Uma análise do discurso de Senhora Zeinab (A.S.) perante o governante opressor de Kufa Ubaidillah ibn Ziyad – Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – 21/09/2018

Sermão de Sexta-feira – 21/09/2018 – Proferido pelo Seyyed Bilal Wehbi

Uma análise do discurso de Senhora Zeinab (A.S.) perante o governante opressor de Kufa Ubaidillah ibn Ziyad

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso

Louvado seja Deus o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), com seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e sobre todos que os seguem verdadeiramente até o dia do juízo final.

Testemunho que não há divindade além de Deus e que Mohammad é Seu servo e mensageiro. Testemunho que os doze Imames são seus sucessores e as luzes da orientação.

Que Deus abençoe Mohammad e seus Ahlul Bait como abençoou Abraão e sua família.

Servos de Deus recomendo a todos e também a mim mesmo o temor a Deus.

No dia 12 do mês de Moharam, o comandante do exército de Ubaidillah Ibn Ziad, Omar ibn Sa´ad chegou na cidade de Kufa com a caravana de cativos de guerra, entre os cativos estavam as filhas, mulheres e toda a família do Imam Hussein (A.S.), sendo que os moradores de Kufa (Iraque) receberam esses prisioneiros com muita tristeza e lamentação pela tragédia que caiu sobre os descendentes do Profeta Mohammad (Ahlul Bait).

Os prisioneiros foram levados para o palácio e postos diante do governador Ubaidillah ibn Ziad. Neste encontro alguns protagonistas se destacaram por suas posições grandiosas diante da difícil situação, entre esses protagonistas, a senhora Zeinab, filha do príncipe dos fiéis Ali ibn Abu Talib, se revelou. Zeinab possuía características semelhantes ao seu pai, Ali ibn Abu Talib, em coragem, inteligência e piedade, e ao seu lado, no palácio Dar Al Imara, Zeinab tinha sua irmã, Umu Kolthum e o quarto Imam da nação, Ali ibnol Hussein (A.S.).

O discurso eloquente que Zeinab pronunciou diante do governador Ubaidillah ibn Ziad é digno de uma análise profunda e indica o que seria a segunda etapa do levante do Imam Hussein (A.S.). Se os discursos de Zeinab e do Imam Ali ibn Hussein (A.S.) não fossem feitos possivelmente a revolução do Imam Hussein (A.S.) não teria alcançado todos os seus objetivos e seria esquecida. Portanto, vamos analisar o discurso da senhora Zeinab (A.S.) e abordar algumas das suas lições e sua posição.

No palácio, o governador Ubaidillah ibn Ziad observou que entre as prisioneiras da família do Profeta Mohammad (os Ahlul Bait) uma das mulheres chamava-lhe atenção. Informaram-lhe que aquela mulher era Zeinab, a filha de Ali ibn Abi Taleb (A.S.) e filha de Fátima Azzahra (A.S.), neta do Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Ubaidillah ibn Ziad, com sua arrogância e com intenção de causar mais sofrimento e humilhação à senhora Zeinab, se aproximou dela e disse: “Louvado seja Deus, aquele que vos expos, vos matou e vos desmentiu”. Neste momento a senhora Zeinab levantou a voz e disse: “Louvado seja Deus que nos honrou com seu Profeta Mohammad e nos protegeu de toda abominação. Certamente, o exposto é o pecador e mentiroso, que não somos nós”. 

Ubaidillah ibn Ziad ficou irritado e disse: “O que acha da ação de Deus sobre vocês”?. Então a senhora Zeinab (A.S.) disse: “Achei maravilhoso. Eles são parte de um grupo que Deus escolheu para combater por Sua causa e serem martirizados. Tu se encontrará com eles no dia do juízo final, e então será cobrado e questionado, e responsabilizado por seus atos. Então, olhe para o que obstruiu…”

Essas corajosas palavras foram pronunciadas dentro do Palácio do Governante de Kufa, o conhecido Dar Al- Imara. Ditas por uma mulher, pura, sábia, piedosa que está totalmente integrada com os princípios da mensagem do Islam e os ensinamentos do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e dos Imames (A.S.). Tudo isso diante de uma mente maligna, de um espírito opressor, desprezível, corrupto e devasso como o do governador Ubaidillah ibn Ziad.

