acima de todos nas palavras do Profeta Mohammad, como podemos ler no Alcorão, este mensageiro celestial, Gabriel, não apareceu ao Profeta sempre na mesma forma. O profeta viu-o algumas vezes como um ser suspenso no ar, outras na forma de um homem, outras ainda como um ser alado, etc… Numa narração preservada por Ibn Hanbal (1, 53, ou n.° 374), conta-se que, um dia, na presença de muita gente, um desconhecido chegou e colocou algumas questões ao Profeta Mohammad, e fogo de seguida partiu … o Profeta disse aos seus companheiros… que a pessoa que lhe tinha colocado todas aquelas questões… não era ninguém •mais do que Gabriel, que tinha vindo para lhes ensinar a sua religião…”

As Tradições (Hadiths) do Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS) falam-nos detalhadamente de vários tipos de anjos e das suas funções. O âmbito deste nosso artigo não nos permite entrar em detalhes. O objetivo deste artigo é sublinhar o fato de que acreditar nos Anjos é uma das crenças fundamentais do islamismo e como tal devemos honrá-los. Os Anjos são obedientes a ALLAH:

“E, perante Allah, prostra-se
tudo quanto há nos céus
e tudo quanto ha na terra
de criaturas vivas;
e também os anjos se prostram
e não são orgulhosos.
Eles todos temem o seu Senhor
acima de si, e fazem tudo
o que lhes é ordenado.”

“Até os anjos mais importantes não são arrogantes, eles curvam-se e servem o Senhor, e assim faz toda a Criação.”
A dada altura no Alcorão é dito:

“Ó vós que credes! Salvai-vos
e salvai as vossas famílias
do Fogo, cujo alimento consiste
em homens e pedras.
Acima dele estão
os anjos, altos e severos,
que não desobedecem ás ordens
de Deus, antes fazem
o que lhes é ordenado.”

“Pensamos da natureza de um anjo que é gentil e belo, mas noutro aspecto perfeição inclui justiça, fidelidade, disciplina, e a firme execução do dever de acordo com as legítimas Ordens: assim, atributos do próprio Deus, Justiça e Misericórdia, Bondade e Correção, não são contraditórios mas complementares. Um legislador terreno será injusto para com os seus súbditos fiéis se não punir os malfeitores.”

Por isso os Anjos são as mais obedientes criaturas de Allah.

B. O Arcanjo Gabriel (Jibril / Jibra’il)

Como já afirmamos anteriormente o anjo Gabriel é um dos maiores e mais venerados anjos. Ele é o anjo que trouxe as revelações (Wahy) ao Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ) como também foi incumbido deste dever para com outros Profetas- É proibido no Islam ler qualquer tipo de animosidade para com os anjos, especialmente para com Gabriel: O Alcorão diz:

“Diz: (ó Mohammad) “Quem é amigo de Gabriel?”.
Foi ele quem trouxe as
revelações ao teu coração,
com a permissão de Allah,
para confirmar as revelações
precedentes, e ser um guia e mensageiro
de alegria para os crentes.. .”

Comentando este versículo, Abdullah Yusuf Ali escreve: “Uma parte dos Judeus no tempo de Mohammad ridicularizavam a crença Muçulmana de que Gabriel tivesse trazido revelações a Mohammad Mustafa. Miguel era chamado nos seus livros “de grande príncipe que estava lá pelas crianças do seu povo”, (Daniel, XXII, 1). A visão de Gabriel inspirava medo (Daniel VIU, 16-17). Mas esta pertençam – que Miguel era amigo deles e Gabriel seu inimigo – era meramente a manifestação do seu descrédito nos anjos, apóstolos, e no próprio Deus; e tal descrença não podia ganhar o amor de Deus. Em qualquer caso seria falso afirmar que eles acreditavam num anjo e não no outro. A inspiração de Mohammad foi através da visão do anjo Gabriel. Mohammad foi ajudado por uma luz espiritual, e a mensagem que proferiu, a sua integridade sem mancha e a sua vida exemplar eram manifestos Sinais que todos podiam entender, exceto aqueles que eram obstinados e perversos. Além disso, os versículos do Alcorão eram eles mesmo sensatos e claros.”

Conforme declara Allah no seguinte versículo:

“Quem é inimigo
de Allah, dos Seus
anjos, dos Seus
mensageiros, de Gabriel
e Miguel, — então Allah
é inimigo desses
descrentes. Nós
enviamos-te (ó Mohammad)
sinais manifestos (ayat),
em que só os perversos
recusarão acreditar.”

Capitulo V

Os Sahabah (Companheiros), e as Mães dos Crentes.

A. Os Sahabah (Companheiros) do Sagrado Profeta

Um Companheiro (Sahabi) é aquele que viu o Sagrado Profeta Mohammad ( SAAS ) em estado perfeitamente desperto, ou tendo estado na sua sagrada companhia, como Muçulmano e tendo morrido como Muçulmano. Os companheiros (Sahabah) são considerados os mais venerados crentes desta UImmah (Comunidade Muçulmana como um todo) depois do Profeta ( SAAS ).

Os companheiros (Sahabah) foram os pioneiros do trabalho do Islamismo e se sacrificaram à sua causa. Toda a Comunidade Muçulmana (Ummah) permanecerá em dívida para com eles até ao Último Dia. Um dos maiores Estudiosos do Islamismo, Qadi Ayad escreve no seu livro Shifa:

“Se pretendermos venerar e honrar o Profeta ( SAAS ), temos também de respeitar os seus Companheiros (Sahabah). Como Muçulmanos é nosso dever apreciar o que lhes devemos, segui-los e procurar perdão para eles. Sem dúvida, eles tiveram as suas diferenças, mas nós não temos o direito de os criticar… Nunca devemos duvidar da sinceridade e honestidade dos Companheiros (Sahabah). Quando se nos deparar algum acontecimento histórico que eventualmente diminua o seu estatuto aos nossos olhos, devemos explicá-lo o mais que pudermos a seu favor e atribuir-lhe motivos sinceros, pois eles merecem esta linha de conduta. Devemos sempre falar das suas virtudes e abstermo-nos de proferir seja o que for que os menospreze ou desrespeite. O Profeta ( SAAS ) disse: “Observem silêncio por respeito aos meus Companheiros (quando eles forem falados com desrespeito)”.

Inúmeras virtudes e excelências dos Companheiros (Sahabah) foram mencionadas no Alcorão e nas Tradições (Hadith) do Profeta. Allah diz no Alcorão:

“Mohammad é o mensageiro
de Allah. E esses que estão
com ele são violentos
para os descrentes
e misericordiosos entre si.
Tu, Mohammad, vê-los-ás
a inclinarem-se e a prostrarem-se
em adoração, a implorar
a Graça de Allah
e a Sua Boa Vontade.
A marca deles está nas suas frontes:
os sinais da prostração.
Tal é a semelhança deles
na Torah e a semelhança deles
nos evangelhos: – como a seara ceifada
que faz surgir novos rebentos,
os fortifica e os levanta firmes
nas suas hastes, alegrando
os segadores – para que Ele
possa enraivecer os descrentes
com a vista deles. Allah prometeu
a todos esses que crêem e fazem boas obras
o perdão e imensa recompensa.”

Numa outra passagem do Alcorão, Allah diz:

“Allah ficou bastante contente
com os crentes quando te juraram
fidelidade debaixo da árvore.
Ele sabia o que tinham nos
seus corações e enviou-lhes para baixo
a paz, a confiança e
recompensou-os com uma vitória próxima,
e muitos despojos que eles hão de
capturar, pois Allah é Poderoso, Sábio”

O Alcorão fala-nos sobre eles nos seguintes termos:

Entre os crentes há homens
que são fiéis a isso
que acordaram com Allah. Alguns deles
pagaram os seus votos
com a morte na batalha e alguns
deles estão ainda à espera;
e eles não alteraram em coisa alguma;
que Allah possa recompensar
o homem fie! pela sua fidelidade,
e punir os hipócritas,
se Ele quiser, ou abrandar
para eles, se Ele quiser.
Oh! Allah perdoa e é Misericordioso.”

Eles foram louvados nos seguintes termos no Sagrado Alcorão:

“Os mais antigos (na fé), os primeiros
dos Muhajirínes e dos Ançares, e aqueles
que os seguiram com simpatia – deram
satisfação a Allah: e eles
ficaram satisfeitos com Allah.
O Senhor preparou, para eles,
Jardins sob cujas ramadas
correm os rios onde habitarão
para sempre. Este
é o triunfo supremo.”

“O sagrado Profeta ( SAAS ) descreve as suas virtudes em várias passagens. Numa Tradição (Hadith) ele diz: “A parecença dos meus Companheiros (Sahabah) é como a das estréias (Guias). Qualquer que sigas, serás por ele guiado (no caminho certo).” Ele também disse: “A forma dos meus Companheiros (Sahabah) no seio da humanidade é como a do sal na comida. Não existe paladar na comida sem sal.” Ele disse: “Estejam certos (de perder a língua) ao desdenharem os meus Companheiros (Sahabah). Não façam deles alvo da vossa cólera. Quem os ama, ama-os pelo seu amor por mim, e quem os desrespeita, desrespeita-os pelo seu desrespeito por mim. Quem os difama, difama-me a mim e quem me difama, difama Allah. Allah depressa “prende” a pessoa que O difama.” “O Sagrado Profeta igualmente disse: Não insultem os meus Companheiros (Sahabah). Se algum de vós (i.e. uma pessoa vinda depois do período dos Companheiros) gastou ouro (na causa de Allah) igual ao peso do Monte Uhud, esse não poderá receber recompensa igual à que os meus Companheiros receberam tendo gasto só um ou meio “Mudd” (i.e, um Mudd é igual a 1.3/4 de um kilo).”

Outra Tradição (Hadith) conta-nos que o Profeta ( SAAS) disse: “Para a pessoa que insultar os meus Companheiros (Sahabah) cairá a maldição conjunta de Allah, dos anjos e dos homens. Nem o seu ato obrigatório (Fard) ou voluntário (Nafl) são aceites por Allah.” O Profeta ( SAAS ) disse também: “Depois dos Profetas, Allah preferiu os meus companheiros (Sahabah) acima de todos os da Sua Criação. Ele voltou a preferir quatro dos meus companheiros sobre todos os outros. Eles são: Abu Bakr, -Limar, Uthman, e Ali.” Ainda noutra Tradição (Hadith) ele disse: “Ó Povo! estou contente com Abu Bakr. Deviam compreender a sua posição. Estou também contente com Umar, Ali, Uthman, Talha, Zubair, Sa’d, Sa’ied, Abdur Rahman ibn Auf e Abu Ubaidah. Devíeis compreender as suas posições. Ó Povo! Allah anunciou o perdão para todos os que participaram em Uhud e que juraram fidelidade em Hudaibiyah. Ó Povo! Devíeis ter consideração por mim no procedimento para com os meus Companheiros (Sahabah) especialmente aqueles que são meus parentes por casamento. Cuidado, pois que agindo mal para com eles podeis temer que se queixem de vós no Dia do Julgamento e podeis não ser perdoados.

O Sagrado Profeta ( SAAS ) disse: “Tenham consideração por mim no procedimento para com os meus Companheiros (Sahabah) e parentes por casamento. A pessoa que tiver consideração por mim estará sob a proteção de Allah no Dia do Julgamento. Allah está livre de qualquer obrigação para com aquele que não tiver consideração por mim. Ele pode agarrá-lo em qualquer altura.” Ele disse também: “No Dia do Julgamento serei o guardião daqueles que tiveram consideração por mim no procedimento para com os meus Companheiros (Sahabah).’ O Profeta ( SAAS ) disse: “A pessoa que teve consideração por mim no seu procedimento para com os meus Companheiros (Sahabah) poderá chegar até mim quando eu estiver no (poço de) Kauthar (cf. Sagrado Alcorão cap. 108); enquanto que a pessoa que não teve consideração por mim no seu procedimento para com eles não poderá aproximar-se de mim. Poderá olhar para mim de longe.”

Um grande estudioso, Sahl ibn Abdullah diz: “Aquele que não honrar os Companheiros (Sahabah) não acredita realmente no Profeta ( SAAS ).”

Na verdade, os Companheiros (Sahabah) foram um povo cuja alma é testemunho para a Unidade de Allah e profecia de Mohammad ( SAAS ). Fé e crença (Iman) entraram no mais profundo dos seus corações, e eles deixaram todo o seu conforto, prazeres, gostos e até as suas terras natais em prol de Allah, somente no sentido de enaltecerem a Palavra de Allah (Kalimah) e difundirem as Tradições (Sunnah) do Sagrado Profeta que era para eles mais querido que os seus parentes e as suas vidas. Nenhum período da história da Humanidade, e nenhuma época: da civilização Humana foi testemunha de um povo que tivesse sido mais obediente a Allah, mais devotado na adoração ao Seu Criador, mais crente, mais civilizado e culto, mais versado nas revelações de Allah e tradições dos Seus Mensageiros, mais dedicados à causa de Allah, e mais empenhados no Seu Caminho, que os Companheiros de Mohammad ( SAAS ), que Allah esteja contente com eles. Eles costumavam lutar no caminho de Allah durante o dia e adorá-Lo durante à noite. Eles devotaram toda a sua vida à causa de Allah sem pedirem nenhuma recompensa para eles neste mundo. Eles foram os verdadeiros seguidores do Sagrado Profeta ( SAAS ). Os povos em geral e os Muçulmanos em particular, devem hoje lutar no Caminho de Allah como eles.

B. As Mães dos Crentes
As Castas Esposas do Sagrado Profeta

As castas esposas do Sagrado Profeta ( SAAS ) são as mães dos Crentes, como Allah determinou no Sagrado Alcorão:

“O Profeta está mais próximo dos crentes
do que eles mesmos;
e as suas esposas são como suas mães.. .”

Esta foi a maior honra concedida por Allah às castas esposas do Profeta ( SAAS). Abdullah Yusuf Ali comenta: “Esta Sura estabelece a dignidade e posição das esposas do Sagrado Profeta, as quais como Mães dos Crentes tinham uma missão e responsabilidade especiais. Elas eram mulheres comuns: Elas tinham que instruir mulheres nos assuntos espirituais, nas visitas e prestação de auxilio aos doentes e aflitos, e outros bondosos serviços na ajuda à missão do Profeta.”

