A Aproximação do Final dos Tempos

Por: Ahmad Ismail

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Este trabalho busca analisar com base comparativa algumas das narrativas registradas nas fiéis tradições do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e dos Ahlul Bait (A.S.), referentes aos indícios da aproximação do final dos tempos. Esse tema é recorrente nos colóquios do Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) e dos Imames sucessores (A.S.) como um importante legado às gerações de muçulmanos. A finalidade essencial dessas previsões é a salvaguarda da fé e a convicção a respeito do plano divino, o que foi continuamente lembrado pelo Profeta (S.A.A.S.) e por sua nobre linhagem (A.S.), com especial ênfase na aparição do Imam da Época (A.S.) (Que Allah apresse seu retorno).

Uma análise cuidadosa dos indícios citados nas tradições nos leva a algumas considerações prévias indispensáveis que confirmam de modo indiscutível o caráter profético desses sinais. O primeiro ponto a ser considerado é a absoluta ausência de uma similaridade temporal entre a época em que o Profeta (S.A.A.S.) e os Doze Imames (A.S.) viveram e a época a que se referem as tradições. Isto é, não havia qualquer possibilidade humana de imaginar os fatos previstos com base numa dedução lógica de causa e efeito, porque o mundo do modo como o conhecemos, o mundo dos avanços tecnológicos, o mundo da era pós-industrial não poderia (dentro das limitações da mente humana) ser concebido a partir da visão de mundo de 1400 anos atrás.

O segundo ponto é a total desconexão entre a concepção de sociedade e as características culturais e tradicionais do tempo do Profeta (S.A.A.S.) e o “novo mundo” de uma vasta complexidade cultural e social que possui uma gama de costumes e traços sociais inimagináveis para a mente comum de uma sociedade tribal mesmo da Idade Média, o que dizer de uma sociedade de catorze séculos atrás.

Podemos afirmar que o Profeta (S.A.A.S.) vaticinou sobre um “mundo que realmente não existia ainda” e que o fez sem possuir qualquer indício que, a partir do qual lhe fosse possível uma mera dedução ou suposição; o que seria um exercício do intelecto apenas, tal como o fazem os homens de ciência em todas as épocas.

Considerando esses dois pontos, aquele que analisa e medita sobre as narrativas, especialmente sobre as que fazem referência às condições gerais do mundo moderno e de seus avanços científicos e tecnológicos, por mais cético que seja, se vê forçado pela razão a aceitar que seria humanamente impossível para um homem iletrado, que nasceu e viveu sua vida inteira na península arábica, afirmar com tanta precisão (e sequer imaginar) fatos separados de seu tempo por pelo menos um milênio! O cético certamente chamará a isso de “inexplicável”. Contudo, aos que creem, são as Palavras de Allah, Exaltado Seja, em seu Livro Sagrado que iluminam seu entendimento: “Que vosso companheiro (Mohammad) jamais se extravia ou erra, nem fala por capricho, isso não é senão a inspiração que lhe foi revelada”. (Alcorão Sagrado, 53:2 a 4)

O foco de nossa atenção se volta neste trabalho aos vaticínios do Profeta (S.A.A.S.) que se referem aos primeiros indícios da proximidade do fim dos tempos, os quais são denominados de pequenos sinais, até o reaparecimento do Imam Mahdi (A.S.) e a descida de Issa (Jesus) (A.S.), que marcarão o início de uma nova etapa da humanidade, marcada pelos grandes sinais que precederão o fim, a ressurreição e o Dia do Juízo. Aqui selecionei apenas uma pequena parte demonstrativa dos primeiros indícios e os mencionei numa ordem relativamente cronológica, segundo a nossa visão histórica.

Parte 1- O Advento do Mundo Moderno

Na vasta coletânea de dizeres proféticos concernentes ao final dos tempos, encontramos claras referências a um período de grandes mudanças inéditas na história da humanidade, um período no qual, segundo os ahadith, a organização social do mundo sofreria uma rápida e radical mudança. Os indícios destacados pelo Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) mencionados a seguir formam um quadro bastante nítido deste período:

“A terra tornar-se-á pequena e o tempo se encurtará”.

