Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – As características da vida no Barzakh (parte 1) – Sheikh Wissam Issa – 18/01/2018

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.

Buscamos refúgio em Deus contra Satã o amaldiçoado.

Louvado seja Deus, o senhor do universo. O louvor a altura de Sua posição. As melhores saudações e bênçãos estejam com a melhor das criaturas, o amado de Deus, o nosso profeta Mohammad (S.A.A.S.), e sobre sua purificada família e seus companheiros.

Ó Deus, perdoe os crentes e as crentes, tanto os vivos quanto os já mortos.

Ó servos de Deus recomendo-vos o temor a Deus.

O ser humano é deficiente em entender a Taqwa (temência, precaução, medo) aqui na Terra. Caso o ser humano não veja e não perceba os efeitos da Taqwa, quando ele falecer verá com clareza. No Alcorão Sagrado Deus disse: “E a hora da morte trará a verdade: Eis do que tentáveis escapar!” (50:19). Numa outra passagem Deus o Altíssimo disse: “Toda a alma provará o sabor da morte…” (3:185)

O ser humano será sempre apresentado à morte. As pessoas têm medo da morte porque não entendem a morte, acham que ela é somente a extinção da vida. A morte é o processo de transição e passagem desta para a outra vida, sendo que cada uma tem suas condições e características. Em alguns sermões passados falamos sobre as características desta vida. Hoje vamos falar a respeito das características da vida no Barzakh.

A morte é a extração do espírito no corpo, corpo este que possui elementos materiais desta Terra e que retornará para ela quando for sepultado. O espírito não será extinto e também sentirá o sabor da felicidade e do sofrimento, isso não é um sonho, e sim uma realidade que será vivida sem o corpo. Uma vida semelhante a um sonho que vivemos nesta vida. O exemplo da saída do espírito do corpo é como o corpo e a roupa. Mesmo que a pessoa tire as roupas, as suas características, ideologia, crença e demais caracterizações humanas permanecem, mas ela estará nua pois a roupa não muda sua realidade. Com o corpo e a alma é a mesma coisa, sendo que quando a alma sai do corpo o mesmo se decompõe, mas o espirito continua e jamais será extinto.

O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “A primeira coisa que Deus criou foram as almas, e fez que reconhecessem a Sua unicidade. Em seguida criou as demais coisas”. A verdade é que os sábios afirmam que quem transmite os sentimentos como tristeza, felicidade, sabor, dor e tudo mais é o espirito. É ele que transmite estes sentimentos que são traduzidos e expressados no corpo. Na verdade, os órgãos do corpo são uma ferramenta para que o espírito possa interpretar os sentimentos. O ouvido é um meio para que a alma sinta os sons, a língua é uma ferramenta para que a alma se expresse, os olhos um meio para que a alma possa observar e quando o espírito se separa do corpo é o que chamamos de morte, e a partir daí o corpo retorna para a terra, de onde ele pertence, e a alma vai para um mundo onde ela passará o resto do tempo até o dia da ressurreição. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “Não fostes criados para a extinção e sim para a eternização. O que acontece é que vocês serão transferidos de um lar para outro”.

O espírito sem o corpo é livre, mas enquanto estiver conectado ao corpo o espírito deixa de fazer muita coisa. Um exemplo é o sono, onde a conexão é frágil entre o espírito e o corpo, sendo que o sono é um pequeno exemplo do que o espirito é capaz. A morte é a interrupção da conexão entre o corpo e o espírito. No sono essa conexão é limitada por essa questão quando sonhamos o espírito vê coisas ou vivencia algo que neste mundo não percebe. Alguns sábios nos informam que o sono pode ajudar a conhecer essa e a outra vida, o mundo do Barzakh (mundo intermediário ou barreira entre as duas coisas). O início da vida do Barzakh é a morte, ou seja, é o último dia desta vida e o primeiro dia da outra, e o fim do dia no Barzakh é o dia da ressurreição. Deus disse no Alcorão Sagrado: “(Quanto a eles, seguirão sendo idólatras) até que, quando a morte surpreender algum deles, este dirá: Ó Senhor meu, mande-me de volta (à terra) A fim de eu praticar o bem que negligenciei! Pois sim! Tal será a frase que dirá! E ante eles haverá uma barreira, que os deterá até ao dia em que forem ressuscitados ” (22)

