Lições do Nahjul Balaghah

Por Sua Eminência Ayatullah Al-Odhma Sayyed Ali Al-Hussaini Al-Khamenei (D.D.).

Em nome de Deus, o Clemente o Misericordioso.

Nota do editor da versão em língua inglesa:

Nas vésperas do Quinto aniversário da vitoriosa e gloriosa Revolução Islâmica do Irã, e tendo atravessado cinco anos de lutas e realizações. Estamos a testemunhar grandes triunfos sobre todas as conspirações das superpotências do Ocidente e do Oriente e de seus agentes mercenários, e estamos celebrando os Dez Dias Vesperais de modo esplêndido. O Revolucionário povo Muçulmano do Irã tem triunfalmente esmagado todos os obstáculos e suportado todos os problemas impostos a ele pelas grandes forças criminosas que desejavam minar e destruir a Revolução Islâmica. A nação revolucionária Islâmica continua a resistir como uma firme montanha a despeito de sofrer a perda de tantos mártires em várias cenas de combate impostas pelos obstinados assassinos e inimigos da revolução. O comprometido povo Iraniano segue firmemente seu caminho de Reavivamento Islâmico, o caminho que já se tornou um modelo para todos os Muçulmanos e todas as nações oprimidas e criou uma era de espiritualidade que assustou terrivelmente as arrogantes potências mundiais. Este ano, exatamente como nos anos anteriores, o Conselho das Celebrações dos Dez Dias Vesperais, nesta auspiciosa ocasião e com o propósito de apresentar um retrato vivo da Revolução Islâmica e de suas diretrizes políticas, oferece uma série de livros e panfletos em vários idiomas para os caros leitores. O presente livro é um dos trabalhos e é oferecido para todos os que venham a se interessar. Nós apresentamos nossos melhores votos à vitória final do Islam e dos Muçulmanos em todas as arenas de luta e à previsão de uma derrota final das sinistras forças internacionais, enquanto oramos pela libertação de todos os povos dominados e oprimidos.

– Organização de Propagação Islâmica / Conselho para as Celebrações dos Dez Dias Vesperais. Teerã, 1984 DC.

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.

Nota do tradutor para a língua inglesa:

O Livro “Lições do Nahjul Balaghah” do grande Sábio Islâmico, Sayyed Al-Khamenei, um dos líderes teólogos e políticos do Irã e Imam da Prece de Sexta-Feira em Teerã é uma preciosa obra apresentada ao mundo do Islam como uma breve introdução ao vasto fenômeno da Profecia, como este é manifesto no Nahjul Balaghah do Comandante dos Crentes, Ali (A.S.). Os esforços feitos na tradução deste livro tiveram por objetivo fornecer aos Muçulmanos, e mesmo aos não-muçulmanos, do exterior, que conheçam o idioma inglês, uma valiosa interpretação dos ditos de Ali (A.S.) concernentes à questão da profecia. Esperamos que este objetivo tenha sido atingido com esta tradução. Aos leitores, entretanto, pedimos por gentileza que observem os seguintes pontos:

1 – O Tradutor adotou o método de “verso solto” ao traduzir o ponto de vista do autor para o inglês. Contudo, em muitas ocasiões, uma exata tradução, palavra por palavra foi empregada.

2 – Em alguns casos raros, desnecessárias ou repetidas partes do texto original foram omitidas na tradução.

3 – A fonte para a tradução dos sermões do Nahjul Balaghah foi a tradução de Sayyed Al-Radi (K.S.) (1979, Teerã).

4 – Os versículos alcorânicos foram transcritos da tradução inglesa de Marmaduke Pickthall “O Glorioso Alcorão”. Abril – 1983, H. Vahid Dastjerdi.

Hussein Wahid Dostjerdi, 1984 DC.

Em nome de Deus, O Clemente O Misericordioso.

