O Islam e o Conhecimento

Por: Ahmed Ismail.

Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso.

O Islam se realiza na pureza de intenção (Ikhlass) na adoração, associada ao conhecimento. Esses dois componentes se completam e dão vida um ao outro. Isto explica a ênfase que o Islam, mais do que qualquer outro sistema religioso, dá ao conhecimento. A própria abordagem do Livro de Allah na maioria de suas passagens, propõe ao ser humano o exercício do raciocínio e a busca constante da sabedoria. O Islam não só nos exorta à busca do conhecimento como também aponta o seu objetivo real. Imam Ali (as) resume este princípio dizendo: “O objetivo do conhecimento é a ação correta”.

A erudição por si só, desprovida da virtude e da aplicação judiciosa do conhecimento é apontada como um sinal de “perda, derrota espiritual”, o Alcorão refere-se por exemplo aos sábios pervertidos do povo de Israel dizendo:

“O EXEMPLO DAQUELES QUE ESTÃO ENCARREGADOS DA TORÁ E NÃO A OBSERVAM É SEMELHANTE AO DO ASNO QUE CARREGA LIVROS…” (62: 5)

Quando mencionamos “conhecimento” devemos ter em mente que em essência este conhecimento tem uma natureza única e que igualmente provém de uma fonte única: ALLAH (exaltado Seja); e ELE distribuiu em toda criação com prudência e justa proporção partículas deste conhecimento. Portanto, conhecimento (îlm) e compreensão (Idrák) possuem diversos níveis e graus qualitativos e quantitativos.

O primeiro e mais elementar nível do conhecimento é o nível instintivo. Podemos exemplificá-lo do seguinte modo: Uma criança ao nascer já é naturalmente dotada de capacidade instintiva para interpretar algo do mundo que a cerca, as sensações de fome, de frio ou calor desencadeiam um processo de desenvolvimento e aprendizado para a sobrevivência, logo, a criança instintivamente busca o alimento contido no seio da mãe para saciar sua fome. Este nível instintivo é manifestação do Qadar (Determinação Divina) e está presente em todas as formas de vida.

O segundo nível é o do intelecto, que é a faculdade de compreensão e de superação dos limites do conhecimento instintivo. Este nível é acessível ao homem que diferentemente dos outros animais pode raciocinar sobre os processos associados aos instintos (o porque da fome e do frio por exemplo) e por fim compreender as leis naturais e mesmo interferir nelas. Este é o âmbito no qual surge a experiência empírica, a tecnologia, a ciência e os seus métodos (experimento, comparação, pesquisa, observação e raciocínio).

O terceiro nível é o intuitivo, o qual se relaciona a realidade metafísica, uma dimensão perceptível pela mente, porém, não perceptível pelos sentidos. Esta é a dimensão dos pensamentos, dos sentimentos e dos sonhos. Sua abrangência é a mente e toda sua intrincada complexidade, como também dos processos constantes na natureza do homem e do mundo que o cerca. O que, ainda que não sejam perceptíveis e comprováveis pela ciência, são captados pelo intelecto. Este nível deu origem tanto a filosofia como as chamadas ciências ocultas (mágicas), a psicanálise e as artes.

A filosofia que busca pela reflexão analítica estabelecer respostas para as questões da existência e da natureza das coisas. A psicanálise que busca compreender a mente humana, os mecanismos que determinam o pensamento e o comportamento humano. Antes da filosofia e da psicanálise se cristalizarem como áreas do conhecimento, os povos primitivos exerceram este nível intuitivo por meio de práticas genericamente denominadas de artes mágicas ou ciências ocultas. O objetivo era estabelecer uma relação com certos processos naturais que transcendiam o âmbito do intelecto e da comprovação científica. Curiosamente, ciências como a medicina e a química originaram-se da mesma fonte que a magia, embora com o passar dos séculos separaram-se dela e do âmbito meramente intuitivo.

Estes 3 primeiros níveis são apreendidos pela mente humana ao menos em princípio. Não obstante, o conhecimento humano quanto a complexidade de cada um deles esteja muito aquém da vastidão que se descortina, do que permanece desconhecido da natureza das coisas e da própria mente humana.

