Seu tratado sobre os espólios de guerra e sobre a obrigação do Khums

…Eu compreendo o que mencionaste a respeito de teu interesse no conhecimento das condições para a satisfação de Allah, e de como a parte de direito dos parentes do Profeta foi negada. Então, ouve atentamente e julga com entendimento, em seguida, sê justo contigo mesmo. O que certamente te protegerá diante de teu Senhor, cujas instruções e avisos foram presenteados a ti. Que Allah nos faça prosperar. Fica sabendo que Allah, teu Senhor e meu, não esqueceu de nada. “… porque o teu Senhor nunca esquece”. (Alcorão Sagrado, C.19 – V.64)

Não omitiu nada no Livro e providenciou tudo detalhadamente. Allah o Exaltado explicou a obtenção de Suas riquezas tão claramente como explicou as porções dessas riquezas e os meios de gastá-las. Sempre que Allah se refere às normas obrigatórias dessa questão, continua a explicação até os meios sem distinguir as normas de seus meios. Ele tornou as porções obrigatórias para aqueles a quem Ele mencionou. Essas porções não se tornarão nulas nem obsoletas. As porções dos anciões, dos necessitados e dos viajantes serão canceladas no caso em que os anciões cheguem à caducidade, os necessitados se tornem ricos ou os viajantes retornem ao lar. A obrigação do Hajj foi confirmada mediante instruções e essa obrigação foi cancelada para aqueles que não estão aptos a cumpri-la por alguma dificuldade ou qualquer outro impedimento. As doações em caridade foram as primeiras coisas que foram detalhadas em seus procedimentos.

Allah o Majestoso, o Poderoso, disse: “As doações são somente para os pobres, os necessitados, os funcionários empregados em sua administração, para aqueles cujos corações devem ser conquistados, para a libertação dos escravos, para os endividados, para a causa de Allah e para o viajante; isso é um preceito emanado de Allah, porque é Sapiente, Prudentíssimo”. (Alcorão Sagrado, C.9 – V.60)

Por meio do versículo citado, Allah informou Seu Profeta (S.A.A.S.) sobre os destinos apropriados das doações e o instruiu a não entregá-las a ninguém que não pertencesse às classes mencionadas. Ademais, Allah o Majestoso isentou o Profeta e seus parentes de receberem caridade, e isentou-os também da impureza. Isso é o que há a se dizer sobre as doações em caridade.

Com respeito aos espólios de guerra, antes de iniciar a batalha de Badr, o Profeta (S.A.A.S.) prometeu ao seu exército preciosas dádivas que seriam recebidas como espólio por qualquer baixa no inimigo ou prisão. Ele também declarou: “Allah prometeu dar-me a vitória sobre eles e a posse de seus pertences como espólio”.

Quando Allah derrotou os politeístas e seus espólios foram reunidos, um homem dos Ansar levantou-se e disse ao Profeta (S.A.A.S.): “Ó mensageiro de Allah, nos ordenaste combater os politeístas insistentemente e nos prometeste certas dádivas, dos espólios, a cada um que capturasse ou matasse alguém de seu exército. Eu matei dois deles e prendi a outro e posso prová-lo. Então, desejamos o que nos prometeste, mensageiro de Allah”. Quando o homem se sentou, Sa’d Bin Ubada se ergueu e disse: “Ó mensageiro de Allah, não foi uma questão de covardia ao enfrentar o inimigo ou de negligência do dinheiro ou dos espólios que nos impediu de adquirir o que aqueles indivíduos haviam ganho. Na verdade, nos antecipamos àquele exército de politeístas que poderia ter atacado a ti se tomássemos posições afastadas, ou poderia ter ferido a ti se percebessem que estavas sozinho. Se deres a esses indivíduos as porções que prometeste, os demais muçulmanos retornarão sem ganhar nada dos espólios”.

Quando ele sentou, o primeiro homem se levantou e repetiu o que havia dito. Quando ele terminou, Sa’d levantou novamente e também repetiu o que havia dito. Cada um deles o fez três vezes. O Profeta (S.A.A.S.) estava se irritando com eles. Depois de algum tempo, Allah, o Majestoso, revelou: “Perguntar-te-ão sobre os espólios…” (Alcorão Sagrado, C.1 – V.8) “Al anfal” (espólios) é a denominação de tudo o que os crentes obtiveram naquele dia, como também o que Allah diz (em outros versículos): “Tudo o que Allah concedeu a Seu mensageiro…” (Alcorão Sagrado, C.59 – V6) “E sabei, que tudo o que adquirirdes de despojos…” (Alcorão Sagrado, C.8 – V.41) e “…Dize: Os espólios pertencem a Allah e a Seu Mensageiro, temei, pois a Allah e resolvei fraternalmente as vossas diferenças; se sois fiéis, obedecei a Allah e a Seu Mensageiro”. (Alcorão Sagrado, C.8 – V.10). Por conta disso, Allah tirou os espólios das mãos deles e os manteve em Suas mãos e nas mãos de Seu Mensageiro.

