O Padrão Geral do Pensamento Islâmico no Alcorão

Em nome de Deus, o Compassivo, o Misericordioso

Sobre do autor

O Hujatulislam (título dado a alguém destacado nas ciências Islâmicas, que significa: a prova do Islam), Seyed Ali Khamenei, nasceu em 15 de julho de 1939 em uma família religiosa na santa cidade de Mashad. Seu pai, o Hujatulislam Hajj Seyed Javad Khamenei foi um dos virtuosos ulamás (teólogos) de Mashad, e sua mãe era filha do Hujatulislam Seyed Hashem Najafabadi. Após completar seus estudos elementares entrou na escola Nawab e iniciou seus estudos teológicos. Khamenei completou seu curso sob os auspícios de vários mentores, tais como: Ayatullah Milani e Ayatullah Hajj Sheikh Hashem Qazvini.

Em 1958 Khamenei foi, em peregrinação, à santa cidade de Najaf. Em 1959 foi a Qom e tornou-se aluno do Ayatullah Burujerdi, Imam Khomeini e Ayatullah Haeri. Khamenei participou ativamente da insurreição de 5 de junho de 1963 (15 de Khordad de 1342) e lutou contra o regime do xá Pahlevi com o Imam Khomeini. Mais tarde, foi preso enquanto levava uma mensagem de Imam Khomeini ao Ayatullah Milani, acerca do massacre de Ashura (data em que se recorda o martírio do Imam Hussein (A.S.)) em 1963. Khamenei funda então uma organização clandestina fundamentada sobre a ideologia Islâmica e xiita. Quando sua organização é descoberta, Ayatullah Montazari e Ayatullah Rabbani são presos. O Hujatulislam Khamenei e outros conseguem, porém, escapar. Em 1965 retorna a Mashad. Constantemente, é ameaçado pela SAVAK e agentes do xá. Entretanto, continua a lecionar jurisprudência Islâmica e princípios teológicos a seus alunos. Suas lições sobre o Nahjul Balaghah e sobre a interpretação do Alcorão atraíam muitas pessoas, principalmente os jovens.

Khamenei, por sua vida de revolucionário, tem sido a vanguarda do movimento Islâmico no Irã. Entre 1965 e 1979 foi preso seis vezes, e por todas as vezes foi posto em “solitárias”.

Em 1976, após sua libertação, expandiu suas classes de ideologia comparada, cursos e palestras por todo o país, pregando o pensamento Islâmico entre a juventude. Em 1978, ele e alguns clérigos fundam uma associação nacional dos clérigos. No próximo ano é exilado para Iran-shahr e depois para Jiroft. Mesmo assim não fica livre da atenção constante do SAVAK.

O Hujatulislam Khamenei escreveu e traduziu muitos livros, tais como: “O futuro do território Islâmico”, banido pelo SAVAK em 1967; “Os muçulmanos no movimento de libertação da Índia”; “Uma crítica da civilização ocidental”, uma tradução; “A reconciliação do Imam Hassan (A.S.)”, uma tradução; “O esboço geral do pensamento Islâmico no Alcorão”; “A profundidade da oração diária”; “Uma compreensão correta do Islam”; “A vida do Imam Assadeq (A.S.)”; “Lições do Nahjul Balaghah”; “Coleção de palestras acerca do Imamato” e “Nossa posição” que escreveu com a colaboração do amável Ayatullah Beheshti, mártir Dr. Bahonar e do Hujtulislam Hashem Rafsanjani.

Hujatulislam Khamenei, durante o auge da revolução islâmica, sob recomendação do Hujatulislam Mutahari, foi apontado membro do Conselho Revolucionário. Após a vitória da revolução e o estabelecimento da República Islâmica, ele ocupou alguns cargos chaves: Representante do Conselho Revolucionário no Ministério da Defesa, Superintendente do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, Representante do Imam no Supremo Conselho de Defesa, deputado do povo de Teerã para a Assembléia Islâmica Consultativa, Líder das orações congregacionais das sexta-feiras e presidente da República Islâmica do Irã com uma votação de 16.007.972.

Hujatulislam Khamenei foi eleito, unanimemente, secretário geral do partido Islâmico republicano após o martírio do dr. Bahonar.

Durante a guerra com o Iraque o novo presidente da República Islâmica do Irã, com outros membros do supremo conselho de defesa, desempenhou um grande papel na organização das forças armadas. Com sua presença no front de batalha elevou os ânimos e a moral dos combatentes Islâmicos. Em 27 de junho de 1981, como resultado da explosão de uma bomba posta dentro de um gravador, implantada por um traidor, foi ferido durante uma palestra na mesquita de Abu-Dar, porém, restabeleceu-se rapidamente. Após este restabelecimento frisou que essa nova vida foi um presente que Deus dispensou a ele para servir ao Islam e ao povo.

Nota do tradutor para a língua inglesa

Hujatulislam Khamenei, o terceiro e atual presidente do Irã, deu muitas palestras em 1974. Mais tarde, essas palestras foram resumidas e publicadas. O título original dado por Khamenei ao livro foi: “O padrão geral do pensamento Islâmico no Alcorão”. O que o autor intentava com esse título era introduzir os princípios do pensamento Islâmico presentes no Alcorão. O autor tenta dar um painel geral do pensamento Islâmico apoiando suas idéias com diversos versículos do Alcorão.

Quando o Profeta do Islam é citado acompanhamos da frase honorífica: sala lahu aleihi ua salam (ou sala lahu aleihi ua alihi ua salam), traduzido como: que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele e sua família. (Abreviadamente: (S.A.A.S.)).

Alguns outros termos técnicos são explicados nas “Notas”, ao fim do livro.

Prefácio

Tratando-se do pensamento religioso, há uma necessidade urgente de apresentar o Islam como uma ideologia com princípios consistentes e abrangentes, assim como, atenta ao aspecto social da vida do homem.

No passado os estudos Islâmicos eram geralmente destituídos dessas características importantes. Comparando o Islam com outras escolas de pensamento ou ideologias do nosso tempo, esses estudos não conduziam os pesquisadores a conclusões frutíferas e decisivas. Isto revela que eles não têm sido capazes de mostrar a integridade e a abrangência do Islam, nem definir sua relação com outras escolas de pensamento.

Além disso, esses estudos não têm considerado os aspectos práticos da vida, assim como as influências sociais. Eles têm se mostrado extremamente abstratos e nada concretos. Tratando-se da vida social, da estrutura da sociedade, responsabilidade e dever, estes estudos não tem oferecido nenhuma clareza nem proposta original.

Outro fator importantíssimo é que, na maioria dos casos, o Alcorão, o decisivo e indubitável texto do Islam, não têm desempenhado um papel determinante e elucidativo na nossa vida. Ao invés disso, ditos pouco confiáveis e prováveis do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) têm prevalecido. Sendo assim, nosso credo tem se desenvolvido à parte do Alcorão. Por causa dessa falta de atenção e relação para com o Alcorão, seu estudo tem dado lugar a uma leitura superficial e negligente. Tal leitura infértil carece de benefícios, tanto nessa vida como na outra. Dessa maneira, o nobre Alcorão tem se tornado um instrumento de demagogia nas mãos de pessoas leigas.

Tendo isso em mente é necessário considerar três características importantes nos estudos Islâmicos às quais todo estudioso dedicado deve estar atento.

Em primeiro lugar, o estudo e o sistema de pensamento Islâmico devem se libertar de uma mentalidade abstrata. O Islam, assim como outras escolas de pensamento, devem ser aplicáveis à vida social. Cada aspecto especulativo do credo ou da religião deve ser examinado para ver qual o ideal de vida para o ser humano, o objetivo e os meios de atingi-lo.

Em segundo lugar, todos os aspectos do pensamento Islâmico devem ser estudados como um todo, uma unidade integrada. Cada parte deve ser considerada como um tijolo numa construção construção, onde tudo está em harmonia, no conjunto, e não separadamente. Abordar o Islam desta forma resultará num entendimento minucioso dos seus princípios. Além disso, nos permitirá apresentar o Islam como uma ideologia perfeita e clara que está em sintonia com a multifacetada vida do homem.

Em terceiro lugar, para o entendimento dos princípios Islâmicos, devem ser distinguidos os textos e as fontes originais, e não comentários ou juízos pessoais de variados indivíduos. Com isso, o resultado de tal investigação será autenticamente islâmico, e nada além disto. Para este fim, nada melhor do que o Alcorão, o mais autêntico e perfeito documento Islâmico para basearmo-nos. Sem dúvida, se faz necessária uma profunda reflexão ao lê-lo, como ele próprio nos recomenda.

Aquilo que foi compilado neste tratado é um esforço para atingir o propósito mencionado acima. O tratado inicial foi em forma de apresentação do Islam em uma série sucessiva de palestras. Nestas palestras foi feito um esforço no sentido de buscar a base mais importante do pensamento Islâmico através de suas dimensões mais autênticas e vitais, ou seja, nos versos eloqüentes do Alcorão. Assim, através de uma descrição explanatória, que é o método de interpretação do Alcorão, a base, mencionada acima, foi especificada. Quando houve necessidade, para enfatizar ou explicitar, foram usados ditos e tradições relacionadas ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e aos Imames Infalíveis (A.S.). Aplicando esse método, além de explanar acerca dos versos do Alcorão, os princípios do Islam foram expostos a partir de um ponto de vista prático e comprometido.

Por fim, para propiciar aos ouvintes um sumário dos temas apresentados, foi escrito e entregue, diariamente, um resumo de minhas palestras. Esses resumos, por sua vez, podem servir como fonte de contínua reflexão. O que vos é apresentado, nesse livro, é uma coleção desses “resumos” (com ligeiras modificações) cuja publicação é uma resposta aos oportunos e razoáveis pedidos de muitos ouvintes de minhas palestras.

25 de Outubro de 1971

Definição

Empenho e ação humana, que são as razões de sua existência, têm um ponto de partida e uma plataforma de lançamento; que é chamada de fé. Fé significa aceitar e acreditar naquilo que o homem está buscando, assim como no meio pelo qual chegará ao seu objetivo.

Sem fé todo empenho e ação humana são evanescentes e infrutíferos. Sem fé os “peregrinos”, os buscadores, ficam desencorajados, desanimados, insensíveis e estagnados. Levando isso em consideração, o Alcorão enfatiza a “fé” e o “fiel” e apresenta suas características como o valor supremo que se encontra no topo das virtudes humanas.