As características do Barzakh (A vida intermediária)

Espírito sem corpo: a vida no Barzakh é diferente dessa vida. Esse corpo material não está mais com o espírito. O Barzakh é um mundo de espírito sem corpo e o espírito tem a imagem do seu corpo na terra na vida anterior. O corpo físico está enterrado voltando ao estado inicial para sua mãe terra, e no dia da ressurreição esse corpo voltará da terra e o espírito se conectará novamente com ele. Imam Assadeq (A.S.) disse: “ As almas carregam as características dos corpos. Se conhecem e se conversam na outra vida”.

O Imam Assadeq (A.S.) disse a Younes ibn Zibyan quando o perguntou sobre a alma dos fiéis no momento da morte. O Imam (A.S.) disse: “Neste momento (momento da morte) virão Mohammad, Ali, Fátima, Hassan, Hussein e os anjos próximos (A.S.). Quando Deus extrair aquela ama, a mesma será recolocada num módulo como o corpo daquela vida. Então quando ingressar na outra vida os outros o reconhecerão por suas aparências”. Numa outra passagem o Imam Assadeq (A.S.) disse sobre onde as almas dos fiéis estarão no Barzakh: “Estarão no paraíso em forma de seus corpos”.

A desconexão total: O ser humano aqui na Terra conhece pessoas, trabalha, tem amigos, familiares, mas quando a morte chega esse contato se interrompe totalmente. Na outra vida, Barzakh, não haverá contato com exceção de meios muito raros. Nesta vida podemos manter contato com os mortos através de orações, leituras do Alcorão Sagrado, mas não podemos vê-los. O Imam Assadeq (A.S.) disse: “O crente (falecido) visita seus familiares, ele vê o que gosta e é privado daquilo que não gosta. O incrédulo também visita seus familiares e vê as coisas que ele odeia e se previne aquilo que ele gosta. Eles (os espíritos dos falecidos) visitam toda sexta-feira, e alguns de acordo com suas práticas”.

A interrupção da prática das boas ações: Essa vida é uma oportunidade para o ser humano praticar o bem e com essas boas ações ele sentirá a felicidade delas nesta e na outra vida. Com a morte as ações acabam e no Barzakh não há meios para praticar boas ou más ações. Deus disse no Alcorão Sagrado: “…este dirá: Ó Senhor meu, mande-me de volta (à terra) (99) A fim de eu praticar o bem que negligenciei!” (22:99). A pessoa pode fazer uma caridade, fazer orações, ler o Alcorão e outras boas ações em nome do falecido pois ele receberá a recompensa como se tivesse realizando as mesmas depois de sua morte, mas normalmente quando as pessoas morrem não são lembradas pelos filhos, e imagina-se que também não serão lembradas pelos netos os bisnetos. Por causa disso temos a oportunidade única de enriquecer, com a prática do bem, nossos livros de ações, porque a melhor e única oportunidade que teremos é esta.

O Imam Assadeq (A.S.) disse: “O homem ao morrer não será seguido senão por três coisas: uma boa ação (caridade) que fez nesta vida e que continua após sua morte; uma boa tradição que continua após a sua morte; e um bom filho que ora por ele”.

A caridade contínua: É a caridade produtiva, que tem continuidade. Todos sabemos que, por exemplo, a oração, termina em alguns minutos, ou que a pratica da caridade tem sua recompensa limitada, mas a caridade corrente recompensa seu praticante enquanto for produtiva. Exemplo: alguém doar um ventilador para a mesquita, enquanto este aparelho durar, 2 ou mais anos, o doador estará recebendo recompensas por esta ação, portanto é uma recompensa contínua.