As castas esposas do Profeta ( SAAS ) ficavam nos “Aposentos Privados”, os”Hujurat”, especialmente construídos para sua residência, com a devida honra, castidade e obediência a Allah e seu Mensageiro ( SAAS ). Os seus “Aposentos Privados” (Hujurat) eram tão honrados que foi dado o seu nome a todo um capítulo do Sagrado Alcorão. O capitulo 49 é chamado de “Os Aposentos Privados” (“AI-Hujurat”),

Não se deve falar da visita de homens (estranhos) a estes Sagrados Aposentos Privados (ou Hujurat), pois nem permitido era por Allah gritar à entrada destes. Uma vez, uns aldeões vieram fazer uma visita ao Sagrado Profeta ( SAAS ). Os aldeões chamaram por ele em voz alta à entrada do Hujurat, e Allah censurou-os nos versículos seguintes:

“Aqueles que te chamam
quando estás nos teus
Aposentos Privados não são,
na maior parte, sensatos.
Se tivessem paciência,
até que tu viesses
ao seu encontro, seria
muito melhor para eles.
E Allah é Indulgente,
Misericordioso. ”

“Gritar alto ao vosso Líder à entrada dos seus Aposentos”, comenta Abdullah Yusuf Ali, “mostra desrespeito quer pela sua pessoa, quer pelo seu tempo e compromissos. Só tolos ignorantes seriam culpados de tal indecente comportamento. É mais decente para eles esperar o momento próprio até ele estar livre para sair e atendê-los. Mas. na Corte de um Rei espiritual, muito é perdoado, devido à falta de conhecimento e compreensão. Numa Corte terrena, a ignorância da lei não desculpa nenhum homem. Se um homem se tivesse comportado daquela forma para um General ou Governador, já para não falar de um Rei terreno, ele teria sido preso pêlos guardas, e nunca teria acesso ao que desejava.”

Os crentes até estavam proibidos de levantarem as suas vozes acima da do Profeta ( SAAS ):

“ó vós que credes! Não levanteis
as vossas vozes acima da voz do Profeta,
nem griteis quando falardes, com ele,
como gritais uns para os outros, a fim
de que as vossas obras não sejam
tomadas vás sem o perceberdes. Aqueles
que baixam as suas vozes na presença
do mensageiro de Allah são aqueles cujos
corações Allah experimentou no cumprimento
do dever! Terão o perdão e imensa recompensa.”

Quando até os crentes estavam proibidos de levantar as suas vozes acima da do Sagrado Profeta ( SAAS ), podemos imaginar o respeito que costumavam ter para com o Sagrado Profeta e as suas castas esposas, que eram “suas mães”.

Às “mães dos Crentes”, ou seja às castas esposas do Profeta ( SAAS ) era-lhes pedido por Allah que ficassem em suas casas (os aposentos privados ou Hujurat):

“E ficai em vossas casas.
Não vos vistais com a ostentação
do tempo da Ignorância
(no Tempo Pré-Islâmico). Sede
regulares nas orações
e pagai o que é devido
aos pobres e obedecei a Allah
e ao Seu mensageiro.
O desejo de Allah é só remover
a impureza para longe de vós,
ó gente da Casa (do Sagrado profeta),
e purificar-vos completamente.”

Assim, o seu comportamento e caráter era puro sem qualquer mancha. Elas foram ademais instruídas a recitar o Alcorão e fazer a lembrança de Allah nas suas casas (os aposentos privados), durante as suas horas de lazer:

“Tende na mente aquilo
que é recitado em vossas casas
das revelações e sabedoria
de Allah. Oh! Allah é subtil;
está bem informado.”

Foi-lhes dito que elas estavam acima de todas (as mulheres crentes) e não eram mulheres comuns. A sua honra, dignidade, castidade, modéstia, comportamento e maneira de falar estava acima de todas as outras senhoras:

“Ó vós, esposas do Profeta!
Vós não sois como as outras mulheres.
Se sois tementes, não mostrais
amabilidade excessiva nas vossas palavras;
de outro modo, aquele que tiver
coração fraco sentirá por vós
desejos. Falareis linguagem
(que seja) decente.”

Abdullah Yusuf Ali escreve: “As consortes do Profeta não eram como as mulheres comuns, nem o seu casamento era um casamento comum, onde só a consideração pessoal ou social entram. Elas tinham uma posição e responsabilidades especiais, no sentido de guiarem e instruírem as mulheres que vinham para a congregação Islâmica. O Islamismo é um Modo de Vida, e os Muçulmanos são uma família: as mulheres têm tanto lugar no Islamismo como os homens, e a sua instrução pessoal (íntima) deve obviamente ser feita por mulheres.” Comentando sobre os discursos das castas esposas do Sagrado Profeta ( SAAS ) ele escreve: “Como tinham de ser boas e gentis para todos, elas tinham de estar guardadas devido à sua posição especial, temendo que pessoas grosseiras pudessem interpretar mal ou tentar aproveitar-se da sua bondade. Elas não se podiam exibir publicamente como nos tempos do Paganismo.”

Nenhum homem, incluindo os crentes, podia entrar nas casas do Profeta sem a sua permissão. Nenhum estranho tinha autorização para entrar nas casas sagradas do Profeta ( SAAS) na sua ausência. Quando o Profeta estava em casa, aos crentes era-lhes dito para pedirem permissão para lhe fazerem uma visita. Allah foi categórico ao ordenar estas etiquetas no Alcorão por estas palavras:

“Ó vos que credes! Não entreis nas
casas do Profeta, sem receberdes a sua autorização,
para uma refeição e não esperareis
por esta. Mas, quando fordes convidados,
entrai e, depois de comerdes, retirai-vos,
sem iniciar familiarmente conversas.
Na verdade, isto causaria desgosto
ao Profeta e ele sentiria acanhamento
(se vos convidasse a retirar). Allah, porém,
não se acanha com a verdade. E se tiverdes
de pedir qualquer coisa às esposas do
Profeta, pedi-lhes isso por detrás de uma
cortina. Assim permanecerão puros os vossos
corações e os corações delas.. .”

“A forma atual de demonstrar respeito pelas senhoras pode ser diferente em diferentes circunstâncias. Mas é um principio essencial de boa sociedade mostrar-lhes sempre a maior deferência- Para “As Mães dos Crentes” este respeito era devido num grau excepcional.”

Era proibido para os crentes ou qualquer homem casar-se com as viúvas do Profeta ( SAAS ) porque elas eram consideradas como “Mães dos Crentes”, e não é legal casar com uma mãe:

“.. .E não deveis causar dissabores
ao mensageiro de Allah,
nem casar com as suas esposas
depois dele! Na verdade,
isso seria uma ofensa
aos olhos de Allah.”

As Castas esposas do Sagrado Profeta ( SAAS ) foram especialmente avisadas por Allah para desmascararem qualquer coisa que estivesse abaixo da sua dignidade:

“Ó vós, mulheres do Profeta!
Se alguma de vós cometer
luxúria provada, o seu castigo
será dobrado, e isso é fácil
para Allah.”

“A punição nesta vida para a incastidade de uma mulher casada é muito severa: por adultério, flagelação em público com cem vergastadas, (ver XXIV: 2); ou por lascívia (ver: IV: 15) ser presa; ou apedrejada até à morte por adultério, de acordo com certos precedentes estabelecidos na Lei Canônica. Mas a questão não é sobre este tipo de punição ou este tipo de ofensa. Até indiscrições menores, no caso de mulheres que eram padrões de decoro, teriam sido repreensíveis; e a punição no outro mundo é num plano mais elevado, o qual dificilmente podemos entender. Mas Deus pode apreciar todas as matizes de motivação em nós. Mais ou menos é possível aqui, o que pode não ser possível à luz da lei feita à pressa que administramos aqui.”

Às castas esposas do Mensageiro de Allah ( SAAS ), por outro lado, é lhes prometida dupla recompensa pela sua castidade e devoção:

“(Ó vós, mulheres do Profeta!)…
Mas aquela de vós que for
devotada a Allah e ao
Seu Mensageiro, e que pratica
o bem, Nós dar-lhe-emos
a sua recompensa em dobrado.
Para ela Nós temos preparada
uma rica provisão.”

Dupla recompensa, ou recompensa por duas vezes lhe será dada – uma como mulher reta e crente, e outra vez como “Mãe dos Crentes”, servindo a mulher crente, e assim mostrando-lhe devoção a Allah e a Seu Mensageiro.

Qualquer um culpado de abusar e difamar tais castas mulheres como as “Mães dos Crentes” (as Esposas do Profeta) neste mundo, ganhará certamente, a ira de Allah neste mundo bem como no outro. O Islam prevê uma dura punição por difamação às mulheres castas, já para não falar das castas “Mães dos Crentes”. O Alcorão diz:

“Olhai: quanto a esses que difamam
mulheres virtuosas e crentes,
que não guardam as aparências,
são amaldiçoadas neste mundo e no outro!
Terão um castigo terrível.
No dia em que as suas línguas,
as suas mãos e os seus pés derem
testemunho contra eles por aquilo
que costumavam fazer, nesse dia Allah pagar-lhes-á
o que justamente lhes é devido e, eles, saberão
que Allah é a Verdade Manifesta.”

Capitulo IV

O Sagrado Profeta Ordena A Execução de Poetas Malévolos

No tempo do Sagrado Profeta Mohammad, ( SAAS ), a poesia exercia a mesma influência na mente do público da Arábia, tal como hoje os discursos arrebatadores dos grandes estadistas é os artigos dos jornais mais importantes, ou o romance, ou o drama, de reputado autor. Um único poeta, mediante o seu trabalho, podia inflamar uma tribo inteira, dando, assim, a infindáveis garras tribais. Quando o Islam começou a espalhar-se na Arábia, os descrentes contrataram poetas para amotinar e provocar o povo contra o Islam, contra o seu Profeta, ( SAAS ), e os Muçulmanos. A poesia de alguns desses poetas mostrou-se muito hostil e inimiga da Religião de Allah e do Seu Mensageiro. Por conseqüência, a fim de proteger o interesse do Islam e dos Muçulmanos, o Sagrado Profeta, ( SAAS ), ordenou a execução de tais poetas malévolos. As suas ordens foram cumpridas pêlos Companheiros.

1. A Execução de Abu Afak:

Havia um velho judeu chamado Abu Afak que costumava satirizar o Sagrado Profeta, ( SAAS ), e os Muçulmanos para incitar o povo contra o Islam. Ele compôs versos contundentes contra o Islam, os Muçulmanos e o Sagrado Profeta. Eis alguns desses versos, citados por Ibn Is’haq:

“Já vivi muito tempo, mas nunca tinha visto
Uma assembléia, ou ajuntamento de povo
Mais confiante no seu empreendimento
E nos seus aliados, quando eram invocados,
Do que os filhos de Qayla ao reunirem-se,
Homens que derrubam montanhas, nunca submetidos.

Um viajante veio para o meio deles e estabeleceu a divisão (dizendo):

“Permitido”, “Proibido” a respeito de todas as coisas.
Tivésseis vós acreditado na glória ou na dignidade real,
Então, teríeis seguido Tubba.”

Ouvindo isto, o Mensageiro de Allah, ( SAAS ), disse: “Quem trata deste patife por causa de mim?”
Salim Ibn Umair tomou a missão a seu cargo e matou Abu Afak no mês. de Xawwal, do ano 2 da Hégira. Umama ibn Muzayriya escreveu a propósito:

“Classificaste de mentirosa a religião de Deus e o homem Ahmad!
Por aquele que foi teu pai, mau é o filho que ele produziu!
Um hanif deu-te um empurrão durante a noite, dizendo:
‘Agüenta lá com isto, apesar da tua idade!’
Ainda que eu soubesse qual dos dois foi, homem ou jin,
Que te matou na noite morta (eu não diria nada).”

2. A Execução de Asma Bint-Marwan:

Havia uma mulher, chamada Asma Bint Marwan, pertencente à tribo medinense dos Banu Awn. Era poetisa e começou a satirizar o islam e o Sagrado Profeta, ( SAAS ). Depois da batalha de Badr, ela compôs os seguintes versos, repreendendo o Islam e os seus seguidores:

“Desprezo B. Malik e al-Nabit E Auf e B. AI-Khazraj:
Obedeceis a um estrangeiro que não é nenhum dos vossos,
Nem de Murad nem de Madhhij:
Esperais bondade dele, depois da matança dos vossos chefes,
Como um homem esfomeado, que afunda peio seu caldo?
Não há nenhum homem orgulhoso, que queira atacá-lo de surpresa
E cortar cerce as esperanças daqueles que esperam dele algo?”

Quando o Mensageiro de Allah ouviu o que ela dissera, perguntou: “Quem me livra da filha de Marwan?” Umar ibn Awf, que atendera à chamada do Profeta, oferecendo os seus serviços, executou Asma. A execução de Asma foi efetuada na última semana do Ramada do ano 2 da Hégira.

O famoso poeta do Islam, Hassan ibn Thabit, escreveu os seguintes versos alusivos ao acontecimento:

“Banu Wa’il e B. Waqif e Kbatma
São inferiores perante B. Ai-Khazraj.
Quando ela invocou a desgraçada loucura no seu lamento,
A morte já se encontrava a caminho.
Ela instigou um homem de origem gloriosa,
Nobre ao partir em viagem e à chegada.
Antes da meia-noite ele afogou-a em sangue
E, desta maneira, não incorreu em nenhuma culpa.”

A execução dos dois traidores acima mencionados, (seguida de outras semelhantes), não é um ato de injustiça e opressão. Até na idade moderna, há uma lei, (em qualquer nação civilizada), para punir traidores e rebeldes. As duas pessoas referidas intentaram uma rebelião aberta contra o Islam, (a Lei de Allah, na qual se baseia o Governo de Allah), e a cabeça do Estado Islâmico, o Sagrado Profeta Mohammad, ( SAAS ). Tal fato consistia numa ação imperdoável, portanto, a lei tinha de ser cumprida. Além disso, não havia sistema policial (tal como hoje), portanto, o Sagrado Profeta, ( SAAS ), pedia aos Companheiros se oferecessem como voluntários para a execução.