Agora passemos a meditar na lista dos mais importantes valores Islâmicos e na dignidade da fé, que goza do mais alto grau dentre eles, com o seguinte verso do Alcorão:

“A piedade verdadeira não consiste em voltar o rosto para o leste ou para o oeste (alusão ao judaísmo e ao próprio Islamismo que se dirigem em certa direção para as orações rituais) – piedoso, na verdade, é aquele que crê em Deus, no Juízo Final, nos anjos, na revelação e nos profetas; gasta do que tem – apesar do apego a isto – com os familiares, os órfãos, os necessitados, os viajantes ou emigrantes, os mendicantes e em resgatar aqueles que são escravizados; é perseverante na oração, paga o imposto da purificação; e piedosos de verdade, também, são os que quando prometem, mantêm sua promessa, e são pacientes na desgraça, na adversidade e no perigo; esses são os que têm se mantido fiéis a sua palavra, e os que têm se mantido conscientes de Deus.” (C.2 – V.177)

Além disso, em resposta aos que crêem na Bíblia, e consideram o judaísmo ou o cristianismo como os únicos meios de salvação, o Alcorão revela um escopo mais amplo para a fé:

“Diga: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e seus descendentes, no que foi entregue a Moisés, a Jesus, e no que foi revelado a todos os demais Profetas por seu Provedor e Sustentador: não fazemos nenhuma distinção entre eles. E unicamente a Ele (Deus) nos submetemos.” (C.2 – V.136)

Fé Consciente

Sob esse aspecto, os seguintes temas encontram-se no Alcorão:

1) Fé nos princípios e no fundamento da religião é uma das destacadas características do Profeta e seus fiéis seguidores. Isto está tão destacado que o Alcorão enfatiza, dizendo:

“O Enviado crê no que foi revelado a ele de seu Provedor e Sustentador, e também seu fiéis seguidores: todos crêem em Deus, em Seus anjos, em Suas revelações e em Seus enviados, sem fazer nenhuma distinção entre nenhum deles; e dizem: “Ouvimos e obedecemos. Concede-nos Teu perdão, ó Provedor e Sustentador nosso, pois a Ti é o retorno”. (C.2 – V.285)

2) A fé verdadeira surge do intelecto e do conhecimento; não é uma crença cega e condicionada. Essa é a característica própria da fé, distinta de devoções absurdas, opacas e destituídas de praticidade. Nos versos seguintes é exemplificada a indicação do conhecimento referido:

“A Deus pertence o domínio dos céus e da terra, e Deus tem o poder de dispor de qualquer coisa. Verdadeiramente, na criação dos céus e da terra, na sucessão do dia e da noite, há sinais para os sensatos, que recordam-se de Deus, estando em pé, sentados ou deitados, dizendo: “Ó Provedor e Sustentador nosso, não criaste nada sem um significado e um propósito. Infinita é Tua glória! Preserva-nos do castigo do fogo. Ó Provedor e Sustentador nosso! A quem entregas ao fogo, Tu o aviltaste; tais iníquos não terão socorredores. Ó Provedor e Sustentador nosso! Ouvimos uma voz que nos chamava à fé: “Crede em vosso Provedor e Sustentador!” E cremos.” (C.3 – V.189-193)

3) Apenas um intelecto iluminado perceberá esse conhecimento; do contrário, a fé tornar-se-á uma estúpida e de estreita mentalidade, e a via para a verdade e a salvação do homem será obstruída. Justamente, esse é o porquê do Alcorão condenar a fé estreita e cega dos idólatras. Observemos o tom repreensivo e exemplar do seguinte verso do Alcorão:

“E quando se lhes é dito: “Vinde para o que Deus revelou e ao Enviado!”, dizem: “Basta-nos o que criam e faziam nossos antepassados”. Como? Mesmo que seus pais e antepassados nada compreendessem e carecessem de qualquer orientação?” (C.5 – V.104)

Fé Irmanda com Ação

Significaria fé um pensamento e um credo exclusivamente abstratos? Fé verdadeira é digna de consideração na medida em que é dinâmica e modeladora de nossas vidas.

O Alcorão sempre associa a fé com ação e a considera a força impulsionadora para atingirmos nosso destino desejado. Em muitos versos do Alcorão é revelada a dependência dos benefícios, nessa vida e na outra, que há sobre a união da fé com a ação. Leiamos e reflitamos acerca do que é dito aqui:

“Ó vós que chegastes a crer! Inclinai-vos, prostrai-vos e adorai unicamente a vosso Provedor e Sustentador, e fazei o bem, para que assim alcanceis a felicidade. Esforçai-vos pela causa de Deus com todo o esforço que Lhe é devido: Ele vos elegeu e não impôs dificuldade alguma na religião, a mesma fé de vosso pai Abraão. Ele vos chamou – antes desta e nesta (Escritura) – “os que se submeteram a Deus”, para que o Enviado seja uma testemunha da verdade ante vós, e para que deis testemunho dela ante toda a humanidade. Sejais, pois, perseverantes na oração, pagai o imposto de purificação e apegai-vos a Deus. Ele é vosso Protetor – o mais perfeito Protetor e o mais perfeito Socorredor.” (C.22 – V.77 a 78)

Nos versos citados as peculiaridades mais importantes da crença religiosa, que são o sucesso, a liderança e o apoio de Deus, são dependentes, justamente, da fé unida à ação. O verso seguinte recorda-nos das ações resultantes da fé e especificam o papel de sua dinâmica em uma sociedade Islâmica:

“Certamente, aqueles que chegaram a crer, emigraram, se esforçam pela causa de Deus, com seus bens, suas pessoas, assim como aqueles que os dão asilo e ajuda – esses são os verdadeiros amigos e protetores uns dos outros. Aqueles que, porém, chegaram a crer, mas não emigraram – não sois responsáveis, em absoluto, por sua proteção até que emigrem para vós.” (C.8 – V.72)

A Fé e suas Responsabilidades

De acordo com os versos previamente citados, a fé verdadeira é inseparável da ação. Aproveitadores, de um modo geral, desconsideram as responsabilidades que a fé os impõe; as aceitam apenas enquanto estiverem em consonância com seus interesses.

De acordo com o Alcorão, aqueles que tem certa fé em seus corações, estocada para seus momentos privados de dificuldades, são chamados descrentes, infiéis. O Alcorão promete vitória, prosperidade e salvação, e exalta àqueles fiéis que, sob todas as condições, são atentos às suas responsabilidades enquanto fiéis. Os seguintes versos do Alcorão são uma expressão clara disso:

“Temos revelado mensagens que mostram claramente a verdade; porém, Deus guia ao caminho certo, somente aqueles que Lhe apraz. Muitos são os que dizem: ”Cremos em Deus, no Enviado e obedecemos!” – porém, logo após esta afirmação, alguns voltam atrás: esses não são, em absoluto, crentes. E quando são convocados perante Deus e o Enviado para que (a escritura) julgue entre eles, alguns se apartam; se a verdade, porém, resulta de seu agrado estão dispostos a aceitá-la. Terão seus corações doentes? Abrigam dúvidas (acerca desta escritura)? Ou temem que Deus e Seu enviado o tratem com injustiça? Eles, na verdade, são aqueles que estão sendo injustos. A resposta dos fiéis de verdade, ao serem convocados ante Deus e Seu Enviado para que (a escritura) julgue entre eles, não pode ser senão: “Ouvimos e obedecemos!” – esses, precisamente, são os que alcançarão a felicidade: esses, pois, que obedecem a Deus e a Seu enviado, são tementes e conscientes de Deus, esses, precisamente, serão os venturosos.” (C.24 – V.46 a 51)

Por fim, nos dois versos que seguem o Alcorão nos dá a grata promessa do estabelecimento de uma sociedade e um governo Islâmico ideais por todo o mundo, para aqueles fiéis verdadeiros cujas ações são virtuosas e seladas com fé:

“Deus prometeu, àqueles dentre vós, que crêem e praticam o bem, que, sem dúvida, vos fará chegar ao poder na terra, tal como fez com (alguns) de seus antepassados; estabelecerá firmemente a religião que Ele vos destinou; e fará com que seu estado anterior de temor seja substituído pelo de tranqüila segurança – pois, adorais unicamente a Mim e não atribuem poder divino a nada, exceto a Mim”. Porém, os que, depois de compreenderem isto, elegerem negar a verdade – esses, precisamente, são os verdadeiros perversos!” (C.24 – V.54)

Promessas (1)

O que o homem necessita para obter o sucesso completo?

1. Ele precisa saber seu objetivo e o meio correto de atingi-lo. (guia, orientação)

2. Os véus da ignorância, ambição, capricho ou qualquer outra coisa que lance uma nuvem escura sobre a visão humana e seu poder de discernimento devem ser removidos. Ao invés disso, a luz da verdade deve penetrar fundo no coração do homem. (luz)

3. Em sua longa jornada em direção ao sucesso, o homem deve se libertar da confusão e da ansiedade, que são obscuridades internas muito mais difíceis de serem removidas do que as externas. (tranqüilidade e segurança)

4. Ele deve confiar que seu esforço será fecundo e esperar por um resultado vitorioso.

5. Suas faltas e pecados devem ser compensáveis e perdoáveis. (temor a Deus e perdão)

6. Ele deve, a todo momento, desfrutar de uma força segura e firme.

7. Quando confrontando pelos inimigos, ele deverá desfrutar dos resultados de um poder superior ao poder humano.

8. Ele deverá ser superior às posições opostas.

9. Ele deverá sobrepujar os opositores de seu objetivo e caminho, que são um claro obstáculo ao seu progresso.

10. Ele deve libertar-se de todos os empecilhos, obstáculos, amarras, para que possa alcançar seu objetivo.

11. Ele deve, sempre que possível, poder desfrutar do que é próprio e necessário para uma vida saudável. E, ao fim de uma vida de trabalho, direito a uma recompensa na medida certa e justa.

Vejamos, agora, versos do Alcorão que nos prometem tudo a que nos referimos, para aqueles cuja fé está acompanhada de ação e responsabilidade.

