A Vida de Misam i-Tammar

Misam i-Tammar foi um escravo que pertencia a uma mulher de Bani Asad. O Imam Ali (as) o comprou e o libertou pela senda de Deus. Ele costumava vender tâmaras no Mercado de Kufa e por isso era conhecido como Misam i-Tammar.

O Imam Ali (as) perguntou-lhe: “Qual é o seu nome?” Ele respondeu: “Salim.” Imam Ali (as) disse: “O Profeta Mohammad (saas) me disse que os iranianos o chamavam de Misam.” Misam ficou surpreso, pois ninguém conhecia seu verdadeiro nome. Ele disse: “Deus e Seu Profeta são verdadeiros.” Daquele dia em diante Misam não abandonaria o Imam Ali (as).

Misam i-Tammar foi um homem de caráter elevado e um verdadeiro amante de Deus, do Profeta (saas) e dos Ahlul Bayt (as). Viveu uma vida simples; duas coisas se desenvolveram em seu coração: a fé no Islam e o amor ao Imam Ali (as), que lhe ensinou que o Islam era um caminho para a Liberdade.

Durante o período do martírio de Muslim bin Aqil (as), outros importantes eventos foram os martírios de Misam i-Tammar e Rushayd Al Hajari. Cabe também mencionar os martírios de Hujr bin Adi e Umr bin Humaq.

Misam tomava lições com o Imam Ali (as) que lhe ensinou muito dos segredos da fé, o que incluiu o ilm-e-manaya wal balaya (o conhecimento da morte e das calamidades futuras) e o ilm-e-taweel (interpretação e exegese do Alcorão Sagrado). Às vezes, com a permissão de seu mestre, Misam i-Tammar falava publicamente sobre os segredos que havia aprendido. Não raro, as pessoas, em vista da dificuldade de compreender tais assuntos, achavam que Misam havia perdido a razão.

Um dia, Imam Ali (as) disse a Misam que ele seria martirizado em razão do amor a seu mestre. O Imam contou-lhe ainda que ele seria pendurado em uma árvore (para morrer) numa fazenda próxima a casa de Amr Ibn Huraith, e que a árvore seria a menor de dez árvores existentes na propriedade. Misam foi ainda informado que teria sua língua arrancada por não parar de elogiar o Imam Ali (as). Misam, depois de saber disso, passou a ir até o local indicado e olhar para aquela palmeira; ele limpava a área, regava a árvore e realizava suas preces ali. E dizia: “Ó árvore! Tu és de mim e eu sou de ti.”  Misam visitou aquele local por mais de vinte anos.

Misam foi até Amr Ibn Huraith e disse: “Eu serei teu vizinho, e cumprirei os direitos de vizinhança. Amr não entendeu o sentido daquilo e perguntou, “Tens a intenção de comprar a casa de Ibn Mas’ud ou a de Ibn Hakim?” Misam ficou em silêncio e deixou-o confuso.

Os anos se passaram e o Imam Ali (as) foi martirizado. Misam esperou sua hora. Em 60 da Hégira, Ubaidallah Ibn Ziad foi nomeado governante de Kufa.  Misam realizou o Hajj e logo em seguida retornou a Kufa. Um dia, Ubaidallah mandou chamá-lo e perguntou-lhe na Corte: “Ó Misam! Dize-me onde o teu Deus está?” Misam respondeu: “Ele está em busca da oportunidade de punir os transgressores”. Ubaidallah então perguntou sobre sua ligação com o Imam Ali (as). Misam respondeu que Ali (as) fora seu mestre e que ele o amara. Ubaidallah perguntou: “Teu mestre informou algo sobre o teu fim?” Misam respondeu: “Sim, disse-me que eu seria pendurado numa árvore e que minha língua seria cortada.” Ubaidallah soltou uma gargalhada e disse, “Eu vejo que teu mestre mentiu, e que essa profecia é falsa.” Misam disse: “As palavras de meu mestre são verídicas, pois ele recebeu essa informação de Deus.” Ubaidallah ordenou que o aprisionassem. Misam, Al Mukhtar Al Taqafi e Abdullah bin Al Harith ficaram na mesma prisão.

Na mesma época, Imam Hussein foi martirizado. E os prisioneiros se compadeceram dele. Al Mukhtar disse para seus companheiros: “Estejam prontos a se encontrar com Deus, depois de Imam Hussein, Ubaidallah assassinará seus apoiadores.” Abdullah bin Harith disse: “Sim, ele nos matará mais cedo ou mais tarde.” Misam disse: “Não, ele não vos matará. Meu mestre, Imam Ali (as) informou-me que tu (Al Mukhtar) vingará a morte do Imam Hussein, e chutará a cabeça de Ubaidallah Ibn Zyad.” Em seguida, Misam disse a Abdullah bin Harith: “Tu governarás Basra.”

Quando Ubaidallah ibn Ziyad mandou chamar Al Mukhtar para que fosse executado, uma mensagem de Yazid chegou ordenando que o libertasse. Ubaidallah soltou Al Mukhtar e ordenou que Misam fosse executado.

Amr Ibn Huraith viu Misam e lembrou do que ele havia falado, (que seria seu vizinho). Amr Ibn Huraith mandou que uma de suas filhas varresse e lavasse o terreno ao redor da palmeira.

Uma pessoa viu Misam e disse: “Renegue Ali e salve tua vida”. Misam sorriu e respondeu: “Por Deus, esse tronco de palmeira foi criado para mim! E eu fui criado para ele.” Assim, as pessoas descobriram a razão para que ele por tantos anos visitasse aquele local. Mesmo depois de ser pendurado Misam continuou a entoar louvores ao Imam Ali (as)

Ubaidallah foi informado disso e ordenou que a língua de Misam fosse cortada. Portanto a previsão do Imam Ali (as) se realizou. Misam-i- Tammar morreu logo depois. Innalillahi wa Inna ilaihi Rajiuun.

Seis anos se passaram e Al Mukhtar convocou sua revolução em Kufa para vingar o massacre de Karbala. Seu exército encontrou Ubaidallah Ibn Zayd na margem do rio. Ibrahim Al Ashtar o decapitou. Alguns combatentes trouxeram sua cabeça, Al Mukhtar levantou-se e chutou a cabeça de Ubaidallah, lembrando as palavras de Misam na prisão: “Tu vingarás o Imam Hussein”. Os dias se passaram e os assassinos de Imam Hussein pereceram. A maldição do povo tem estado sobre eles no decorrer da história.

Nos dias atuais, os visitantes que deixam a cidade santa de Najaf e seguem para conhecer as ruínas de Kufa, deparam-se no caminho com um belo domo que decora o santuário de Misam i-Tammar.

 

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