3. A Execução de Ka’b Ibn AI-Ashraf:

Ka’b Ibn al-Ashraf era um reputado poeta judeu. Ele era um dos judeus mais ricos de Banu Nadir. Pagava mensalmente salários a um número de estudantes Judeus e autoridades religiosas. Quando o Sagrado Profeta, ( SAAS ), se estabeleceu em Medina, aos estudantes Judeus, que vinham ter com Ka’b Ibn al-Ashraf para receber os salários, era-lhes pedido que dessem o seu parecer acerca do Islam e do Profeta do Islam, e só recebiam os salários no caso de as suas opiniões concordas sem com as de Ka’b Ibn al-Ashraf.

A derrota dos Coraixitas na batalha de Badr e a perda de dignitários de Coraixe escandalizaram Ka’b Ibn al-Ashraf. Partiu para Makkah (Meca),a fim de apresentar condolências. Compôs elegias cheias de tristeza e espírito de vingança, e recitou-as diante dum enorme ajuntamento de Mequenses, por entre as suas próprias lágrimas e as da audiência. Disse:

“A luta de Badr esmagou o sangue deste povo.
Perante acontecimentos como Badr devíeis chorar e gritar.
A nata do povo foi chacinada em redor das suas cisternas;
Não vos pareça isto estranho, porque os príncipes
faziam a esquerda.
Muitos homens generosos e nobres,
O refúgio dos que vivem ao relento, foram assassinados,
Liberais quando as estrelas não dão chuva,
Que transportavam cargas, administrando e recebendo o preço justo.
Algumas pessoas cuja ira me agrada, disseram:
– ‘Ka’b ibn Al-Ashraf foi totalmente aviltado’.
Têm razão. A terra, quando eles eram mortos,
Abria fendas e engolia o seu povo,
(Quem divulgou a notícia não faltou à verdade),
Ou esperavam ajoelhados, cegos e surdos.
Também me disseram que todos os Banu’1-Mughira
foram humilhados e abatidos pela morte de Abu’1-Hakím,
E pela morte dos dois filhos de Ffabi’a juntamente com ele,
E Munabbih e outros não alcançaram (tal honra) só dedicada
aos que foram massacrados.
E disseram-me também que al-Harith ibn-Hisham
Está no bom caminho, reunindo tropas
Para visitar Yathríb com exércitos,
Porque só o homem nobre e generoso protege a reputação
perdida.”

O poeta islâmico Hassan Ibn Thabit, (radiallahu an-hu), respondeu-lhe:

“Deve Ka’b continuar a chorar por ele mesmo
E viver na humilhação por causa de coisa nenhuma?
No vale de Badr eu vi alguns massacrados
Vertendo lágrimas por si próprios.
Chora, chora, porque tu fizeste chorar um desprezível escravo,
Tal como um cachorro seguindo a cadelinha.
Deus contentou o nosso chefe
E lançou na vergonha e prostou aqueles que o tinham combatido.
E aqueles cujos corações se dilaceraram com medo
Desertaram e fugiram para longe.”

Uma mulher muçulmana de B. Murayad, um clã de Bali, que mantinha estreita aliança com B- Umayya b. Zayd, chamada al-Ja’adira, respondeu a Ka’b como segue:

“Este escravo mostra grande inquietação
Chorando sobre os mortos incansavelmente.
Praza a Deus que os olhos, que choram sobre os mortos
de Badr, chorem o dobro das lágrimas. :
E praza a Deus que Lu’ayy ibn Ghalib chore outro tanto!
Aqueles que eram regados com sangue
Podiam ser vistos por aqueles que vivem entre as montanhas de Meca!
Podiam ver e saber ao certo
Quem eram esses vultos arrastados pela barba e pretos cabelos.”

Ka’b ibn al-Ashraf, respondeu-lhe:

“Não digas coisas ridículas que talvez te salves
A tempo de falar do que não faz sentido!
Insultar-me, por que derramo lágrimas
Pelo povo que, sinceramente, me amava?
Enquanto viver hei de chorar e lembrar
Os méritos do povo cuja glória consistia,
Peia minha vida Murayd, em manter-se longe de conflitos;
Mas esse povo, agora, tornou-se num bando de chacais.
Eles deviam ter vergonha
Por insultarem os dois clãs de Lu’ayy ibn Ghalib.
Devolvo a minha vergonha de Murayd para J’dar,
Na verdade, peia casa de Deus, entre as montanhas de Meca.”

No seu regresso de Makkâh (Meca), começou a compor poemas de amor dirigidos a algumas senhoras muçulmanas, castas, de Madina.

Os seguintes dísticos de Ka’b, citados por Tabari (tal como outros), são aqui publicados para mostrar a sua vileza. Eles eram dedicados a uma senhora muçulmana, Umm al-Fadal.

“Ai de mim, meu coração! Passas adiante? Não te
demoras para lhe agradar?
Abandonas Umm al-Fadai à Solidão?
Ela é da cor do açafrão: Tão cheia de encantos que,
se a apertasses nos teus braços,
Havia de verter, bem espremida, vinho, henna e Khatam
Ela é tão delgada que a silhueta, da sua anca até
ao ombro, se encurva;
Por isso ela deseja manter-se direita e não consegue.
Quando a encontro, ela faz-me esquecer a minha
própria mulher Umm Halim,
Ainda que, o contrato que nos une, não tenha sido quebrado.
Nascido dos Bani Aamir, o meu coração foi feito com o amor dela;
E, se ela quisesse, podia curar Ka’b da sua tristeza.
Ela é a princesa das mulheres, e o seu pai o Príncipe da sua tribo,
O Azarado dos estrangeiros, o Cumpridor de promessas.
Eu nunca vira o Sol nascer de noite, até que ela, numa noite escura
Me apareceu em todo o seu esplendor. ”

Por conseguinte, um dia, o Sagrado Profeta, (SAAS), interrogou os seus companheiros: “Quem me livra de ibn al-Ashraf?”‘ Mohammad Ibn Maslama encarregou-se da tarefa e executou Ka’b ibn al-Ashraf. Foi assistido por quatro pessoas da tribo Aws: Abu Na’ilah Silkam Ibn Salamah (irmão caçula de Ka’b); Harith ibn Aws; Ubbad ibn Bishr; e Abu Abs Ibn Jabr.
A execução de Ka’b ibn al-Ashraf efetuou-se a 14 de Rabfal-AwwaI, do ano 3 da Hégira.

Capitulo VII

O Arrependimento De Ka’b Ibn Zuhair E O Sagrado Profeta

Os dois irmãos, Ka’b ibn Zuhair e Bujair ibn Zuhair, eram famosos poetas no seu clã. Ka’b ibn Zuhair costumava satirizar o Sagrado Profeta e os Muçulmanos nos seus poemas. Abdur Rahaman ibn Ka’b narrou num Hadith: “Ka’b e Bujair, filhos de Zuhair, partiram em viagem. Quando chegaram a Abraqal-izzaf, Bujair disse para Ka’b: — ‘Espera aqui: Vou voltar atrás para me encontrar com o homem (isto é, o Mensageiro de Deus ( SAAS ). Deixa-me ir ouvir o que é que ele está a dizer! Ka’b permaneceu ali e Bujair reuniu-se ao Mensageiro de Deus ( SAAS ). Este explicou o Islam para Bujair, que o aceitou- Quando Ka’b foi informado do sucedido, compôs os seguintes dísticos:

“ó meus dois amigos! Levem a minha mensagem para Bujair:
Amaldiçoado sejas, que adoptaste um caminho indicado
por um estrangeiro!
Adoptaste um caminho que nunca foi
Nem seguido peio teu pai nem pela tua mãe.
Abu Bakr deu-te a beber uma taça cheia de vinho venenoso;
Esse escravo deu-te a beber outra vez e outra vez ainda.”

Quando o Mensageiro de Deus ( SAAS ) soube destes versos, ordenou: ‘Seja quem for que mate Ka’b será perdoado’; e disse também: ‘Seja quem for que encontre Ka’b deverá matá-lo (isto é, executá-lo).

Bujair escreveu a propósito para o seu irmão Ka’b e informou-o: ‘O Mensageiro de Deus ( SAAS ) ordenou que te matas-sem. Tenta pensar acerca da tua salvação. Agora, não tens possibilidade de fuga! Passado algum tempo escreveu-lhe outra carta: “Devereis saber que, se alguém declara a Shahadah (isto é, testemunho de que não há ninguém digno de ser adorado exceto Deus e que Mohammad é o Mensageiro de Deus) abraça o Islam e o Sagrado Profeta aceita as suas palavras. Quando receberes a minha carta, abraça imediatamente o Islam evem ter comigo: Ao receber esta carta Ka’b abraçou o Islam e compôs uma ode em que louvava o Mensageiro de Deus ( SAAS ). Dirigiu-se então para Medina, ajoelhou o seu camelo (isto é, parou) à porta da Mesquita do Mensageiro de Allah ( SAAS ), que estava lá dentro. Quando entrou na Mesquita viu o Mensageiro de Allah ( SAAS ) sentado com os seus companheiros, em círculo, como pessoas em redor de uma mesa (Ma’idah). Falava para os seus companheiros, voltando a sua face na direção daquele a quem se dirigia. Narra Ka’b’ ‘Quando entrei na Mesquita, depois de ajoelhar o meu camelo à porta, reconheci o Mensageiro de Deus ( SAAS ). Recitei, para ele ouvir, a Shahadah: Testemunho de que não há ninguém digno de ser adorado exceto Deus e que Mohammad é o Mensageiro de Deus. E acrescentei: Concede-me a salvação, ó Mensageiro de Deus! Então ele perguntou: Quem és tu? Eu respondi: Sou Ka’b ibn Zuhair. E ele perguntou de novo: Foste íu que compuseste uma sátira contra Abu Bakr ? E o Profeta interrogou Abu Bakr: Ó Abu Bakr, que disse ele ? Abu Bakr recitou:

Abu Bakr deu-te a beber uma taça cheia de vinho venenoso; Esse escravo deu-te a beber outra vez e outra vez ainda.”

Ka’b negou: ‘Mensageiro de Deus, ( SAAS ), eu não disse isso! ‘Então o que é que disseste?, perguntou o Sagrado Profeta. Ele respondeu: eu disse (e recitou o último dístico da ode composta depois):

“Abu Bakr deu-te a beber uma taça cheia de doce bebida;
O protegido principal deu-te a beber outra vez e outra vez ainda.”

O Mensageiro de Deus ( SAA ), observou: ‘Mamun, por Deus!’ (isto é, por Deus, Abu Bakr é o protegido principal). Então Ka’b recitou a sua famosa Qasidah, a qual também se tornou popular com o nome de Qasidatul-Burdah, porque depois de a ter ouvido, o Sagrado Profeta, ( SAAS ), ofereceu a Ka’b o seu Burdah, isto é, o seu próprio manto de lã.

“Su’ad foi-se embora, e hoje o meu coração está doente de amor, cativo dela, não recompensado, atado com cadeias;

E quando Su’ad veio na manhã da partida, era tal e qual uma gazela com olhos negros resplandecentes postos no chão. Quando vós a contemplais, a andar na vossa direção, vereis dela o ventre e o abdômen; quando ela volta as costas e se vai embora, vereis as suas ancas.
Quando ela sorri, mostra uma pura e brilhante fileira de dentes laterais, que parece ter sido banhada mais do que uma vez em fragrante vinho. Vinho misturado com água pura e fria de uma gruta cheia de pedrinhas, onde sopra o vento norte, numa curvatura do vale. Do qual os ventos expulsam todas as manchas de poeira, e o vaie transborda de brancas torrentes de espuma sustentadas por chuva impetuosa, caída aos borbotões, de uma nuvem da manha. Oh, que rara senhora ela não fora, se apenas se tivesse mantido fiel à sua promessa e desse ouvidos ao bom conselho! Mas ela é um amor no qual o sangue está misturado com dor e mentira e infidelidade e inconstância. Ela não é estável no seu afeto — tal como o espírito manda a aparência dos seus vestidos — E mantém tanto a palavra dada, tanto quanto uma peneira retém água. Não consintas que os desejos, que ela inspira e as suas promessas, te enganem: oh, esses desejos e sonhos são uma desilusão. As promessas de Urqub eram uma parábola dela, e as promessas dele não eram nada exceto vaidade. Tenho esperança de que as mulheres estarão sempre prontas a manter a sua palavra; mas nunca, segundo me parece, elas se dispõem a tal. À boca da noite Su’ad dirigiu-se a uma terra para a qual ninguém é trazido exceto por camelos, que são excelentes e nobres e ligeiros. Para ali chegar, é preciso uma camela vigorosa que, não obstante fatigada, não perca a costumada velocidade do seu passo. Quem quer que seja que, abundantemente, pingue suor no seu encalço, ouvirá o suor dela cair, o suor de quem se propõe atravessar um desconhecido deserto sem trilhas; Perscrutando os planaltos com olhos penetrantes como os de um búfalo branco e solitário, quando as pradarias e as dunas se incendeiam com o Sol; Pescoço alto, janetes sensuais, excedendo em beleza as outras filhas de seu pai; Pescoço denso, face expressiva, ei-la robusta, máscula, de vastos flancos e fronte tão alta como uma esteia; A pele tão dura, como a casca da tartaruga, no dorso, nem por um inseto esfomeado é trespassada; Um valente animal cujo irmão é o seu pai através de uma nobre mãe, e o irmão de seu pai é irmão da mãe; um pescoço longo e ligeiro.

A caraça rasteja sobre ela: então o seu peito liso e os seus flancos sacodem-na, fazendo-a desaparecer inesperadamente.