Faz-se evidente que ao dizer isso, o Profeta (S.A.A.S.) se referia ao surgimento de uma época onde ocorreria uma extraordinário avanço nos meios de transporte, o que alteraria a noção de espaço e de tempo de uma maneira sem precedentes. Para o homem moderno, é muito difícil conceber o significado dessa mudança. Sua noção de tempo e espaço nessa era da aviação e do automóvel é inteiramente diferente mesmo da noção de tempo e espaço do homem do início do século XX.

Uma outra indicação subjacente na expressão “o tempo se encurtará” é a de que o modo de vida da humanidade seria tão afetado pela inovações e estaria sujeito a fatores absolutamente inéditos que os homens passariam a ter a sensação do “tempo a correr”. Essa sensação é unânime em nossos dias em todas as pessoas de todas as classes sociais ou nacionalidades, em todas as regiões do mundo caracterizadas pelo modo de vida moderno. A rapidez com que qualquer ponto do globo pode ser atingido através dos modernos meios de transporte, confirmam o fato de que a terra tornou-se “pequena”.

Cronologicamente, podemos identificar o período a que o dizer se refere, ao fim da idade média, o chamado período das grandes descobertas marítimas, o qual foi, por assim dizer, o ponto de partida para esse processo de mudança.

“A ampliação do comércio, a abundância do dinheiro, a expansão da usura, a projeção do Cálamo (da escrita)”.

Esses quatro indícios citados pelo Profeta (S.A.A.S.), completam-se entre si de modo perfeito, pois apontam para uma época marcante da transformação do mundo antigo para o mundo moderno. Esse processo de transformação foi desencadeado pelo Mercantilismo (a ampliação do comércio com o surgimento de uma nova visão de mercado transnacional) que gerou a abundância do dinheiro e o surgimento do sistema bancário, os quais delinearam as bases para o sistema capitalista.

Pela primeira vez, as rotas de comércio tradicionais foram suplantadas por um sistema de comércio muito mais amplo (o que ocorreu cerca de oito séculos depois do Profeta), favorecido sobretudo pelas novas rotas marítimas descobertas. O enriquecimento sem precedentes das nações europeias foi fator de origem ao sistema bancário (que se fundamenta no sistema de juros) e também favoreceu a projeção da escrita. Essa última indicação pode ter um sentido mais abrangente ou mesmo referir-se ao período do renascimento, no qual a arte e a cultura produziram uma revolução do pensamento da época.

É necessário notar que como os indícios apontados não se fixam a datas, as idéias que expressam fazem alusão a condições que surgem na história do homem como processos contínuos, isto é, cada um desses sinais apontados são condições que se tornariam predominantes e se desenvolveriam ao longo de todo o período, até o aparecimento do Imam Mahdi (A.S.).

“A descoberta de muitos metais / O surgimento de coisas fantásticas além da imaginação / Os objetos falarão / Partes construídas serão abandonadas e serão construídos novos locais / Os descalços e os pastores andrajosos construirão grandes e altas edificações (e competirão para isso)”.

Os indícios mencionados acima não deixam a menor dúvida quanto ao período histórico a que se referem. Neles há uma clara indicação da época que chamamos “época das luzes”, a revolução industrial e o início do Séc. XX. A menção da descoberta de muitos metais e do surgimento de coisas fantásticas além da imaginação prenunciam o avanço científico gerado no séc. XVIII e que se materializou de modo jamais visto até então, no decorrer do séc. XIX.

Se grande parte dos inventos e descobertas científicas desse período, já nos parecem corriqueiros por fazerem parte do nosso cotidiano desde que nascemos, para os homens do séc. VI eram sem dúvida, “além da imaginação”. A lâmpada elétrica, o trem, o automóvel, o avião, são apenas alguns exemplos dessas maravilhas inconcebíveis e assustadoras para a compreensão dos contemporâneos do Profeta (S.A.A.S.). A profecia de que “os objetos falarão” prenuncia o surgimento do rádio, da TV e dos computadores. Os outros dois indícios anunciados pelo Mensageiro de Allah (S.A.A.S.), dizem respeito a profunda mudança social que se operou no mundo a partir do final do séc. XIX: o êxodo para as grandes cidades, as grandes massas migratórias e o surgimento dos altos edifícios construídos por uma mão de obra proletária oriunda das zonas rurais, engajada num novo processo de trabalho que alterou por completo o modo de vida tradicional dando origem às metrópoles.