“Porém, certamente, aqueles que crerem e fizerem o bem – seu Provedor e Sustentador os guiará retamente por meio de sua fé.” (C.10 – V.9)

“Ó humanos, vos chegou uma manifestação da verdade vinda de vosso Provedor e Sustentador e vos enviamos uma luz clara. Aqueles que crêem e se aferram a Deus – Ele os envolverá em Sua misericórdia e em Sua graça e os encaminhará até Ele por um caminho reto.” (C.4 – V.174 a 175)

“Porém, aqueles que se esforçam e lutam por Nossa causa, sem dúvida, os guiaremos por caminhos que conduzem a Nós: pois, certamente Deus está com os que fazem o bem.” (C.29 – V.69)

“Deus está junto dos que crêem; os transporta das trevas para a luz – porém, aqueles que se obstinam em negar a verdade têm a seu lado os poderes do mal que os transportam da luz para as trevas: esses estão destinados ao fogo e nele permanecerão.” (C.2 – V.257)

“Ó vós que crêem, recordem a Deus com uma recordação freqüente e proclamai Sua glória infinita de manhã e à noite. Ele é quem vos outorga bênçãos e Seus anjos a reiteram, para tirar-vos das trevas e levar-vos à luz.” (C.33 – V.41 a 42)

“Ó vós que crêem, sejais conscientes de Deus e crede em Seu Enviado e Ele vos concederá Sua graça em dobro, e dar-vos-á uma luz que vos encaminhará…” (C.57 – V.28)

Promessas (2)

A libertação da confusão e da ansiedade é uma das características mais importantes dos fiéis. O Alcorão promete prover aos fiéis um valioso estado espiritual.

“Aqueles que crêem, e cujos corações encontram paz na recordação de Deus – pois, em verdade na recordação de Deus os corações encontram a paz – estão destinados à felicidade (neste mundo).” (C.13 – V.28 a 29)

Abraão (A.S.) pregou acerca disto aos idólatras de seu tempo, que não desfrutavam de tranqüilidade e paz, devido à falta de uma ideologia clara e lógica. Abraão falava acerca de sua serenidade e paz interna, que tinham origem em sua sólida fé.

“E seu povo discutia com ele. Disse: “Discutis comigo acerca de Deus, sendo que Ele mesmo me guiou? Não temo nada do que atribuem poder além de Deus, pois, nada de mal pode me ocorrer, a menos que meu Provedor e Sustentador assim determine. Meu Provedor e Sustentador abarca tudo com Seu conhecimento. Não refletis? Por que haveria eu de temer o que atribuís com poder, além de Deus, se vós mesmos não temeis conferir poder a algo que Deus não concedeu? Dizei-me qual das duas partes tem mais direito de sentir-se a salvo, se é que sabeis a resposta? Os que crêem e não obscurecem sua fé com injustiças, esses são os que estarão a salvo, pois são os que encontraram o caminho certo.” (C.6 – V.80 a 82)

Proveitabilidade

O fiel sabe que cada passo que ele der o aproximará mais de seu objetivo. Ele sabe que seus esforços e atividades são, geralmente, proveitosos, e nada será em vão.

“E apenas estabelecemos a direção da oração a que antes te voltavas (ó Mohammad) , para distinguir aqueles que seguem o Enviado, daqueles que desertam: pois, certamente, foi uma dura prova, exceto para aqueles que Deus guiou retamente. Em verdade, Deus não irá anular vossa fé (na direção que vos voltavas, antes (Jerusalém)) – pois, certamente, Deus é Compassivo e Misericordiosíssimo para com a humanidade.” (C.2 – V.143)

“Aqueles que praticarem o bem (por menor que seja) e forem fiéis, saberão que seus esforços não serão em vão, porque anotamos tudo em seu favor.” (C.21 – V.94)

O Monoteísmo

O Monoteísmo sob o Ponto de Vista Islâmico

Desde o ponto de vista islâmico, todo o fenômeno que ocorre no universo, depende e é criado por um poder superior. A esse poder superior nomeamos: Deus. Ele dispõe de todos os atributos da perfeição, tais como: conhecimento, poder, vontade, vida, etc.

Tudo, desde a menor partícula imaginada, desde o mais remoto e distante ponto de uma galáxia foi criado por Deus e está sob Seu poder. Todos os seres vivos do universo, isto é, os homens e os animais, são Seus servos, e do ponto de vista da dependência e servidão, são todos iguais. Nada está sob a categoria de filhos, esposas, parentes, etc., livre, portanto, da servidão. Ele é o único criador, e cria e provê para Suas criaturas a capacidade de pensar, decidir, agir e toda possibilidade material.

Esta perspectiva é o princípio fundamental da ideologia Islâmica. A delicada tessitura do monoteísmo Islâmico pode ser ouvida em centenas de versos do Alcorão. Seguem alguns versos:

“Deus – não há divindade além d’Ele, o Vivente, a Fonte Auto-subsistente de todo o ser. Nem o torpor, nem o sono jamais o atingem. A Ele pertence tudo que há nos céus e tudo que há na terra, Quem pode interceder ante Ele, sem Sua permissão? Sabe o que está manifesto ante os homens e o que lhes está oculto, não atingem de Seu conhecimento, senão o que Ele lhes permite.” (C.2 – V.255)

“Afirmam: “O Clemente tomou para Si um filho.”. Certamente, proferistes algo monstruoso, ante o qual estão a ponto de rasgarem-se os céus, de fender-se a terra e desmoronarem as montanhas! Isso, por terem atribuído um filho ao Clemente, quando é inconcebível que o Clemente houvesse tido um filho! Não há nada nos céus e na terra que não compareça ante o Clemente, senão como servo: em verdade, Ele tem pleno conhecimento deles, e os enumerou com precisão; e todos comparecerão ante Ele no Dia da Ressurreição, individualmente.” (C.19 – V.88 a 94)

O Monoteísmo na Ideologia Islâmica

O monoteísmo alcorânico não é um conceito neutro e inconseqüente, mas sim, comprometido e construtivo. Seu modo de encará-lo desempenha um papel efetivo na construção e administração de uma sociedade. Ele define o objetivo e a estratégia de uma sociedade. O monoteísmo é, de fato, o alicerce de toda ideologia Islâmica.

A dependência, do mundo e do homem, de um poder superior (Deus) “exige” que o mundo tenha sido criado com uma finalidade. Isso acarreta, também, responsabilidade; isto é, o homem, ao usar sua capacidade de julgar e decidir deve escolher o caminho certo para atingir seu objetivo. Ele deve ter um objetivo claro, assim como a direção que levará a ele.

Ao considerarmos Deus como o único criador do universo, conseqüentemente, devemos considerá-lo, também como o único capaz de estabelecer o que é certo e o que é errado, ou legislar; e todo aquele que possui bom senso se sujeitará às Suas injunções. Outro aspecto que nos leva a considerar Deus como o legislador por excelência é Seu atributo de Onisciência ou Conhecimento perfeito e absoluto.

A servidão padrão que os seres vivos derivam de Deus exige, também, que nenhuma de Suas criaturas tenha o direito de governar as outras. Isso resulta na necessidade de que um líder, para nós, seja alguém escolhido e designado por Deus, unicamente, ou na sua ausência, os critérios, os parâmetros para um governo Islâmico.

Refletir acerca dos seguintes versos nos fará compreender o que dissemos acerca do monoteísmo:

“Entre os humanos há aqueles que escolhem crer em seres que, supostamente, rivalizam com Deus, e os amam com um amor devido, unicamente, a Deus; os crentes, os fiéis, porém, amam, fervorosamente, a Deus acima de tudo. Ah, se os que praticam o mal pudessem ver a situação em que estarão quando virem o castigo que os espera no Dia da Ressurreição, e que todo o poder pertence, unicamente, a Deus, e que Deus é severo ao impor o castigo! Nesse Dia os que foram falsamente adorados se desentenderão com seus seguidores e verão o castigo que os aguarda, uma vez destruída todas suas esperanças. Os adoradores, então, dirão: “Se tivéssemos a oportunidade de viver novamente, repudia-los-íamos, assim como fomos repudiados.” Deus, então, os mostrará suas ações, que serão motivo de profunda lamentação, porém não lhes será permitido sair do fogo.” (C.2 – V.165 a 167)

A Devoção e Obediência exclusivas a Deus

Até o presente momento dedicamo-nos a esclarecer que o monoteísmo não é, apenas, um conceito filosófico, mas algo sobre o qual a vida social e individual devem ser baseadas.

Alguns dos principais pontos do monoteísmo alcorânico são os seguintes:

Os homens não têm o direito de adorar ou obedecer nada, nem ninguém, exceto Deus. Com base nisso, todo o sofrimento e opressão imposta sobre a humanidade, por falsas divindades, são destituídas de qualquer justificativa através da história. Essa proposição inclui qualquer tipo de ídolo, divindade, político tirano ou, inclusive, as próprias inclinações perversas. Os seguintes versos, acerca dos falsos ídolos – sejam homens ou outras coisas – esclarecem o padrão do monoteísmo:

“No Dia em que congregarmos a todos, diremos aos idólatras: “Ficai onde estais, vós e vossos parceiros, que supunham serem partícipes do poder de Deus!” Logo os separaremos; então, seus parceiros lhes dirão: “Não era a nós que adoráveis (mas, sim vossas fantasias e vossos desejos)! Basta Deus por testemunha entre nós e vós, de que éramos inconscientes de vossa adoração.” Nesse Dia todo ser humano verá, claramente, tudo quanto tiver feito no passado; e todos serão devolvidos a seu verdadeiro Senhor; e tudo quanto tiverem forjado e imaginado desvanecer-se-á.
Dize: “Quem vos agracia com os bens do céu (espirituais e materiais) e da terra? Quem possui o poder sobre a visão e a audição? Quem faz surgir o vivo do morto e o morto do vivo? Quem rege todos os assuntos? Dirão:”Deus!” Dize, então: “Por que não o temeis?” (C.10 – V.28 a 31)

“Pergunta-lhes: “Existe algum dentre esses seres que fazeis partícipes da natureza de Deus, algum que possa guiar-vos à verdade? Dize:”Somente Deus guia à verdade! Quem guia a verdade, então, não é mais digno de ser seguido, do que aquele necessita, também, ser guiado? Que vos sucede? Como julgais desse modo!” (C.10 – V.35)

É uma característica própria do ser humano orientar e guiar, assim como, ser orientado ou guiado, por sua vez. Desse modo, o verso acima é acerca daqueles homens que proclamam-se deuses ou partícipes da natureza divina, e consideram-se dignos de serem servidos. O Islam é, eminentemente, contra falsos deuses ou ídolos, sejam eles religiosos (sacerdotes, intermediários de Deus), políticos (ditadores) ou econômicos.