Ela é como o onagro: a ilharga úmida com carne firme, o cotovelo muito afastado das costelas; O focinho avança à frente dos olhos e da garganta, como se fosse um machado; A sua cauda é como uma vergôntea de palmeira desfolhada com pequenos tufos de cabelo pendentes sobre a extremidade convexa, debaixo da qual as tetas dão leite com abundância; O nariz é aquilino; nas orelhas generosas há sinais de raça evidente aos olhos do perito, e nas suas faces há lisura. Mas, apesar destes predicados, é quase invisível, evolucionando na delgada luz dos pés, que mal tocam o chão como se desvanecessem. Com os trigueiros tendões dos pés, que espalham o cascalho e não têm ferradura e que, por isso devem evitar a brancura dos amontoados de pedras:

O ágil movimento das suas pernas, quando ela pinga suor e a miragem rodeia as colinas.
Um dia, quando o animal assoma ao Sol, numa alta clareira, até que a sua parte exposta ao Sol se ilumina como fogo. E, por entre o cascalho, começam a saltitar as cigarras pardas, o camelo-guia ordena aos companheiros que descansem: Parece o batimento das mãos, uma na outra, de uma despojada mulher grisalha, que ergue o seu lançamento e é correspondida por quem muitos filhos já perdeu; Um pranto agudo, os braços débeis, de quem não compreendera, quando lhe trouxeram as notícias da morte do primeiro filho: Ela dilacera o peito com as unhas, enquanto a túnica é rasgada em pedaços pelo seu colar de ossos. Os loucos caminham de ambos os lados do meu camelo, dizendo: ‘Na verdade, ó neto de Abu Sulma, tu és um homem morto’; E todos os amigos com os quais eu contava, dizem: ‘Não te podemos ajudar: estamos demasiado ocupados para fazer alguma coisa por ti.’ Eu digo: ‘deixai-me seguir o meu caminho, talvez eu não tenha pai! Por qualquer razão o Misericordioso decretou que assim fosse. Todos os filhos de mulher, por maior que seja a sua segurança, um dia nascem sobre uma tumba saliente’. Informaram-me de que o Mensageiro de Deus me ameaçou de morte, mas junto do Mensageiro de Deus eu espero o perdão. Com brandura possas tu ser guiado por ele, que te presenteou com o Alcorão, no qual há avisos e uma prova manifesta de matéria. Não me castigueis, porque eu não pequei, tal como dizem os delatores, ainda que os falsos testemunhos sobre mim sejam muitos. Ah, encontro-me em tal situação que, se um elefante estivesse no meu lugar, vendo o que eu vejo e ouvindo o que eu ouço, O seu pescoço seria sacudido pelo terror — se não houvesse perdão do Mensageiro de Deus. Ao colocar a minha mão direita, que não retiro, na mão do vingador cuja palavra é a palavra da verdade. Na realidade, tenho mais medo dele, quando lhe falo, (e disseram-me que seria interrogado acerca da minha ascendência). Do que dum leão da selva, cujo covil é nas brenhas densas das terras baixas de Aththar; Ele sai de manha para alimentar duas crias, e as suas vitualhas são carne humana envolta em poeira e desfeita em pedaços: Quando salta sobre o adversário, é contra a sua lei abandoná-lo antes que este esteja completamente aniquilado; Dele, os burros do extenso vale entre outeiros, fazem aterrorizados, e os homens, não passam no seu caminho, A menos que confiem nele como num irmão — a arma defensiva e a metálica armadura viscosas de sangue — prontos a ser devorados.

Na verdade, o Mensageiro é uma luz cujo fulgor iluminou uma espada indiana desembainhada, uma das espadas de Deus.

Entre um grupo de Coraixitas, do qual os que falam em nome dos outros, quando eles professaram o Islame no vale de Meca, disseram: ‘Ide-vos embora!’

Eles foram-se embora, mas não estavam fracos nem desamparados na batalha, nem desarmados nem sem coragem;

Guerreiros com narizes altos e direitos, vestidos para a luta com cotas de malha tecidas por David.
Brilhantes, amplas, com argolas enfiadas em fios como as argolas de qaf ’a. Eles não se alegram excessivamente se as suas lanças apanham um inimigo, nem se entregam ao desespero se eles próprios são apanhados. Eles marcham com camelos esplêndidos e defendem-se com golpes, enquanto os homenzinhos negros se põem em fuga; A lança da verdade abate-se nas suas gargantas: para eles não há hesitação perante os lagos da morte.

Assim ibn Umar ibn Qatadah (um Ansarí, isto é um Medinense mulçumano) narrou; “Quando Ka’b diz: “Enquanto os homenzinhos negros se põem em fuga’, ele quer significar os Ansar, (os muçulmanos medinenses), por causa da maneira como um de nós o tratou. Ele destaca os Muhajirin, (os muçulmanos emigrados de Meca), no meio dos Companheiros do Mensageiro de Deus, ( SAAS ). Isto motivou a ira dos Ansar contra ele. Depois de se haver convertido ao Islão, Ka’b teceu louvores aos Ansar e.mencionou as suas provas com o Mensageiro de Deus, ( SAAS ), e a sua posição entre as tribos do Yémen.” Ibn ls’haque citou os seguintes versos elogiosos que foram recitados por Ka’b a fim de homenagear os Ansar:

Aquele que reza uma vida gloriosa
Ficará para sempre na companhia dos cavaleiros dos íntegros Ansar
Que transmitem gloriosos feitos de pai para filho.
Eles são os melhores homens, os filhos dos homens mais competentes,
Que riem empunhando as suas lanças,
Longas como as espadas indianas,
Que olham com atenção para diante, incansavelmente,
Com olhos vermelhos como carvões em brasa;
Que devotam as vidas ao seu profeta,
Lutando corpo a corpo, e a cavalaria ataca.
Eles purificam-se com o sangue dos infiéis.
Eles consideram isto um ato de piedade.
O seu hábito é como o dos leões de grande juba
Acostumados a caçar no vale arborizado.
Se junto deles procurares proteção
Estarás a salvo, como nos lugares inacessíveis
Da montanha freqüentados por cabras.
Ele feriram Ali, tal como um golpe no dia de Badr
Trouxe a derrota a todos os Nizar.
Se o povo soubesse tudo o que eu sei acerca deles,
Aqueles que discutem comigo, reconheceriam a verdade
Do que afirmo.
Eles são o povo que alimenta com abundância, os viajantes noturnos,
Que chegam em tempo de carestia.

Capitulo VIII

Bases Éticas do Islam

1 – O Islam é muito mais do que um sistema ético:

O Islam não é meramente um sistema ético. É a mais completa e perfeita religião que guia o ser humano em cada, e em todos os passos da sua vida. É baseada na crença de uma Revelação Divina (Wahy) enviada aos Homens através de vários Profetas, o último dos quais é o Sagrado Profeta Mohammad, ( SAAS ), que trouxe a última e a mais perfeita Mensagem Divina na forma do Sagrado Alcorão, como foi explicado por meio das suas palavras e ações (Sunnahas). A Divina e Profética Religião — o islam — faz muito mais do que atender às necessidades morais da Humanidade. Ela proporciona orientação para cada um e todos os aspectos da vida humana, quer seja social, individual, econômico, político, legal e espiritual ou mundano. A Sua lei e moralidade, tal como a sua fé, são por isso baseadas em mandamentos Divinos. É possível que em alguns casos a razão humana tivesse também chegado às mesmas conclusões mas, é essencialmente o seu aspecto Divino que tem um significado decisivo no Islamismo, e não o raciocínio de um intelectual, ou jurista, ou filósofo, ou um investigador, ou um professor, ou um moralista; porque é possível que o raciocínio de diferentes indivíduos possa diferir e conduzir a conclusões completamente opostas.

“O islam é um sistema”, diz Sayyid Qutub, “para toda a vida humana, em todos os seus aspectos. Este é um sistema que transmite o ideal-ideológico — o conceito convincente que explica a essência do Universo e determina a posição do homem neste Universo bem como o seu objetivo último nesse lugar. Ele inclui as doutrinas e organizações práticas que provêm do estar certo do ideal-ideológico, e fazer dele uma realidade refletida na vida diária dos seres humanos. Por exemplo, estas doutrinas e organizações incluem os princípios éticos, e sustentam o seu poder, o Sistema político junto com as suas formas e características, a ordem social e as suas bases e valores, a doutrina econômica com a sua filosofia e instituições, e os organismos internacionais com as suas inter- relações – – – De fato, este sistema Islâmico é tão completo, interdependente e alternativo que cobre todos os aspectos da vida humana e as várias necessidades genuínas do homem bem como as suas diferentes atividades…”

“A distinção entre a composição desta religião e a dos outros sistemas é que, de acordo com o modo como o Islam é estabelecido, as pessoas veneram Um Deus Que é distinguido pela Sua Divindade, Capacidade Criadora e Onipotência, na verdadeira acepção das palavras. Eles obtêm as suas concepções, valores e modelos, instituições, legislaturas e leis, ética e moral, a partir dele somente. Em outros sistemas as pessoas veneram diferentes deuses e ídolos. Fazendo isso, eles conferem a outros seres humanos, e não a Allah o Todo-Poderoso, o direito de tutela sobre eles. Eles fazem deuses de homens como eles, adquirindo através deste meio os seus conceitos, valores e modelos, as suas instituições, legislaturas e leis, as suas orientações, éticas e morais.”
“Os preceitos de toda a, religião” — escreve S. Sulaiman Nadwi, “podem ser divididos em duas partes. Uma, a que preenche o mais profundo impulso do ser humano; a outra, a que se relaciona com a sua existência terrestre. A primeira, satisfazendo a alma, é conhecida como Iman ou fé, e a segunda, governando o corpo, como A’mal ou ação. A última pode ainda ser sub-dividida em devoção a deus ou Ibadat, comportamento entre as pessoas ou mu’amalat, e finalmente, os morais ou akhiaq. Estes quatro, as crenças, devoções, transações e os morais abarcam os ensinamentos fundamentais de todas as religiões, e ao apresentar um conceito perfeito de cada uma delas, o Islam excede todas as religiões.”

O Dr. Hamiduilah diz: “O Islam é o sistema que abrange todos os modos de vida. Não só estabelece crenças mas, também, regras de comportamento social, além do mais ocupa-se com a boa aplicação e funcionamento das suas leis. Nós sabemos que o Islam não nos faz acreditar na vida deste mundo como um fim em si mesmo, ou no corpo sem nenhuma relação com a alma. Pelo contrário: ele ensina a ter crença na Vida Futura. A sua máxima, enunciada pelo Alcorão é: “O melhor neste mundo, assim como o melhor no Além”. É por isso que não só ele louva o bem e condena o mal, mas também providencia recompensas e sanções, quer espirituais quer materiais. Até onde concernem as suas ordens e proibições, o Islamismo incute no espírito, o temor a Deus, o Último Julgamento depois da Ressurreição, a punição no fogo do Inferno. Não contente com isso ele toma todas as precauções possíveis no domínio de se permitir atos de injustiça e violação dos direitos dos outros. É por isso que o crente reza e jejua mesmo quando não é coagido a fazê-lo; paga os impostos mesmo quando o governo ignora a fixação do montante ou se acha incapaz de obter o pagamento pela força.”

Por isso, o Islam é a mais perfeita religião que guia o ser humano em todos os passos da sua vida. O Sagrado Alcorão diz;

“Aperfeiçoei hoje a vossa religião, para vós, completei o Meu favor
para vós, e escolhi como religião, para vós, Al Islame”

2 – O Conceito de Bondade e Pecado:

O Sagrado Alcorão colocou o homem (seres humanos) acima de todas as criações. Ele entende o homem como um ser criado do nada com uma constituição tal que está longe de ser maculado com o pecado hereditário (Karma — Hinduísmo e Budismo; com o pecado original — Cristianismo).

O Sagrado Livro diz-nos:

“Por certo que nós criamos o homem com a melhor das formas.”

Ao mesmo tempo, o homem foi simultaneamente feito dos elementos do bem e do mal. Pêlos seus defeitos inatos, ele está sujeito a tentações, enquanto que os seus sentimentos o fazem arrepender-se depois; e em proporção à força do seu arrependimento, ele tenta mais ou menos retificar o mal que fez devido às suas más ações. Em continuação do versículo acima citado, o Sagrado Alcorão diz-nos:

“Então reduzimo-lo à mais baixa das degradações, (i.e. por ter seguido as más tentações), salvo esses que crêem e fazem boas obras; e eles terão recompensa eterna.”

O Islam concedeu ao homem a liberdade de se arrepender, e de virar-se para o seu Criador — Allah. o Todo Poderoso — em qualquer altura e em qualquer lugar, sem quaisquer intermediários. O Sagrado Alcorão declara:

“Ó vós que credes! Voltai-vos para Allah com sincero arrependimento! Pode ser que o vosso Senhor vos perdoe as vossas más ações e vos traga para os Jardins (no Paraíso), sob os quais correm os rios, no dia em que Allah não humilhará o Profeta nem aqueles que crêem com ele…”

O “Taubah” (arrependimento) será discutido com maior pormenor mais à frente. Todo o homem é livre de fugir do mal em qualquer altura, e ser limpo e puro através do “Taubah” (arrependimento).
“O próximo princípio fundamentai dos ensinamentos de Mohammad é que o homem foi criado livre de culpa”, diz S. Sulaiman Nadwi, “livre de todas as máculas de pecados anteriores. Ele nasce com uma verticalidade inata. São as suas ações que fazem dele um anjo ou um demônio. A iniqüidade degenera-lhe o caráter. Foi a maior e mais alegre notícia que o homem já alguma vez recebeu, pois, sempre lhe foi dito para inclinar a cabeça em sinal de vergonha. Na China, Burma e Índia, as religiões orientais pregaram, e a doutrina foi aceite também por alguns filósofos Gregos, que o destino do homem é determinado pêlos atos da sua vida anterior. A crença no renascimento, em conseqüência dos pecados anteriores, condenou o homem a tornar-se indolente assim como indiferente à justiça. Foi uma pesada pedra colocada em cima dele a qual não podia ser retirada nem pela sua bondade nem peia sua retidão mora!. De fato, o nascimento neste mundo era ele mesmo um sinal de pecaminosidade. Contudo, o Cristianismo não assinalou qualquer melhoramento. Em vez de apresentar um principio razoável de vida e moralidade, juntou a sua fé à crença no pecado original de Adão. Pregou que todo o homem nascia com uma natureza má porque tinha herdado o pecado do seu primeiro antepassado. E, este fardo de culpa precisava de um redentor divino e sem pecado que pudesse expiar pêlos pecados dos seres humanos, sacrificando a sua própria vida. Estas eram as crenças que tinham tornado o homem triste e melancólico quando Mohammad veio para proclamar que o homem tinha nascido sem qualquer culpa. Era uma mensagem de fé e esperança porque dizia ao homem que somente as suas ações eram responsáveis na sorte do seu destino. Ele recordou a todos os homens que se mantivessem no caminho reto e fugissem dos caminhos do mal. Na verdade, foi uma mensagem de esperança, pois que a humanidade estava ameaçada pelo pecado dominante da vida anterior e do pecado original de um antepassado distante. Ela dizia que o homem nascia com os melhores valores, inocente e livre de culpa. Agora ele tinha o poder de fazer ou de estragar o seu futuro através do seu próprio esforço.