Parte 2 – Os Sistemas Sociais e Políticos

Nesta Segunda parte, os indícios selecionados apontam consequências da alteração profunda do modo de vida e da organização social, bem como aspectos predominantes na política e na economia.

“A opressão e a tirania se tornarão dominantes / Haverá muitas matanças sem justificativa / As pessoas serão respeitadas pela sua força e brutalidade, não pela sua justiça / Os fundos públicos serão considerados propriedades privadas / Se gastarão fortunas para a ruína das nações / A prática da usura se tornará comum e afetará a tudo e a todos.

A primeira impressão do quadro apresentado por esses indícios é a de um sentido de generalização de problemas que sempre existiram mas, que ganhariam uma expressão desconhecida à época do Profeta (S.A.A.S.). Um sistema de opressão exercido pela força bélica e pela força do dinheiro em que o respeito mas se assemelhe ao temor. Também se frisa a corrupção política como um mal generalizado e com ela, o desperdício e a aplicação de recursos de modo indevido, que levaria nações inteiras à ruína. Em adição a tudo isso, o sistema de usura que afetaria a tudo e a todos, sistema que sabemos, submete nações e economias privadas e públicas, drena os lucros da produção e realmente determina o enriquecimento de poucos e a pobreza de muitos.

A questão da violência é apresentada de modo genérico a meu ver propositadamente. Como um sinal que a época referida se caracterizará tanto por massacres brutais cada vez mais assombrosos como por crimes individuais marcados pela mesma falta de justificativa e que terão como diferencial básico a impunidade e a indiferença. Em nosso tempo, como em nenhum outro, convivemos com uma indústria e uma tecnologia a serviço da morte (que envolve lucros astronômicos) em nome dos interesses das nações poderosas e ao mesmo tempo, com um estado de violência crônica nas grandes cidades do mundo que produz cifras de vidas ceifadas que chegam a superar os conflitos armados. É inegável que em nenhuma outra época, em que pese as guerras constantes de domínio do passado, a mortandade se comparou a de nossa época.

Parte 3 – Dissolução da Instituição Familiar, da Ética e da Moral

Nesta terceira parte estão os indícios referentes aos costumes sociais que predominariam na época precedente ao ressurgimento de Imam Mahdi (A.S.) (Que Allah apresse seu retorno).

Cabe ressaltar que todas essas características são produtos dessa época, isto é, seriam impensáveis a cerca de cem anos atrás. O surgimento do que conhecemos como cultura de massa, dirigida a “produzir” estilos de vida, modas e ideias erroneamente identificadas como “avanços”, a qual podemos datar em torno da década de 50 (o período pós-guerra), ampliou mundialmente novos hábitos de consumo e promoveu grande parte das mudanças no modo de vida tradicional das sociedades. Esse é um processo em andamento e em expansão e os seus sintomas são visíveis na instituição familiar, nas relações sociais e nos padrões de comportamento.

“Os filhos desobedecerão e maltratarão os pais / Terão mais consideração e generosidade por estranhos do que por seus pais / As filhas tratarão suas mães como servas / A nova geração amaldiçoará a anterior / Não se respeitará os velhos e não se terá compaixão pelas crianças / Os homens obedecerão suas mulheres e desobedecerão suas mães”.

O primeiro ponto destacado é o estabelecimento de uma situação de conflito no seio das famílias e uma total inversão de valores. Uma crescente rebeldia dos filhos em relação aos pais. De fato, se prefigura uma desintegração e uma perversão da instituição familiar, que naturalmente se refletirá em toda sociedade. Lembremos que nas sociedades tradicionais das mais diversas culturas e povos, o respeito aos pais sempre foi um valor reverenciado o que reafirma o caráter inusitado desta mudança. A falta de consideração e generosidade aos pais explica muitas das situações lamentáveis que presenciamos, de filhos que depois de criados e bem situados na vida abandoná-los em sua velhice em asilos (asilos que são também um produto da sociedade moderna).