Introdução

De início, é necessário fornecer a nossos irmãos e irmãs uma breve introdução ao Nahjul Balaghah. Como sabemos, o Nahjul Balaghah é uma coletânea de sermões, cartas e ditos legados pelo Imam dos tementes, o Comandante dos Fiéis, Ali (A.S.). Este livro se divide em três seções de sermões, cartas e dizeres ou palavras sábias, como são usualmente chamados, alguns dos quais foram selecionados dos sermões e das cartas. O Nahjul Balaghah foi compilado a cerca de mil anos atrás quando Sayyed Radi (K.S.) reuniu estas cartas e sermões no final do século III e início do século V da Hijra (400- H). É, portanto, um livro de cem anos. Nota-se, contudo, que antes de Sayyed Radi (K.S.) se empenhar na compilação de todos os sermões e cartas, estes estavam espalhados nos Livros de Tradição (Hadith) e de História. Outros sábios também tinham iniciado esta tarefa de um modo ou de outro, mas nenhum conseguiu realizar o que Sayyed Radi (K.S.) conseguiu. Devemos muito aos esforços e iniciativas deste grande sábio que nos deixou o Nahjul Balaghah.

Um outro ponto a ser notado é que, em adição ao conteúdo do Nahjul Balaghah, vários sermões, cartas e dizeres de Ali (A.S.) podem ser encontrados em diferentes livros que os sábios contemporâneos têm tentado compilar e introduzir como apêndices ao Nahjul Balaghah. Assim, em adição ao Nahjul Balaghah, que é, em si, um rico e inestimável tesouro, existem alguns outros livros de dizeres de Ali (A.S.) que serão mais tarde apresentados aos leitores em detalhes, de modo que possam obter um conhecimento geral da bibliografia do Nahjul Balaghah e dos livros a ele relacionados. Outro ponto a se notar sobre o Nahjul Balaghah diz respeito à suposta invalidade desse livro, a qual têm sido clamada por algumas pessoas no decorrer dos anos. A razão por trás de tal clamor pode facilmente ser suspeitada, ou seja, o assunto essencial do Nahjul Balaghah ameaça os interesses de alguns grupos ou classes de pessoas que, por conseguinte, encontraram como melhor estratagema o desacreditar do livro. Isto também é verdadeiro quanto a personalidade dos indivíduos, e pela mesma razão aqueles que consideraram a personalidade de Imam Ali Ibn Abi Talib (A.S.), como sendo contrária aos seus interesses e os interesses de seus grupos, naturalmente tentaram distorcer a verdade. Da mesma maneira, afirmaram que o Nahjul Balaghah era inválido, com o argumento de que o que dizia não possuía autoridade (sanad).

Está absolutamente claro que o Nahjul Balaghah está na categoria das tradições nas quais confiamos para a compreensão dos ensinamentos Islâmicos, do mesmo modo que as Tradições do Profeta (S.A.A.S.) e o Livro (O Alcorão Sagrado). Não há qualquer dúvida sobre a autoridade do Alcorão Sagrado, como também a das Tradições, autoridades válidas são necessárias para desfazer quaisquer dúvidas, os narradores de uma certa tradição, incluindo as dos Imames (A.S.) e do Profeta (S.A.A.S.), devem ser conhecidos e dignos de confiança. Esta tem sempre sido a principal preocupação de nossos grandes narradores e jurisprudentes ao deduzir e compreender as ordens divinas. Portanto, temos a ciência do “rijal” que trata do reconhecimento dos narradores das Tradições e a ciência do “Diraya” que se ocupa do reconhecimento e da análise das Tradições e que determina as corretas e as não-confiáveis dentre elas. Assim, a atenção para o detalhe de que a Tradição deve ter uma autoridade e que esta autoridade deve ser válida, é necessária. Por esta razão é que na atualidade grande ênfase é dada à perícia na compreensão das ciências Islâmicas. Um indivíduo, que não seja um perito, aceita as tradições que estejam de acordo com seu próprio intelecto, compreensão e nível mental e rejeita todas as demais. Isto leva ao enfraquecimento da religião. conhecedor

