Justiça e injustiça

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Deus, o Altíssimo, disse no seu livro sagrado: “Deus ordena a justiça, a caridade…” (16:90). Numa outra passagem Deus diz: “Deus manda restituir a seu dono o que vos está confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o equidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta! Ele é Oniouvinte, Onividente”. (4:58)

A justiça é algo desejado e amado pela essência humana. É algo compatível com a natureza de cada ser humano. Ninguém deseja ser oprimido ou que seus direitos sejam retirados, e por isso a natureza de todos almeja a justiça, que é algo desejável. Um dos principais objetivos do envio dos profetas e mensageiros para esta vida foi estabelecer a justiça e o combate a opressão. A opressão representa um dos piores tipos de transgressões que o ser humano pode viver e praticar contra o seu criador. Esta prática terá efeitos muito negativos em sua vida e na vida de quem está ao seu redor, e é por este motivo que é repudiada e deve ser abolida da sociedade.

Deus não gosta dos opressores

Quem pratica a injustiça estaria se colocando na posição de ser abominado por Deus, o Altíssimo. Deus disse no Alcorão Sagrado: “…Deus não aprecia os iníquos”. (3:140)

Uma das mais graves consequências da prática de injustiças é ser desconectado de Deus, o Altíssimo, e nós todos sabemos o quanto isso pode causar danos em toda nossa vida. Ninguém quer que sua vida seja uma desgraça ou que a maldição de Deus caia sobre ele, pois estas e outras coisas são alguns efeitos da prática da injustiça. O Imam Ali (A.S.) reprimiu todo tipo de injustiça e opressão. Ele dizia: “Juro por Deus, se me for concedido os sete reinos, contendo tudo que há neles, em troca de uma desobediência a Deus, tirando uma semente da boca de uma formiga, juro que não faria isso”.

Esta é a mensagem do Islam, jamais oprimir, nem que seja um animal, e nem mesmo se for injustiçado. O Imam Al-Baquir (A.S.) dizia: “Jamais pratique a injustiça, mesmo que ela seja praticada contra você”. Jamais e nunca, pois a prática da injustiça, além de representar uma grande transgressão contra as leis de Deus é uma prática que transgredi o direito dos outros, e é aqui que está o principal problema, pois para redimirmos a injustiça, o perdão de Deus dependerá do consentimento e do perdão da vítima, e isso será muito difícil, pois nem sempre o praticante da injustiça pode chegar a ela.

Os tipos de injustiça

Muito se fala sobre a injustiça, mas pouco se fala sobre os tipos de injustiça para que possamos saber quem são os injustos. Talvez nós mesmos estejamos enquadrados como injustos, mas não sabemos ou não prestamos atenção em nossas práticas. E é por isso que devemos estudar para sabermos e conhecermos os tipos e assim evitaremos ser injustos e opressores sem sabermos, evitaremos que sejamos incluídos entre os injustos.

Primeiro: Consigo mesmo

A primeira categoria de injustiça é aquela praticada consigo mesmo. Praticaremos a injustiça com nós mesmos a cada vez que desobedecermos a Deus ou praticarmos um ato ilícito. Isto é classificado como uma injustiça. Todos sabemos que depois de cada ato ilícito haverá um castigo que recairá sobre o ser humano. O Imam Ali (A.S.), dizia: “Aquele que desobedecer a Deus e obedecer a Satã está sendo injusto consigo mesmo”.

Segundo: Contra a própria família

É quando os pais não concedem a atenção necessária aos filhos e nem os educam. Logo, eles crescerão e a falta de atenção dos pais para com eles terá um grande efeito. Ou pode ser quando o pai de família trata os filhos e os membros de sua família com grosseria, sendo injusto, insultando, batendo etc. Ou quando o pai da família é avarento com seus filhos mesmo para aquilo que eles precisam, fazendo com que falte aquilo que eles precisam para ter uma vida digna ou um ensino de qualidade, mesmo ele tendo condições para aquilo.

As injustiças familiares são uma das piores e mais visíveis na sociedade e no nosso dia a dia. Infelizmente, vemos este tipo de injustiça diariamente pelos pais com seus filhos ou com seus subordinados. Devemos ficar bem atentos para tratarmos nossos familiares com justiça, pois a linha que separa a justiça da injustiça é bem fina, e Deus não queira não podemos passar de um lado para o outro sem percebermos.