“E pela alma e por Aquele que a aperfeiçoou, e a inspirou com a consciência do que é mau para ela e do que é bom para ela. É na verdade bem sucedido aquele que a faz crescer; e é na verdade mal sucedido aquele que a tolhe.” Longe de ser uma natureza ruim, o homem nasce sempre com uma verticalidade inata.

“Olha: Nós criamos o homem de uma gota de fluído espesso para
experimentá-lo; por isso fizemo-lo ouvir e saber!
Olha: Nós mostramos-lhe o caminho, quer ele seJa reconhecido
ou descrente.”

O Alcorão chama também a atenção do homem para as suas responsabilidades:

“ó Homem! O que é que te faz descuidado a respeito do
teu Senhor, o Generoso, que te criou e, então, te afeiçoou
e deu proporções? Compôs-te na forma que Ele quis”

Mohammad explica que a religião era uma necessidade da natureza humana ou mais exatamente, que as duas eram idênticas. O vício não era mais do que uma doença não inerente à natureza humana, mas de desenvolvimento extrínseco.

“Assim, temos a tua resolução, ó Mohammad, pela religião
como um homem Justo por natureza — a natureza emoldurada
em Allah na qual Ele criou o homem. Não podem ser alteradas
as leis da criação de Allah. Esta é a verdadeira religião, mas
a maior parte dos homens não o sabe.”

A mensagem contida neste versículo do Alcorão foi admiravelmente explicada pelo Profeta quando ele disse que “não há nenhuma criança que nasça que não tenha uma mente incorrupta, mas são os seus pais que fazem dela um Judeu ou um Cristão ou um Mago. Toda a fera dá à luz um filhote sadio. Já os viram nascer com as orelhas deformadas?” Não é difícil de imaginar como a Mensagem de Mohammad foi uma nova de bondade e alegria. Como deu esperança à humanidade condenada por pecados que nunca havia cometido, e como infundiu o sentido de responsabilidade, e de liberdade em cada homem, a quem foi dado o poder para traçar o seu próprio caminho para a Salvação Eterna!

Ahmad D. Azhar escreve: “No Cristianismo o homem nasce em pecado. A menos que esta crença seja sustentada, a expiação não pode ser observada a não ser que se acredite que Jesus é Deus vestido de homem. Este pecado-consciência originou uma culpa consciência na Cristandade, sendo o único fator, mais do que qualquer outro, na supressão da confiança humana neste mundo.
No Islam, tal como no Velho Testamento na Bíblia, o homem nasce puro… Este fato, mais do que qualquer outro, produz a auto-confiança que conduz (ou deveria conduzir, diferentes coisas são iguais) à investigação e conquista da natureza. Que os Muçulmanos tenham caído do seu pedestal de sabedoria significa que desistiram do verdadeiro islam. Que os Europeus os tenham substituído neste pedestal significa que desistiram “do verdadeiro Cristianismo” — e adotaram o espírito do Islam.”

“O Bem e o Mal, segundo Gahzali, pode ser conhecido através da razão. Neste mundo extraordinário é possível ao homem atuar viciosamente, ou virtuosamente. E o homem é responsável pêlos seus atos neste mundo. Cada homem deve ver o resultado das suas próprias ações, e ser recompensado ou castigado depois da morte. Deus não pune o homem, mas o homem pune-se a si mesmo. Se um homem bebesse arsênico morreria, e seria absurdo dizer porque é que o veneno o afetou, O Summum Bonum para o homem é agir virtuosamente, e deste modo deixar explicito a real e profunda afinidade entre ele próprio, e Deus. Isto resulta em amor completo, quando o amor a tudo, exceto a Deus, é inteiramente apagado do coração, de modo que o homem vive, existe e atua em, e para Deus. E só encontra alegria ou paz na contemplação e amor a Deus. Esta capacidade de amor e ‘ conhecimento é imortal, e só no seu desenvolvimento pelo homem, ela atinge a mais alta perfeição.

“O vicio, segundo Ghazali, é a doença da alma. Os Profetas, segundo ele, eram médicos espirituais que guiavam e curavam o homem das suas doenças mentais e espirituais, e evidenciou a sua aguda capacidade de análise psicológica. Este não é o lugar próprio para discutir as práticas éticas ou -a psicoterapia de Ghazali.”

S. Abul Hasan Ali Nadwi escreve: “Só o Islam, é a religião que abarca todos os aspectos da vida- Não se interpõe como uma barreira entre o homem e o seu legitimo direito de viver. Não vê a existência terrena do homem como sendo um sombrio vale de tristezas e castigos, devido a algum pecado original, ou pecado hereditário- Ao mesmo tempo, não vê esta vida como sendo uma fugaz oportunidade para satisfação material, ou um lugar para deleite sensual. O islam proclama a vida como sendo uma dádiva Divina, de maneira que o homem possa alcançar a proximidade até Deus, e atingir a perfeição fazendo uso completo de todas, as possibilidades do seu corpo e do seu espírito. É uma oportunidade destinada ao comportamento, no sentido de nos tornar melhores; não voltará outra ocasião depois:

Ele que criou a vida e a morte para experimentar-vos e ver qual de
vós é o melhor na conduta.” (Alcorão, 67: 2).
“Nós colocamos tudo isso que existe na terra como seu ornamento,
para que possamos experimentá-los: — para saber qual deles é que
tem melhor conduta.” (Alcorão, 18: 7)

Assim, no Islam o homem tem sido considerado livre de qualquer pecado hereditário. Ele nasce como criatura superior, q tem sido ordenado pelo seu Criador para que agisse segundo os Seus Mandamentos neste mundo, a fim de, na Vida Futura, tenha sucesso e alcance a salvação.

3 – O conceito da divindade e da Unidade de Deus no Islam :

O Islam não divide a Divindade em partes. Ele associa toda a Divindade a um Deus, o Qual é tido como sendo o Supremo Divino. Ninguém compartilha a Divindade com Ele, Ele é um só. O Sagrado Alcorão diz-nos:

“Diz: Ele é Allah (Deus), o Único!
Allah eternamente procurado por todos!
Ele não procriou nem foi procriado.
E não há ninguém que se Lhe compare!”

A concepção de Deus que o Islam nos apresenta”, escreve S. Abul A’la Maududi, “é o de que Ele é o único Mestre, Criador e Soberano do homem, bem como do Universo inteiro, e que não há ninguém que partilhe com Ele nenhuma parte destas prerrogativas e atributos. Não há ninguém que exerça sobre Ele a mais pequena influência e obtenha a aceitação das suas recomendações, exceto como uma graça d’ ele e, essa, também, se chegar a Ele em estado de súplica piedosa. O sucesso, ou o fracasso de todo o homem, depende da sua própria conduta; ninguém pode expiar um por outro, nem um peso de um ser colocado na cabeça de outro. Não há nenhum favoritismo ou parcialidade com Ele para que devesse ter maior interesse por um indivíduo, família, nação ou raça; aos Seus olhos todos os homens são iguais; só existe um código moral para todos, e aos Seus olhos a única superioridade que conta é a superioridade moral. Ele próprio é generoso e gosta da generosidade; Ele é clemente e, por isso gosta do perdão; Ele é justo e por isso gosta de justiça. Ele é livre de toda a injustiça, tacanhez, crueldade e dureza de coração, fanatismo e parcialidade e, por isso. só gosta daqueles que estão libertos destes vícios.. Mais ainda: todo o orgulho e grandeza são de Seu exclusivo direito e, por isso, a arrogância em qualquer ser humano, embora ilustre, causa-lhe desagrado; todas as qualidades e atributos divinos só a Ele pertencem. Ele. portanto, não gosta de ninguém que se comporte como Deus com uma pessoa ou um grupo de pessoas. Ele é o único dono do que quer que existe no Céu e na Terra, e o que nos parece como pertença de outros, está realmente, na natureza do monopólio. Assim sendo, qualquer criatura que se obstine em ser uma autoridade independente, ou é suficientemente presunçosa para legislar para outros, ou comete a imprudência de reclamar para si o que é de outra pessoa, ou grupo de pessoas; automaticamente coloca-se mal, pois Ele é o Senhor Soberano de tudo, e o bem de tudo assenta implicitamente em obedecer-lhe.

Além do mais, ele é o concessionário de todas as benesses e, como tal, é de seu direito que as suas dádivas sejam utilizadas de acordo com a Sua vontade. Ele é justo e por isso obriga a que as Suas criaturas esperem por recompensas, e temam castigos da Sua Justiça; Ele é onisciente, e conhece também os motivos escondidos da intenção humana e, como tal, ninguém O pode enganar por uma mostra exterior de virtude. Ele está todo circundado, e, por conseguinte, ninguém pode alimentar a ilusão de que pode cometer crimes contra Ele impunemente.

Meditai profundamente, sobre esta concepção de Deus. A partir desta concepção, emerge, naturalmente, a forma de um sistema ético perfeito para o homem, sistema esse, que é livre de todos aqueles defeitos que degradam a vida moral das religiões idólatras, e dos credos ateisticos. Aqui não há portas das traseiras para escapar aos deveres morais, nem há qualquer espaço para aquelas filosofias diabólicas, cujos protagonistas dividem a humanidade em duas partes assentes na base dos seus próprios interesses, em relação a uma das quais eles são a verdadeira alma da bondade e da nobreza, quando, comportando-se à semelhança de um perfeito amigo, nesta concepção de Deus, nenhuma base há para aquela moralidade dualista sob a qual nenhuma força de caráter pode ser elevada. Juntamente com estas qualidades negativas, esta concepção de Deus tem o mérito de fixar o mais sublime ideal de superioridade moral e puro incentivo para o empenho mora! do ser humano.”

4 – O lugar do Homem no Universo:

Outra base fundamental do sistema ético do Islam é o estatuto que é dado ao homem no Universo. O Sagrado Alcorão diz-nos que o homem é o sub-gerente de Allah na Terra:

“E quando o teu Senhor disse aos anjos: Olhai! vou colocar um
sub-gerente na Terra…”

Na posição de sub-gerente, ou representante de Allah, o homem é obrigado a obedecer-Lhe em todos os aspectos de Seu servo. Um servo deve obedecer ao seu Amo, similarmente o homem deve ser obediente para com o seu Grande Mestre. É Deus Todo Poderoso, Quem decide do critério do bem e do mal, do certo e do errado. Ele guiou o homem sobre estes critérios através da cadeia dos Seus Profetas e Mensageiros, o último dos quais é Mohammad, ( SAAS ). Assim sendo, as regras, leis e regulamentos trazidos pelo Profeta Mohammad ( SAAS ) são definitivas.

S. Abul A’la Maududi, escreve: “A questão, qual é o critério do certo e do errado no propósito da conduta humana e qual é o bem último para o qual o homem devia dirigir os seus esforços de realização, é, na verdade, a questão que se põe mais tarde. O primeiro problema a ser tratado é a questão do estatuto do homem neste universo físico. Esta questão é prioritária sobre todas as outras, porque sem se determinar o lugar certo do homem no esquema universal das coisas, as possibilidades são, que qualquer sistema moral formulado deste modo, não só não terá significado mas, também, será basicamente errado em todas as probabilidades. Por exemplo, se tiverdes de determinar a vossa conduta em relação a um bem, e decidir até que ponto, e de que forma é correto para vós utilizá-lo a seu favor, vós deveis, em primeiro lugar, verificar o vosso estatuto legal a respeito do bem, e descobrir qual a vossa situação em relação a ele. Se a propriedade, ou bem pertence a outra pessoa, e a vossa posição é meramente a de um mandatário, a vossa conduta deve, por necessidade ser diferente da que seria se fosseis o dono de pleno direito. E isto, por si só, não torna a questão do estatuto decisiva na determinação da vossa conduta no caso da propriedade em causa mas, sobre ela, também depende a decisão, a respeito daquele em quem legitimamente recair, o certo e o errado, de conduzir por vós, em relação à suposta propriedade, se vós próprios ou a pessoa de quem vós sois o agente.

O Islam ataca esta mesma questão antes de tudo o mais, e diz-nos, claramente, e sem qualquer sombra de ambigüidade, que o estatuto do homem neste Mundo é o de servo e representante de Deus. Todas as coisas no Mundo com as quais ele tenha contacto pertencem a Deus; até mesmo o seu próprio corpo e as capacidades a ele inerentes não são verdadeiramente suas. Deus designou-o sub-gerente dando-lhe o poder de utilizar estes objetos em sua vantagem. E nisto reside o seu teste- O resultado final deste teste não será dado neste mundo; mas na altura em que as tarefas dos indivíduos, dos povos, e da humanidade, e as conseqüências, e os efeitos das suas ações e dos seus esforços, atingirem completa fruição. Será, então, que Deus examinará a conta de cada ser humano e decidirá quem, exatamente, executou os deveres da sua representação e serviço, e quem não o fez. E este exame não será confinado a uma só coisa ou departamento da vida, mas cobrirá todo o âmbito da sua conduta individual e social. Será um exame de todas as faculdades da sua mente e do seu corpo, com as quais ele foi contemplado e. também, sobre toda a espécie de autoridade e do poder sobre os objetos exteriores que lhe foram delegados.

