Conceitos Equivocados sobre a Aparência

Apresentamos aqui alguns conceitos equivocados, comuns entre alguns jovens devido à sua boa fé ou intuição, como se fossem revelações alcorânicas. O objetivo de discuti-los é mostrar o seu equívoco e descobrirmos, por intermédio disso, a verdade, passando a adotar o certo e rejeitar o errado. Assim, a nossa cultura islâmica se torna correta e os nossos jovens a utilizarão, agindo de acordo com ela.


1. O mundo constitui-se de aparências: Os jovens, e especialmente as jovens, despendem muita importância à sua aparência, com o objetivo de chamar a atenção. A preocupação com a aparência exterior passa a ser um instrumento de disputa de méritos e rivalidades perante os semelhantes, amigos ou amigas. Se alguém perguntar a algum deles ou alguma delas sobre o motivo desse excesso de preocupação com a aparência, ele ou ela responderá: “O mundo constitui-se de aparências” O Alcorão Sagrado descreveu o mundo como sendo local de diversão, ilusão, enfeite, orgulho e cobiça. Porém, com essa descrição, quis condenar os excessos do comportamento humano, pois Deus Altíssimo incentivou as pessoas a usufruir das bênçãos do mundo, desde que de maneira comedida: “Mas procura, com aquilo com que Allah te tem agraciado, a morada do Outro Mundo; não te esqueças da tua porção neste mundo.” (Alcorão Sagrado, 28:77). Ou seja, desfrute-se dele sem se aproximar do ilícito, aproveitando a oportunidade para ser obediente e dedicado ao serviço da humanidade, fazendo prevalecer na terra o bem, a justiça, a beleza e a verdade.


A expressão “o mundo é constituído de aparências” surge de uma situação cultural-social que concede prioridade às aparências. Quem possui roupas luxuosas, automóveis caros e palácios requintados é considerado pessoa de mérito; quem usa roupas caras, enfeites como pulseiras, anéis e brincos de ouro, torna-se uma pessoa superior. Deve-se chamar a atenção para o fato de que o mérito, aqui, não é real, mas surge de suposições. Ou seja, as pessoas, devido ao atraso cultural, consideram a aparência um mérito e condição de superioridade. A história do homem que ingressou numa festa e não teve a atenção de ninguém porque o convite era feito para os que consideravam as aparências é esclarecedora. Quando ele vestiu roupas caras, chamou a atenção e atraiu a consideração das pessoas. Quando lhe foi servida a comida, ele não consumiu nada dela, servindo-a às suas vestes, dizendo: “Come, isso lhe pertence!” Os presentes estranharam a cena, que revelava que a consideração dependia da aparência e não da personalidade da pessoa.


Se quisermos conhecer a realidade da fama, podemos dizer que a pessoa tem o direito de se orgulhar de seus méritos, suas aptidões, pensamentos, inventos e seu serviço à sociedade. Devemos considerar que a superioridade verdadeira está no crescimento do pensamento humano, no seu relacionamento com as coisas, com as pessoas e com os acontecimentos. Que a mais eloquente mensagem do Hajj (Peregrinação), que o Islã oferece aos seus seguidores, é que Deus não olha para as aparências e as vestes das pessoas, mas para o que sentem os seus corações . A mensagem das duas peças de roupa utilizadas durante o ritual da peregrinação é muito parecida com a mortalha que cobre o corpo da pessoa na sua última viagem. É uma mensagem que diz: “O que o distingue de seu irmão é o ato, o conhecimento e o temor a Deus. Fora disso, não tem valor ou consideração, quer use roupas de seda ou trapos.”


Não queremos, contudo, dizer que a aparência deve ser negligenciada e que devemos usar roupas velhas e remendadas. A boa aparência e a higiene acrescentam beleza e saúde ao ser humano. Porém, devemos dar valor e nos atermos à essência e ao conteúdo, mais do que à aparência e à forma. As roupas e os ornamentos, mesmo os mais caros e famosos, ficam velhos e mudam, desbotam e perdem o valor. Mesmo os seus modelos ficam obsoletos, se nos fixarmos na moda. O caráter do ser humano, seus pensamentos, o método de seu relacionamento e suas aptidões não ficam velhos, mas podem se renovar e aumentar a sua importância, com o passar dos dias. Deus não olha para os nossos corpos e para as nossas aparências, mas olha para os nossos corações. Ou seja, olha para o conteúdo interno de cada um de nós. A respeito disso, o poeta diz:


“Se não for maculada a honra da pessoa,
Toda vestimenta que ela usa é bela.”

 

 

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