Quando alguém que é um perito deseja confiar numa Tradição, ele primeiro tenta reconhecer sua autoridade e sua validade através de sua perícia especializada. Esta necessidade tem sido zelada por nossos jurisprudentes em seu reconhecimento e compreensão das leis e das regras Islâmicas. Então algumas pessoas afirmaram que o Nahjul Balaghah, como uma coletânea de Tradições que deviam ser baseadas em autoridades válidas, não as possuía, por conseguinte, era inválido e não-confiável. O fato é que, de algum modo estas pessoas estavam falando a verdade, pois nenhuma corrente de narradores foi mencionada no Nahjul Balaghah em qualquer dos seus sermões de modo que pudessem ser atribuídos ao Imam dos Crentes (A.S.) e para que a autenticidade de tais narradores pudesse ser examinada. Em livros de tradições como “Vasa-al-Shi’a”, “Al-Kafi” e similares, como também nos velhos livros de história, tais como aqueles de Tabari, Ibn Athir e Ya’qubi, nenhuma corrente de autoridades pode ser encontrada concernente ao conteúdo do Nahjul Balaghah.

Primeiramente, muito embora o Nahjul Balaghah não mencione a corrente de autoridades e de narradores, esta pode ser verificada nos Livros de Tradições Xiitas e Sunitas de onde os sermões, cartas e dizeres foram extraídos e compilados. Há muitos anos atrás, um escritor árabe publicou um livro entitulado “Madarik Nahjul Balaghah wa Masadinu” (Os Documentos e as Fontes de Autoridade do Nahjul Balaghah) o qual pôde mais tarde ser apresentado aos leitores como numa análise dos livros escritos sobre o Nahjul Balaghah. Neste livro, o autor citou as fontes autênticas de autoridade dos sermões, cartas e dizeres provenientes dos Livros de Tradições. Portanto, conclui-se que o conteúdo do Nahjul Balaghah não deve ser considerado desprovido de autoridade com base no simples fato que o Livro em si não menciona qualquer fonte de autoridade. Em segundo lugar, embora as autoridades das Tradições sejam meios apropriados para a obtenção de confiança, os textos das Tradições também o são para alguém que se empenhe na pesquisa, ou seja, quando alguém estuda um texto e descobre o miraculoso conteúdo nele (que Deus o queira, ao interpretarem as palavras de Ali (A.S.)), quando percebe que em uma sentença o autor referiu-se a algo além da mentalidade predominante em sua época, algo que outros foram capazes de compreender apenas no decorrer dos séculos, quando alguém se depara com um dito que prediz algo de eventos futuros que não podem ser pressagiados exceto por aquelas pessoas semelhantes ao Amir al-Mu`minin (A.S.), que esteja em contato com o eterno e divino conhecimento, em adição a todos esses méritos, quando alguém observa as profundas e eloqüentes palavras e expressões do autor, torna-se perfeitamente claro que este não é um ser humano comum e que seus dizeres não podem ser senão os de um imaculado Imam.

Com base nisto, Sayyed Radi (K.S.) declara que certas palavras e expressões do Nahjul Balaghah são incomparáveis na expressão humana, algo que jamais foi contrariado, no decorrer de um milênio, por eloqüentes escritores, pensadores Islâmicos e mesmo os adversários do Islam. Essas pessoas sempre admitiram que algumas declarações do Nahjul Balaghah são superiores a expressão humana e além do nível comum do conhecimento dos seres humanos daquela época. A conclusão é, portanto, extraída disso, a despeito da falta de uma corrente de fontes de autoridade e de narradores no Nahjul Balaghah, este livro é indubitavelmente obra do Comandante dos Crentes (A.S.) e confiável como tal.

Em terceiro lugar, como sabemos e como já mencionamos, o Nahjul Balaghah consiste de sermões (preleções, não sermões das preces de sexta-feira, ainda que o livro possa ter incluído alguns desses sermões), cartas e dizeres de Ali (A.S.), os quais expressou e redigiu como mestre, governante e sábio da ciência Islâmica. Assim, a fim de refletir as linhas gerais do pensamento Islâmico, esses sermões e cartas também tratam de questões cotidianas, os problemas e dificuldades da vida de Amir Al-Mu`minin (A.S.).