O vaticínio de que “não se respeitará os velhos e não se terá compaixão pelas crianças” retrata fielmente o que ocorre em nossa época. É sabido que em todas as sociedades e culturas tradicionais o ancião e a criança ocupam lugares de honra e respeito. O Islam nos ensina que nenhuma comunidade pode alcançar equilíbrio e bem estar se permitir o desamparo e o abandono dos idosos e das crianças. E este é um traço típico da sociedade moderna dirigida pelo utilitarismo materialista da produção, que despreza o conhecimento e a experiência dos mais velhos e os trata como refugos, e ao mesmo tempo, não demonstra respeito para com a criança. Assim, renega o passado e despreza o futuro. Também é apontada aqui a fraqueza de caráter que se verificará nos homens, que, se curvarão aos caprichos de suas esposas enquanto desobedecerão suas mães. Como vemos, toda a estrutura familiar está sendo minada e este é um retrato perfeito de nossa época.

“Não se desejará mais filhos, se preferirá os cães / Os filhos fruto de adultério e fornicação serão muitos / a modéstia e a vergonha desaparecerão / O adultério e a fornicação serão vulgarizados e praticados em público / As mulheres imitarão os homens e os homens imitarão as mulheres / O homossexualismo e a prática da sodomia será crescente / As mulheres estarão vestidas mas ao mesmo tempo, nuas.”

Esse grupo de indícios é como a continuação do anterior, uma consequência lógica do enfraquecimento da família, dos valores essenciais do casamento e por que não dizer, do respeito a si mesmo.

“Não se desejará mais filhos, se preferirá os cães…” É digno de nota o fato que na época do Profeta (S.A.A.S.) o ter muitos filhos era um motivo de júbilo. Na tradição semítica, um sinal de benção divina. O vaticínio aponta para uma época em que o estilo de vida predominante seria o individualismo e por conseguinte, filhos seriam vistos como um estorvo. É fato que a vida moderna dirigida para a produção incessante pouco a pouco “engajou” a mulher no mundo do trabalho, criando mais um fator para a opção de poucos ou nenhum filho. Por outro lado, o estilo de vida superficial se reflete no desmedido amor aos cães. O costume de criar cães, que no passado se restringia à necessidade de caça, foi sendo substituído pelo costume das aristocracias europeias ao ponto de difundir-se para todas as camadas sociais. É evidente que as motivações para a criação de cães variam em cada classe social, entretanto, o sentido do dizer denota e especifica um desvio emocional que se verificaria, algo como uma incapacidade para o amor filial. Sabemos também, que o estilo de vida materialista se caracteriza pela ostentação e que para muitos, não é o amor aos animais que os leva a criá-los, mas uma espécie de afirmação social de status através da posse de cães de raça.

Em seguida, é mencionada a incidência crescente de filhos ilegítimos (o que na época do Profeta (S.A.A.S.) era um sinal de desonra e vergonha). Hoje, o adultério e a fornicação são absolutamente comuns e até vistos por alguns como algo necessário. O desaparecimento da modéstia e da vergonha se verifica claramente e a exposição do sexo na mídia, no cinema, na TV e via internet confirmam que o sentido do privado foi perdido, e como foi dito pelo Profeta (S.A.A.S.), é praticado em público.

Outro sintoma comprovado da época a que se refere, é a imitação mútua do homem e da mulher quer seja, no vestir ou no comportamento social. O crescente homossexualismo se refere a uma época onde essa prática, antes restrita e condenada, passa a ser aceita e até mesmo incentivada. A visão hedonista que emergiu na sociedade moderna vê como direito individual do homem e da mulher se comportar como achar melhor. O número crescente de homossexuais conta hoje (como em nenhuma outra época), com o respaldo da mídia que tem trabalhado no sentido de doutrinar a sociedade para aceitá-los, e dos governos de muitos países.

“As mulheres estarão vestidas e ao mesmo tempo nuas” este é outro sintoma social sem precedentes, que surgiu a partir do pós-guerra quando a exposição do corpo da mulher transformou-se na principal estratégia de marketing. Com a derrocada dos valores morais e religiosos que impunham restrições, hoje, na mente coletiva da sociedade o sentido de liberdade individual se confunde com o exercício do direito ilimitado sobre o próprio corpo.