O quarto nível do conhecimento é a dimensão do Dín, do não-visível, do não-imaginável, do não-ponderável, do que está além dos sentidos e da intuição comum. O seu âmbito é a origem e a extinção das coisas e do que está além disso. A porta deste conhecimento é o WAH’I (inspiração divina) e ALLAH tornou-o acessível de modo direto aos Profetas (as), os quais enviou a humanidade para comunicar o Din, estes seres humanos designados para esta tarefa possuíam 3 características básicas que os distinguiam:

a) INTELECTO PLENAMENTE DESENVOLVIDO

B) NATUREZA APRIMORADA E INCORRUPTÍVEL

C) O DOM PROFÉTICO (WAH’I)

Abrimos parênteses aqui para esclarecer melhor estas características.

“Intelecto plenamente desenvolvido” no sentido aqui exposto significa não apenas o potencial consciente, mas também certos dons de percepção extra-sensorial. É importante que compreendamos a perfeita distinção entre os “profetas de Allah” que possuíam a plenitude dessas três características reunidas. Um mago ou um adivinho é alguém que desenvolve um certo nível de potencial referente a primeira característica (percepção extra-sensorial) e que, no entanto, não possui qualquer aprimoramento da segunda característica e naturalmente nenhum Wahi (dom profético da revelação divina). Um sábio pode possuir considerável dote da primeira característica e muito raramente algo da segunda (o que o tornaria um wali (santo)).Contudo, como o mago ou o adivinho é desprovido do Wahi.

Os Imames (as) de modo similar foram dotados por Allah, com a plenitude das duas primeiras características sem que possuam o dom profético. Dessa maneira, fica claro que apenas e tão somente os profetas possuíam na plenitude as 3 características o que os distinguem de todos os demais seres humanos. Os Imames (as), ainda que desprovidos do dom profético, são aqueles a quem foram dados o Idrák (compreensão correta) da revelação e por isso são os Encarregados da Liderança espiritual, após o fim do ciclo da Profecia. Os Awliaa são os que embora não tenham sido encarregados, por meio de empenho e devoção são agraciados com considerável parcela de conhecimento desta dimensão do Din. Estes são seguidos pelos eruditos que alcançam o grau de Mujtahid e que detém variadas parcelas de compreensão do Din comunicado pelos profetas e predicado pelos Imames.

O quinto e último nível do conhecimento é a dimensão do invisível, a dimensão da essência das coisas, do pré-existente e do oculto e este nível é de conhecimento exclusivo de ALLAH.

A Busca do Conhecimento e o seu Método

Como as inclinações e os interesses humanos são das mais variadas naturezas, o conhecimento também se encontra fragmentado em inúmeras direções. A natureza do conhecimento se assemelha aos elementos naturais, como a água e a luz, por exemplo, o conhecimento é intrinsecamente isento de bem ou mal; a utilização e a intenção em relação a ele é que determina o modo que será aplicado e o que produzirá. Como os elementos da natureza, o conhecimento pode ser utilizado para salvar vidas ou destruí-las. Os homens buscam o conhecimento por objetivos diversos; na ânsia por poder há os que buscam o conhecimento profano da magia e de dons místicos que satisfaçam suas ambições e deformações morais. Do mesmo modo, na atualidade, uma considerável parte dos cientistas a serviço de governos se empenham em aprimorar conhecimentos bélicos de destruição em massa.

Em princípio, devemos estar conscientes de que o conhecimento é poder em potencial, e que se não se conformar a lei divina inevitavelmente levará o seu portador a ruína, a auto -destruição e a punição divina no Akhirah.

O que se depreende dos ensinamentos do Mensageiro de Allah (saas) e dos Imames de Ahlul Bait (as) é: “O CONHECIMENTO DEVE SE GUIAR PARA O BEM, PARA O APERFEIÇOAMENTO DA FÉ E PARA A JUSTIÇA.”

Este princípio se resume nas palavras de Imam Jáfar Assadeq (as): “UTILIZAI O CONHECIMENTO PARA A AÇÃO PURA.”