Em nossa época, isto é, após a vitória da Revolução Islâmica, muitos aspectos similares podem ser encontrados entre nossa situação social e aquela do tempo de Amir Al-Mu’minin (A.S.), muito embora a nossa situação seja mais aproximada em muitos aspectos (inimigos, inimizades e outros problemas) a situação social de Medina ao tempo da Hijra do Profeta (S.A.A.S.). A diferença, contudo, entre a situação social do Governo de Ali (A.S.) e a da época do governo do Profeta (S.A.A.S) repousa no fato que sob o governo do Profeta (S.A.A.S.) os inimigos tinham uma clara e bem conhecida posição, que nem mesmo um único grupo de adversários do Islam partilhava um aspecto comum ao Profeta (S.A.A.S.). Os pagãos dentre os de Quraish, os judeus de Medina, as potências do ocidente e do oriente da época e os Cristãos de Najran, possuíam slogans próprios. De fato, não havia nenhum grupo organizado para gritar o mesmo slogan do Profeta (S.A.A.S.) e, ao mesmo tempo, empenhar-se abertamente na luta contra ele. Por conseguinte, o Profeta (S.A.A.S) sofreu muito, mas nunca sentiu as duras angústias que Ali Ibn Abi Talib (A.S.) tolerou durante seu Califado.

Havia os hipócritas da época do Profeta (S.A.A.S.) também, mas, primeiro, eles não estavam organizados, segundo, não possuíam uma posição manifesta contra o Profeta (S.A.A.S.) e não usaram os mesmos slogans dele de maneira que o povo pudesse duvidar se o Profeta (S.A.A.S.) era fiel ou um de seus rivais era quem era. Em terceiro lugar, os hipócritas eram mais ou menos conhecidos por todo o povo. Por exemplo, todos, inclusive seu próprio filho, sabia que Abdullah Ibn Ubaid era o líder dos hipócritas e mesmo seu filho sugeriu ao Profeta (S.A.A.S.) que permitisse que o matasse ou o impedisse de entrar em Medina. Ao contrário, no tempo do Califado de Amir Al-Mu`minin, aqueles que lutavam contra ele utilizavam exatamente os mesmos slogans que ele. Além disso, se encontravam entre as personalidades de destaque da época, com um longo passado. Por exemplo, o grupo dos Nakithin (os que romperam o pacto de fidelidade na “Batalha do Camelo”, ou seja, a frente militar de Talha, Zubair e Aysha) combateu o Comandante dos Fiéis (A.S.) com seus próprios slogans – em favor do Islam e da verdade.

O grupo dos Qasitin (ligados a Mu`awiya, a frente militar de Damasco) também, simularam de tal maneira que os observadores imparciais sentiram-se em dúvida quanto a qual grupo estava falando a verdade. Quando se pesquisa as cartas de Mu`awiya a Ali (A.S.), encontram-se exatamente as mesmas palavras de Ali (A.S.) para ele. Por exemplo, Ali (A.S.) inicia as missivas, “Do Comandante dos Fiéis, Ali Ibn Abi Talib, para Mu`awiya Ibn Abi Sufyan”, e Mu`awiya escreve, “Do Comandante dos Fiéis, Mu`awiya Ibn Abi Sufyan para Ali Ibn Abi Talib”.

Mu`awiya não se apresenta como o “comandante dos infiéis” ou o comandante dos politeístas, mas sim, exatamente como Ali (A.S.), como o Comandante dos Fiéis. Em seguida Ali (A.S.) aconselha Mu`awiya, por exemplo, a que seja temente a Deus e se contenha de derramar o sangue dos Muçulmanos, e Mu`awiya usa do mesmo conselho para Ali (A.S.). Portanto, o problema de Ali (A.S.) é que seu inimigo não está manifesto aos olhos do povo, pois tudo o que ele propõe é também proposto por seu inimigo e, como resultado, ele não pode mostrar o verdadeiro caráter dos seus opositores ao povo. É verdade que, naturalmente, Ali (A.S.) tinha muito a dizer, porém, nem todas as palavras faladas podem ser necessariamente compreendidas por aqueles que as ouvem, e esta foi uma tristeza constante para Ali (A.S.). Talvez esta tenha sido a razão pela qual ele costumava sentar-se ao lado de um poço e falar dentro dele sobre seus dissabores. De fato, salvo um grupo que era completamente fiel a Ali (A.S.) por uma razão especial, e não porque observassem suas ações e preces ou porque tinham ouvido falar das más ações de Mu`awiya, os outros estavam sempre em dúvida quanto a que lado estava falando a verdade, pois eles testemunharam, como exemplo, que na Batalha de Siffin, ambas facções cumpriram a prece em congregação com humildade e modéstia.