A boa tradição: O exemplo de uma tradição é por exemplo você implantar uma boa ação em sua comunidade. Tal como a doação de sangue no dia do Ashura ou ajudar aqueles que precisam de lares, e etc… Enquanto a boa ação estiver sendo praticada, o seu inovador será recompensado por tê-la implantado.

O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “Aquele que implantar uma boa tradição, terá sua recompensa e a recompensa de quem a praticar enquanto estiver sendo praticada. E aquele que implantar uma má tradição terá o seu castigo e o castigo de quem a praticar até quando estiver sendo praticada”.

Os bons filhos: Aquele filho que ora pelo seu pai, que o recorda, que paga suas dívidas, e etc…

Uma observação importante que eu faço aqui, algumas pessoas acham que basta deixar um testamento para os herdeiros que estará tudo uma beleza. Exemplo: Estou devendo 5 anos de oração, 2 anos de jejum, 300 mil em dividas, e etc… Isto está errado, pois a pessoa deve tentar pagar suas dívidas com Deus e as pessoas enquanto estiver viva e não contar com seus familiares para fazerem isso por ela. Ainda vivo o indivíduo deve manter suas obrigações para quando a morte chegar não causar sofrimentos ou ônus sobre sua família.

Paraíso e Conforto / Castigo e inferno

Certamente, Deus, louvado seja, prometeu aos crentes a recompensa do Paraíso na outra vida e para os incrédulos o castigo e o inferno. Mas o túmulo também está incluso na outra vida. O paraíso ou inferno serão vivenciados no túmulo. No momento em que o ser humano for enterrado ele pode viver a recompensa ou castigo no túmulo. O Imam Assadeq (A.S.) disse: “O túmulo fala todos os dias e diz: sou a casa da solidão, sou a casa do mistério, sou a casa do inseto, eu sou o túmulo. Eu sou um pedaço do paraíso ou um buraco do inferno”.

O Imam Assadeq (A.S.) disse sobre onde ficaram as almas dos fiéis: “Em quartos do paraíso. Eles comem de seus alimentos (alimentos do paraíso) e bebem de suas bebidas. E dizem: ó nosso senhor faça chegar a hora (do juízo final) e cumpra Sua promessa, e que nos encontremos com os nossos antepassados”.

O Imam Assadeq (A.S.) disse sobre onde ficaram as almas dos incrédulos: “Eles são castigados e dizem: ó Deus nosso faça chegar a hora (do juízo final) e não cumpra suas promessas e nem deixe que nos encontremos com nossos antepassados”.  

Quando citamos a vida no paraíso ou no inferno no túmulo não é o mesmo que conhecemos nesta vida, de um metro e meio. O ser humano irá viver a vida espiritual e não física. Mesmo que se possa adornar o túmulo com ouro ou deixar confortável, se o espírito não for merecedor da satisfação de Deus não irá viver tal conforto. Se o espírito for fiel viverá a satisfação de Deus mesmo que seu túmulo seja simples, e esse túmulo se tornará um pedaço do paraíso. Se entende que não se verá ao abrir o túmulo o paraíso ou inferno, e sim um portal dimensional para o castigo ou as benesses.

A vida do Barzakh é espiritual, pelo qual as almas dos crentes ficam juntas. Imaginem esta mesquita, uma grande sala onde todos nós estamos reunidos agora, o Barzakh é um espaço onde todas as almas estão reunidas também. Um lugar onde as almas dos crentes e dos ateus estão divididas, uma parte para os benevolentes e outra para os tiranos.

Ó Deus nosso nos perdoe!

Ó Deus nosso seja misericordioso conosco!

Ó Deus nosso não nos julgue com Sua justiça e sim com Vossa misericórdia!

Que a paz e as graças de Deus estejam com todos!

 

 

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