Sobre o erro daqueles que buscam o conhecimento com intenções perversas ALLAH o altíssimo diz no Alcorão:

“… APRENDEM O QUE LHES PREJUDICA E NÃO O QUE LHES BENEFICIA, E SAIBAM QUE AQUELES QUE O ADQUIRIRAM JAMAIS PARTICIPARÃO DA VENTURA DA OUTRA VIDA …” (2: 102)

Este ayat sagrado discorre sobre o conhecimento de encantamentos e domínio das forças da natureza que certos sábios judeus corrompidos por suas ambições, passaram a fazer uso e desenvolver, desobedecendo as leis divinas e espalhando a corrupção na terra. Via de regra, o conhecimento que tem por objetivo a satisfação da vaidade e do desejo de poder sobre as pessoas, é nocivo para a alma e reserva conseqüências terríveis. Portanto a busca do conhecimento em qualquer nível ou área deve se guiar para a promoção do bem e deve trilhar a senda da obediência à lei divina. Mantido este princípio, o ser humano pode expandir suas potencialidades em qualquer área do conhecimento exatamente como o Alcorão o exorta.

O conhecimento útil, qualquer que seja ele, é desejável, quer seja o conhecimento que nos capacite a raciocinar melhor, ou o conhecimento que nos possibilite melhorar nossas condições materiais. O essencial na realidade, é que o conhecimento se torne uma correta via de aplicação em nossa vida e que por seu intermédio possamos ajudar a nós mesmos e aos nossos semelhantes.

O método fundamental da busca do conhecimento tem por meta a convicção, e esta foi definida pelo Mensageiro de Allah (saaw) ao dizer: “A CONVICÇÃO TEM 4 ASPECTOS: PRUDÊNCIA, PERCEPÇÃO, INTELIGÊNCIA E COMPREENSÃO TIRANDO LIÇÕES DAS COISAS INSTRUTIVAS SEGUINDO OS PRECEDENTES DAS PESSOAS DO PASSADO”.

Os Desafios na Busca do Conhecimento

Em síntese, a busca do conhecimento é a superação dos estados de ignorância. O Islam nos ensina que o intelecto é um dom divino, concedido ao homem com um relevante propósito. A negligência do homem quanto a este dom, seja abandonando a busca do conhecimento e do discernimento do bem e do mal é uma grave transgressão que o leva aos estados de IGNORÂNCIA (jahilyyah).

IGNORÂNCIA no sentido que o Dín dá a essa característica, é o resultado direto ou indireto da rejeição das verdades universais, a abdicação consciente ou inconsciente das atribuições racionais dadas ao homem, as quais o distinguem de todas as criaturas.

Estes ESTADOS DE IGNORÂNCIA surgiram do pecado, da transgressão às leis divinas, afastando o homem de sua natureza pura. Em seu estado original o homem encontrava-se num estado de INOCÊNCIA ORIGINAL (e não de ignorância). Se observarmos uma criança perceberemos que não obstante sua inocência, ela é fortemente inclinada ao aprendizado, toda sua energia é empregada nisso, o seu senso de observação e o seu potencial de aprendizado está em plena atividade mais do que em qualquer outra fase da vida. Os estados de ignorância se manifestam à medida que o humano se afasta de sua natureza original e quanto mais isso se verifique mais se manifestará a ABDICAÇÃO DO RACIOCÍNIO.

O DÍN (RELIGIÃO POR EXCELÊNCIA) tem por meta uma reversão deste processo, e este é o significado profundo da palavra CONVERSÃO. A condução do ser humano por meio da orientação divina a um retorno a sua natureza original, libertando-o dos estados de ignorância.

O Alcorão define este propósito em diversos versículos tais como: “VOLTA O TEU ROSTO PARA A FÉ MONOTEÍSTA. É A NATUREZA SOB CUJA QUALIDADE INATA ALLAH CRIOU O HOMEM…” (30:30)

Similarmente o Alcorão define a oposição da ignorância do homem que se apega ao erro e as suas próprias perversões rejeitando a verdade, recusando-se ao raciocínio e a meditação:

“TEMOS CRIADO PARA O INFERNO, NUMEROSOS GÊNIOS E HUMANOS QUE TEM MENTES COM AS QUAIS NÃO RACIOCINAM, OLHOS COM OS QUAIS NÃO VÊEM E OUVIDOS COM OS QUAIS NÃO OUVEM. SÃO COMO AS BESTAS, PORÉM MAIS DESVIADOS PORQUE SÃO INDIFERENTES.” (7: 179)

Com freqüência este estado de ignorância se manifesta pela arrogância e a pertinaz recusa a reflexão e a conseqüente reforma do pensamento e da conduta. A busca do conhecimento por sua vez requer humildade. Se esta característica não se fizer presente, os estados de ignorância permanecerão predominantes no indivíduo. Disse o Mensageiro de Allah (saas): “AQUELE QUE NÃO É CAPAZ DE HUMILHAR-SE POR UM MOMENTO PARA APRENDER ALGO, PERMANECERÁ SEMPRE NA DESGRAÇA DA IGNORÂNCIA”.