O Alcorão oferece a seguinte sugestão ao “povo do Livro” (comunidade monoteísta que segue um profeta e uma escritura revelada por Deus, por exemplo: judeus e cristãos):

“Dize-lhes: “Ó adeptos do Livro, vinde, para chegarmos a um termo comum, entre nós e vós; comprometamo-nos, formalmente, a não adorar senão a Deus, a não atribuirmos poder nenhum junto a Ele e a não tomarmos por senhores seres humanos, como nós, por partícipes de Sua natureza.” Caso, porém, se recusem, dize-lhes: “Testemunhai que nos submetemos a Deus unicamente.”” (C.3 – V.64)

Apesar disso, o Alcorão considera obediência aos verdadeiros fiéis equivalente a obediência a Deus e em alguns versos apresenta os “poderes executivos” da sociedade Islâmica pertencentes ao Enviado, ou Profeta Mohammad, e aos “dotados de autoridade” por Deus, os Imames.

O Espírito do Monoteísmo: A Negação da Adoração a Divindades Falsas

Estudar mais alguns versos do Alcorão nos esclarecerá sobre o efeito do monoteísmo e seu procedimento na vida social e individual.

De acordo com o Alcorão, a rejeição à adoração a falsas divindades não implica, necessariamente, que alguém seja monoteísta. Para que alguém venha a ser considerado monoteísta, ele deve negar, também, obediência aos opositores de Deus. Esse ponto é bem claro no Alcorão a ponto de chamá-los de idólatras. Portanto, adorar a Deus, que é o sentido e o espírito do monoteísmo, pode ser definido, também, como “exclusiva obediência e servidão a Deus”. A obediência e a devoção a falsas divindades, seja na forma de ordens de pessoas, regras sociais, organizações e etc., são consideradas idolatrias. Essa é a causa do tom de protesto do monoteísmo manifesto nestes versos do Alcorão:

“Dize: “Poderia eu anelar outro árbitro que não fosse Deus, quando foi ele Quem revelou o Livro detalhado?”. Aqueles a quem revelamos o Livro sabem que ele é uma revelação verdadeira, que emana do teu Senhor. Não sejas, pois, dos que duvidam. As promessas do teu Senhor já têm se cumprido fiel e justiceiramente, pois Suas promessas são imutáveis, porque Ele tudo ouve, tudo sabe. Se obedeceres à maioria dos seres da terra, eles desviar-te-ão da senda de Deus, porque não professam senão conjecturas e não fazem mais que inventar mentiras. Teu Senhor é conhecedor de quem se desvia de Sua senda, assim como é o mais conhecedor dos encaminhados. Comei, pois, de tudo aquilo sobre o qual tenha sido invocado o nome de Deus, se credes em Seus versículos. E que vos impede de desfrutar de tudo aquilo sobre o qual foi invocado o nome de Deus, uma vez que Ele já especificou tudo quanto o que proibiu para vós, salvo se vos fordes obrigado a tal? Muitos se desviam, devido à luxúria, por ignorância; porém, teu Senhor conhece os transgressores. Fugi do pecado, tanto confesso como íntimo, porque aqueles que lucram com o pecado serão castigados pelo que houverem lucrado. Não comais daquilo sobre o qual não tenha sido invocado o nome de Deus, porque isso é uma profanação e porque os demônios inspiram os seus asseclas a disputar convosco; porém, se os obedecerdes, sereis idólatras.” (C.6 – V.114 a 121)

“E o Paraíso se aproximará dos devotos. E o inferno será descoberto para os ímpios. Então lhes será dito: “Onde estão os que adoráveis, em vez de Deus?” Poderão, acaso, socorrer-vos ou socorrerem-se a si mesmos? E serão arrojados nele, juntamente com os sedutores. E com todos os exércitos de Iblis. Quando, então, dirão, enquanto disputam entre si: “Por Deus, estávamos em um erro evidente, quando vos igualávamos ao Senhor do Universo. E os nossos sedutores eram aqueles que estavam afundados em pecados. E não temos intercessor algum, nem amigo fiel. Ah, se pudéssemos voltar atrás, seríamos dos fiéis!” Sabei que nisto há um sinal; porém, a maioria deles não crê.” (C.26 – V.90 a 103)

O Monoteísmo e a Negação das Classes Sociais

A discriminação social tem se revelado cruel ao longo da história; para justificar essa crueldade dizia-se: “Diferentes deuses, organizados hierarquicamente, deram origem às diferentes classes sociais logo, cada classe tem seus direitos e vantagens.”. Diz-se, também, às vezes: “Deus criou a divisão de classes e garantiu certos direitos e vantagens para diferentes pessoas.”. Em diferentes períodos da história, como um todo, essas justificativas tem se revestido de diferentes formas; baseada nisso, a ostentação das classes abastadas tem sido considerado algo natural.

O princípio do monoteísmo não é, apenas, considerar todos os seres criados por um único Deus, mas, também, erradicar as raízes da discriminação social da mente humana. Uma parcela dessa faceta do monoteísmo pode ser corroborada com os seguintes versos:

“Pergunta-lhes: “A quem pertence a terra e tudo quanto nela existe? Dizei-o se sabeis! Responderão: “Deus!” Dize-lhes: “Não refletis, pois?” Pergunta-lhes: “Quem sustenta os sete céus e está entronizado em Sua onipotência? Responderão: “Deus!” Pergunta-lhes, então: “Não vos conscientizais d’Ele,pois? E pergunta-lhes, ainda: “Quem tem o domínio absoluto sobre todas as coisas e que é o protetor frente ao qual não existe protetor? Respondei se sabeis!” Responderão: “Deus!” Dize-lhes: “Como, então, vos deixais enganar?” Nós trazemos-lhes a verdade; porém, sem dúvida, mentem para si mesmos. Deus jamais teve descendência, nem, jamais, algo ou alguém compartilhou com Ele a divindade! Porque se assim fosse, cada divindade teria se apropriado de sua criação e teriam tentado dominarem-se uns aos outros. Glorificado seja Deus de tudo quanto descrevem!” (C.23 – V. 84 a 91)

“Ó humanos, adorai a vosso Provedor e Sustentador, que vos criou, bem como os que vos antecederam, quiçá assim permaneçais conscientes d’Ele. Ele vos fez a terra um leito, e do céu um teto, e envia do céu a água, com a qual faz brotar frutos para vosso sustento: assim pois, não digais que existem poderes capazes de rivalizar com Deus, conscientemente.” (C.2 – V.21 e 22)

“Ó humanos Nós vos criamos, todos, de macho e fêmea e vos fizemos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais nobre, dentre vós, ante Deus, é o mais profundamente consciente d’Ele. Sabei que Deus é o Sapientíssimo e está bem inteirado de tudo.” (C.49 – V.13)

“Enobrecemos os filhos de Adão e os levamos por terra e por mar, os sustentamos com as coisas boas da vida e os favorecemos enormemente sobre a maior parte de tudo quanto criamos. Um dia convocaremos todos seres humanos, com seus respectivos guias (Imames). E aqueles a quem forem entregues os seus livros (com os registros do que fizeram) em sua mão destra, os lerão e não serão defraudados no mínimo que seja.” (C.17 – V.70)

Os Efeitos Psicológicos do Monoteísmo

Embora a principal tarefa do monoteísmo seja estabelecer uma sociedade onde não haja discriminação social e os limites e a ética divina sejam predominantes, os efeitos psicológicos nos fiéis são tremendos e dignos de nossa consideração. Podemos dizer que, no conjunto, o monoteísmo constitui-se de duas “dimensões”: uma social e uma individual.

O adepto do monoteísmo, sob a influência de sua fé, desfruta de características, tais como: otimismo, esperança, esforço incansável, proteção contra o temor e contra a libertinagem, tolerância, fortaleza, um caminho seguro e assim por diante. O Alcorão, em alguns de seus versos, quando fala acerca da fé e dos esforços dos fiéis, claramente, aponta para algumas dessas características:

“Regozijam-se com a boa nova, com a graça divina, e pela promessa de que Deus não deixará sem recompensa aos fiéis que acudiram à chamada de Deus e do Enviado depois do revés pelo qual passaram. Uma recompensa magnífica espera por aqueles que perseveraram na prática do bem e mantiveram-se atentos a Deus. São aqueles aos quais foi dito: “Os inimigos reuniram-se contra vós, temei-os, pois!”; porém, isto não fez, senão, aumentar-lhes a fé, e disseram: “Deus nos basta! Ele é o mais excelente Protetor.” – e regressaram (da batalha) com a benção e o favor de Deus, sem terem sofrido dano algum: porque buscaram a complacência de Deus – e Deus possui generosidade infinita. Eis que satã infunde o medo em seus aliados. Não os temeis, temei somente à Mim, se sois fiéis de verdade.” (C.3 – V.171 a 175)

A Profecia

O Conceito de Profecia

Qual o propósito das religiões reveladas e qual o conceito de profecia, o meio pelo qual as mensagens reveladas são trazidas a nós? Qual a missão da profecia? Quais são seus objetivos? Qual é o ponto de partida dos profetas e o fruto de seus esforços? Essas questões são, além de outras, os temas fundamentais da profecia, e todo fiel deve buscar suas respostas. No Alcorão encontramos curtas, porém, perfeitas e claras, respostas a tais questões.

Os sentidos, os instintos e, inclusive, o intelecto humano, não são suficientes para a “salvação” e a felicidade plena do ser humano. O homem precisa de algo superior, que transcende seu intelecto, ou seja, uma revelação, uma assistência divina. Esta revelação ou assistência tem origem no Ser que conhece todas as necessidades do homem e os meios de supri-las. Esta é a lógica de todas as religiões reveladas e do conceito de profecia.

Devida a esta necessidade humana os profetas são convocados a trazer programas, medidas que venham de encontro a elas. Os pontos mencionados acima podem ser encontrados nos seguintes versos alcorânicos:

“No princípio os povos constituíam uma só nação; logo começaram a discrepar – e Deus enviou os profetas como alvissareiros e admoestadores e por meio deles transmitiu a revelação, uma exposição da verdade, para dirimir as divergências entre os homens. Porém, aqueles que a receberam só divergiram acerca de sua interpretação, depois de lhes terem chegado suas provas, por inveja mútua. Porém, Deus, com Sua graça, orientou os fiéis para a verdade quanto àquilo que é a causa de suas divergências; Deus encaminha quem Lhe apraz à senda reta.” (C.2 – V.213)

“Tudo quanto existe nos céus e na terra proclama a infinita glória de Deus, o Soberano, o Santo, o Onipotente, o Sábio. Ele foi quem elegeu para o povo iletrado um mensageiro dentre eles, para que os transmita Suas mensagens, lhes ajude a crescer em pureza, lhes ensine a escritura revelada e a sabedoria – antes disso encontravam-se, claramente, extraviados – ; e para que esta mensagem se estenda deles a outros povos assim que entrem em contato com eles. Deus é o Todo Poderoso, o Sábio. Essa é a graça de Deus, que Ele concede a quem quiser recebê-la, e Ele é de uma generosidade infinita.” (C.62 – V.1 a 4)

A Convocação da Profecia

A profecia é uma “provocação”. É uma “ressurreição”, após um período de imobilidade e esterilidade. Inicialmente, essa “ressurreição” afeta o espírito do profeta para, então, “contagiar” seu meio.