Ele (Allah) então disse: “…se sois fiéis, obedecei a Allah e a Seu Mensageiro” (Alcorão Sagrado, C.8 – V.1) Logo que o Profeta (S.A.A.S.) chegou em Medina, Allah revelou: “E sabei que tudo o que adquirirdes de despojos, a quinta parte pertencerá a Allah, ao mensageiro, aos seus parentes, aos órfãos, aos necessitados e ao viajante; se fordes crentes em Allah e no que foi revelado ao Nosso servo no dia do Discernimento, em que se enfrentaram os dois grupos…” (Alcorão Sagrado, C.8 – V.41) A expressão de Allah, “pertence a Allah”, é semelhante ao dizer comum, “isso pertence a Allah e a ti”, mas não se dedica nada a Allah. O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) dividiu os espólios em cinco porções. Ele tomou a parte de Allah para si próprio e dedicou-a à Allah, ainda que pudesse ser herdada depois dele. Uma porção foi dada aos parentes do Profeta. Nomeadamente, os filhos de Abdul Muttalib. Duas porções foram destinadas aos órfãos muçulmanos, uma aos necessitados e uma aos viajantes muçulmanos cuja jornada não tivesse a intenção comercial. Essas foram as porções dos espólios na batalha de Badr, e desse modo os espólios foram ganhos pelo combate.

Quanto aos espólios cujo ganho não cansou cavalos ou camelos, quando os Muhajirins, que eram por volta de cem indivíduos, chegaram em Medina. Os Ansar lhes deram metade de suas propriedades, inclusive moradias. Quando o Profeta (S.A.A.S.) foi agraciado com o triunfo contra os clãs de Quraizha e An Nadhir e tomou suas propriedades, ele (A.S.) disse aos Ansar: “Podeis tirar os muhajirin de suas moradias e propriedades e eu distribuirei esses espólios exclusivamente entre eles; se não desejardes assim, distribuirei entre todos vós”. Os Ansar sugeriram: “Podeis dar esses espólios somente a eles que deixaremos que quem com nossas propriedades e moradias”. Então, Allah, o Abençoado, o Exaltado, revelou: “Tudo quanto Allah concedeu a Seu Mensageiro, (tirado) dos bens deles (dos Bani An nadhir) não tivestes de fazer galopar cavalo ou camelo algum para conseguir. (transportar)…” (Alcorão Sagrado, C.59 – V.6) Eles moravam em Medina, portanto, estavam perto demais para precisar de cavalos ou camelos para entrarem na área dos clãs derrotados. Então, Allah diz, “(e há uma parte dos) pobres imigrantes (muhajirin), que foram expatriados e despojados de seus bens, que procuram a graça de Allah e a Sua complacência; e secundam a Allah e Seu Mensageiro; esses são os verazes”. (Alcorão Sagrado, C.59 – V.8)

Portanto, Allah dedicou esses espólios aos quraishitas que emigraram com o Profeta (S.A.A.S.) e que eram sinceros. Ademais, Allah excluiu disso os emigrantes dos outros clãs árabes. O que está evidente em Sua palavra: “Os emigrantes que foram privados de suas casas e propriedades”. Os líderes quraishitas costumavam confiscar as propriedades e lares daqueles que emigravam, mas os outros clãs árabes não zeram isso com os que emigraram.

Então Allah elogiou os Muhajirins a quem dedicou o khums e libertou-os da hipocrisia, pois haviam acreditado Nele. O que está evidente em Sua palavra: “Esses são os verazes”. Depois disso, Allah elogiou os Ansar quando se referiu às suas ações nobres e ao afeto com os emigrantes, a quem preferiram à si mesmos sem demonstrar nenhum tipo de inveja ou má vontade. Assim, Allah elogiou-os distintamente em Seu dizer: “Os que antes deles residiam (em Medina) e haviam adotado a fé, mostram afeição por aqueles que migraram para junto deles e não nutrem inveja alguma em seus corações, pelo que receberam (de despojos); por outra, preferem-nos, em detrimento de si mesmos. Sabei que aqueles que se preservarem da avareza serão os bem-aventurados”. (Alcorão Sagrado, C.59 – V.9)

Após a conquista de Mecca, alguns homens estavam cheios de rancor para com os muçulmanos que haviam lhes derrotado nas batalhas e se apoderado de suas propriedades, porém, quando abraçaram o Islam com lealdade, buscaram o perdão de Allah para o seu anterior politeísmo. Também oraram a Ele para que puri casse seus corações de tais sentimentos de rancor contra os que haviam lhes precedido na fé. Eles suplicaram ainda para que Allah perdoasse aqueles crentes, para que seus corações fossem totalmente purificados e os dois grupos se tornassem irmãos.