Este princípio se aplica em qualquer área do conhecimento humano e a ignorância em qualquer de suas manifestações é um estado de miséria para a criatura. No transcorrer de sua história a humanidade adotou como modo corrente de existência um padrão lamentável. A maior parte da humanidade, geração após geração, viveu e vive ainda semelhante aos animais: seus objetivos se limitam a busca de satisfação de seus instintos e necessidades básicas: comer, beber, descansar, acasalar e procriar, em seguida almejam a busca da satisfação de suas ambições de acúmulo de bens e de domínio sobre os demais. Este plano de consciência é o mais primário da escala, um estágio apropriado para os cães, os porcos e os símios, porém absolutamente indigno para o homem.

As estruturas sociais resultantes desse estado de ignorância se fundamentaram sobre a brutalidade, o predomínio da injustiça e toda uma interminável rede de falsas concepções e visões distorcidas da realidade, engendradas para que o obscurantismo materialista se perpetue. O homem moderno, produto deste estado de coisas, a despeito da considerável soma de conhecimentos e avanços científicos que herdou, no que diz respeito ao conhecimento decisivo sobre as realidades universais e sobre si mesmo é tão ignaro quanto há milênios. Este homem é um estranho para si mesmo, como os primatas ele vive para seu estômago, seu sexo e seus bens e como um sintoma de sua profunda ignorância tende a crer cegamente em tudo que convir a seu padrão medíocre de compreensão das coisas. Com seu comodismo e sua mentalidade tacanha este homem moderno, seja ele rico ou pobre, instruído ou não, padece da mesma miséria existencial, vive amontoado nas grandes cidades, como os ratos agarra-se ao quinhão que consegue amontoar até que a morte o alcança. Este homem moderno, desenraizado de sua própria natureza e do conhecimento sobre si mesmo, construiu sua própria cela e almeja uma felicidade sem riscos e em nome disso abdica de sua própria razão e delega isso aos “especialistas” e estudiosos.

Mesmo o conhecimento elementar encontra-se diluído e distante do homem comum, na verdade a perspectiva de BUSCA DO CONHECIMENTO está envolta em padrões de estagnação mental e criativa. O mundo moderno com o seu aparato de facilidades e conquistas afastou ainda mais os homens de sua natural e instintiva necessidade de buscar o conhecimento sobre si mesmos e sobre as realidades universais. O îrfán (esoterismo islâmico) explica este estado de letargia da consciência como sendo um sono metafísico.

Tanto mais a energia da consciência esteja absorvida pelos sentidos e pelos desejos mais este “sono” torna-se profundo. Logo, se toda uma civilização se fundamenta em valores que afirmam a autoridade sensorial, se toda uma civilização tenha se tornado irreligiosa, conceitualmente materialista, o nível de consciência de seus indivíduos reflete este ESTADO VIRTUAL DE IGNORÂNCIA.

Mas, o que seria este “sono metafísico”? Esta definição se aplica aos diversos estados de ignorância, manifestações do afastamento do homem de sua natureza original. Este estado virtual de ignorância se refere à ignorância do homem acerca da realidade de seu Criador, da realidade sobre a qual se apóia o universo e ele próprio, e da realidade sobre sua própria natureza. A chave para o conhecimento dessas realidades reside no Din (orientação Divina- Islam) e estes estados de ignorância não podem ser superados sem a adoção desta orientação divina. O Estado Virtual de Ignorância (Jahilyyah) deve ser cuidadosamente entendido e para isso devemos conhecer suas múltiplas manifestações. Essas manifestações têm 3 níveis relacionados aos instintos, a mente e ao e coração do homem.