Assim, uma atmosfera hipócrita era característica da sociedade da época de Imam Ali (A.S.). Isto, entretanto, não significa que todos fossem hipócritas. Mesmo os seguidores de Mu`awiya formavam um grupo de pessoas honestas, árabes tribais, da região próxima a Damasco, que não tinham, desde o início de sua conversão ao Islam, visto ou conhecido nenhum governante senão Mu’awiya e sua família.

Eles conheceram o Islam por meio das palavras daquelas pessoas. Tinham ouvido tantas coisas boas sobre elas – que tinham sido escribas do Livro Sagrado, e que desde que a irmã de Mu`awiya era esposa do Profeta (S.A.A.S.), e, portanto, chamada de ‘Umm al-Mu’minin (Mãe dos Crentes), Mu`awiya era Khal al-Mu`minin (Tio materno dos crentes) . Eles apoiaram Mu`awiya e lutaram contra Ali (A.S.) com a melhor das intenções. Assim, não se tratavam de hipócritas. Contudo, diferentemente da época do Profeta (S.A.A.S.), a sociedade possuía um ar de hipocrisia, sobre a qual maior explicação pode, queira Deus, ser dada quando discutirmos os discursos e os dizeres do Imam dos Crentes (A.S.).

Esta atmosfera de hipocrisia é também uma peculiaridade de nosso tempo, embora do ponto de vista das condições sociais (inimizades, modos de oposição, facções hostis) nossa época se compare mais com a do Profeta (S.A.A.S.). Na atualidade, os assim chamados seguidores do “Islam Progressista” em nossa sociedade são grupos que se opõem abertamente entre si. E também, aqueles que se reivindicam seguidores da “Linha do Imam” muitas vezes levantam suas armas uns contra os outros. Aqueles que reivindicam agir para o benefício da República Islâmica ou seguir a política de “nem ocidente, nem oriente” são freqüentemente tão divididos entre si, que nada, senão um relacionamento hostil, pode ser atribuído a eles. De fato, não se pode dizer que tenham diferenças de opinião, pois são exatamente os opostos um do outro. Portanto, levando em conta que cada um desses grupos encontra seguidores por si mesmos, vemos que nossa sociedade se assemelha à sociedade do tempo de Ali (A.S.).

A importância do Nahjul Balaghah repousa em duas dimensões. Na primeira, ela aborda os fundamentos do Islam como matérias concernentes a Deus, o ser humano, as posições Islâmicas da humanidade, a dignidade e a condição profética do Mensageiro (S.A.A.S.) e outras questões que são hoje, meios de compreender o Islam e assim necessárias para que sejam estudadas por nós. A segunda é que o Nahjul Balaghah se refere aos problemas sociais de uma sociedade hipócrita com a qual tratamos na atualidade. Por conseguinte, este livro pode nos ser uma fonte de inspiração a respeito dos problemas sociais e políticos da vida e as suas soluções. O quarto ponto sobre o Nahjul Balaghah é que vários dos seus sermões infelizmente estão incompletos, seja em seu início ou em seu final algumas afirmações foram omitidas. Ainda que, em alguns casos, Sayyed Radi (K.S.) omitiu afirmações do meio de um sermão e então continuou o resto com a frase “daí em diante” que é o que jornalistas e repórteres fazem repetidamente na atualidade. Então, nada sabemos das partes omitidas e isto cria algumas dificuldades na interpretação do conteúdo do Nahjul Balaghah. A razão para que Sayyed Radi (K.S) tenha feito estas omissões é que o Nahjul Balaghah (O Método da Eloqüência), como o nome indica, foi compilado a partir de um ponto de vista artístico, ou seja, da eloqüência da expressão. Isto não significa, porém, que ele tenha sido descuidado da matéria essencial e tenha prestado atenção somente aos aspectos artísticos dos dizeres de Ali (A.S.). Não obstante, este homem da prédica, um dos grandes poetas árabes de seu tempo, tratou o Nahjul Balaghah a partir de uma perspectiva poética, ele se empenhou em destacar as mais belas e eloqüentes palavras e declarações de Ali (A.S.) assim como alguém escolhe o melhor dístico de um soneto. Por isso um tipo de conexão semântica se observa entre as declarações de alguns dos sermões.