O estatuto do homem no Universo foi deste modo determinado. Logicamente disto resulta que, ele, não tem o direito de estabelecer a lei da sua conduta e de decidir se está certa ou errada. Esta é uma função que pertence exclusivamente a Deus. Uma vez aceite este fato, todas as questões éticas que têm vindo a agitar os filósofos desde eras passadas, encontram soluções fáceis que estão tão definidas, que não deixam qualquer oportunidade para aquelas profundas e definidas diferenças de pensamento que têm forçado diferentes sectores da humanidade a seguir caminhos muito divergentes, resultando em conflito social, caos moral, e desunião intelectual. Se, a posição atribuída ao homem pelo Islam é por ele aceite, então fica automaticamente estabelecido que passar o teste prescrito por Deus e alcançar o contentamento e o Bem Supremo, é a verdadeira finalidade da vida humana; e ainda: o critério do certo ou do errado, na conduta humana, assenta no determinar até onde ela ajuda ou impede o homem na obtenção deste Supremo Bem. Similarmente, a questão quanto ao que é a verdadeira fonte de conhecimento do bem e do mal, do certo e do errado, está também estabelecida. Torna-se evidente que a orientação fornecida por Deus através dos Seus Profetas é essa fonte. Outras fontes de conhecimento podem ser usadas somente como auxiliares, mas nenhuma delas merece ser tratada como sua substituta.

A verdadeira aprovação da moralidade é o temor a Deus, motivo exacto pelo qual devemos ser impelidos a observar os cânones da moralidade, e abstermo-nos da conduta imoral; amar a Deus deve ser o desejo de procurar o Seu contentamento, e de temer o Seu descontentamento.

Deste modo não só os problemas básicos da moral estão resolvidos mas, também, o sistema da moralidade construído sobre este princípio, incorporando devidamente dentro de si todas as idéias de moralidade apresentadas ao mundo, de vez em quando, por pensadores e filósofos, dando-lhes o seu devido lugar dentro da sua estrutura. O defeito destes sistemas éticos não é o de estarem totalmente desprovidos de verdades, mas o de tratarem alguns aspectos particulares da verdade como sendo toda a verdade. Ao converter uma parte da verdade em toda a verdade, eles têm a necessidade de fornecer os elos que faltam pelo esboço das suas experiências pessoais, e pela imaginação fantasiosa, as quais introduzem muitos elementos de erro. Por outro lado, o Islam apresenta toda a verdade, e nesta verdade inteira todas as verdades parciais, isoladas umas das outras e separadamente imperfeitas, são absorvidas numa perfeita unidade.”

5 – Nenhum Isolamento da Vida Social:

O Islam não pede ao homem que esteja afastado da vida social no sentido de obter piedade; pelo contrário: condena todos os atos que possam resultar em masoquismo. O Sagrado Alcorão afirma:

“… Mas, a vida monástica foi inventada por eles — que Nós não
ordenamos para eles. Nós apenas lhes prescrevemos o desejo
de agradar a Allah, mas eles não o observaram como deviam.”

O Islam não se ocupa somente com os caminhos da devoção, as formas de adoração, e os meios que proporcionam ao homem alcançar a comunhão com Deus mas, também, e em maior minúcia, com os problemas do mundo à nossa volta, com questões relativas ao relacionamento entre os homens, e a sua vida social e política, instituições do casamento, divórcio e herança, divisão da riqueza e relações de trabalho e capital, administração da justiça, organização militar, paz e guerra, finanças nacionais, dívidas e contratos, regras para o serviço da humanidade e, até, tratamento de animais, leis para a ajuda aos pobres, aos órfãos e às viúvas, e centenas de outras questões: o entendimento perfeito do que é que permite ao homem chegar a uma vida feliz. Deu-nos um tal código ético, que guia o homem em todas as esferas de ação da sua vida.

A aspiração de alcançar a grandeza morai e a supremacia, ética é, de fato, implantada na natureza humana mais profundamente do que a aspiração de atingir a grandeza material. O Islamismo diz-nos que o único caminho com que o primeiro daqueles postulados pode ser realizado é o estar em contacto com o Supremo Senhor, a origem de toda a pureza e a fonte da moral mais elevada. O Sagrado Alcorão diz:

“Os nomes mais belos (i.e. todos os perfeitos atributos)
pertencem a Allan.”

Se, através das orações, o homem fica em contacto com Ele e os Seus Perfeitos Atributos, através da ética ele fica em contacto com as Suas criaturas, ganhando desse modo o Seu eterno Contentamento. Ê aqueles que estão desatentos com respeito às suas orações, também faltam à referida moralidade:

“Tens observado aquele que nega a religião? Ele é aquele
que repele o órfão; e não procura alimentar os necessitados.
Ah! desgraça para os adoradores que são negligentes nas suas
orações: que são vistos a prestar o culto e, contudo, recusam
(fazer) pequenos obséquios”.

Em oposição ao acima citado. Ele gosta daqueles que não só confirmam as suas orações regularmente mas, que também gastam a sua riqueza a ajudar os pobres e os necessitados:

“Olha: o homem foi criado ansioso; impaciente, quando o mal
o atinge; e insolente, quando o bem o alcança; salvo os que
rezam, que são constantes no seu culto, e a cuja riqueza
há um direito reconhecido para os pobres e para os destituídos;
e aqueles que crêem no Dia do Julgamento, e aqueles que
temem o castigo do seu Senhor — Olha: o castigo do Seu Senhor
é esse perante o qual ninguém se pode sentir seguro.. .”

Desta forma, o Islam ligou a ética e a boa moral com as crenças e as devoções, e assim guiou o homem em direção a um completo e mais perfeito modo de vida, no qual todo o homem foi considerado como sendo uma peça importante da sociedade. Se o homem se retirasse da vida social, e seguisse uma vida monástica, ele não teria a oportunidade de aplicar a sua ética e a sua moral de um modo prático. Além disso, toda a estrutura social da raça humana ruiria se os homens iniciassem o monarquismo, e se, se desligassem da sociedade.

Sayyid Qutub, escreve: “A revelada religião de Deus oferece ao mundo inteiro uma ampla e completa explicação da existência, e do seu relacionamento com o Criador. Ela determina, completamente, o tipo de relações que compreende os mais altos objetivos humanos, bem como os direitos naturais a que o homem tem direito, e os meios pêlos quais ele pode alcançar o maior dos objetivos — os meios pêlos quais ele ganha as bênçãos de Deus, assegurando a sua felicidade neste mundo e no outro. Isto só pode ser alcançado seguindo um integral e irrefutável sistema que não o divida em fragmentos psicológicos mas, que o salva da maligna doença da esquizofrenia. Deste modo, ele evitará a colisão final entre a sua natureza e a ordem natural de todo o universo.

Toda a religião divinamente inspirada é constituída de modo a prover o homem com as bases desse Credo uniforme pelo qual eles podem fabricar os elementos práticos, emocionais ou espirituais das suas vidas. A missão da religião, basicamente, é estabelecer um contacto funcionai entre a humanidade e a Divina Realidade, e providenciar para a correlação entre o seu modo de vida e o sistema único de Deus, criando, desse modo, harmonia e homogeneidade entre as suas crenças e as suas práticas, entre as suas direções e as do universo.

As religiões inspiradas por Deus são concebidas de modo a penetrarem dentro de todas as fibras das atividades da vida, e não para funcionarem como meras emoções sentimentais, que estagnam nas profundezas do coração.

Nem as crenças reveladas são destinadas a servir como tutoras de alguns principies éticos, ou como rituais rudimentares para superficiais execuções nas igrejas ou mesquitas, ou como o assim chamado assunte pessoal (status personalis) limitado a um só lado da vida. Deus diz no Sagrado Alcorão:

“Nós não enviaríamos um Mensageiro a não ser que fosse para ser
obedecido em nome de Deus”. (4: 64).”

Mais à frente ele descreve: “não é natural que a religião seja segregada da vida neste mundo, nem é natural que o sistema Divino seja confinado a sentimentos conscienciosos, regras éticas e adoração ritualista.Nem está na sua natureza ser emparedada num canto restrito da vida humana, e ser rotulada de “assunto pessoal”.

Uma religião revelada nunca pode escolher um limitado sector da vida humana e submetê-lo a Deus, ou ficar contente com a negatividade, enquanto outros sectores e ações positivas estão submetidas à administração de outros deuses, quer individualmente ou coletivamente, reforçando tais leis, doutrinas, instituições e organizações, como acharem conveniente.

Não está na natureza de uma religião revelada iniciar uma estrada para a Vida Futura, uma estrada que conduza as pessoas ao Paraíso, à exceção daquele reconhecido caminho de trabalho ativo, e daquela labuta no sentido de desenvolver a vida de acordo com o sistema aprovado por Deus.

Não está na natureza de uma religião revelada, tornar-se num irrelevante brinquedo, num desfigurado e insignificante fantasma, ou num aglomerado de funções convencionais e completamente inconsistentes com as regras para uma vida prática.

Não está na natureza de uma religião revelada, até àquelas não reveladas por Deus, aceitar tal deformada e triste perspectiva. De que modo, então, este mal-estar negativista veio contaminar a religião? Como é que esta deplorável distinção entre a religião e a vida aconteceu?

Esta horrível esquizofrenia ocorreu sob lamentáveis circunstâncias, deixando os seus destrutivos traços na Europa, e de lá passando para todo o mundo onde quer que pontos de vista Ocidentais, instituições e modo de vida, tenham conquistado outras sociedades humanas. Uma vez as pessoas desviadas do sistema de Deus, tinham de continuar a seguir as suas presumidas ideologias por ele inventadas, que, previsivelmente, as conduziram ao seu presente e miserável estado, no qual os indivíduos sofrem as terríveis conseqüências da sua deficiente ideologia, lamentando-se da dor sobre eles infligida pêlos seus semelhantes. Ainda pior é a sua ineficiência em libertarem-se do Inferno por eles construído.”36 Mais tarde Sayyid Quíub comentou os fatos históricos que conduziram à horrível Esquizofrenia.

0 Islam, sendo uma religião Natural e Divina, condena todas as formas da Horrível Esquizofrenia e do afastamento da vida social. O sistema ético do Islam e os seus ensinamentos morais são completamente vantajosos somente quando o homem permanece como membro ativo da sociedade.

6- A Universalidade

A Universalidade é o traço mais fundamental e a característica básica do Islam. A Mensagem do Profeta Mohammad – A Mensagem do Islam – não é restrita a uma nação em particular, raça, cor ou língua. é na verdade, uma Mensagem Universal. O Deus do Islam é o Deus de todos os Mundos – O Senhor, Acarinhador e Sustentador dos Mundos:

“Em nome de Allah, Beneficente e Misericordioso. Louvado seja
Allah, Senhor dos Mundos.. ,”

E o Profeta do Islam, o Profeta Mohammad ( SAAS ), é a misericórdia para todos nós:

“Nós não te enviamos senão como uma clemência para os povos (i.e. para todas as criaturas).”
“E nós não te enviamos a ti, ó Mohammad, salvo como um arauto de boas novas e um conselheiro para todos os homens; mas, a maior parte dos homens não o sabe.”

Não encontramos esta Universalidade cm nenhum dos anteriores Profetas ou Mensageiros de Allah. Foi somente Mohammad ( SAAS ) que foi enviado com uma Mensagem Universal para todas as Nações do Mundo, e para todo o sempre até ao Dia do Julgamento.

“Antes do advento do Islam”, diz S. Suiaiman Nadwi, “o Mundo estava dividido em diferentes tribos, clãs e famílias; cada uma delas mantinha-se à parte, e eram indiferentes umas às outras. Para os sábios da antiga Índia, a voz de Deus não podia ser ouvida em parte alguma, salvo na sua sagrada terra. O Deus deles era o Deus do seu país, cujas bênçãos eram limitadas a poucas e selecionadas castas, e a clãs de governantes, e a padres de Aryaverta. Zoroastro escutou a mensagem do Alto, mas só para o povo do abençoado irão, Os filhos de Israel acreditavam na voz da profecia, mas o profeta da paz, que eles aguardavam, não podia ser de outro povo que não o da linhagem de David.

Nenhum país e nenhum, povo estava disposto a partilhar sequer as graças e bênçãos de Deus com um povo que não fosse o deles. Foi então, que Mohammad chegou com a Mensagem para todas as terras e países. Ele disse ao mundo que a orientação divina não admitia distinções de raça ou de linguagem, de cor ou de país: Palestina e Irão, índia e Arábia, eram todos iguais aos olhos de Deus. Foi dito ao mundo, pela primeira vez, que Deus tinha enviado os Seus apóstolos a todos os países e nações para guiar os homens:

“E não ha uma nação peia qual não tenha passado
um conselheiro!” (Alcorão, 35: 24)
“E para cada povo um guia.” (Alcorão, 13: 7).
“Na verdade Nós enviamos antes de ti, Mohammad,
mensageiros aos seus próprios povos”. (Alcorão, 30: 47)

O Judeu não reconhece um profeta não-Israelita. Para o Cristão não é de todo necessário aceitar o apostolado de um profeta Hebreu, ou de um. nascido entre outro povo; ele não é obrigado, pela sua fé, a reconhecer qualquer mensageiro de Deus, salvo Jesus Cristo. Para o Zoroastrista nenhum país do mundo, exceto o Irão, foi iluminado pela luz-divina. Mas Mohammad proclamou que toda a raça humana, vivendo em qualquer país do mundo, era a criação de Um Deus, e que todos os povos e raças eram igualmente abençoadas pelo Senhor. Quer fosse no Irão ou na Índia, na China ou na Grécia, na Arábia ou na Assíria, Deus mandou a luz da Sua orientação a todos os cantos e esquinas do mundo. Os Seus Apóstolos vieram para mostrar o Caminho da Virtude e da Bondade a todas as raças e a todas as nações. Ele pôs tanta ênfase no caráter universal da direção Divina, que nenhum Muçulmano podia pretender ser crente a menos que reconhecesse todos os Mensageiros de Deus e todas as Escrituras ou Mensagens trazidas por aqueles ao povo do Mundo. Um Muçulmano tem, assim, que confirmar o apostolado de todos os profetas de Deus, quer os enumerados no Alcorão, quer não, pois todos eles vieram com a mesma mensagem de verdade para os seus povos.

De acordo com o Alcorão, só são Muçulmanos:

“Que crêem na Escritura enviada do Céu que te foi, Mohammad,
revelada, e naquelas dadas a conhecer antes de ti…” (Alcorão, 2: 4).