Parte 4 – A Decadência da Religião e a Corrupção de seus Princípios

Muito embora a maior parte dos dizeres proféticos e as fontes dos Ahlul Bayt (A.S.) referentes a aproximação do final dos tempos abordem especificamente as condições da Ummah (comunidade islâmica), alguns aspectos da religiosidade de modo geral são mencionados.

“Se propagará o ateísmo / Surgirão muitos falsos profetas / As seitas se multiplicarão / Numa mesma família haverá pessoas de diferentes crenças / Haverá muita apostasia / Haverá muita hipocrisia, ostentação da fé e falsa caridade.”

Os muitos fatores que resultaram na decadência da religião, também produziram as condições para que o materialismo e a filosofia ateísta ganhassem terreno simultaneamente ao avanço científico e tecnológico. Sistemas filosóficos e doutrinas políticas como o Marxismo e o existencialismo surgiram no bojo de uma forte tendência a eleger o homem como o centro do universo e a medida para todas as coisas. O darwinismo que, segundo muitos pensadores, havia reduzido a nada os “mitos religiosos” quanto a origem do homem e do universo, e os avanços científicos do século XIX serviram como argumento para a refutação da ideia da existência de Deus. A psicanálise freudiana “diagnosticou a doença religiosa e os mitos do pecado” e assim o homem entrava numa época em que se afirmava “a morte do mito divino”.

A época referida, marcou no mundo ocidental a separação da religião do estado, o que favoreceu uma nova mentalidade em que as sociedades não mais estabeleciam leis ou modelos de comportamento com base na religião.
Narrativas fiéis mencionam a ocorrência desse fenômeno de modo crescente entre os próprios muçulmanos.

“Surgirão muitos falsos profetas e as seitas se multiplicarão…”

Não obstante em todas as épocas tenham existido impostores reivindicando a profecia, e seitas cismáticas em todas as tradições religiosas, os séculos XVIII, XIX e XX presenciaram, junto com a secularização progressiva da religião, a multiplicação desses dois fenômenos numa proporção que só pode ser entendida como uma histeria mística. Tornou-se comum a reivindicação da profecia e a consequente fundação de uma nova seita. As narrativas mencionam uma época em que os desvios, as inovações, as heresias e o politeísmo se propagariam de modo desenfreado. Uma época em que os ensinamentos religiosos seriam manipulados por interesses mundanos, em que o Istidráj (fenômeno de natureza demoníaca) seria utilizado por muitos e multidões seriam ludibriadas e induzidas à idolatria e à falsidade. Em tal situação haveria, numa mesma família, pessoas de diferentes crenças. Consideremos que na época do Profeta (S.A.A.S.) era comum que as famílias adotassem uma mesma crença e esse era um elemento básico de comunidades distintas. Com o secularismo religioso, a apostasia e a hipocrisia se tornariam predominantes ao ponto da caridade ser exercida pela ostentação e para a fraude.

Parte 5 – Desequilíbrios e Terríveis Efeitos nas Sociedades

Alguns dos indícios destacados se referem a efeitos e desequilíbrios resultantes do quadro apresentado anteriormente, que pode ser compreendido como um processo acelerado a partir do século XVI, que mudou de modo radical os rumos da humanidade. Esses efeitos se tornaram evidentes sobretudo a partir de meados do século XIX.

“A ignorância dominará as pessoas / o predomínio da ingratidão /A desconsideração à palavra dada / A ocorrência de muitas mortes repentinas / Constante aparecimento de epidemias e de novas doenças (que vitimarão multidões) / O consumo de inebriantes se alastrará e se tornará comum / A prática dos vícios numa intensidade jamais vista.”

A palavra jahilyyah (ignorância) possui diversas conotações; significa um estado de consciência que compromete o exercício da inteligência e da sensatez, não importando o quanto um indivíduo ou sociedade possuam em recursos intelectuais. O vaticínio do Profeta (S.A.A.S.) parece apontar para uma situação na qual uma crônica incapacidade de razoável entendimento entre as pessoas se estabeleça, e a razão tenha se tornado tão submetida às paixões que, nenhum valor humano pudesse ser preservado. Como resultado disso, os desmandos, as discórdias e os crimes contra a vida e os bens se tornariam frequentes e corriqueiros. Esse estado de ignorância dominaria ricos e pobres, doutos e iletrados.