Terceiro: A injustiça contra os parentes e familiares

Romper laços com familiares, deixá-los, evitá-los, se privar deles é também uma das piores categorias de injustiças. O grau de parentesco e o laço familiar implicam em um dever e obrigatoriedade sobre o ser humano. Ele precisa conviver, se relacionar, se conectar com seus familiares, parentes, pelo menos na medida e no nível que for necessário para o laço não ser considerado como rompido, pois se for rompido será classificado como injusto e está injustiça lhe causará sérios danos.

A injustiça contra os parentes não ocorre apenas por romper os laços, e sim porque este rompimento gera diversas outras consequências. Manter os laços familiares é importante, pois une a família e fortalece o amor entre seus membros. Quando alguém precisar de algo e você puder ajudar, e muitas outras coisas que este laço pode nos proporcionar, e que ao ser rompido, estaremos rompendo tudo isso.

Quarto: A injustiça social

Esta é a quarta categoria de injustiças que o ser humano pode praticar despropositadamente ou propositalmente. Ser injusto com as pessoas, com o cliente, com fornecedores, com vizinhos, com colegas de trabalho, com a sociedade como um todo, é também um tipo de injustiça muito severo. Gritar, levantar a voz, fazer coisas que podem incomodar os vizinhos como, por exemplo, um simples ato de estacionar o carro na frente da garagem dele, sabendo que ele não gosta disso, ou jogar o lixo na frente da casa dele. Enfim, estes e muitas outras dezenas de exemplos que não caberiam aqui a serem citados, mas que podem ser percebidos no dia a dia, tudo isso pode sim ser classificado como injustiça. Às vezes uma simples brincadeira de mal gosto humilhando a pessoa perante os outros pode enquadrar aquilo como injustiça. Devemos ficar bem atentos.

As consequências da injustiça

Ao sabermos todas as categorias de injustiça acima citadas, podemos ter uma ideia real de quanto a injustiça está presente no nosso dia a dia, sendo que ser justo e injusto está dividido por uma linha bem fina a qual pode ser despropositadamente atravessada pela pessoa, mas mesmo assim não deixará de inclui-la como injusta. Não se pode achar que a injustiça é apenas praticada pelas forças maiores, como governantes que oprimem seus subordinados ou pessoas que abusam do poder a elas atribuídos e praticam suas injustiças contra as pessoas. A injustiça é mais próxima de nós do que nós achamos que é, e devemos ficar bem atentos para não nos aproximarmos dela, pois isso tem sérias consequências, entre elas:

1) A ira de Deus

Quem praticar a injustiça, podendo ser qualquer umas das que foram citadas, estará vulnerável e poderá ser incluído a qualquer momento na ira de Deus. Deus, o Altíssimo, disse: “Aniquilamos gerações anteriores a vós por sua iniquidade, porque, apesar de lhes haverem apresentado aos seus mensageiros e as evidências, jamais creram. Assim castigamos os pecadores”. (10:13)

2) A vida curta

Quem praticar qualquer um dos tipos de injustiça, terá uma vida curta e certamente não viverá por muito tempo. A injustiça encurta a vida como dizia o Imam Ali (A.S.): “Quem oprimir, encurtará sua vida”.

3) O fim das bênçãos

Uma das consequências da injustiça é o fim das bênçãos. Depois que Deus nos agracia com tantas bênçãos, sendo estas incalculáveis, como a saúde, o bem-estar, a riqueza, o conhecimento, o estudo, o trabalho, carros, casas, a família, os filhos e milhares de outras graças abundantes. Quando o ser humano oprime e é injusto, certamente Deus tirará dele tudo isto. Alguém quer isso? É claro que ninguém deseja que Deus retire nem mesmo que seja uma de Suas graças sobre ele, pois lhe fará uma grande falta. O Imam Ali (A.S.), dizia a respeito deste pensamento: “A injustiça causa a extinção das graças”.

4) A maldição

A opressão certamente pode atrair uma maldição contra a pessoa. Jamais pensem que a injustiça passará despercebida ou ignorada. Perante Deus nada será esquecido ou deixado de lado. Ele tudo vê e tudo registra, e sobre isso, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), dizia: “Jamais oprima quem não tem ninguém além de Deus para lhe socorrer, pois entre a oração dele e Deus não há nenhum obstáculo”.

