Ó, tu, que perguntas…

Abu Firas Homam ibn Ghaleb, nascido ao 25º ano Hejríta, equivalente a 648 d.C., na cidade de Basrah, no atual Iraque, era mais conhecido como Farazdaq por causa de sua aparência rude e tosca. Viveu aproximadamente 89 anos, falecendo no ano 114 Hejríta equivalente a 737 d.C.

Era um famoso poeta, eloqüente, muito habilidoso e incisivo com as palavras. Estudou o Alcorão desde muito cedo, devido aos conselhos que o Imam Ali (A.S.) deu a seu pai quando ele ainda era menino, com intuito de guiá-lo no caminho de uma poesia fundamentada nos preceitos divinos e religiosos. Escreveu muitas poesias defendendo a justiça e a verdade. Mencionamos aqui uma das mais famosas, que foi declamada com muita valentia na cidade sagrada de Meca, em meio de milhares de pessoas de todo o mundo, no Masjedol Haram.

Farazdaq desafiou o poder opressor de Hichám ibn Abdel Málek Al-Umauí, quando negou conhecer o Imam Ali ibn Al-Hussein (A.S.), valendo-se de que, quando se diz a verdade, se caminha pela justiça e não se teme ao opressor, o valor do ser humano é infinito.

Ó, tu, que perguntas pela generosidade e magnanimidade!

Ó, tu, que perguntas pela generosidade e magnanimidade!
A clara resposta a esta, se encontra em minhas mãos, para quando apareçam questionadores,

Ele que fez a terra de Meca tremer com seus passos,
E a casa de Kába, o Haram de Allah e seus arredores o conhecem,

Este é filho do melhor de todos os servidores de Allah,
É temente e casto, puro e bem conhecido,

Aquele cujo pai é Ahmad, o escolhido,
As bençãos de Allah, Todo Poderoso, sejam sempre para ele,

Se o pilar (da Casa de Deus, a Kába) soubesse quem veio a beijá-lo,
Gritaria ao chão para que este beijasse a planta de seus pés,

Seu nome é Ali e o Mensageiro de Allah é seu pai,
E os povos serão dirigidos por sua luminosa guia,

Ele é aquele cujos tios são Jafar Attaiiar e o outro,
É o mártir, Hamza, o leão que por seu amor juram,

Filho da senhora das senhoras, a Fátima,
Filho do sucessor do Profeta, aquele cuja espada era impiedosa com os idólatras,

Se o Coraich o vê, o seu declamador diz,
Não há generosidade superior à dele,

Quando se aproxima do pilar para tocá-lo,
É como se fosse este quem desejasse tocá-lo,

Não pensas que perguntando, “quem é este”, prejudicas as pessoas,
Já que os árabes e os não árabes sabem perfeitamente o que tu negas,

Ele está diretamente relacionado com a Suprema honra,
Que nem as mãos dos muçulmanos árabes e dos não árabes a poderão alcançar.

Por modéstia, ele abaixa seu olhar aos demais e a vista dos demais abaixa quando vêem sua magnificência.
E ninguém é capaz de dirigir-se a ele sem sorrir.

A luminosidade de sua fronte rompe o véu da escuridão.
Assim como faz o sol, que com seu brilho acaba com a escuridão.

Em suas mãos ele carrega o cajado de madeira perfumada,
É tão generoso que nunca disse não a nada, somente no Tachahud.

E se não fosse pelo Tachahud, o seu não era sim.
Sua origem provêm do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.).

O lugar onde se criou foi imaculado, o seu desenvolvimento foi puro e seu caráter nobre.
Se faz responsável pelos problemas dos outros,

Quando estes não encontram soluções para eles.
Se algo diz, deixará a todos satisfeitos,

Pois suas palavras são seu próprio ornamento.
Se não lhe conheces, ele é o filho de Fátima,

O seu avô foi o ultimo Mensageiro de Deus.
Allah o fez virtuoso desde a antiguidade,

E assim já estava gravado na Tábua Protegida
Nem as virtudes dos Profetas são comparáveis às virtudes de seus antepassados (S.A.A.S.),

E sua (S.A.A.S.) comunidade é superior a outras comunidades.
Sua generosidade cobriu toda a criação.