“O predomínio da ingratidão…”

Muitas narrativas apontam o surgimento de uma época onde não haveria nem a satisfação com o suficiente tampouco a saciedade com a abundância. Por conseguinte, a tendência geral seria o desaparecimento da gratidão. Isso se evidenciaria tanto entre as pessoas (no reconhecimento dos favores), como na atitude em relação a Deus.

Ainda segundo as narrativas fiéis, tornar-se-ia comum a injúria, a traição à amizade, o prejuízo como pagamento dos favores. As pessoas não refreariam suas línguas na blasfêmia e na ingratidão para com Allah (Deus).

Na época do Profeta (S.A.A.S.) era um costume arraigado nas pessoas o sentir-se moralmente comprometido com aquele que tivesse prestado algum auxílio ou favor. Mesmo muitos dos idólatras respeitavam esse princípio, o qual fazia parte do código de honra dos clãs. As alianças entre eles implicavam em manter laços de lealdade e reconhecimento. O mesmo se aplica à consideração à palavra dada. Ainda ouvimos de nossos avós de uma época onde os acordos eram verbais e honrados segundo a palavra, sem mesmo a necessidade de contratos escritos. A noção de honra em nossos dias parece ter sido substituída pela presteza em ludibriar ao próximo, e as pessoas são muitas vezes admiradas por sua esperteza ou mesmo ridicularizadas por sua honestidade.

“O consumo de inebriantes se alastrará e se tornará comum… A prática dos vícios numa intensidade jamais vista…”

Muito embora em todas as épocas da história esses flagelos tenham se verificado, o que se enfatiza nos indícios apontados é a sua magnitude. Homens e mulheres de todas as classes sociais e níveis culturais se tornaram adeptos das bebidas alcoólicas e das drogas. Os jogos de azar dominariam as sociedades e a própria noção do mal que todas essas coisas representariam à sociedade, seria distorcida e todas as barreiras morais e religiosas para isso seriam pouco a pouco derrubadas.

“A ocorrência de muitas mortes repentinas /O surgimento de constantes e repetidas epidemias e de novas doenças / O aumento das aflições / As pessoas desejarão a morte (o aumento crescente dos suicídios)”

Segundo várias das narrativas fiéis, esses sintomas surgiriam como resultado dos pecados da humanidade. Em algumas narrativas o Profeta (S.A.A.S.) afirmou que Allah, Exaltado Seja, pune a desobediência e a ingratidão aos pais com o encurtamento da vida, bem como a prática da fornicação. O conjunto desses indícios demonstra que, o resultado de todas as condições anteriormente citadas de desequilíbrio e prática das injustiças acarretariam consequências ainda neste mundo. Os desvios de uma geração se refletindo diretamente na geração seguinte. Um processo contínuo de males que gerariam males ainda maiores.

Não nos é difícil estabelecer uma relação lógica entre o desamor e o desamparo e a crescente incidência de doenças emocionais, o consumo desenfreado de drogas e bebidas alcoólicas, a prática do jogo de azar, a assustadora taxa de suicídio e loucura, a desigualdade e a injustiça, a violência e a criminalidade.

A despeito dos avanços da medicina, nos últimos dois séculos novas e ainda mais letais doenças surgiram. Mesmo o mais cético dos homens intuirá que todos esses flagelos do mundo moderno resultam de um estilo de vida contrário às leis naturais que são, na verdade, expressões da Vontade Divina.

Parte 6 – A Condição dos Muçulmanos na Aproximação do Final dos Tempos

Uma parte considerável dos vaticínios do Profeta (S.A.A.S.) e dos Ahlul Bait (A.S.) dizem respeito às condições predominantes na Ummah, no período da aproximação do retorno do Imam Mahdi(A.S.). Numa famosa narrativa o Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) assegurou que no período de ocultação do Imam da Época (A.S.), os fiéis se beneficiariam de sua orientação tal como as pessoas se beneficiam do sol mesmo quando este está coberto pelas nuvens.

Outras narrativas afirmam a predominância de condições angustiantes para os fiéis, a quem o Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) comissionou o firme apego aos dois encargos divinos: O Livro de Allah e a orientação dos Ahlul Bait (A.S.), com os quais não se desviariam.

