Versos Satânicos – Porquê nunca existiram versos satânicos no Alcorão

Por: Ahmad Ismail

Um dos temas continuamente utilizados pelos críticos e fanáticos anti-islam é a tese dos chamados “versos satânicos”. A tese que encontrou aceitação entusiástica nos meios anti-islâmicos por décadas é em princípio, ingênua. Supor que um relato, apenas por constar em algumas coletâneas de ahadith seja capaz de refutar o próprio Alcorão, e mesmo centenas de outros relatos que o contradigam, é mesmo um exercício de ingenuidade. O argumento dos críticos e céticos gira em torno de uma hipotética veracidade “da existência de versículos de inspiração demoníaca no Alcorão (alguns afirmam que esses versículos foram posteriormente suprimidos do texto) e se apoiam num relato registrado por Ibn Ishaq, Tabari, Ibn Sa’d e Bukhari).

O que sabemos é que relatos inconsistentes ou claramente forjados por inimigos do Islam abundam em várias coletâneas de ahadith, e que tais relatos são facilmente identificáveis por sua incoerência ou total contradição ao Alcorão.

Imaginar que o Profeta (S.A.A.S.), que passou duas décadas de sua vida lutando para propagar a mensagem do Monoteísmo, suportando as duras consequências dessa escolha pessoal, tenha em algum momento proposto “um acordo amigável entre os adoradores de divindades diferentes” para agradar os idólatras, é algo que não faz qualquer sentido.

Antes de demonstrarmos com o Alcorão a impossibilidade da existência dos “versos satânicos” vale expor um pouco da natureza da compilação do texto alcorânico, ou porque dizemos que o Alcorão é um documento merecedor de credibilidade do ponto de vista histórico: “Há consenso entre os muçulmanos sobre a correção e a fidelidade do texto alcorânico, pois ele foi transmitido em massa (“muttawatir”) sem a possibilidade de erro. Essencialmente, o Alcorão foi narrado por tantas pessoas diferentes que não se conheciam e não poderiam ter colaborado coletivamente numa mentira, que é impossível que ele tenha sido fabricado – e o mesmo é válido para todas as recitações diferentes. Isto é logicamente equivalente a uma conspiração de ingleses medievais fabricando a existência de Londres e isto nunca ter sido exposto. Então, uma boa definição de muttawatir é “transmitido em massa sem a possibilidade de erro”.”

A primeira prova alcorânica de que o relato dos versos satânicos é falso é a Sura Kafirun: “1. Dize: Ó descrentes, 2. Não adoro o que adorais, 3. Nem adorais o que adoro. 4. E nunca adorarei o que adorais, 5. Nem vós adorareis o que adoro. 6. Tendes a vossa religião e eu tenho a minha.”

Consta que essa Sura foi revelada exatamente numa situação de debate entre os quraishitas (pagãos) e o Profeta (S.A.A.S.). A maneira peremptória na qual o politeísmo é rejeitado nos versículos não parece deixar dúvidas do caráter da Mensagem islâmica. A suposição de que em algum momento posterior o Profeta (S.A.A.S.) tenha “por engano” ou por qualquer outra razão desmentido o Alcorão, além de absurda em si mesma ainda exige que se explique como, se isso tivesse mesmo ocorrido, Mohammad (S.A.A.S.) continuaria sendo levado a sério tanto por seus seguidores como por seus opositores?

O argumento dos que abraçam a teoria dos versos satânicos é que “o próprio Profeta (S.A.A.S.) teria reconhecido que a inspiração de Satã o confundira. Pretendem sustentar esse argumento mencionando um versículo do Alcorão: “Não enviamos antes de vós mensageiro ou profeta, que quando almejava, Satã não sugerisse (algo) em seu desejo. Contudo, Deus remove tudo o que Satã sugere e estabelece Seus versículos. Deus é Sábio, Prudente”. (22:52) Há uma discussão sobre o ayat no que diz respeito a sua correta tradução. Na realidade, o ayat em questão não está diretamente relacionado com a revelação ou a profecia em si, como alguns tradutores apresentam. A forma mais adequada de traduzi-lo é (como está acima): …que quando almejava, Satã não sugerisse (algo) em seu desejo.”  Pois, o ayat está se referindo aos desejos pessoais dos profetas (ligados a sua natureza humana) e não à profecia ou à revelação.

O Alcorão desmente a possibilidade da intromissão satânica na revelação quando declara:

Sura 15 versículo 9: “Nós revelamos a Mensagem e somos O Seu Preservador”.

Sura 41 versículo 41 e 42: “Aqueles que negarem a Mensagem, quando a receberem… Este é um Livro sublime. A falsidade não se aproxima dele (o Livro), nem pela frente, nem pela retaguarda; uma revelação do Prudente, do Louvável”.

E também nega a possibilidade do erro ou do engano do Profeta (S.A.A.S.) na comunicação do que foi revelado: Sura 72 versículo 26 a 28: “(Ele) é conhecedor do Invisível e não revela os Seus mistérios a ninguém”. Salvo a um mensageiro que tenha escolhido, e faz um grupo de guardiões marcharem, na frente e atrás dele. Para certificar-se que transmitiu as mensagens de seu Senhor; o Que abrange tudo o que os humanos possuem e mantém a conta de todas as coisas.

Em suma, Deus Altíssimo não revelaria o Alcorão senão para que fosse comunicado de forma segura e isenta de erro ao Profeta (S.A.A.S.) e não escolheria dentre os humanos um homem incapaz de ser o portador e o anunciador dessa Mensagem.

Se não podemos admitir que Moisés (A.S.) perdesse algumas das Tábuas da Lei ou que esquecesse completamente alguma palavra revelada por Deus, ou que Jesus (A.S.), tentado por Satã, fizesse um acordo com ele, por qual razão um muçulmano admitiria que Mohammad (S.A.A.S.) agisse em algum momento em contradição com o Alcorão?

 

 

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