Há de se notar, naturalmente, que ambos, os profundamente eloqüentes e os não-eloqüentes, dizeres de Ali (A.S.), possuem significados verdadeiramente magníficos, e estes significados que nos fazem apreciar o Nahjul Balaghah, agora, no décimo quarto século da Hijra, mais do que a um grande sábio do quarto século (Sayyed Radi (K.S.)). A verdade é, que os seres humanos que enfrentaram muitos sofrimentos no curso dos séculos compreendem as palavras e a mensagem de Ali (A.S.) e o chamado do Islam provenientes de sua língua mais facilmente do que aqueles que viveram séculos atrás.

É também importante compreender que quando Sayyed Radi (K.S.) estava compilando as palavras e os dizeres de Ali (A.S.), havia poucas pessoas que as valorizavam tanto quanto são valorizadas hoje. Portanto, as linhas de pensamento de Ali (A.S.) eram seguidas apenas por uma minoria.

Por outro lado, as pessoas que observavam os dizeres de Ali (A.S.) e tentavam compilá-las, se ligavam mais (ou ao menos no mesmo nível) a importância da forma e da beleza do que ao conteúdo dessas afirmações e omitiam algumas partes que consideravam inferiores em beleza do que as outras. Se vocês fossem Sayyed Radi (K.S.), definitivamente não tratariam as palavras de Ali (A.S.) deste modo. Tentariam, ao contrário, se beneficiar mais do conteúdo de seus dizeres. Por isso acreditamos que hoje Ali (A.S.) e suas palavras são mais apreciados do que no século IV da Hijra e é por isso que a história está se movendo em direção a Ali (A.S.) e sua Mensagem, algo que devemos acelerar.

Os assuntos principais do Nahjul Balaghah, os quais discutiremos nesse livro são como segue:

Crenças Fundamentais:

Parte do Nahjul Balaghah é sobre o monoteísmo, a humanidade, o Dia Final, a Profecia, o Imamato e os demais princípios fundamentais do Islam. Naturalmente, de modo contrário ao dos sábios da dialética do terceiro e do quarto século, estes assuntos foram discutidos no Nahjul Balaghah com uma típica abordagem mística e espiritual. Assim, as palavras de Ali (A.S.) sobre o Monoteísmo, por exemplo, são absolutamente diferentes das palavras de Nasir Ad Din Tusi e outros filósofos e teólogos Islâmicos.

Questões Políticas e Sociais:

Estas questões consistem em assuntos sociais, gerais e específicos, incluindo a administração do Estado Islâmico, a relação entre governantes e subordinados, cartas aos governantes de diferentes estados (a famosa carta à Malik Ashtar, por exemplo), a maneira de enfrentar o inimigo, a capacidade de decisão livre de ódio e vingança, o tratamento a amigos e inimigos exatamente como mereçam, não estando sujeito à credulidade e ingenuidade e muitas outras questões sociais daquele tempo e de toda história.

Moralidade:

O treinamento e a purificação da alma humana estão entre os assuntos discutidos no Nahjul Balaghah, os quais, se Deus quiser, falaremos nas próximas páginas.

Que a paz e a misericórdia de Deus estejam sobre vós!