O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) alertou os muçulmanos de sua época sobre a vinda de uma época de tribulação dizendo: “Se soubésseis o que eu sei, riríeis pouco e choraríeis muito”.

Em muitas tradições legadas pelos Ahlul Bait (A.S.), em especial nos diálogos do Profeta (S.A.A.S.) com seu recomendado, Imam Ali (A.S.), se fazia presente a firme evidência sobre os fatos que sucederam a partida do Profeta (S.A.A.S.), que afrontaram as ordens de Allah e de seu Profeta (S.A.A.S.) lançando a comunidade muçulmana nos desatinos da tirania e da opressão. Os principais indícios referentes à condição dos muçulmanos na proximidade do final dos tempos e do ressurgimento de Imam Mahdi (A.S.) são:

“O conhecimento entrará em decadência / haverá poucos sábios e muitos recitadores / Não se respeitará os sábios senão por suas belas roupas / Se fugirá dos sábios como carneiros fogem dos lobos / Sábios serão ávidos e terão pouco temor (se constituirão nas piores pessoas) / Os seguidores serão ignorantes e os sábios corruptos / As mesquitas estarão ocupadas com (coisas concernentes a) construção e ornamentos, mas desoladas quanto a diretriz / seus residentes e visitantes se constituirão nas piores espécies de pessoas.”

Esse primeiro conjunto de previsões aponta para o processo de secularização. O mesmo processo que surgiu nas comunidades anteriores (judeus e cristãos). A decadência do conhecimento segundo a perspectiva islâmica significa a decadência da própria prática. De fato, os sábios de uma comunidade desempenham um papel decisivo em seus rumos e, uma vez que entre eles, guardiões de uma correta compreensão da Mensagem, predomine a corrupção e o afastamento da retidão é inevitável que esses sintomas se tornem presentes em toda a comunidade.

A tendência à imitação cega, aversão ao conhecimento e à própria religião; e a perpetuação dos maus líderes e governantes são produtos diretos da secularização da religião. A imitação cega, que é a tendência a adotar fórmulas prontas e acabadas, rituais fixos e concepções simplistas se difunde a medida que os sábios se afastam do povo comum e passam a se comportar como uma casta de eleitos, dificultando cada vez mais o acesso ao conhecimento. A aversão ao conhecimento e a religião são consequências naturais dessa barreira erguida entre o homem comum e a verdade revelada.

Enquanto os Profetas e Mensageiros, os Imames da orientação e os sábios virtuosos se pautaram pela simplicidade e clareza da transmissão do din, os maus sábios se caracterizam por uma abordagem obscura e repetitiva que termina por afastar as pessoas. A perpetuação dos maus líderes e governantes só se torna possível com a corrupção e o desvio dos detentores do conhecimento.

É perfeitamente compreensível, e é confirmado por narrativas fiéis que sábios e governantes definem o equilíbrio ou o desequilíbrio de uma comunidade, e é nesse contexto que o poder temporal torna-se tirânico e opressor, capaz de cooptar o apoio de maus sábios, especialmente numa sociedade em que religião e estado possuam semelhante grau de influência. O secularismo se caracteriza por essa aliança e por uma visão conformista e estéril da religião.

As narrativas citadas apontam para um estado de coisas estabelecido sobre essas características. E é a realidade evidente da grande maioria dos chamados estados islâmicos. Estados onde os sábios virtuosos são mantidos sob vigilância ou em prisões e o Islam é confinado nas mesquitas. Os mesmos estados que gastam grandes quantias na construção e ornamentação de mesquitas para ludibriar as massas, mantêm, em troca de privilégios, um imenso número de sábios colaboradores. Estados que são na verdade inimigos viscerais do Islam.

“Seus governantes serão cruéis / Serão governados por tiranos e opressores / Os corruptos se erguerão e os virtuosos serão rebaixados”.

Não é preciso muito esforço para constatar o que a própria história do mundo islâmico nos diz. O califado usurpado por Muwaiyah que deu início a dinastia Omíada, seguida pela dinastia abássida, os califados sucessivos até a queda do último califado turco e o estabelecimento das monarquias corruptas confirma o vaticínio profético. A crueldade, a tirania e a opressão exercidas por séculos, amparadas por máquinas estatais corruptas.