Por conseguinte, Allah elogiou de modo distinto a essas pessoas. Ele disse: “E aqueles que os sucederam dizem: Ó Senhor nosso, perdoa-nos, assim como também aos nossos irmãos que nos precederam na fé; e não infundas em nossos corações rancor algum pelos fiéis. Ó Senhor nosso, certamente és Compassivo, Mui Misericordioso”. (Alcorão Sagrado, C.59 – V.9)

O Profeta (S.A.A.S.) deu a cada um dos muhajirins de Quraish, de acordo com a sua necessidade, o que ele estimava, pois os espólios não foram divididos em cinco parcelas iguais. Ele (S.A.A.S.) entregou todos os espólios aos muhajirins de Quraish e a dois homens dos Ansar, chamados Sahl bin Hunayf e Simak bin Kharasha (Abu Dugdana), em razão de sua extrema necessidade. Deu a eles de sua própria parte. Ele também destinou sete pomares dos espólios de Quraizha e An Nadhir, para os quais nenhum cavalo ou camelo foi usado, para si mesmo. Fadak era um desses pomares em que não se usou cavalo ou camelo em sua expropriação.

Khaybar era uma cidade que distava de Medina três dias de marcha. Estava dentro das propriedades dos judeus, porém, foi conquistada após a guerra. Portanto, o Profeta (S.A.A.S.) dividiu suas propriedades da mesma maneira que havia distribuído os espólios da Batalha de Badr. Sobre isso, Allah diz: “Tudo quanto Allah concedeu ao Seu mensageiro, (tomado) dos moradores das cidades corresponde a Allah, ao Seu mensageiro e aos seus parentes, aos órfãos, aos necessitados e aos viajantes; isso para que (as riquezas) não sejam monopolizadas pelos opulentos dentre vós. Aceitai, pois, o que vos der o Mensageiro, e abstende-vos do que ele vos proíba. E temei a Allah, porque Allah é severíssimo no castigo”. (Alcorão Sagrado, C.59 – V.7) Esses foram os modos de distribuição de todos os demais gêneros de espólios. Ali bin Abi Talib (A.S.) relatou: “Recebíamos nossas parcelas que foram decididas nesse versículo, o qual começa com as instruções e termina com o aviso para a abstenção, até que o khums de Shush e Jundishapur chegou a Omar. Os muçulmanos, al Abbas e eu estávamos ali onde Omar nos disse: “Recebestes muitas parcelas do Khums.

Hoje, não estais precisando delas enquanto os muçulmanos estão em grave necessidade. Emprestai, pois, vossas parcelas a nós e as devolveremos logo que Allah destinar espólios adicionais aos muçulmanos”. Eu não quis responder a ele porque temia que, se discutíssemos sobre aquilo, ele dissesse sobre nossas parcelas do khums o mesmo que havia dito sobre o que era mais importante do que o khums, ou seja, a herança de nosso Profeta (S.A.A.S.), quando insistimos em recebê-la. Al Abbas disse: “Ó Omar, não desrespeite nossas parcelas, pois Allah as confirmou para nós de um modo mais evidente do que as parcelas da herança”. Omar disse: “Sois destacados na demonstração de bondade para com os muçulmanos”. Ele também procurou minha intercessão nessa questão de modo tão insistente até que pôde tomar nossas parcelas. Depois disso, não recebemos nada como pagamento do empréstimo até que Omar faleceu. Depois dele, não fomos capazes de exigir a devolução de nossas parcelas”.

Então, o Imam Ali (A.S.) disse: “Allah proibiu Seu Mensageiro (S.A.A.S.) de receber doações em caridade. Como compensação, deu-lhe uma parcela no Khums. De modo idêntico, se tornou ilícito à família do Profeta receber doações em caridade. Portanto, seus pequenos e grandes, suas mulheres e seus homens, seus pobres, presentes ou ausentes, todos esses possuem por direito parcelas no Khums, em virtude de seu parentesco com o Profeta, o que não será alterado nem anulado”.

Todo louvor pertence a Allah, que fez o Profeta ser de nós, e nos fez ser dele. O Profeta (S.A.A.S.) não destinou parcelas do khums a ninguém exceto a nós, nossos aliados e aos nossos seguidores. Uma vez que são de nós. Ele também deu a algumas pessoas uma parte de seu quinhão pelos acordos que concluiu com elas. Anteriormente, demonstrei os procedimentos referentes aos quatro anfal (os espólios de guerra) que Allah evidenciou, ordenou e esclareceu mediante da palavra curadora e da prova luminosa que foi proporcionada pela descida da revelação e aplicada pelo Profeta (S.A.A.S.). Aquele que distorcer as palavras de Allah depois de ouvi-las e entendê-las, o pecado atingirá somente aqueles que distorcem, e Allah será o partido inimigo deles a esse respeito. A paz, a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ti.

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