Outra vez, noutra passagem, o Alcorão diz:

“… Mas, justo é aquele que crê em Allah, no Último Dia,
nos anjos, nas Escrituras e nos profetas. “(Alcorão, 2: 177)

O mesmo Surah do Alcorão engrandece a doutrina pela terceira vez:

“Cada um crê em Allah, nos seus Anjos, nas suas Escrituras e
nos seus Mensageiros. — Não fazemos distinções entre
nenhum dos Seus Mensageiros.” (Alcorão, 2: 285).

Nenhum Muçulmano tem a permissão para descriminar qualquer apóstolo de Deus:

“Ó vós que credes! Crede em Allah e no Seu Mensageiro
e na Escritura que ele revelou ao Seu Mensageiro, e na Escritura
que, antes, tinha sido revelada.” (Alcorão, 4: 136)

Existe uma outra religião que mostre a mesma grandeza de coração, ensinando igual reverência para todos os profetas, todos os homens de Deus e fundadores da religião? Antes de Mohammad alguém ensinou uma Mensagem tão Universal? Era a tolerância, o amor e a misericórdia do último Profeta que abarcou todas as famílias e todos os filhos de Adão.”

7 – A igualdade:

A Sociedade Islâmica é baseada na Igualdade e na Justiça Social. Os princípios da Religião e da Lei Islâmica (Shari’ah) são universais, e aplicam-se a todos, igualmente, sem considerar a raça, a cor, a nacionalidade ou a língua. A característica de tal sociedade deverá ser a igualdade entre os seus membros, como diz o Sagrado Alcorão:

“Ó seres humanos! Nós criamos-vos machos e fêmeas e fizemos de
vós nações e tribos, para que vos pudésseis conhecer uns aos
outros! Olhai; o mais nobre, entre vós, aos olhos de Allah é aquele
que tem melhor conduta. Olhai; Allah sabe e está apercebido!”

O mais importante mérito de uma pessoa está no seu caráter e na sua devoção. Mas, não quer dizer que tal pessoa deva ser considerada como pertencendo a uma classe privilegiada da sociedade. Até onde concernem os direitos cívicos, todos os cidadãos são iguais perante s Lei (Shari’ah). Se uma pessoa devota quebra a lei, ela deve ser tratada da mesma maneira que as outras pessoas seriam tratadas. A devoção aumenta o respeito de uma pessoa, mas não dá direito a usufruir de concessão especial em assuntos legais. O Sagrado Profeta disse claramente: “ó Humanidade! O Vosso Senhor é um Só; não há preferência por um Árabe sobre um não-Árabe (Ajam), nem por um não-Árabe (Ajam) sobre um Árabe, nem por um branco sobre um negro; mas apenas assente na base da devoção, ”

Noutra Tradição (Hadith) o Sagrado Profeta diz: “Todos os homens são iguais tal como os dentes de um pente”. Em vários livros de tradições (Hadith) é mencionado que nas suas preces (Du’as) o Sagrado Profeta ( SAAS ) costumava rezar:

“Ó Allah! Tu és o nosso Senhor e o Senhor de todas as coisas; eu testemunho que todos os homens são irmãos (uns para os outros).” Noutra Tradição o Sagrado Profeta disse:
“Todas as criaturas são (como) filhos de Allah (i.e. iguais para ele como todos os filhos de uma pessoa são iguais para ela), e o mais querido para Allah é aquele que trata os Seus Filhos com gentileza.”

Pondo todas as nações em igual posição, o Sagrado Alcorão declara:
“Ó vós que credes! Não deixeis que um povo amesquinhe
outro povo, que pode ser melhor que ele; não deixeis que
as mulheres amesquinhem outras mulheres que talvez sejam
melhores que elas; nem vos difameis uns aos outros, nem vos
insulteis uns aos outros com alcunhas. Mau é o nome da
depravação depois da fé. E aqueles que não voltam arrependidos
são os pecadores.”

Noutra passagem o Alcorão reza:

“Na verdade, nós temos honrado os filhos de Adão… ”

Diz outra vez:

“E falai com brandura a todos os homens…”

O valor de uma pessoa no Islam não e julgado pelo seu nascimento mas sim pelo seu caráter, conhecimento, devoção, eficiência e trabalho para causa do islam, O Islam oferece oportunidades iguais a todos, independentemente da cor, da raça, da casta, do nascimento ou da linguagem.

8 – A Justiça Social:

Uma sociedade baseada na igualdade deve observar a justiça social, senão o seu conceito de igualdade não seria perfeito. Por conseguinte, um dos princípios fundamentais de uma sociedade Islâmica é a justiça social. Justiça requer que todos sejam iguais aos olhos da lei, seja a!to ou baixo, rico ou pobre, governante ou governado, branco ou negro, Árabe ou não e Muçulmano ou não.
O Sagrado Alcorão diz:

“Na verdade, Allah ordena-nos a justiça e a bondade…”
“… E não deixai que o ódio de outros faça desviar-vos para
o mal e afastar-vos da justiça. Sede justos.. .”
“Na verdade, Nós mandamos os Nossos Mensageiros com
provas claras, e revelamos com elas a Escritura e o Critério
para que os homens possam observar a medida justa…”

O “Critério” (traduzido da palavra árabe Mizan que também quer dizer “a Balança”) nos versos acima citados, significa os mandamentos e as diretivas ordenando a justiça e a igualdade. O Sagrado Alcorão diz novamente:

“… Diz (Ó Mohammad, para toda a humanidade): Eu creio
em todas as Escrituras que Allah enviou para baixo; e eu fui
mandado ser justo entre vós. Allah é o nosso Senhor
e o vosso Senhor…”
“… Quando pronunciardes uma sentença, pronunciai-a com
justiça, mesmo que se trate de vosso parente… ”
“Ó vós que credes! Sede firmes na justiça; dai testemunho
perante Allah, mesmo que seja contra vós mesmos, contra vossos
pais ou parentes, quer se trate do caso de um homem rico
ou de um homem pobre, pois que Allah está mais perto de ambos
do que vós. Não sigais, portanto, a paixão com receio de
faltar à verdade e se faltardes então, olhai: Allah está sempre
ao par do que fazeis! ”

Existe uma série de injunções do Alcorão sobre justiça imparcial. Num sítio Allah pediu ao Sagrado Profeta ( SAAS ) que declarasse:

“… E eu fui mandado ser justo entre vós… ”

O Sagrado Profeta, ( SAAS ), disse: “As pessoas justas sentar-se-ão nos pilares da luz (no Dia do Julgamento} perante Allah.”46 De acordo com outra Tradição (Hadith), ele afirmou: “muitas pessoas foram punidas e destruídas (por Allah) antes de vós, porque castigaram pessoas fracas e perdoaram nobres tendo eles cometido um crime.Eu juro por Allah, Que detém a vida de Mohammad, que se Fátima, filha de Mohammad, roubar, a mão dela será também cortada (de acordo com a Lei Divina).”

Em estado de ira, um juiz pode dar uma sentença errada, e, por isso, o Sagrado Profeta disse: “Nenhum juiz deve ditar a sentença entre duas pessoas quando estiver irado.”

Outra tradição afirma: O Sagrado Profeta, ( SAAS ), disse: “Os Juizes são de três tipos, um dos quais irá para o Paraíso, e os dois restantes para o Inferno. O que irá para o Paraíso é um homem que sabe o que está certo e, conseqüentemente, dá sentenças corretas: mas, um homem que sabe o que está certo e que atua de modo tirânico ao dar as suas sentenças, irá para o Inferno; e um homem ignorante que dita as suas sentenças para as pessoas irá, também, para o Inferno.”

De acordo com uma tradição (Hadith), uma mulher pertencente a uma tribo respeitável roubou algo e foi levada perante o Sagrado Profeta. A tribo daquela mulher abordou Hadrat Usamah para interceder junto do Profeta a favor da mulher. Quando Usamah pediu ao Sagrado Profeta para a perdoar, o Profeta ficou zangado e disse: ”… Se Fátima, filha de Mohammad, roubar, a sua mão será cortada (de acordo com a lei).” Depois o Sagrado Profeta ( SAAS ) ordenou que a mão da mulher fosse cortada de acordo com a Lei islâmica.

Uma vez, um judeu veio junto do Profeta e queixou-se que Abdullah Ibn al-Aslami lhe devia quatro drahms e não lhos tinha pago. O Sagrado Profeta, ( SAAS ), ordenou a Abdullah que pagasse o empréstimo. Abdullah não tinha dinheiro na altura. Ele vendeu o seu lençol ao Judeu por quatro drahms, e pagou o empréstimo.

Um incidente muito interessante, demonstrativo de justiça social e de igualdade, ocorreu durante o Califato de Hadrat ‘Umar (fíadiailahu ‘Anhu). Jabaía, Rei de Ghassanides, tendo abraçado a Fé Islâmica, marchou para Meca a fim de prestar, a sua homenagem ao Califa. Entrou na cidade com grande pompa e cerimônia, e foi recebido com grande consideração. Enquanto executava a Tawaf (ou, circum-percorria a Kabah), um humilde peregrino entregue ao mesmo dever sagrado, acidentalmente deixou cair uma peça ao seu vestuário de peregrino sobre os ombros reais. Jabaia virou-se furioso e deu-lhe um murro que arrancou os dentes ao pobre homem. O reste deste episódio tem de ser contado nas palavras memoráveis do próprio ‘Umar oara Abu ‘Ubaidah, Comandante das tropas Muçulmanas na Síria. “O pobre nome veio até mim – escreve o Califa – e pediu uma reparação. Mandei chamar Jabala, e quando ele chegou, perguntei-lhe porque é que ele tinha maltratado assim um irmão Muçulmano. Ele respondeu-me que o homem o tinha insultado, e não fora pela Santidade do lugar tê-lo-ia morto no local. Respondi-lhe que as suas palavras agravavam a sua ofensa e que, a menos que ele obtivesse o perdão do homem injuriado, teria de se submeter à penalidade habitual da lei. Jabala replicou: “Eu sou um rei, e o outro é só um homem comum.” Rei ou não, ambos são Muçulmanos e ambos são iguais aos olhos da lei.” Ele pediu que a penalidade fosse adiada até ao dia seguinte, e com o consentimento do injuriado, ordenei o adiamento. Durante a noite Jabala fugiu e juntou-se ao … cão.52 Mas Allah, conceder-vos a vitória sobre eles e sobre os da sua laia.. .”

Por conseguinte, na sociedade Islâmica, todos são iguais perante a lei, e os julgamentos são feitos à base da justiça, igualdade e testemunhos verdadeiros.

9 – O Estatuto das Mulheres:

As mulheres foram consideradas como uma unidade importante da sociedade tal como o homem. Numa sociedade Islâmica não existem diferentes disposições de moralidade e ética para homens e mulheres. Na verdade, os homens e as mulheres têm de alcançar os mesmos padrões morais, e as penalidades por violação às leis morais são as mesmas para ambos. Ambos têm de promover e cultivar as mesmas virtudes Islâmicas, a saber: A Fé (em Allah e nos seus mensageiros), a adoração e a devoção, a caridade, a humildade, a castidade e a honestidade, etc. Estas virtudes são tão importantes e necessárias às mulheres como aos homens. Similarmente, ambos, homens e mulheres, têm direitos e deveres espirituais e humanos em igual grau. Ambos os sexos têm também direitos culturais iguais. O Sagrado Profeta ( SAAS ), pediu a todos os Muçulmanos que adquirissem a sabedoria. Ele diz: “Procurar a sabedoria é um dever de todos os Muçulmanos, homem e mulher”.

O Sagrado Alcorão declara que ambos os sexos estão em igual posição no que concerne à recompensa na vida futura:

“Os homens que se submetem a Allah e as mulheres que
se submetem, e homens que crêem e mulheres que crêem, e
homens que obedecem e mulheres que obedecem, e homens
que falam a verdade e mulheres que falam a verdade, e
homens que perseveram na retidão e mulheres que perseveram,
e homens que são humildes e mulheres que são humildes,
e homens que dão esmolas e mulheres que dão esmolas, e
homens que jejuam e mulheres que jejuam, e homens que
conservam a sua modéstia e mulheres que conservam a sua
modéstia, e homens que recordam muito a Allah e mulheres que
recordam: – Allah preparou para eles o perdão e uma vasta
recompensa.”

Noutra passagem o Alcorão diz:

“Todo aquele que pratica o bem, homem ou mulher, e é crente,
Nós, na verdade, lhe daremos, sem tardar, uma vida feliz e uma
recompensa em proporção com o melhor que eles costumavam
fazer. ”

O Sagrado Alcorão estabelece a igualdade do estatuto humanitário entre homens e mulheres em termos claros:

“Ó humanidade! Sede cuidadosos nos vossos deveres para
vosso Senhor que vos criou de um só homem, de quem formou
a mulher e, de ambos, se espalhou por toda a terra uma multidão
de homens e mulheres. Sede cuidadosos nos vossos deveres para
Allah que invocais quando reclamais os vossos direitos de uns
aos outros, e para os ventres que vos criaram. Olhai! Allah
vigia-vos atentamente.”

Também diz:

“… Não deixarei que se perca o trabalho de qualquer trabalhador,
seja homem ou mulher. Vós procedeis uns dos outros. Portanto,
esses que fugiram e foram expulsos das suas casas e sofreram
danos por Minha causa, combateram e foram mortos, na verdade
Eu lhes perdoarei as suas más ações e na verdade os levarei
para os Jardins sob cujas ramadas correm os rios. — Uma
recompensa de Allah. E, com Allah, é a mais bela
das recompensas.”

Por conseguinte, ambos os sexos têm iguais deveres e direitos, quer espirituais, quer humanos. No entanto, para o bem da gestão e administração da família, e assuntos caseiros, os homens têm vantagem sobre as mulheres. De qualquer modo, ambos têm os mesmos direitos ao nível social. O Sagrado Alcorão reza:

“As mulheres têm os mesmos direitos sobre os homens,
como os homens têm-no sobre as mulheres, em bondade e
igualdade; mas os homens têm um grau de vantagem sobre elas.
E Allah é Poderoso e Sábio.”

A razão disto é dita noutra passagem do Sagrado Alcorão;

“Os homens têm autoridade sobre as mulheres porque Allah
fez com que eles as excedessem e porque gastam dos seus bens
(para manter as mulheres).. .”

