O amor

Por: Sayyed Charif Sayyed

Falar sobre o amor é necessário, principalmente na época atual, quando o mundo vive, de ponta a ponta, uma vida repleta de anarquia, guerras, exclusão, perseguição, enfim, de todo tipo de arbitrariedade, rancor e inimizade.

Esse nosso ensaio representa uma lição modesta de filosofia do puro amor divino, sorvido pelo Sistema Islâmico, que Deus concedeu à humanidade como misericórdia, com carinho.

Esperamos, por intermédio deste texto, satisfazer o desejo do querido leitor, para que a verdadeira visão islâmica sobre o amor se manifeste, claramente. Vamos enfatizar o que a Mensagem Celestial nos expôs na terra em termos de ensinamentos luminosos divinos, por intermédio dos quais se move a pulsação dos sentimentos e das sensibilidades em relação ao amor verdadeiro.

A Religião Islâmica nos ordena ter amor e nos convoca a ele, nos incentiva a praticá-lo. O Mensageiro de Deus (S) disse: “Amai a Deus pelo que Ele vos proporciona de dádivas, e amai a mim por amor a Deus e amai a minha Família por amor a mim.” A convocação islâmica é: Amor a Deus, amor ao Mensageiro de Deus, amor à religião e amor às Suas criaturas. Deus, exaltado e glorificado seja, tornou o amor entre os casais como sinais nobres, como prova de Sua onipotência. Deus, abençoados sejam Seus nomes, diz: “Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.” (30:21).

O amor é uma das marcas da vida espiritual do crente, um sentimento que possui peso no Sistema Islâmico. Os muçulmanos não se alegraram mais com outra coisa, depois do Monoteísmo, do que com o amor. Um beduíno foi ter com o Profeta (S) e lhe perguntou: “Ó, Mensageiro de Deus (S), quando acontecerá a Hora (o Dia do Juízo Final)?” Respondeu-lhe o Profeta (S): “O que tu preparaste para ela?” O homem respondeu: “Não preparei muitas orações, nem muito jejum, nem muita caridade, mas eu amo Allah e o Seu Mensageiro.” O Mensageiro de Deus (S) lhe disse: “As pessoas estarão com quem amam.” Os muçulmanos se alegraram com a ordem ao amor e com a pregação do amor e se ocuparam com o que os alegrou. Eles ouviam o Mensageiro de Deus (S), quando ele evocava o seu Senhor, suplicando: “Ó, Deus, peço o Teu amor, o amor de quem Te ama e o que me aproxima de Teu amor.”

A fé no Islã está baseada no amor e na amizade. O Mensageiro de Deus (S) disse: “Por Aquele em Cujas Mãos está a minha alma, não ingressareis no Paraíso até crerdes e não crereis se não amardes uns aos outros. Quereis que vos indique algo que, se o fizerdes, amar-se-ão? Espalhei a paz entre vós.” Ele tornou o ingresso no Paraíso dependente da fé e tornou a fé dependente do amor. Portanto, o amor é uma condição da fé, um pilar da crença e a base da religião.

Desejar o bem aos outros é um complemento para a fé. O Mensageiro de Deus (S) disse: “Nenhum de vós será verdadeiramente crente até desejar ao irmão o que deseja a si mesmo.”

Deus Todo-Poderoso ama quem O procura, depende d’Ele, é sincero com Ele, obedece-O, bate à Sua porta e espera ser recebido por Ele. Ele ama as pessoas que se amam e estão dispostas ao sacrifício, ao martírio e ao empenho pela causa d’Ele, pela elevação da Sua Palavra e pelo apoio à Sua Religião: “Em verdade, Allah aprecia aqueles que combatem, em fileiras, por Sua causa, como se fossem uma sólida muralha.” (61:4). O Alcorão Sagrado estabelece, em muitos de seus versículos, o amor. Deus, Todo-Poderoso, ama “os arrependidos, os purificados, os benevolentes, os pacientes e os tementes…”

O Glorificado espalha o Seu amor sobre quem O ama. Ele diz a Moisés (AS): ”Eu lhes infundi amor para contigo, para que fosses criado sob a Minha vigilância.” (20:39). Os crentes amam e o seu amor maior é para Deus, corroborando as Suas palavras: “…mas os crentes só amam fervorosamente a Allah” (2:165). Eles amam e se aproximam de seu Senhor e Amado.

O amor constitui aproximação… e concessão. Aproximação do amado e concessão ao amado. A respeito disso, a Tradição Sagrada diz: “Jamais o Meu servo se aproximará de Mim com algo que Eu goste mais do que lhe prescrevi como obrigatório. Que Meu servo continue se aproximando de Mim através dos atos opcionais (orações, jejum, caridades), até que Eu venha a amá-lo. E, ao amá-lo, serei os ouvidos com os quais ouve, as vistas com as quais enxerga, as mãos com as quais opera e as pernas com as quais anda. Se Me pedir algo, dar-lhe-ei.”

O amor no Islã é um método que possui limites, meio, marcas e restrições. É um plano educacional divino que eleva os sentimentos, educa a conduta, restringe os instintos, oferece a cada alma o que a protege dos delitos, que a veda dos deslizes e das inclinações, a conduz até se tornar uma alma limpa, iluminada, que ama e é amada.

O mundo atual está envolvido com a matéria, decaindo para o abismo da intranqüilidade, da preferência pessoal e do egoísmo. Com o seu coração insensível repleto de rancor, ódio e aversão, está necessitando de boas doses de amor e amizade, que curem as feridas, lavem o ódio, dispersem a preferência pessoal e eliminem a aversão e o egoísmo.

O amor, com tudo o que abrange de significados, com tudo o que espalha de segurança e tranqüilidade e por tudo que dissemina em termos de satisfação, amizade e paz é um tratamento para a insegurança, um tratamento para o homem urbano, o homem da época moderna que entende, de maneira equivocada, que o amor é liberdade ilimitada, desprendimento sem restrições, anarquia irracional e satisfação dos instintos animalescos. Ele decaiu e foi levado pela corrente até os abismos da intranqüilidade, do egoísmo, de aflição, da desordem, à procura da salvação. E não há salvação a não ser no amor, no amor à justiça, à luz, à paz. Deus é Justiça, Luz e Paz.

Após essa introdução, nos próximos números falaremos sobre todo tipo de amor, utilizando o Alcorão Sagrado e as Tradições do extraordinário Mensageiro de Deus (S) e de sua Família Purificada .
Que Deus nos torne daqueles que amam e são amados. Pedimos-Lhe que nos conceda o Seu amor, o amor de quem O ama e o amor a todo ato que nos aproxima d’Ele.

 

 

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