5) A transferência das boas ações

Como já sabem, no dia do juízo final todos seremos cobrados pelas nossas ações. Quando as ações forem apenas atos de desobediência perante Deus poderemos ser castigados ou perdoados. Mas, e quando a pessoa oprime e pratica injustiças contra outros? Como será que este assunto será abordado? Esta situação será muito difícil e não é desejada por ninguém. No dia do juízo final, dia em que toda pessoa precisa e necessita de qualquer boa ação feita nesta vida para poder garantir sua entrada ao paraíso, esta pessoa terá que pagar pelas injustiças feitas na Terra sobre as outras pessoas. No dia do juízo final a pessoa deve indenizar suas vítimas. Mas como ela vai pagar?  A moeda que se paga por meio dela no dia do juízo final são as próprias ações. O praticante da injustiça deverá conceder parte de suas boas ações para as suas vítimas, isso é se elas existem. Tudo que seja considerado como boas ações será repassado como forma de indenização para as vítimas, e quando não há mais boas ações do opressor a serem transferidas para as vítimas, as más ações das vítimas serão transferidas para o praticante da injustiça. Sendo assim ele pagará pelas más ações de suas vítimas. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.), afirma esta questão dizendo: “No dia do juízo final a pessoa chegará toda feliz por suas boas ações. Então, chegará alguém e dirá a Deus: Ó Deus este (apontado para a pessoa) me oprimiu. Então, Deus retirará das boas ações do opressor e concederá à sua vítima. Deus fará isso até que não haja mais nenhuma boa ação do opressor a ser transferida à vítima. Depois disso, se vir alguém que se queixe pela injustiça da mesma pessoa. Então, como ele não tem melhores ações para pagar por meio delas a sua vítima, serão tiradas más ações praticadas pela vítima para que o opressor pague por elas. Ele (o opressor) pagará por elas e entrará no inferno”.

6) Privação do paraíso

A última, a pior e a mais grave das consequências da opressão, é que a pessoa será privada do paraíso, e isso ninguém almeja. Todos anseiam pelo paraíso e ninguém deseja ser privado do paraíso e ter sua entrada proibida. O Imam Ali (A.S.), dizia: “Jamais oprimam, pois o opressor não sentirá o cheiro do paraíso”. Ou seja, ele quer dizer que o opressor nem chega perto do paraíso.

O pior tipo da injustiça

De todos os tipos de injustiças, há uma que é das piores. É a injustiça contra o fraco, contra o vulnerável, contra aquele que não consegue se defender, contra aquele que não pode chegar a alguém que lhe auxilie e lhe ajude a enfrentar a injustiça. Este é o pior dos tipos. Esta injustiça pode ser contra os filhos, empregados, subordinados que dependem de seu superior para sobrevier. Pode ser também contra o paciente que depende do seu médico e de seu tratamento. Enfim, qualquer um pode ser enquadrado como opressor e injusto, como também qualquer um pode ser enquadrado como injustiçado e oprimido.

Quem é injusto?

Qualquer um pode ser enquadrado como injusto e nem sempre precisa ser o praticante da injustiça para ser enquadrado como tal. Às vezes, apenas por ficar omisso perante as injustiças já é uma prática injusta, e torna a pessoa injusta. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.), dizia: “Quem andar com um injusto para auxiliá-lo com sua injustiça sabendo que ele é injusto, esta pessoa será renunciada do Islam”. Ou seja, quem andar, auxiliar, ajudar, orientar, ou às vezes, simplesmente estar na companhia de um injusto, poderá também ser considerado um injusto e sua ação o afastará do Islam. Será como se tivesse saído e dado as costas para o Islam. Numa outra passagem o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse uma frase que é muito forte e deve ser muito bem estudada e analisada. Ele dizia: “Quem ajudar um opressor com sua injustiça, virá no dia do juízo final escrito sobre sua testa: Perdi a esperança pela clemência de Deus”. Não é a clemência que nós almejamos? Não é o perdão de Deus que nós tanto desejamos? Pois é, tudo isso será em vão e perdido se ajudarmos um opressor com sua injustiça.

Quem é o justo?

Às vezes, não precisa de muito para ser incluído entre os justos ou para se livrar de ser enquadrado como injusto. Um simples ato de apoio e de simpatia com alguém pode tornar uma pessoa justa. O Imam Al-Redha (A.S), dizia: “Quem ajudar um injusto é injusto, e quem trair o injusto é justo”.

Com estas explicações, queridos irmãos, se quisermos ser enquadrados como opressores e injustos, está claro para nós o que nos leva a sermos enquadrados como tal. E se quisermos ser incluídos como justos e honestos, também está claro o que podemos fazer para sermos considerados assim.

Louvado seja, Deus, o Senhor do Universo.

Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Data: 06/06/2020

 

 

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