A palavra arábica usada para os “protetores e defensores” no texto é: “Qawwamun” (pi. de Qawwam) que significa: “aquele que se mantém firme num negócio de outrem, protege os seus interesses, e olha pêlos seus negócios; ou, mantêm se firme no seu próprio negócio, gerindo os assuntos com um seguro propósito.”

A constituição natural do homem é muito mais forte que a da mulher, por isso ele foi encarregado da tarefa de “protetor e defensor da mulher. É devido a esta razão natural que o Sagrado Alcorão lhe deu “um grau de vantagem” sobre o seu comportamento feminino. Na justiça natural, como já vimos anteriormente, o Sagrado Alcorão colocou ambos no mesmo pé de igualdade- No que diz respeito ao tratamento com as esposas o Sagrado Alcorão pede aos homens:

“…Vivei com elas no mesmo plano de bondade e igualdade.’

O Sagrado Profeta disse: “O melhor entre vós é aquele que é bom para com a sua mulher (e membros da família).” E também disse: “É um bom homem (perante Deus e os homens) aquele que é bom para a sua esposa e família.’ No seu memorável sermão, por ocasião do “Haj de Adeus” (Hajjatal-Wada), o Sagrado Profeta, ( SAAS, falou longamente sobre a mulher:

“Ó povo! Olhai: há direitos a favor das vossas esposas que
são vossas obrigações, e há direitos a vosso favor que são
obrigações delas.A
obrigação delas, com respeito a vós, é que elas não deixarão
as vossas camas serem freqüentadas por outros que não vós; não
‘\ permitirão entrar em vossas casas aqueles de quem vós não
gostais, sem a vossa autorização; e não cometerão torpitude.
Se elas o fizerem, então Deus deu-vos permissão de repreendê-las,
de separar-vos delas nas camas, e de serdes severos com elas,
mas não rudemente. Se elas se abstiverem e vos obedecerem,
então é a vossa obrigação proverdes à sua alimentação e
vestimenta, de acordo com o bom costume. Tratai bem as vossas
esposas, porque elas são como flores nas vossas casas, nada -•–
possuindo delas; e vós, da vossa parte, tomai-as como um penhor..
da parte de Allah, e permiti-vos a vossa satisfação com elas,
através da palavra de Allah. Tende, portanto, temor a Allah, em
relação às esposas, e tratai-as bem. Prestai atenção: tenho-os
informado ou não? Ó Allah: Sê testemunha.”

“A posição da mãe é muito exaltada na Tradição Islâmica. O Profeta Mohammad foi ao ponto de dizer: “Até o Paraíso fica debaixo do pés das vossas mães”. AI-Buknari relata: “Alguém perguntou ao Profeta qual a tarefa que mais agradava a Deus? Ele respondeu: “O da adoração até à hora marcada” e quando ele continuou “e depois disso?” O Profeta replicou: “Ser generoso para o vosso pai e vossa mãe”. O Alcorão volta a este assunto freqüentemente, e lembra ao homem que foi a sua mãe que o gerou no seu ventre, sofrendo muito por sua causa e criando-o depois de fazer toda a espécie de sacrifícios.”

“Com respeito às mulheres como filhas, a atitude Islâmica pode ser adivinhada pela reprovação que o Alcorão faz contra o comportamento pagão, pré-Islâmico, no nascimento de filhas: “E eles atribuem até filhas a Deus – seja Ele purificado (disto) – e até para eles próprios o que desejam (i.e.: filhos}; e quando um deles recebe a noticia do nascimento de uma fêmea, o seu semblante torna-se sombrio e sente-se intimamente revoltado. Ele esconde-se do povo por causa da má notícia que tivera (perguntando-se): guarda-la-emos em desprezo ou enterramo-la debaixo do pó? Verdadeiramente, mau é o seu julgamento”. (16:57-9). O Alcorão lembra, incessantemente, que Deus criou todas as coisas aos pares, e, para a procriação, ambos os sexos são indispensáveis, cada um deles tendo as suas funções específicas. E proclama “.. .a sorte de um homem depende daquilo que ele merece, e a sorte de uma mulher depende daquilo que ela merece”. (4: 32).

“A natureza não determinou uma perfeita igualdade entre os dois sexos, mas uma distribuição de vocações e funções. Por exemplo, não é possível a um homem conceber um bebe; do mesmo modo os atributos do homem não podem ser usados pela mulher. Ela tem uma constituição física mais delicada, que afeta até o peso do seu cérebro e dos seus ossos, e terá gostos em conformidade com a necessidade de conservação dessa delicadeza. Mais robusto, o homem terá mais força e por isso é mais dotado para se empenhar nas partes mais dolorosas da vida. Cada uma dessas partes serão ocupadas de acordo com as respectivas necessidades, umas e outras naturais e razoáveis.”

“Se existem certas desigualdades entre os dois sexos, em muitos outros aspectos da vida eles assemelham-se um ao outro. Por isso mesmo, os seus direitos e obrigações nesses domínios serão também similares.

Em suma, de certo modo, o ensinamento Islâmico sobre a mulher é: ela ser considerada igual ao homem em certos aspectos, e não em outros.”

Por conseguinte, o Islam apresentou a mais equilibrada opinião acerca das mulheres- O estatuto atribuído pelo Islam às mulheres, nunca lhes foi dado por nenhuma outra religião ou cultura.

10 – A Crença na Vida Depois da Morte (Akhirah):

Uma das bases mais importantes do sistema ético do Islam é a crença na vida depois da morte (Akhirah). Esta vida neste mundo é um teste para a vida no outro mundo (Akhirah). O Sagrado Alcorão diz:

“Abençoado é Aquele em cuja mão está a Sabedoria. E Ele
é capaz de fazer todas as coisas. Ele que criou a vida e a morte
para experimentar-vos e ver qual de vós é melhor na conduta: e Ele
é o Poderoso, O que perdoa.”
“Esta vida no mundo é apenas passatempo e um jogo; mas a
mansão da Vida Futura é a vida, na verdade. Se eles ao menos o
soubessem!”
“E ser-lhe-á dito (na Vida Futura): Lê o teu livro. A tua alma
é suficiente para verificar a tua conta, contra ti, neste dia.”
“Diz-lhes, ó Mohammad: – Allah dar-vos-á a vida, depois causa a
vossa morte; depois reúne vos a todos no Dia do Julgamento sobre o
qual não há dúvida: mas, a maior parte dos homens não o sabe.”

O Sagrado Profeta, ( SAAS ), disse: “Na verdade, Allah não trata um crente injustamente em relação às suas virtudes. Ele quer conceder-lhe as Suas bênçãos neste mundo, e quer dar-lhe recompensas no outro mundo. E, no que respeita a um não-crente, ele está destinado a experimentar a recompensa das suas virtudes neste mundo, das que ele fez para si próprio, do mesmo modo que seria no outro mundo; no entanto, ele não encontrará nenhuma virtude pela qual deva ser recompensado no outro mundo. ” Noutra Tradição (Hadith) ele disse”. “Quando um não-crente faz o bem, ele está destinado a experimentar a sua recompensa neste mundo. E no que concerne ao crente, Allah guarda a recompensa das suas virtudes para a Vida Futura e providencia-lhe o sustento de acordo com a sua obediência para com Ele.”74 Abu Hurairah narrou que o Sagrado Profeta (que a paz esteja com ele) referiu que Allah, o Louvado e Glorioso, disse: “‘Eu preparei para os meus devotos servos coisas que nenhuns olhos jamais viram, e nenhuns ouvidos jamais ouviram, e nenhum coração humano jamais compreendeu tais generosidades, deixadas de parte para aqueles sobre quem Allah vos informou.” Depois recitou: “Nenhuma alma sabe que conforto está guardado para ela.” O Sagrado Profeta também disse: “Aquele que entrar no Paraíso está destinado a gozar em eterna bem-aventurança da qual jamais se tomará desprovido, nem a sua roupa gastará e nem a sua juventude declinará.” Noutra tradição (Hadith) o mensageiro de Allah, ( SAAS ), disse: “Houve uma disputa entre o Inferno e o Paraíso, e o Inferno disse: Os mansos e os humildes encontrarão em min a sua moradia”. Imediata- mente, Allah, o Louvado e Glorioso, dirigindo-se ao Inferno disse: “Tu és a forma do Meu castigo pela qual eu puno daqueles Meus servos, os que Eu quiser.” E dirigindo-se ao Paraíso, Ele disse: “Tu és a Minha misericórdia, meio pelo qual eu mostrarei clemência àqueles que Eu quiser, mas cada um de vós ficará cheio.
Deste modo, o Sagrado Profeta, ( SAAS ), ensinou que quem quer que tenha atuado corretamente neste mundo entrará no Paraíso que esta cheio de bem-aventuranças e todo o conforto, na Vida Futura: enquanto que, aqueles que não conduziram a sua vida corretamente nesse mundo, irão para o Inferno, que está cheio de miséria e desconforto, na Vida Futura. O Sagrado Profeta (em vários Hadiths) descreveu o Paraíso (Jannah) e o Inferno (Jahannam) pormenorizadamente. Por conseguinte, os ensinamentos do Islam a este respeito são, que a vida do homem neste mundo é um teste para a vida do Além, a qual é verdadeira e permanente. Este leste reflete-se em cada uma e essa todas as frações da vida de um Muçulmano (crente) que adota tais formas quefarão o sucesso na outra vida.

S. Abul A’la Maududi escreve: “Além disso, a idéia de, que o teste imposto por Deus não está confinado a um só aspecto da vida, ou a um só sector particular da atividade humana mas, que se entende a todos os aspectos da vida e a todas as esferas de ação, alarga o campo da moralidade, e fá-lo coexistir com a vida- A razão humana, as suas fontes de conhecimento, os seus poderes físicos e intelectuais, os seus sentidos, as suas emoções e os seus desejos, é tudo abrangido por cada uma e todas as coisas, e com cada pessoa que ele contata, há um julgamento para ele. E acima de tudo, o teste supremo avalia o espírito com que ele desempenha os seus deveres, se ele faz tudo com um sentimento de responsabilidade para com Deus, consciente de que ele é um servo zeloso, ou ele é autor de atos independentes seguindo os seus próprios desejos, ou se aceita algum outro como seu Senhor. Esta é a mais alargada concepção de moralidade, livre da estreiteza que provenha de um conceito religioso limitado. Faz avançar o homem em todas as esferas da vida. indica-lhe as suas responsabilidades morais em todos os campos, e dá-lhe aqueles princípios de moralidade, cuja observância pode conduzir-lhe ao sucesso no teste prescrito por Deus, ao qual concernem cada uma e todas as esferas da vida.

Depois, a idéia de que o verdadeiro e final resultado deste esforço moral se revelará, não nesta vida mas, na próxima, e que o verdadeiro sucesso ou fracasso se tornará aparente no outro mundo, e não neste, altera radicalmente o ponto de vista do homem sobre a vida e seus assuntos neste mundo. Com este tipo de crença, o homem não considera os resultados que se manifestam neste mundo como o verdadeiro e final critério do bem e do mal, do certo e do errado, da verdade e da falsidade, do sucesso e do fracasso; por isso, a questão da obediência ou da desobediência às leis da moral não dependem, aos seus olhos, destes resultados superficiais. O homem que segue esta concepção estará sempre pronto a observar as leis da moral, quer as suas conseqüências lhe tragam felicidade ou miséria, ou conduzam ao sucesso ou ao fracasso mundanos. Isto não significa que, aos seus olhos, as conseqüências materiais dos seus atos estejam totalmente inaplicáveis mas, apenas, que o fator decisivo para ele não serão estas conseqüências aparentes, mas os duradouros resultados da próxima vida, e por isso, ele baseará sempre a sua conduta na expectativa das conseqüências futuras. A sua decisão de escolher esse caminho, em vez do outro, não se baseará no cálculo de ser produtivo de prazer, ou da felicidade, ou proveitoso neste estádio preliminar da vida mas, na expectativa do que o conduzirá no estádio final da vida. E dai, os seus princípios morais não serem alterados em nenhuma circunstância, e não haver nenhuma fraqueza no seu caráter; mas, o seu sistema moral permanecerá de qualquer modo progressivo, isto é, com o desenvolvimento da civilização e da sociedade, as suas concepções morais tornar-se-ão alargadas mas, os seus princípios morais não serão afetados pela mudança das condições e circunstâncias externas da vida. Por outras palavras, ele não se tomará num cata-vento, sem qualquer fixidez e uniformidade na conduta ética.

Assim, do ponto de vista moral, esta concepção Islâmica da vida no outro mundo, confere dois importantes benefícios, os quais não resultam de nenhuma outra fonte. Em primeiro lugar, a moralidade é fornecida com uma base que é firme, forte e livre de qualquer perigo de vacilação. Em segundo lugar, confere uma estabilidade e firmeza ao caráter humano, que não sofre nenhum desvio do caminho da retidão, munindo-o de fé na vida futura assente em alicerces profundos. ”
Deste modo, a crença na Vida Futura tem um profundo impacto na moral de cada pessoa. Incute-lhe firmeza, e na sua determinação um propósito inabalável e um objetivo imóvel.

Conclusão:

Em conclusão, pode-se afirmar que o Islam apresentou tais bases do sistema ético que são a pauta para toda a humanidade. No sentido de se apreciar o verdadeiro valor do sistema ético do Profeta Árabe, diz Ameer Ali: “Deve ser lembrado que no Islam, o serviço do ser humano e o bem da humanidade constituem, permanentemente, o serviço e a adoração a Deus. Fé sem trabalho não tem qualquer significado: “Esta vida é só o cultivo para a próxima, pratica o bem que, depois, possas repetir lá” . . .”

As bases acima descritas são os fundamentos transmitidos peio Islam para a construção da moral humana. O Islam não é direito exclusivo de nenhuma nação ou raça; é a herança comum a toda a humanidade. Por isso. qualquer pessoa – pertencente a qualquer nação, raça ou cor – que seja ciente do seu próprio bem e deseja o bem da humanidade, chegará, certamente, à conclusão de que as bases proporcionadas pelo Islam, para a moral, são muito melhores do que as dadas pêlos outros sistemas espirituais e filosóficos.

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