“Imitarão os não-muçulmanos / As mulheres estarão ocupadas com os ornamentos do mundo e não haverá modéstia ou pudor nelas / os homens não se esforçarão senão por seu ventre, sua religião será os seus bens, suas mulheres sua qiblah e suas casas suas mesquitas / Amarão este mundo e desprezarão o outro / amarão as mulheres do mundo e esquecerão as húris do paraíso / amarão suas casas e esquecerão seus túmulos / amarão a si próprios e esquecerão de Allah”.

Esse conjunto de predições se refere a uma época a qual podemos identificar com um período mais recente da história. Período este, que se iniciou a partir das invasões imperialistas do ocidente, que se caracterizaram pela influência cultural cada vez mais intensa sobre as populações islâmicas. Pouco a pouco, essa influência se materializou no que aqui é definido como a “imitação dos não-muçulmanos” no modo de pensar e no comportamento. O que, de modo geral terminou por afetar a própria identidade dos muçulmanos. E isso se reflete no afastamento dos preceitos do Islam, a rejeição ao uso do hijáb (véu) por parte das mulheres, o predomínio do amor mundano, da vaidade, dos costumes pagãos, da avareza e do luxo. O mesmo hedonismo que se apoderou do mundo ocidental também se tornaria preponderante entre muitos muçulmanos.

“Seus comerciantes cometerão usura e ocultarão os defeitos de suas mercadorias / As pessoas darão outros nomes ao que foi vedado por Allah / Os fiéis e os honestos serão ridicularizados / Os ricos segurarão suas posses com unhas e dentes / Se considerará a caridade como perda, o cuidado para com os parentes uma obrigação e a adoração a Allah um motivo para se engrandecer perante os demais / Não haverá nenhuma paciência nos pobres e nenhuma prosperidade nos ricos”.

Esse conjunto de predições denuncia o surgimento de uma época onde os males predominantes nas sociedades pagãs ressurgiriam entre os muçulmanos. Época em que a prática do que havia sido vedado (a usura, a fraude, o consumo de inebriantes e da carne impura) seriam retomadas por uma parte considerável dos muçulmanos, os quais usariam de pretextos para fazê-lo. Os fiéis e honestos dentre eles seriam tratados com escárnio e mesmo discriminados pelos demais.

O apego aos bens os dominaria e, em razão disso, a negligência com os menos afortunados se tornaria a regra geral e portanto, nessa época lhes seria retirada a prosperidade e mesmo os pobres não demonstrariam a paciência que o Islam exige.

Segundo algumas narrativas, a retirada da prosperidade seria uma das consequências desse processo de desvirtuamento, que é compreendido como o abandono da ordem do bem e da coerção do mal; a entrega do poder temporal para o mais corrupto e maligno e a ausência de resposta aos apelos dos mais virtuosos são igualmente citadas.

Parte Final

Apresentamos aqui apenas uma pequena parte dos indícios legados nas narrativas fiéis concernentes a época da aproximação do fim dos tempos. O período em que todos esses indícios se intensificarem e suas consequências se tornarem evidentes em todas as partes do mundo. Uma época em que os muçulmanos serão muitos, porém, extremamente fracos e estarão sendo confrontados por várias perseguições. Os fiéis e os tementes sofrerão grandes aflições e pela graça de Allah, perseverarão em sua fé e ardentemente desejarão o retorno do Imam Mahdi (A.S.).

O Imam Oculto (A.S.) ressurgirá em Meca, ao lado da Caaba, convocará os muçulmanos fiéis e os liderará para o restabelecimento da religião e da justiça no mundo. Por suas mãos, Allah o Altíssimo abrirá o oriente e o ocidente e ele preencherá a terra de justiça e equidade, do mesmo modo que ela foi tomada pela tirania e a crueldade. Seus seguidores serão os mais fiéis de sua época. A descida de Isa (Jesus) (A.S.) desencadeará os eventos relativos aos grandes sinais do fim dos tempos, marcando o início de uma nova fase para a humanidade. A palavra de Allah se cumprirá na sucessão dos grandes sinais até o advento do Último Dia.

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