As manifestações primárias são aquelas que provém dos instintos básicos e que são características próprias dos animais irracionais: a gula, a sensualidade desenfreada, a agressividade. Cada uma dessas manifestações primárias se desdobram em outras inerentes ao comportamento mental, o perfil psicológico do indivíduo e num nível mais profundo as deformações de seu caráter e de seu espírito. Assim a gula se relaciona ao egoísmo, a avareza, a mesquinhez e estas a desonestidade, a fraude, o desrespeito aos direitos alheios. A sensualidade desenfreada se relaciona a imoralidade e a promiscuidade as quais desencadeiam a fornicação e o adultério. A agressividade se relaciona a incapacidade do exercício do diálogo e do raciocínio, a imposição da vontade pela força, o que desencadeia a tirania, a covardia, a opressão, a crueldade e a injustiça. Outros estados de ignorância surgem a partir da combinação dessas manifestações, estados que são resultantes da corrupção da razão e da alma: o orgulho, a arrogância, a idolatria, a calúnia, a hipocrisia, a dissimulação, a inveja.

Todos estes Estados de Ignorância são características de um estado doentio do ser, e como tal este estado doentio não pode ser sanado por nenhum conhecimento desenvolvido pelo próprio homem. Nenhuma filosofia ou ciência humana pode agir no âmago, na base, na essência onde esses males se encontram. Portanto, é o conhecimento apropriado para esta cura da alma o que provém da Orientação divina, que o Islam trata e que é buscado preferencialmente pelos que se propõem ao estudo deste Din.

Na Busca do Conhecimento Autêntico do Din

Se alguém se propõe a buscar o conhecimento do din deve primeiramente se certificar que as fontes as quais recorrerá em sua busca sejam fiéis. Do mesmo modo que se um estudante de medicina ao procurar uma faculdade, se certificará primeiro que a faculdade seja devidamente licenciada. De modo semelhante no estudo do din devemos recorrer às fontes corretas e autorizadas deste conhecimento.

O Alcorão é a fonte primordial deste conhecimento. O seu propósito fundamental é orientar o homem para a senda divina e nele ALLAH o Poderoso proporciona ao humano a luz sobre todos os assuntos. Aqui chegamos a um ponto importante que é o perfeito discernimento e compreensão desta fonte primordial do conhecimento do din. É evidente que os seres humanos diferem imensamente nos seus níveis de compreensão e discernimento, embora a essência do din seja compreensível, a grande maioria dos humanos, seus níveis mais profundos de conhecimento não o são. Portanto, o que busca o conhecimento do din deve recorrer àqueles que possuam a autoridade da compreensão correta do livro de Allah. Logo, a segunda fonte do conhecimento é o Mensageiro de Allah (saas) através de sua Sunna (tradição autêntica), seguido das autoridades fundamentais: Os Imames dos Ahlul Bait (as), fiéis guardiões da tradição autêntica do Mensageiro (saas) e possuidores do discernimento e da jurisprudência quanto ao livro de Allah.

São igualmente consideradas fontes confiáveis os Imames Justos e os mujtahidun, os quais foram encarregados pelos Imames de Ahlul Bait (as) de preservar o conhecimento do din através dos tempos. Destes sábios são requeridas certas características que lhes confere a digna posição de fontes autênticas do conhecimento do din. Segundo as palavras de Imam Jáfar (as): “São aqueles cujos atos dão fé as suas palavras”.

O que significa que estes homens vivem o que pregam, recomendam o bem e proíbem o ilícito e estabelecem a justiça. Seus ensinamentos são isentos de inovações e conduzem o povo ao Alcorão e a sunna de seu Profeta (saas) e dos Imames de sua linhagem (as). O apego às fontes corretas na busca do conhecimento é prioritariamente ressaltado em muitas tradições fiéis. Imam Ali (as) disse: “QUANDO A PALAVRA DE UM SÁBIO É CORRETA ELA SERVE COMO UM REMÉDIO, MAS SE FOR INCORRETA ELA É A DOENÇA”. E consta que Imam Jáfar (as) tenha dito: “SEJA CUIDADOSO DE SEU CONHECIMENTO E DE QUEM VOCÊ O ADQUIRE”.

Via de regra, um homem que tenha alcançado conhecimentos e que seja soberbo, que tenha má índole e pouca compaixão pelas pessoas e que não ponha em prática os princípios do din, não deve ser tomado como confiável para ensinar. De modo similar, se os seus ensinamentos não provém das fontes autênticas ou as desconsidera não é conhecimento, ao contrário, extravio. Do mesmo modo que alguém que esteja em sua perfeita razão não sacia sua sede com a água de uma fonte contaminada, aquele que busca o conhecimento correto recorrerá as fontes autênticas para alcançá-lo.