Esse discurso será resumido em quatro pontos:

Primeiro ponto: Refere-se ao partido omíada que propagou a ideologia de que o ser humano não tem escolhas sobre seus atos e que tudo é predestinado por Deus, e, portanto, aquele que tentar enfrentar ou julgar alguém ou algum sistema estaria enfrentando a vontade de Deus.

Esta ideologia errônea foi propagada pelos omíadas para a nação islâmica e tinha como intenção legitimar as políticas, práticas e decisões dos omíadas. Esta ideologia desviada está bem clara nas palavras de Ubaidillah ibn Ziyad quando afirmou a Zeinab: “Louvado seja Deus, aquele que vos expôs e vos matou…” Ou seja ele estaria culpando a Deus pelo ocorrido e não o ser humano. De acordo com a ideologia de JABR implantada pelos omíadas, o ser humano não tem escolha sobre seus atos e tudo que pratica é algo que já foi predestinado por Deus e representa Sua vontade. Uma das coisas que também seria a vontade de Deus era a traição do povo de Kufa e o assassinato do Imam Hussein (A.S.) e de seus familiares e companheiros, segundo eles tudo isto foi algo prescrito por Deus e não havia como impedir nada. Essa ideologia da compulsão foi defendida tanto pelos omíadas com por outros governos tirânicos tais como os abássidas.

Os verdadeiros ensinamentos islâmicos são contrários a ideologia da compulsão, pois Deus concedeu o livre arbítrio para as pessoas. Deus louvado seja jamais desejará ou forçará o ser humano a realizar barbaridades, assassinatos e práticas ilícitas. Tal crença é rejeitada pelo Islam e pelo intelecto humano. O ser humano não tem total controle sobre suas ações, mas precisa da ajuda e da orientação de Deus. Quando o ser humano precisa realizar algo precisará mover-se e esse movimento precisa da força de Deus. O que se praticar com essa força é uma decisão de livre arbítrio do ser humano e não de Deus.

Os omíadas espalharam esse ideologia desviada entre os muçulmanos dizendo que se o governante for opressor, corrupto, assassino e infiel, será porque Deus desejava que assim fosse e com base nesta ideologia as pessoas devem suportar e aceitar essa realidade.

A afirmação e a expansão desta ideologia pelos omíadas tinha como objetivo inibir as oposições e questionamentos de suas práticas e decisões.

Segundo ponto: No discurso da senhora Zeinab (A.S.) percebemos o tamanho da transgressão e violação dos omíadas contra a família do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e os Ahlul Bait (A.S.). Enfrentar o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) é como enfrentar a Deus, o Altíssimo. Deus, Exaltado seja purificou os Ahlul Bait (A.S.) que são Fátima, Ali, Hassan, Hussein até o último deles que é o Imam Mahdi (A.S.), e todos eles são Infalíveis, e estão longe de cometer qualquer abominação, pecados e decisões equivocadas.

Terceiro ponto: A Senhora Zeinab (A.S.) deixou claro para todos que Ubaidillah ibn Ziad era um transgressor dos princípios da doutrina e da mensagem do Islam e ele foi o responsável pela trágico assassinato do Imam Hussein (A.S.). Mesmo que Ubaidillah fosse governante dos mulçumanos e carregasse aparentemente a bandeira do Islam isso não passava de dissimulação e teatro. Os governantes omíadas se declaravam príncipes dos crentes e usavam a religião islâmica para colocar em prática suas mazelas e atender seus interesses, mas na verdade eles fizeram da religião uma escada para alcançar o poder. Isso ficou evidenciado quando o califa Yazid ibn Muawiyah ficou de frente com a cabeça do Imam Hussein (A.S.) que estava numa bandeja, e falou Os Bani Hashem (Filhos de Hashem – Profeta Mohammad e os Ahlul Bait), vieram para dominar o poder; Pois nada foi revelado e jamais existiu mensagem alguma”.