O profeta, que desfruta de experiência e um conhecimento extraordinário, prepara-se para receber e aceitar essa grande responsabilidade. Antes de ser convocado para a profecia esse potencial mantêm-se oculto, resguardado e, como um homem comum de sua sociedade, trata de assuntos do cotidiano, assuntos ordinários. A inspiração divina, quando lhe chega, causa uma revolução naquele “homem comum” e ele é, então, eleito um profeta.

Os seguintes versos evocam o começo desta “ressurreição” no interior do Profeta Mohammad (S.A.A.S.):

“Considera as horas do resplendor matinal, e a noite quando se torna quieta e escura. Teu Sustentador não te abandonou, nem te desprezou. E, certamente, a outra vida será melhor, para ti, do que a presente. E teu Sustentador te agraciará, de um modo que te satisfaça completamente. Por acaso, não te encontrou órfão e te amparou? Não te encontrou perdido e te guiou? Não te encontrou necessitado e te supriu?” (C.93 – V.1 a 8)

“Considera esse aclarar (da mensagem de Deus), à medida que desce! Vosso companheiro não está extraviado, não se engana, nem fala por capricho: isso (que vos transmite) não é senão uma revelação com a qual está sendo inspirado – algo que lhe concede alguém poderoso: (um anjo) de incomparável poder, que apareceu em sua forma, no mais alto do horizonte e logo se acercou, descendo, até estar a uma distância de dois arcos ou menos.E transmitiu ao Servo de Deus a Revelação. Não mentiu o coração do Servo de Deus o que viu. Ousareis disputardes acerca do que ele viu?” (C.53 – V.1 a 12)

Podemos dizer, portanto, que é após a aquisição de um vigor, uma força interior, que o profeta receberá seu encargo.

A Ressurreição Social da Profecia

Os profetas surgem em condições sociais caóticas para estabelecer a ordem mais perfeita de acordo com a natureza humana. O homem, cuja natureza está em harmonia com a natureza do mundo, descobrirá um meio de progredir, ao conformar-se a uma ordem que está inspirada pela natureza do mundo e do homem e aos seus papéis que estão na proporção de sua estrutura física e espiritual.

Através da história, a ignorância e o preconceito acarretaram uma regressão que pela imposição de sistemas desumanos tirou o homem de seu curso natural. Os profetas são aqueles que conduzem a humanidade ao caminho certo. O profeta deve fazer com que a sociedade ignorante e desorientada passe por uma transformação radical e completa, além de estabelecer a justiça.

Nos versos seguintes vemos claramente alguns pontos acerca do sistema desumano do Faraó e do sistema divino de Moisés, que o substitui:

“Estas são mensagens da escritura divina que é clara em si mesma e que mostra claramente a verdade. Transmitimos-te parte da história de Moisés e Faraó, expondo a verdade para o benefício de uma gente disposta a crer. Certamente, o Faraó conduzia-se com altivez no país e dividia seus habitantes em castas. Considerava um grupo deles completamente insignificantes; degolava seus filhos varões, deixando com vida suas filhas mulheres: pois, na verdade, era desses que semeiam a corrupção. Porém, quisemos outorgar Nosso favor precisamente àqueles que eram considerados insignificantes no país, e fazê-los líderes e herdeiros, e estabelecer-lhes firmemente na terra, e fazer com que Faraó, Haman e seus exércitos experimentassem, através deles, aquilo que mais temiam.” (C.28 – V.2 a 6)

Em alguns versos do Alcorão a necessidade de estabelecer a ordem divina também é enfatizada com um tom similar em capítulos como: O Arrependimento, As Fileiras e A Vitória. Nos seguintes versículos do capítulo: “As Fileiras” lemos o seguinte:

“E quem pode ser mais perverso que aquele que forja uma mentira acerca de (uma mensagem) Deus, quando, precisamente, és chamado a submeter-se a Ele? Deus não guia àqueles que deliberadamente fazem o mal. Querem apagar a luz de Deus com suas palavras: porém Deus dispôs que Sua luz resplandeça plenamente, por mais que isso pese aos que negam a verdade. Deus foi quem enviou Seu Mensageiro com a orientação e com a verdadeira religião, para fazê-la prevalecer sobre toda a religião (falsa), por mais que isso pese aos idólatras.” (C.61 – V.7 a 9)

Os Objetivos da Profecia

Discutimos antes que o profeta traz uma ressurreição social e suplanta as fundações idolátras da sociedade. Podemos, porém, nos perguntar qual o objetivo disto.

O maior objetivo dos profetas é fazer com que o homem se liberte da abominação e da maldade, e atinja o mais alto grau de perfeição. O homem é criado com um rico potencial para a virtude e a bondade, porém, apenas através de uma educação adequada ele será capaz de trazer este potencial para a ação. Qual caminho o homem deve escolher para trazer à tona esse potencial e atingir essa referida perfeição? Dentre as diferentes respostas, a resposta dos profetas é a de prover o homem com um ambiente ajustado à sua estrutura natural; uma sociedade teocêntrica. Em tal sociedade, o caminho do homem em direção ao seu destino natural e último, é facilitado e acelerado.

Em direção a seus objetivos últimos, os profetas tem de estabelecer uma sociedade teocêntrica e Islâmica, baseada na justiça, respeito à dignidade humana, monoteísmo e etc.; longe da superstição, ignorância, crueldade ou qualquer outra maneira que venha a humilhar ou diminuir o homem. Reflitamos acerca dos seguintes versos do Alcorão que nos conduzem aos fatos acima mencionados:

“Enviamos nossos mensageiros com todas as evidências; e enviamos, com eles, o Livro e a balança (do bem e do mal), para que os humanos observem a justiça; e enviamos (o poder para utilizar) o ferro, que encerra grande poder (para a guerra) e, também, fonte de grandes benefícios para o homem: e vos foi dado isto para que Deus distinga aos que O defendem e a Seu Enviado, estando Ele fora do alcance da percepção humana. Certamente, Deus é o Todo-poderoso, o Fortíssimo.” (C.57 – V.25)

““Ó Senhor! Dispõe para nós o bem nesta vida e, também, na outra: certamente, nos voltamos a Ti arrependidos!” Deus respondeu: “Com Meu castigo açoito quem quero; porém Minha misericórdia abarca todas as coisas, e a concederei aos que são conscientes de Mim, os que gastam do caridade e os que crêem em Nossas mensagens. Aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram mencionado em sua Torá e no Evangelho; que lhes ordenará a conduta do certa e os proibirá a imoral e que lhes fará lícitas as coisas boas da vida e proibirá as más, e lhes livrará de seus fardos e dos grilhões que pesavam sobre eles. Aqueles que nele creram, honraram -no, defenderam-no e seguiram a luz enviada através dele, são os bem-aventurados.” (C.7 – V.156 a 157)

O Primeiro Convite

A primeira convocação é um chamado ao monoteísmo, considerado o principal elemento desta “escola de pensamento”. A política revolucionária das outras escolas é baseada na “gradação”, onde os primeiros “slogans” servem como um preparo para o cumprimento de um objetivo final no futuro. Na “estratégia” dos profetas, o último a ser dito é dito primeiro, e todos, desde os primeiros passos, sabem a direção, o fim e as conseqüências de seu caminho.

Tanto aqueles que aceitam, quanto aqueles que rejeitam o monoteísmo, concordam que sob seu princípio, há uma batalha contra o privilégio de classes, a exploração e a tirania, e que, naturalmente prevalece o respeito à dignidade humana, à liberdade, justiça social, etc.. O caminho e o objetivo dos profetas são bastante claros, a ponto de causar, nos inimigos e nos seguidores dos profetas, uma forte distinção, que prevenirá as gerações seguintes do desvio ideológico.

O Alcorão enfatiza, repetidamente, que o primeiro chamado dos profetas refere-se à servidão a Deus e à rejeição de falsos deuses.

“Em verdade, enviamos ao seio de cada comunidade um profeta portador da mensagem: “Adorai a Deus e apartai-vos dos poderes do mal!” Entre eles houve quem Deus guiou, embora muitos que se extraviaram. Ide pela terra e observai a sorte daqueles que desmentiram a verdade.” (C.16 – V.36)

“Enviamos Noé a seu povo, ao qual disse: “Ó povo meu, adorai, unicamente, a Deus, pois não há poder e divindade além dEle. Temo, por vós, o castigo do Dia terrível.” (C.7 – V.59)

“Desmentiram-no, porém, o salvamos, juntamente com os que com ele estavam na arca, afogando aqueles que desmentiram Nossas mensagens, porque constituíam um povo cego. Ao povo de Ad enviamos seu irmão Hud, o qual disse: “Ó povo meu, adorai, unicamente, a Deus, pois não há poder e divindade além d’Ele. Não O temeis? Porém, os chefes incrédulos, dentre seu povo, disseram: “Em verdade, vemos que és insensato e pensamos que és, também, mentiroso.” Respondeu-lhes: “Ó povo meu, não há insensatez em mim, sou um mensageiro do Senhor do universo. Vos transmito as mensagens de meu Sustentador e vos aconselho fielmente. Estranhais que vos chegue uma mensagem de vosso Sustentador, por meio de um homem dentre vós, para adverti-los? Recordai como vos fez herdeiros do povo Noé e vos dotou de poder. Recordai-vos das graças de Deus, a fim de que prospereis.” Disseram-lhe: “Vindes, acaso, para fazer-nos adorar a Deus e abandonar o que adoravam nossos antepassados? Faze, pois, com que se cumpram tuas ameaças, se estiveres certo.” Respondeu-lhes: “Caiu sobre vós um mal abominável e a condenação de vosso Sustentador. Ousareis, acaso, discutir comigo, a respeito de nomes (de ídolos) que inventais, vós e vossos antepassados, aos quais Deus não deu autoridade alguma? Aguardai, pois (o que vai ocorrer), que eu aguardarei convosco.” (C.7 – V.64 a 71)

Os Oponentes

Foi dito que a profecia é um meio de ressurreição social que acarreta profundas mudanças na sociedade, em favor dos oprimidos e em oposição aos que vivem luxuriosamente. Esta afirmação leva-nos ao tema mais importante da profecia: o conflito.