Um Método Orientador na Busca

A busca do conhecimento do din se assemelha a uma viagem. Como um viajante o que se propõe a buscar o conhecimento deve atentar para certas providências que assegurarão seu sucesso nesse caminho. Primeiramente, devemos ter a convicção que de modo diverso a outras áreas do conhecimento a ciência do din não se encontra no acúmulo de informações ou no mero âmbito da teoria. Esta ciência se estabelece no intelecto e na alma o que equivale dizer que só se avança nesta dimensão do conhecimento à medida que a teoria e a prática afirmam-se mutuamente.

Em última análise o homem sábio, que possui verdadeira ciência do din é o que suas palavras e suas ações refletem esta ciência. Um homem inquiriu Abu Dhar (r.a.) sobre o conhecimento e ele respondeu: “O CONHECIMENTO É VASTO. PORTANTO SE PODES ABSTER-SE DE PRATICAR O MAL A ALGUÉM QUE AMAS, FAZEI-O. O HOMEM PERGUNTOU: JÁ VISTE ALGUÉM QUE PREJUDIQUE QUEM AMA? ABU DHAR (r.a.) RESPONDEU: “SIM. TUA ALMA É A QUE DE TODAS AS COISAS É A MAIS QUERIDA PARA TI. E SEM DÚVIDA, QUANDO DESOBEDECES A ALLAH, A PREJUDICA”.

Portanto, a intenção correta nesta busca requer firme propósito no temor a Allah, na obediência aos preceitos e no afastamento do ilícito. Uma segunda atitude necessária é a humildade quanto a 5 aspectos: Humildade para perguntar aos que sabem, pois a pergunta é a chave para o conhecimento. Humildade para aprender a ouvir, pois o que aprende a ouvir é o que mais honra quem o ensina. Imam Báqir (as) disse: “QUANDO SENTAR-SE COM OS SÁBIOS PROCURE SER INQUISITIVO E NÃO LOQUAZ E APRENDA A OUVIR TANTO QUANTO SABE FALAR E NÃO INTERROMPA O DISCURSO DE NINGUÉM”.

Humildade de aceitar o conselho e a crítica das pessoas que buscam ajudá-lo, na verdade o auxílio de Allah freqüentemente chega à pessoa pelas palavras dos que o aconselham com bondade.

Humildade na posição em que se encontra, ou seja, a pessoa deve estar atenta continuamente para que o seu conhecimento não se transforme em fonte de arrogância, pois o arrogante encontra a ruína e anula suas boas ações e qualquer conhecimento que possua não lhe será suficiente para guardá-lo do castigo divino. O mais sensato é sabermos que ninguém sabe tanto que não tenha muito a aprender.

Por último a humildade na propagação do conhecimento adquirido, a pessoa deve saber que o conhecimento é um encargo e não uma posse e deve como tal ser colocado a disposição dos que queiram aprender; e ela inevitavelmente será inquirida por Allah sobre este encargo.

Imam Jáfar (as) disse: “TENTAI OBTER CONHECIMENTO E EMBELEZE-O COM PACIÊNCIA E DIGNIDADE E SEJA HUMILDE PARA COM ALGUÉM QUE APRENDE CONSIGO.”

A terceira atitude requerida à busca do conhecimento do din é o cultivo dos bons hábitos e da companhia que inspire o bem e a sabedoria. Todos nós somos produtos de nossos hábitos e do meio em que vivemos. Nossos hábitos e nossas companhias dizem muito de nós mesmos, logo o que busca o conhecimento do din deve se conformar aos hábitos dignos de um bom servo de Allah: a meditação, o dhikr, o falar coisas que contribuam para o bem evitando a maledicência, a conversa fútil e as intrigas, os hábitos simples evitando toda forma de ostentação.

Deve também buscar a companhia das pessoas que se conformem a esses mesmos hábitos dignos, afastando-se dos de má índole, dos desobedientes a Allah e dos que se comprazem com o que é mal e ilícito.