Lição 1
A Profecia (Nubuwwah)

A Profecia está entre os assuntos que foram tratados no Nahjul Balaghah e uma discussão sobre isso pode nos auxiliar a compreender um dos princípios básicos do Islam. De fato, não é apenas um assunto que possa ser acompanhado por todo o Nahjul Balaghah, mas sim, um dos mais importantes e fundamentais princípios da ideologia Islâmica. Repetidamente mencionei em várias discussões que com o propósito de analisar e compreender as numerosas matérias do pensamento Islâmico, o princípio da Profecia é um eixo ao redor do qual estas matérias podem ser discutidas. Quanto ao princípio do Monoteísmo, acreditamos que suas dimensões, revolucionária e social, apenas podem ser esclarecidas quando discutimos isso dentro do vasto espectro das questões concernentes à Profecia. Conseqüentemente, nosso método neste capítulo demonstrará e analisará as diferentes dimensões da Profecia e auxiliará nossa discussão com uma explanação dos dizeres de Ali Ibn Abi Talib (A.S.) sempre que necessário. Desta maneira, duas metas serão cumpridas, ou seja, algumas importantes seções do Nahjul Balaghah serão traduzidas e interpretadas, e uma questão entre os princípios básicos do Islam será esclarecida.

De início, há de se mencionar que nesta discussão sobre a Profecia, a revelação e suas questões relacionadas não serão discutidas. Ao invés disso, a profecia será vista como uma realidade histórica e um evento inquestionável. Sem dúvida, a Profecia existiu como um fenômeno na história da humanidade. Não há nenhuma diferença de opinião sobre este respeito entre nós e aqueles que não acreditam nele. Contudo, a diferença se encontra na interpretação deste evento e da Mensagem que ele carrega. De fato, ninguém nega personalidades como as de Moisés (A.S), Jesus (A.S) e de outros Profetas (A.S.), quer seja conhecida ou não a história de suas vidas, mais ou menos conhecidas ou apenas conhecidas de modo vago. A história relata que todos eles existiram.

Portanto, a Profecia será considerada como um evento histórico em nossa discussão, e as seguintes questões serão respondidas nesta análise:

1 – Qual era o cenário social (as situações históricas, sociais e temporais) quando este evento ocorreu?

2 – Onde se originou este evento? Surgiu dentre os reis, os oprimidos, os sábios e pensadores? Em que classe de pessoas?

3 – Qual posição gozou (na sociedade)? Foi para o benefício de uma classe especial de pessoas? Dirigiu-se para as vantagens materiais? Dirigiu-se para os aspectos místicos e espirituais da vida?

4 – Quais eram os prós e os contras quando o Profeta apresentou da primeira vez sua Mensagem? Quem eram os que se opuseram a isso e a que classes pertenciam? Quais eram os seus motivos e os meios de sua oposição? Quem eram os que estavam a favor e a que classes pertenciam? Quais eram os seus motivos e de que modo auxiliaram o Profeta?

5 – Qual era o objetivo subjacente a Mensagem da Profecia? A Profecia almejava o bem estar material? Objetivava a distinção de classes? Almejava o aprimoramento do conhecimento e da compreensão do povo? Objetivava opor-se ou contar com as forças de seu tempo?

6 – A que o Profeta convocou o Povo? Foi ao Monoteísmo com suas dimensões social, política, econômica e revolucionária?

Respondendo estas questões com respeito aos textos e registros Islâmicos, lançaremos luz sobre diferentes aspectos desta realidade social e estaremos familiarizados com um vasto campo do pensamento Islâmico. Naturalmente o Nahjul Balaghah será o eixo de nossa discussão, muito embora diferentes versículos do Alcorão Sagrado e também o raciocínio possam ser de grande ajuda para responder as questões e interpretar as palavras de Ali (A.S.). A primeira questão de relevância é “Que condições estavam disponíveis para as manifestações da Profecia?”. Qual era os cenários sociais, econômicos e históricos para o surgimento dos profetas? E, em que classe de pessoas eles surgiram? O Nahjul Balaghah responde a estas questões em várias ocasiões. No primeiro sermão, falando sobre o monoteísmo, a criação dos céus e da terra, os anjos e outros assuntos, o aparecimento dos profetas e o cenário para a profecia em geral são igualmente discutidos. Estudemos a seguinte sentença de modo que a conexão a este assunto seja esclarecida.