É muito óbvio que quando há, na história, uma oposição aos privilégios de uma classe, as classes desprovidas apóiam e as classes beneficiadas rejeitam. E isto tem dado origem a inúmeros conflitos entre estas classes.

Para um reconhecimento completo desses dois grupos nos referiremos ao Alcorão. Por vezes, no Alcorão, os oponentes da convocação profética são lembrados de um modo geral, porém, há três exceções representativas da classe mencionada. Os três são: o Faraó, Haman e Korah, que simbolizam, respectivamente, o governo, o homem de estado e as classes abastadas. Em algumas partes do Alcorão a classe dos sacerdotes é adicionada. Incluímos, também, mais quatro grupos, ou classes, que insistentemente opõem-se à missão profética: Taghut, Mala, Mutfrin, Ahbar e Ruhban.

Podemos ver exemplos dessas classificações nos versículos seguintes:

“… temos determinado para cada profeta inimigos dentre as forças do mal, seres humanos e também seres invisíveis, que sussurram entre si meias verdades, embelezadas para ofuscar a mente. Porém, se teu Sustentador não quisesse assim não fariam. Deixa-os, assim como suas falsas imaginações. Que lhes prestem atenção os corações daqueles que não crêem na vida futura; que se contentem com eles, e que lucrem o que quiserem lucrar.” (C.6 – V.112 a 113)

“Enviamos Moisés com Nossos sinais e uma autoridade evidente, ao Faraó, a Hanam e a Carun; porém, disseram: “É um feiticeiro que mente.” E quando lhes apresentou a verdade, disseram: “Matai os filhos varões daqueles que, com ele, crêem, e deixai com vida as suas mulheres.” Porém, a conspiração dos incrédulos conduziu-os ao fracasso.” (C.40 – V.23 a 25)

“Não enviamos admoestador algum a uma comunidade, sem que aqueles que estavam completamente entregues a busca por prazeres dissessem: “Negamos que haja verdade no que apresentais como mensagem.” E disseram, também : “Somos mais que vós em bens e filhos, e jamais seremos castigados.”” (C.34 – V.34 a 35)

“Ó fiéis, em verdade, muitos rabinos e monges fraudam os bens dos demais e os desencaminham da senda de Deus. Quanto àqueles que entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Deus, anuncia-lhes um doloroso castigo.” (C.9 – V.34)

Conseqüências da Profecia

O caminho pelo qual os profetas conduzem as pessoas é baseado na sua própria natureza, logo, ele é percorrido com maior facilidade e velocidade. Uma vez que os governos despóticos e ignorantes, que afastam as pessoas do seu caminho, cometem ações contrárias à natureza humana são efêmeros e condenados a aniquilação.

Isto revela-nos as conseqüências da missão profética. De modo contrário às idéias superficiais, o movimento dos profetas tem tido êxito e, de um modo geral, tem sido bem sucedido na condução das pessoas ao caminho reto, e assim será até o último dia.

Cada um desses mensageiros de Deus, em determinados períodos da história, facilitou o caminho do homem em direção ao aperfeiçoamento, tanto individual, quanto social, os quais são os objetivos da criação. Após incansáveis esforços, os profetas falecem, porém, no final de sua missão, confiam a responsabilidade de liderança a alguém divinamente autorizado. Devido a isso, no curso da história, o homem tem sido confiante na convocação profética e no caminho por eles proposto. Esse curso se manterá até que a última pessoa divinamente autorizada dê o último passo na nossa orientação e educação. Neste momento, o homem percorrerá, sem obstáculos, uma via infinita de aperfeiçoamento e progresso, com mais facilidade e velocidade, do que nunca.

Um ponto importante é que o sucesso depende de dois fatores importantes: fé e paciência. Percalços durante essa trilha devem-se a falta desses dois fatores. O uso devido deles, por outro lado, nos levará a prodigiosas vitórias. Os versículos seguintes nos dão uma idéia desta esperança:

“Pergunta-lhes: ”Quem é o Sustentador dos céus e da terra? ”Dizei-lhes: ”Deus!” E dizei-lhes: “Por que, então, adotam, em vez dEle, ídolos, que não podem beneficiar-se nem defender-se?” Poderão equiparar-se o cego com aquele que vê? Poderão equiparar-se as trevas e a luz? Crêem, de verdade, que existem, junto com Deus, outros poderes divinos, que criaram o mesmo que Ele, de forma que esse ato de criação seja similar ao d’Ele? Dize: ”Deus é o criador de todas as coisas e Ele é o único que tem o domínio absoluto sobre tudo que existe.” Sempre que ele faz cair a água do céu e os leitos dos rios, antes secos, se enchem, segundo sua capacidade, a corrente arrasta uma espuma que bóia na superfície, similar a espuma que se produz ao fundir metal para fazer ornamentos e utensílios. Assim apresenta Deus a parábola da verdade e da falsidade: a espuma desaparece, como ocorre com toda a escória; o que beneficia, porém, permanece na terra. Assim Deus apresenta as parábolas daqueles que responderam a seu Sustentador com uma resposta excelente e daqueles que não responderam. Quanto a estes últimos, se possuíssem tudo que há na terra e mais o dobro, certamente ofereceriam como resgate no Dia do Juízo. Aguarda-lhes um funesto ajuste de contas e terão por morada o inferno; que horrível morada!” (C.13 – V.16-18)

“Sem dúvida que foi dada Nossa palavra aos Nossos servos mensageiros, de que seriam socorridos e de que Nossos exércitos sairiam vencedores. Afasta-te, pois destes que negam a verdade, por um tempo e vê-os tal como são, no devido tempo eles, também, verão o que agora não vêem. Desejam, realmente, que seja adiantado Nosso castigo? Quando lhes cair esse castigo será um despertar funesto para aqueles que foram advertidos em vão! Afasta-te, pois destes que negam a verdade, por um tempo e vê-os tal como são, no devido tempo eles, também, verão o que agora não vêem. Infinita é a glória de teu Sustentador, Senhor da Honra e do Poder, excelso acima do que os homens concebem para defini-Lo.” (C.37 – V.171 a180)

Conseqüências da Profecia (2)

A história nos mostra que onde quer que o chamado dos profetas tenha sido acompanhado pela fé e pela paciência eles foram bem sucedidos em estabelecer um sistema divino justo, e derrubaram o sistema opressor. Considerando o objetivo geral da profecia, entendemos que todos os profetas, inclusive aqueles que aparentemente falharam no cumprimento de sua missão, em uma determinada fase, foram bem sucedidos em atingir seu objetivo último que é a exaltação do pensamento e do espírito do homem, de modo que o capacite a assimilar a próxima fase.

O Alcorão menciona claramente esse fato, relatando as histórias dos profetas:

“Certamente, auxiliaremos Nossos Mensageiros e aos crentes, nesta vida e no Dia em que se erguerão todas as testemunhas. Será o Dia em que de nada valerá as desculpas dos iníquos, senão que serão objetos da maldição e uma funesta morada. Havíamos concedido orientação a Moisés e fizemos os israelitas herdeiros da escritura divina. Orientação e recordação para os sensatos. Persevera, pois, porque a promessa de Deus é infalível; implora o perdão das tuas faltas e celebra os louvores de teu Sustentador, ao anoitecer e ao amanhecer.” (C.40 – V.51 a 55)

“Quantas comunidades iníquas exterminamos e suplantamos por outras? E quando se apercebiam de Nosso castigo tentavam fugir dele precipitadamente. Não fujais! Voltai à vossa luxuriosa vida e às vossas moradas, a fim de que sejais interrogados!” (C.21 – V.11 a 13)

“Porém, ordenamos: “Ó fogo, sê frio e uma fonte de paz para Abraão! Embora quisessem fazer mal a ele, lhes fizemos sofrer a maior das perdas (o Paraíso). E o salvamos, juntamente com Lot, conduzindo-os à terra que abençoamos para toda a humanidade. E o agraciamos com Isaac e Jacó, como um dom adicional, e a todos fizemos virtuosos. E os designamos líderes, para que guiassem os demais, segundo os Nossos desígnios, e lhes inspiramos a prática do bem, a observância da oração, dar dos bens que os agraciamos uma parte como caridade e a Nós, somente, adoraram.” (C.21 – V.69 a 73)

A Fé na Profecia e suas Obrigações Resultantes

Um dos pontos mais práticos referente a profecia é que com relação ao seu conceito, seu espírito e seus conteúdos, a aceitação da convocação profética é acompanhada de certas obrigações. Em outras palavras, a pessoa que responde e aceita a convocação deve trilhar o caminho do profeta, assim como ajudá-lo a cumprir sua responsabilidade. Isto, de fato, é o que demonstra fé na profecia do profeta.

A profecia traz à tona um novo domínio do pensamento e propõe novos pensamentos, vias e objetivos. O fiel é aquele que aceita esses pensamentos, persegue esses objetivos e trilha essas vias. Ser um oponente não depende de estar claramente na oposição, discordar ou não apoiar são suficientes. Preenchendo filas entre o Profeta e seus oponentes, aqueles que ali se posicionam também não pertencem ao profeta. Todo aquele que não está com ele, está contra ele. Esse fato está enunciado claramente enunciado nos seguintes versículos:

“Os fiéis que migraram e sacrificaram seus bens e pessoas pela causa de Deus, assim como aqueles que os ampararam e os secundaram, são protetores uns dos outros. Quanto aos fiéis que não migraram, não vos tocará protegê-los, até que o façam. Mas se vos pedirem socorro, em nome da religião, estarei obrigados a prestá-lo, salvo se for contra povos com quem tenhais um tratado; sabei que Deus bem vê tudo quanto fazeis. Quanto aos incrédulos, são igualmente protetores uns dos outros; e se vós não o fizerdes (protegerdes uns aos outros), haverá intriga e grande corrupção sobre a terra. Quanto aos fiéis que migraram e combateram pela causa de Deus, assim como aqueles que os ampararam e os secundaram – estes são os verdadeiros fiéis – obterão indulgência e magnífico sustento. E aqueles que creram depois, migraram e combateram junto a vós, serão dos vossos; porém, os parentes carnais têm prioridade sobre os outros, segundo o Livro de Deus; sabei que Deus é onisciente.” (C.8 – V.72 a 75)

“Deus estabeleceu, através dos profetas, este compromisso solene (com os seguidores das revelações anteriores) : “Depois da revelação e da sabedoria que vos concedemos, virá um enviado que confirmará o que já tendes, crerão nele e o auxiliarão? Estais dispostos e decididos a aceitar Meu pacto e perseverar nele?” Responderam: ”Comprometemo-nos.”Disse-lhes: ”Testemunhai, pois, Eu serei vossa testemunha. E aqueles que, depois disto, renegarem, serão depravados.” (C.3 – V.81 a 82)

“O exemplo daqueles que estão encarregados da Tora (a escritura dos judeus), e não a observam, é semelhante ao do asno carregado de grandes livros. Lamentável é o exemplo daqueles que desmentem os sinais de Deus! Deus não encaminha um povo iníquo.” (C.62 – V.5)

Wilayat

O novo pensamento e visão propostos por Deus, através dos profetas, prometem uma nova vida. Isto pode ser alcançado, apenas, se aquele pensamento puder estabelecer sua identidade na mente e na ação de uma comunidade integrada. Tal comunidade é aquela que forma uma frente sólida e impenetrável e fortemente atada que não se dispersa quando confrontada com ações e pensamentos opostos. Esta proposta requer a rejeição de qualquer dependência – se necessário e possível, o rompimento de laços com relações ordinárias – que enfraquecem a frente dos fiéis. Na linguagem do Alcorão este posicionamento de tropas, desde o pensamento até a ação, é chamado “wilayat” (10).