E se afastaram por ele a ignorância, a miséria, e a opressão.
Suas mãos são como nuvens de bondade que fazem chegar a todos os seus benefícios.

Dá obséquios que nunca se consomem.
É ternura e delicadeza e não existe nele rudeza nem aspereza,

Duas qualidades o embelezam: a paciência e a generosidade.
Nunca age em contra do que promete e sua existência é bendita.

O seu coração é muito amplo e nos momentos de decisão sua inteligência é aguçada.
Ele pertence àqueles que são amigos da religião e inimigos da incredulidade,

Aproximar-se dele é obter a Salvação e a proteção.
Suas virtudes dissolvem qualquer intriga e conspiração,

E sua benevolência e vontade se incrementam.
Recordava o Mohammad e a sua purificada linhagem depois de mencionar o nome de Allah em
todas suas orações obrigatórias e também quando finalizava qualquer conversa.

Se recordássemos aos devotos, eles (Mohammad e sua purificada linhagem) seriam seus líderes, Se for perguntado: Quais são os melhores homens sobre a terra?

Será respondido que são Eles.
Ninguém misericordioso depois de vê-los, pode considerar-se tão misericordioso,

E ninguém pode se igualar a eles em generosidade.
Eles são benéficos iguais às chuvas, depois da seca,

Brigam como leões selvagens quando se acendem as chamas da guerra.
Não há nada para ser reprovado neles,

Têm uma moral magnífica e suas mãos são muito generosas.
A escassez nunca diminui a dádiva de suas mãos,

E são generosos tanto na abundancia ou não.
Qual das tribos não agradece a seus generosos ancestrais,

Ou a eles mesmo por seus favores?
Aquele que conhece a Allah, conhece a linhagem deste magnânimo,

O povo tomou deste excelso a religião e a guia.
Suas casas estão no meio de Coraich, e elas iluminam a tribo durante as tragédias e também nos momentos de julgamento.

O seu avô é de Coraich, e tem uma ascendência pura.
Mohammad, e seu sucessor Ali, são os verdadeiros guias.

A batalha de Badr e a encosta de Ohod testemunham por ele,
Assim também a batalha de Khandagh, o dia da reconquista da Meca, a batalha de Khaibar, a
batalha de Hunain e o escuro dia de Khorasán, testemunham por ele.

Todos são fatos que marcaram todos os acontecimentos,
Não omito o que os outros ocultaram.

E quando Farazdaq terminou de recitar seu poema, Hisham ficou bravo e ordenou que fosse preso. Assim ele foi aprisionado na prisão de Ys-afan, cidade entre Meca e Medina. A notícia de sua prisão chegou ao Imam Ali ibnol Hussein (A.S.), que enviou a ele doze mil dirhames (moeda daquele tempo) e disse: “Ó pai do Ferás, perdoe-nos, porque se tivéssemos mais o daríamos”. Farzdaq não aceitou a oferta e replicou: “Ó filho do Mensageiro de Deus, o que disse, foi somente para agradar a Deus e seu Mensageiro, não foi por algo em troca”. O Imam (A.S.) não aceitou, devolveu ao Farzdaq e falou: “Por mim aceite, mas Deus sabe a sua intenção e Ele viu o seu lugar no paraíso”. Farzdaq, então aceitou e deu início a ataques contra Hisham que permaneceu preso por não ter aceito a verdade.

Por último que Deus abençoe a alma de Farazdaq, pois acreditamos ser necessário recordar que este poema eloqüente e valente foi pronunciado no momento preciso, ocasionando um grande conflito e grande perigo para ele, mas por outro lado, defendeu a verdade e a justiça com coragem. Todavia, aquilo que Farazdaq disse foi somente uma parte das virtudes do Imam Ali ibnol Hussein (A.S.) e de seus excelentes antepassados, pois sabemos perfeitamente que é impossível “medir o céu a passadas ou o mar com uma taça”, porque aquilo que o poeta declarou não foi mais que um punhado de areia da praia ou apenas um grão de um silo de trigo.

Traduzido por:
Aldo Accinelli Pielago
Vanessa Primon
Naserddin Taleb al-Khazraji

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