Nas tradições fiéis consta que o Nobre Mensageiro (saas) tenha recomendado: “PERGUNTE AOS ERUDITOS, FALE COM OS SÁBIOS E ASSOCIA-TE AOS POBRES.”

Consta que também tenha relatado que ALLAH, o Altíssimo, na noite da Ascenção tenha lhe dito: “Ó AHMAD, MEU AMOR É O AMOR AOS POBRES. TRAGA OS POBRES PARA PERTO DE TÍ E MANTENHA-OS CONTIGO AFIM DE QUE EU ME APROXIME DE TÍ.”

Esta distinção é referida aos que são humildes e de modos humildes, e que por isso, têm uma maior propensão ao Din. Por outro lado a companhia dos soberbos tende ao afastamento do que agrada a Allah. O Mensageiro de ALLAH disse: “BEM AVENTURADOS OS QUE SE AFASTAM DOS SOBERBOS, DA ARROGÂNCIA E DA VIDA MUNDANA, DOS QUE CONTRARIAM MINHA SUNNA E DOS QUE PRATICAM O OPOSTO A ELA”.

O que busca o conhecimento do din deve se manter distante especialmente dos que advogam a desobediência e não perdem a oportunidade para estabelecer polêmicas sobre o que não sabem ou ridicularizar o din.

Diz Allah no Alcorão:

“CONSERVA-TE INDULGENTE, RECOMENDA O BEM E AFASTA-TE DOS IGNAROS.” (7: 199)

A quarta atitude requerida daquele que busca trilhar a senda do conhecimento do din é a constância em seu empenho. Desde que a busca do conhecimento é um dever de todo muçulmano e de toda muçulmana, se faz necessário que a pessoa mantenha em mente a perspectiva de utilizar parte do seu tempo nessa busca e não se afastar disso para que consiga efetivamente aprimorar seu din. O Mensageiro de ALLAH (saas) disse: “A PESSOA QUE DOIS DIAS DE SUA VIDA SÃO IGUAIS (SEM NENHUM AVANÇO) É UMA PERDEDORA.”

E disse também: “A DESAPROVAÇÃO É SOBRE O MUÇULMANO QUE NÃO TOMA (AO MENOS) UM DIA DA SEMANA PARA ESTUDAR OS ASSUNTOS DO SEU DIN E INQUIRIR SOBRE ISSO.”

Esses dizeres nos remetem a razão de tantos problemas na comunidade muçulmana, e a flagrante falta de condução correta das questões relevantes para os muçulmanos, já que se tomou como prática corrente o deixar os assuntos do din para os ULEMA, como os cristãos fazem com os seus sacerdotes e o resultante esvaziamento das mesquitas que só são realmente concorridas em datas festivas ou nos rituais fúnebres.

O Alcorão abandonado às estantes das casas dos muçulmanos que em geral, só encontram tempo para os negócios e as diversões. O que diremos então ao Profeta (saas) e aos Imames (as) no dia do inevitável encontro? Que argumento teremos para tal negligência perante Allah? Que Allah se apiede dos sensatos e aceite o arrependimento dos que se voltam contritos e se emendam!

A sexta atitude requerida ao que se propõe a busca do conhecimento do din, é a prática do Du’a pedindo a Allah a sabedoria e o bom uso da mesma, pois nenhum benefício alcança a pessoa sem o beneplácito de Allah. Associando a isso a constante prática das atividades piedosas (o îbad e a caridade, as atividades piedosas) para que Allah o abençoe em seu empenho.

Da Excelência da Busca do Conhecimento do Din

No conhecimento correto do din residem as chaves do aprimoramento da fé e do desenvolvimento das virtudes, sendo o conhecimento autêntico uma Baraka (benção Divina) de valor inestimável. A palavra virtude que comumente é entendida como um mero sinônimo de bondade, na realidade tem um amplo significado de força, não a força que oprime o mais fraco, mas sim a força da convicção e da vontade. A virtude da convicção se refere à compreensão plena do Kalima sagrado pela qual o devoto é liberto da ignorância manifesta do Kufr, da idolatria e do politeísmo, a firme compreensão dos fundamentos da fé. Tal virtude pode libertar o homem da manifesta ignorância do orgulho, da arrogância, da ação injusta da hipocrisia e da avareza.