Quando esse grupo integrado, que é o alicerce e a principal base da comunidade Islâmica, torna-se uma nação forte e estabelece-se uma sociedade Islâmica, é necessário observar-se o princípio da “wilayat” para preservar sua unidade e integridade e evitar a penetração dos inimigos.

O Alcorão apresenta essa idéia em vários versos como, por exemplo:

“Ó fiéis, não tomeis por confidentes os Meus e os vossos inimigos, demonstrando-lhes afeto, posto que renegam tudo quanto vos chegou da verdade, e expulsam (de Meca) tanto o Mensageiro, como vós mesmos, porque credes em Deus, vosso Sustentador! Quando sairdes para combater pela Minha causa, procurando a Minha complacência (não os tomeis por confidentes), confiando-lhes as vossas intimidades, porque Eu, melhor do que ninguém, sei tudo quanto ocultais, e tudo quanto manifestais. Em verdade, quem de vós assim proceder, desviar-se-á da senda verdadeira. Se lograssem vencer-vos, seguiriam sendo vossos inimigos e estenderiam suas mãos e línguas contra vós para prejudicar-vos, desejando fazer-vos rejeitar a fé. Sabei que nem vossos parentes, nem sequer vossos filhos terão algum proveito no Dia da Ressurreição, pois Deus decidirá entre vós somente segundo vossos méritos; e Deus bem vê tudo que fazeis. Tivestes um excelente exemplo em Abraão e naqueles que o seguiram, quando disseram ao seu povo: “Em verdade, não somos responsáveis por vossos atos e por tudo quanto adorais, em lugar de Deus. Renegamos-vos e iniciar-se-á uma inimizade e um ódio duradouro entre nós e vós, a menos que creiais no Deus Único.” (C.60 – V.1 a 4)

As Relações da Comunidade Islâmica

Após o estabelecimento da “grande comunidade”, o “grupo integrado” que é a origem da utopia Islâmica, expande-se para alcançar todos os fiéis do mundo. Em tal comunidade o princípio da “wilayat” influencia seus assuntos civis e relações exteriores.

Nos assuntos civis, todos os seguimentos da nação estão obrigados a preparar cuidadosamente todas as forças para um caminho único e um objetivo único, e evitar veementemente a dispersão e desordem que causarão a neutralização destas forças.

Nas relações exteriores deve-se abster de qualquer relação ou amizade que ponha em perigo a independência e a autoridade do mundo Islâmico.

Podemos dizer que é óbvio que tratar e cuidar destes dois aspectos da “wilayat” (integridade e unidade nos assuntos civis, impenetrabilidade e independência nas relações exteriores) requer um poder superior e central que é a cristalização de todos os elementos construtivos do Islam (Imam – governador Islâmico). Isto requer, também, uma relação forte e profunda entre todos os membros da comunidade Islâmica e o governador Islâmico (Imam). Um novo aspecto da “wilayat”, portanto, é manifesto: “wilayat” do Imam ou a liderança do mundo Islâmico. Os versos, abaixo, mencionam, habilidosamente, esses temas delicados:

“Ó fiéis, não tomeis os judeus, nem os cristãos por aliados: são, somente, aliados uns dos outros – e quem de vós se alia a eles, torna-se um deles; certamente, Deus não guia os iníquos. Verás aqueles cujos corações estão enfermos competir entre eles por sua simpatia dizerem a si mesmos: “Tememos que a sorte nos seja adversa.” Poderá ser, porém, que Deus dê a vitória aos crentes ou a algum outro assunto de Seu desígnio, e então lhes remorderá a consciência pelos pensamentos que abrigavam – e os fiéis dirão: “São esses os mesmos que juraram solenemente por Deus que estavam com vós? Todos seus atos foram em vão, porque agora estão perdidos.” Ó fiéis, se abandonardes vossa fé Deus fará surgir, no devido momento, pessoas, no vosso lugar, que Ele amará e que O amarão: humildes com os fiéis, orgulhosos frente aos que negam a verdade, que se esforçam pela causa de Deus e que não temem a censura daqueles que lhes censuram: esse é o favor de Deus, que Ele concede a quem Ele quer. Ele é o Munificente, o Sapientíssimo. Certamente, vossos únicos aliados devem ser Deus, Seu enviado e os fiéis – que são constantes na oração, dão o imposto da purificação e se inclinam perante Deus. Saibam os que se aliam a Deus, Seu Enviado e aos fiéis que os partidos de Deus serão os vitoriosos.” (C.5 – V.51 a 54)

“Ó fiéis, temei a Deus, tal como deve ser temido, e não morrais senão submetidos a Ele. E apegai-vos, todos, ao vínculo com Deus e não vos dividais.” (C.3 – V.102 a 103)

O Paraíso da “Wilayat”

Apenas tal sociedade pode desfrutar uma “wilayat” na qual o wali (Imam) seja averiguado, seja a autoridade e o inspirador de todas as atividades da vida. Uma pessoa poderá desfrutar tal “wilayat” se ela tiver uma verdadeira compreensão do que é um wali (Imam) e se ela fizer um esforço constante para conectar-se com ele, que é a manifestação da “wilayat” de Deus. O wali (Imam) é o sucessor de Deus e a manifestação da autoridade divina e justiça na terra, ele usa todas as possibilidades e habilidades, que estão dispostas na natureza humana, para o progresso, exaltação e benefícios da humanidade. Caso ele deixasse qualquer dessas habilidades ou talentos serem perdidos ou usados contra a própria humanidade, isso seria um grande dano e prejuízo. O wali (Imam) estabelece a justiça e a segurança da comunidade com a firmeza necessária para o florescer do homem, assim como um bom solo, água e um bom tempo são necessários para o crescimento de uma planta. Ele bloqueará o surgimento de qualquer forma de crueldade (idolatria, injustiça, politeísmo, etc); conduzirá todos à servidão a Deus e leva a visão e o conhecimento do homem ao amadurecimento. Seus principais deveres são: zelar pela recordação de Deus, através da oração; distribuição justa dos bens; promoção do bem e abolição do mal. Em resumo, ele auxilia o homem acercar-se do seu objetivo último. Refletir acerca dos seguintes versos nos mostrará o vasto horizonte do paraíso da “wilayat’ e enfatizará, uma vez mais, o fato de que nenhuma obrigação religiosa é mais importante que a “wilayat”

“Os incrédulos, dentre os israelitas, foram amaldiçoados pela boca de Davi e por Jesus, filho de Maria, por causa de sua rebeldia e profanação. Não se reprovam mutuamente pelo ilícito que cometiam. E que detestável é o que cometiam! Vês muitos deles (judeus) em intimidade com os idólatras. Que detestável é isso a que os induzem as suas almas! Por isso, suscitaram a indignação de Deus, e sofrerão um castigo eterno. Se tivessem acreditado em Deus, no Profeta e no que lhe foi revelado, não os teriam tomado por confidentes. Porém muitos deles são depravados.” (C.5 – V.78 a 81)

“Ó fiéis, não tomeis por aliados aqueles que fazem de vossa objeto de burla e brincadeira, sejam os que receberam a revelação antes de vós, sejam os incrédulos. Temei, pois, a Deus, se sois verdadeiramente fiéis. E quando sois convocados à oração, tomam-na por objeto de escárnio e brincadeira. Isso, por serem totalmente insensatos. Dize-lhes: “Ó adeptos do Livro, pretendeis vingar-vos de nós, somente porque cremos em Deus, em tudo quanto nos é revelado e em tudo quanto foi revelado antes? A maioria de vós é depravada. Dize ainda: “Poderia anunciar-vos um caso pior do que este, ante os olhos de Deus? São aqueles a quem Deus amaldiçoou, abominou e converteu em símios, suínos; estes, que serviam os poderes do mal, encontram-se em pior situação, e mais desencaminhados da verdadeira senda.” (C.5 – V.57 a 60)

Acerca da “Wilayat” (1)

O princípio da “wilayat”, abrangentemente discutido no Alcorão, pode ser considerado sob muitos pontos de vista, onde cada um deles pode ser considerado um princípio em si mesmo. Se refletirmos, atenciosamente, acerca dos seguintes versos, alguns destes pontos poderão ser observados.

1. O wali da sociedade Islâmica, aquele que detêm o poder de conduzir as atividades práticas e mentais dessa sociedade, é Deus mesmo ou alguém designado, apontado por Ele, seja por nome ou por sinais.

“Vosso wali são apenas Deus, Seu Mensageiro e os fiéis que são constantes na oração, pagam o imposto de purificação e inclinam-se (perante Deus).” (C.5 – V.55)

“Deus manda restituir o que vos está confiado a seu dono; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o com eqüidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta! Ele tudo ouve, tudo vê. Ó fiéis, obedecei a Deus, ao Mensageiro e aos dotados de autoridade, dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Deus e ao Mensageiro, se credes em Deus e no Dia do Juízo Final, porque isso vos será preferível e de melhor alvitre.” (C.4 – V.58 e 59)

“Quem obedece ao Enviado, está obedecendo com ele a Deus; e quanto aos que se apartam – não te enviamos para que sejas guardião (wali) deles. (C.4 – V.80)

“Não reparaste naqueles que declaram que crêem no que te foi revelado e no que foi revelado antes de ti, recorrendo, em seus julgamentos, ao sedutor, sendo que lhes foi ordenado rejeitá-lo, pois satanás deseja somente desencaminhar-vos profundamente.” (C.4 – V.60)

2. A “wilayat” de Deus e sua aceitação pelos fiéis tem um fundamento psíquico que tem sido considerado pela cosmovisão Islâmica e é um fenômeno natural.