A grande maioria dos sábios e cientistas religiosos das diferentes ramificações e escolas islâmicas concordam que Yazid ibn Mu´awiyah e Ubaidillah ibn Ziad foram governantes opressores e devassos. A história afirma que estes dois jamais foram governantes praticantes da doutrina islâmica e nem executores da palavra de Deus.

Quarto ponto: A resposta da senhora Zeinab (A.S.) para Ubaidillah Ibn Ziad quando ele a perguntou: “O que achou do ocorrido pela vontade de Deus sobre o Hussein” e respondeu: “Não achei nada senão maravilhoso e belíssimo”. Os Ahlul Bait (A.S.) jamais questionaram a obra e a vontade de Deus, Exaltado seja.

Aparentemente o Imam Hussein (A.S.) foi assassinado, sua cabeça decapitada, colocada sobre a lança e levada de Karbala para Kufa e de Kufa para Sham. Contudo foi este sacrifício do Imam Hussein (A.S.) que salvou a doutrina islâmica e a voz do Imam Hussein (A.S.) continuará viva até o dia do juízo final. Seu sangue regou a árvore do Islam e deu vida novamente às suas raízes, ficando mais fortes e firmes contra as manipulações dos omíadas e de todos os outros tiranos. Este foi o resultado do sacrifício do Imam Hussein (A.S.), seus Ahlul Bait (A.S.) e seus companheiros.

Se naquela época o Imam Hussein (A.S.) tivesse dado seu voto de fidelidade a Yazid ou simplesmente permanecido neutro diante da situação e seguro em sua casa ou isolado em algum lugar, a doutrina islâmica e a mensagem do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) estariam em risco e seriam apagadas com o passar do tempo, e essa mensagem não teria chegado a ninguém nos anos seguintes. E historiadores e sábios islâmicos confirmam, por fatos que estão afastados de fanatismo religioso e sectarismo, que planos para destruir o Islam estavam em pleno andamento logo após a morte do Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Zeinab diz que o ocorrido com o Imam Hussein (A.S.) foi uma belíssima obra, e de grande resultado. E isso requer um nível altíssimo de fé e total submissão a Deus, o Altíssimo.

O sangue desses mártires, o Imam Hussein (A.S.), seus Ahlul Bait (A.S.) e seus companheiros, foi importante para dar vida, depois do Imam Hussein (A.S.), e deixar a mensagem viva através dos tempos. A doutrina islâmica deu impulso para todo ser humano para que lute contra a injustiça e contra a opressão em qualquer lugar do mundo.

Nós fomos selecionados e tivemos a honra de ser escolhidos para ser seus seguidores, partidários (Xiitas) com o orgulho de participar desse sacrifício.

Historicamente falando, nós xiitas somos conhecidos como os opositores, os recusadores (Al-Rafidha) e dizemos que temos muito orgulho de sermos opositores e recusadores não admitindo opressores, corruptos, tiranos e a humilhação.

Seguimos o justo líder, piedoso e sábio. Até mesmo nas orações congregacionais o líder da oração deve reunir qualidades para tal. Todas essas exigências são oriundas do sacrifício do Imam Hussein (A.S.).

Hoje, canais de televisões de vários países transmitem e informam sobre o evento de Karbala. O ocidente está estudando as palavras e a revolução do Imam Hussein (A.S.) e do porquê de seu sacrífico. O Imam Hussein (A.S.) é o guardião da doutrina de Deus, o guardião dos ensinamentos do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e o guardião do futuro do Islam. Esta foi a mensagem e o papel do Imam Hussein (A.S.). Agora me digam: Que tipo de Islam os omíadas desejavam? O Imam Hussein (A.S.) protegeu a mensagem, os ensinamentos e a religião do seu avô, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Que a paz e a bênção de Deus estejam com a senhora Zeinab filha de Ali. A grandiosa!

Que a paz e a bênção de Deus estejam com Abu Fadhl Al-Abbas!

Que a paz e a bênção de Deus estejam sobre aqueles que deram suas vidas pela verdade e pela justiça!

Que a paz esteja e a bênção de Deus estejam com Ali ibn Hussein, Imam Assajad, que deu continuidade a mensagem de Deus!

Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos vocês!

 

 

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