A virtude da vontade pode libertá-lo dos estados de ignorância relativos ao desequilíbrio de seus instintos. A respeito dessa realidade Imam Ali (as) disse: “Ó POVO! NÃO EXISTE BEM ALGUM NA FÉ NA QUAL NÃO HÁ CONHECIMENTO”.

Na verdade, o avanço no conhecimento do dín capacita o devoto a receber de Allah, o discernimento que o protege dos desvios e dos estratagemas dos demônios dentre os gênios e humanos que em geral, arrastam os ignorantes à destruição e o afastamento do din, ao ponto que da religião só lhes reste o nome e o aspecto externo.

Disse o Mensageiro de Allah (saas): “QUANDO ALLAH DESEJA HUMILHAR ALGUÉM (POR ASSIM MERECÊ-LO) ELE LHE NEGA O CONHECIMENTO.”

ALLAH o possuidor de toda sabedoria, facilita os meios até ela para os humildes e tementes que a busquem, coroando seus esforços. Por outro lado. E nega as vias da sabedoria para os que se julgam possuidores dela e desconsideram o valor do aprendizado do din. Aos buscadores sinceros Allah reserva recompensas generosas nesta vida e na vida futura. Nas tradições fiéis consta que o Mensageiro de Allah (saas) tenha dito: “SÁBIOS E ESTUDANTES DIVIDEM RECOMPENSAS DAS QUAIS OS DEMAIS SÃO PRIVADOS”. E disse também: “AQUELE QUE BUSCA O CONHECIMENTO É AMADO POR ALLAH, PELOS ANJOS E PELOS PROFETAS, E SOMENTE UM HOMEM BOM AMARÁ A CIÊNCIA DO DIN.”

Este honroso grau está ao alcance daquele que se empenhe e aplique o seu conhecimento com bondade, produzindo bons exemplos para os demais de maneira que o din seja propagado de modo efetivo. O que é perfeitamente evidenciável é que exemplos surtem melhores resultados do que simples palavras. Assim, se um bom muçulmano dá um bom testemunho de sua fé por suas atitudes, isso servirá aos sensatos, e querendo Allah, mesmo ao descrente que movido por bons exemplos poderá mesmo raciocinar e arrepender-se e vir a abraçar o din.

Imam Báqir (as) disse: “BUSCAI O CONHECIMENTO PORQUE APRENDÊ-LO É UMA BOA AÇÃO E ESTUDAR É EM SI UM ÎBAD”. E como tal todo esforço sincero nesse empenho é digno da recompensa divina e por meio disso, alcança-se o complemento do din. De fato, Allah agracia o buscador sincero com os graus de sabedoria que estão além da instrução formal. Entenda-se que esforço sincero requer o apego ao din e a busca do aprazimento de Allah afim de que a benção seja descida sobre a pessoa. Nas fiéis tradições consta que se um devoto se mantém puro por amor a Allah durante 40 dias, fontes de conhecimento fluem de seu coração e de sua língua.

Em outra tradição consta que o Mensageiro de Allah (saaw) tenha dito: “AQUELE QUE ESTUDA O DIN DE ALLAH, ALLAH LHE É SUFICIENTE PARA REMOVER SUAS PREOCUPAÇÕES E PROVÊ-LO COM SUSTENTO DE ONDE NÃO PODE SER IMAGINADO.”

O que é agraciado com o grau de sinceridade e que mantém o seu temor e sua bondade para com as criaturas, é honrado com a sabedoria na medida que esta lhe seja benéfica por meios conhecidos somente por Allah.

Seria-nos impossível abordar todas as tradições que tratam da excelência da busca do conhecimento. O nosso objetivo é com esse modesto trabalho inspirar aos muçulmanos o interesse pelo tesouro que este din encerra. Tesouro que está ao alcance dos que buscam a recompensa imorredoura que ALLAH legou aos que crêem e o amam. Em verdade ALLAH cobriu-nos de benesses enviando-nos seu Nobre Mensageiro (saas), o Livro Discernidor e elegendo-nos Imames virtuosos(as) para que esta Ummah e a humanidade como um todo, tivesse a oportunidade de redenção, e todas essas benesses foram dispostas aos que desejam buscá-las pela via do conhecimento do din.

Queira Allah guiar-nos a esta senda e abençoar nossos esforços sinceros.

Allahuma Salli Ala Mohammad Wa Ali Mohammad.

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