“Seu é tudo quanto jaz na noite e no dia, Ele tudo ouve, tudo sabe. Dize: “Tomareis por protetor (wali) outro que não seja Deus, o Criador dos céus e da terra? Ele é aquele vos sustenta, sem ter necessidade de ser sustentado. Dize ainda: “Foi ordenado ser o primeiro dos que se submetem a Deus e não ser daqueles que atribuem poder e divindade a outro além dEle.” (C.6 – V.13 e 14)

Acerca da “Wilayat” (2)

Qualquer “wilayat” exceto a “wilayat” de Deus e de Seus vice-regentes é a “wilayat’ do demônio. Aceitar a “wilayat” de Satã torna-o dominante sobre todas as forças criativas e construtivas do homem, as quais serão usadas para sua luxúria. O taghut (tudo que ou todo aquele que falseia conceito de Deus) não considera a essência de nada, exceto seus próprios benefícios e devido a sua falta de informação acerca das necessidades humanas e possibilidades naturais, sua liderança sobre a humanidade é a origem da perda das valiosas energias do homem. A falta de informação na comunidade sob o domínio da “wilayat” do taghut priva seu povo do brilho do conhecimento, humanidade e valores inatos; confinando-os à escura ignorância, licenciosidade, egoísmo e perversidade. O Alcorão diz:

“Quando leres o Alcorão, ampara-te em Deus contra Satã, o maldito. Porque ele não tem autoridade nenhuma sobre os crentes, que confiam em seu Senhor. Sua autoridade só alcança aqueles que estão dispostos a obedecer-lhe e que, desta forma, são idólatras.” (C.16 – V.98 a 100)

“A quem combater o Mensageiro, depois de haver sido evidenciada a Orientação, seguindo outro caminho que não seja o dos fiéis, abandoná-lo-emos em seu erro e o introduziremos no inferno. Que péssimo destino! Deus jamais perdoará quem Lhe atribuir parceiros, conquanto perdoe os outros pecados, a quem Lhe apraz. Quem atribuir parceiros a Deus desviar-se-á profundamente. Não invocam, em vez d’Ele, a não ser deidades femininas, e, com isso invocam o rebelde Satanás, que Deus amaldiçoou. Ele (Satanás) disse: “Juro que me apoderarei de uma parte determinada dos teus servos, a qual desviarei, fazendo-lhes falsas promessas. Ordenar-lhes-ei cortar as orelhas dos gados (como sacrifício a ídolos) e os incitarei a desfigurar a criação de Deus!” Porém, quem tomar Satanás por aliado, em vez de Deus, ter-se-á perdido manifestamente, porquanto lhes promete e os ilude; entretanto, as promessas de Satanás só causam decepções.” (C.4 – V.115 a 120)

“Deus é o Protetor dos fiéis; é Quem os retira das trevas e os transporta para a luz; ao contrário, os incrédulos, cujos protetores são os sedutores, que os arrastam da luz, levando-os para as trevas, serão condenados ao inferno onde permanecerão eternamente.” (C.2 – V.257)

Acerca da “Wilayat” (3) (Hijrat)

A “wilayat” de Satã e do Taghut na comunidade faz o fiel dependente do poder do taghut de diferentes maneiras, e sobrecarrega-o com uma rede invisível; sua liberdade é tomada e é conduzido, inconscientemente, ao fim deste sistema, que é o desastre. Tal realidade leva-nos ao fenômeno chamado: “hijrat”. Hijrat significa escapar do jugo do taghut para a liberdade de um ambiente Islâmico, onde tudo contribui para o destino divino, onde a sociedade, naturalmente, conduz à elevação, progresso material e espiritual, onde prevalece a bondade e os signos da maldade não são vistos.

A hijrat, de acordo com o princípio da wilayat, portanto, é um dever essencial e urgente para o verdadeiro fiel. Ele é transferido do ambiente do taghut para uma comunidade Islâmica, e posto sob o ambiente da wilayat de Deus. Refletir acerca dos versos alcorânicos sobre a hijrat nos revelará vários pontos acerca do tema.

“Anseiam (os hipócritas) que renegueis, como eles renegaram, para que sejais todos iguais. Não tomeis a nenhum deles por confidente, até que tenham migrado pela causa de Deus. E se, por acaso, tornarem-se hostis, capturai-os então, e matai-os, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por confidente nem socorredor…” (C.4 – V.89)

“Os fiéis que migraram e sacrificaram seus bens e pessoas pela causa de Deus, assim como aqueles que os ampararam e os secundaram, são protetores uns dos outros. Quanto aos fiéis que não migraram, não vos tocará protegê-los, até que o façam. Mas se vos pedirem socorro, em nome da religião, estarei obrigados a prestá-lo, salvo se for contra povos com quem tenhais um tratado; sabei que Deus bem vê tudo quanto fazeis. Quanto aos incrédulos, são igualmente protetores uns dos outros; e se vós não o fizerdes (protegerdes uns aos outros), haverá intriga e grande corrupção sobre a terra. Quanto aos fiéis que migraram e combateram pela causa de Deus, assim como aqueles que os ampararam e os secundaram – estes são os verdadeiros fiéis – obterão indulgência e magnífico sustento.” (C.8 – V.72 a 74)

“Aqueles a quem os anjos arrancarem a vida, em estado de iniqüidade, dizendo: “Em que condições estáveis?”; dirão: “Estávamos subjugados, na terra.” Dir-lhes-ão os anjos: “Acaso, a terra de Deus não era bastante ampla para que migrásseis?” Tais pessoas terão o inferno por morada. Que péssimo destino! Excetuam-se os inválidos, quer sejam homens, mulheres ou crianças, que carecem de recursos ou não podem encaminhar-se por senda alguma. A estes, quiçá Deus os indulte, porque é o Remissório, o Indulgentíssimo. Mas quem migrar, pela causa de Deus, achará, na terra, amplos e espaçosos refúgios. E quem abandonar seu lar, migrando pela causa de Deus e de Seu Mensageiro, e for surpreendido pela morte, sua recompensa caberá a Deus, porque é o Indulgente, o Misericordiosíssimo.” (C.4 – V.97 a 100)

Notas

1. Wali-ul-amr : Geralmente traduz-se por : “aqueles dotados de autoridade”. A questão é, porém, “quem está dotado?”. Alguns dizem que seriam o Profeta (S.A.A.S.) e os Ahlul Bait (o povo da casa profética: Ali, Hassan, Hussein,etc.). Outros dizem que seriam os entendidos das leis islâmicas. Na Surata das Mulheres, versículo 59 do Alcorão, está escrito: “Ó fiéis, obedeçam Deus, obedeça o Mensageiro e os Wali-ul-amr…” Wali-ul-amr, aqui, desfruta da mesma posição do Profeta. Deve-se obediência ao Profeta, assim como ao Wali-ul-amr.
2. Faraó: Nome dos reis do Egito antigo em geral. É, também, o sobrenome de Walid ibn Mus’ab, rei do Egito, no tempo de Moisés. Foi um tirano e símbolo da crueldade e despotismo.
3. Haman: Nome do ministro do Faraó.
4. Korah: No Velho Testamento é chamado Korah, no Alcorão é conhecido por Qarun. Foi tão doentio quanto Faraó e Haman. Foi o tesoureiro do Faraó. A Sura “A estória” conta-nos sua vida. Ele foi um opressor da família de Israel. Foi riquíssimo, porém não ajudava aos pobres. Abusando dos bens e do podes foi fonte de corrupção na sociedade. Por fim, é destruído por Deus em um terremoto, junto com sua família.
5. Taghut: Taghut significa “falso deus”. Taghut é um ídolo, um demônio ou qualquer objeto adorado, ao invés de Deus.
6. Mala´: Refere-se ao corpo de homens de altos postos, cargos, tais como estadistas.
7. Mutrafin (plural de mutraf): Refere-se a alguém muito rico que pretende usá-la sem obstáculos. Refere-se, também, aos ricos que opunham-se aos profetas, por estes buscarem eliminar sua licensiosidade.
8. Ahbar (plural de habr): Geralmente refere-se aos eruditos. Na Surata “Arrependimento”, versículo 34, porém, refere-se aos rabinos.
9. Ruhban (plural de rahib): Refere-se, geralmente, aos piedosos que temem a Deus. Usado comumente para referirmo-nos aos monges cristãos.
10. Walayat: Significa seguir sem intervalo; amizade; afeição; domínio.
11. Imam: Significa aquele que é seguido, o líder, o chefe, especialmente em matérias religiosas. Imam pode ser uma pessoa ou um livro. Como livro refere-se ao Alcorão. Como pessoa refere-se a alguém imaculado e justo apontado por Deus.
12. Wali: Significa administrador. Significa, também, um amigo sincero, alguém que ajuda, um protetor. Na Surata da “Vaca”, versículo 257, lemos: “Deus é o Wali (amigo protetor) daqueles que crêem. Ele tira-os das trevas para a luz.”
13. Namaz: Essa palavra refere-se às orações, especialmente às prescritas no Islam, repetidas cinco vezes por dia.
14. Zakat: Significa, geralmente, o bem material dado no caminho de Deus, pela purificação dos bens do proprietário. O Zakat foi estabelecido para dirimir a diferença entre o rico e o pobre na sociedade.
15. Amri ma’ruf: Significa ordenar o certo, o legal, o bem aos olhos de Deus e do homem.
16. Nahyi munkar: é a proibição do ilícito, errado, odioso aos olhos de Deus e do homem. Na surata “A família de Imram”, versículo 104, o Alcorão diz: “E brotará de ti uma nação que ordena o bem e coíbe o ilícito.”
17. Hijrat: Significa sair do próprio país. Na tradição alcorânica significa deixar a região da blasfêmia e ir para a região da fé. Mais especificamente significa, também, a saída do Profeta (S.A.A.S.) de Meca e a mudança para Yathrib, onde foi recebido, após convite, juntamente com seus companheiros. Ele chegou em Yathrib no dia 20 de setembro no ano de 622 A.D. e passaram a chama-la, orgulhosamente, de “Madinatu’l- Nabi”, a cidade do Profeta.

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