“Da progênie de Adão Deus escolheu os profetas e obteve deles a promessa quanto a sua Revelação e para que fossem portadores de sua Mensagem como seus fiéis depositários. No decorrer do tempo, muitas pessoas perverteram o que havia sido confiado a eles por Deus e ignoraram sua posição e tomaram parceiros com Deus. Satã afastou-os do conhecimento de Deus e os manteve distantes de sua adoração. Então Ele (Deus) enviou seus mensageiros e profetas aos povos para que cumprissem o compromisso de sua criação, para que recordassem a eles suas graças…”

A última parte desta citação revela algumas peculiaridades da comunidade da época da ignorância, na qual os profetas foram enviados por Deus. Essas peculiaridades são logo em seguida explicadas. É dito que no decorrer do tempo muitas pessoas perverteram o compromisso feito com Deus.

O Alcorão Sagrado fala sobre ‘ahd (compromisso) em várias ocasiões, exemplos disso são dados abaixo:

“O Decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele” (S 17 – V 23)

“Porventura não vos prescrevi, ó filhos de Adão, que não adorásseis Satã, porque é vosso inimigo declarado?” (S 36 – V 60)

“(…) e Deus fez com que testemunhassem para si mesmos, dizendo: Não é verdade que sou o vosso Senhor? Disseram: Sim. Isso testificamos (…)” (S 7 – V 172)

Estes versículos implicam que o compromisso divino (‘ahd) é o de afastar-se da servidão a Satã, a adoração do homem deve ser exclusivamente a Deus e que os seres humanos tinham originalmente aceito que eram servos de Deus e que deveriam servir a Ele somente.

Este é o significado de ‘ahd (compromisso, convênio) ao qual o Comandante dos Fiéis (A.S.) se refere no Nahjul Balaghah. De fato, ele diz que a maior parte das pessoas quebraram seu compromisso com Deus e desobedeceram aos seus mandamentos pela adoração dos ídolos, adotando parceiros com Ele, se impondo sobre os demais como se fossem ídolos dignos de adoração e corrompendo ou ignorando o decreto divino da adoração exclusiva a Deus.

Sob essas condições, que o Comandante dos Fiéis (A.S.), afirma que Deus deu origem à Profecia e nomeou seus Profetas. Isto também é enfatizado em outras declarações do primeiro sermão após descrever o aparecimento do Profeta do Islam (S.A.A.S.), mas não dos profetas em geral, muito embora as condições sociais e a atmosfera mental em que todos os Profetas, inclusive Abraão (A.S.), Moisés (A.S.), Jesus (A.S.) e outros, tenham surgido tenham sido as mesmas, e, portanto, o que é dito sobre o Profeta do Islam (S.A.A.S.) também serve em relação aos demais profetas.

As afirmações discorrem sobre como as pessoas da Terra neste tempo estavam divididas em diferentes facções, seus objetivos eram opostos e seus caminhos eram diversos. Elas ou comparavam Deus com sua Criação, ou trocavam seus nomes, ou ainda, recorriam a outros senão Ele.

O Nahjul Balaghah diz que o Profeta (S.A.A.S.) foi designado para a Profecia num tempo em que as pessoas estavam divididas em grupos com diferentes modos de pensar, ou seja, uma mentalidade universal não governava a mente de todas as pessoas, o que indica a falta de uma cultura aceitável naquele tempo, a separação entre as pessoas e, finalmente, a ignorância. Ele continua com a afirmação de que “seus objetivos estavam separados”. Isto tem duas implicações: A primeira é que em diferentes partes da comunidade ou em diferentes recantos do mundo o povo possuía seus próprios desejos e maneiras. Os membros de cada comunidade ou classe de pessoas favoreciam algo que os membros de outras classes desprezava. De fato, a sociedade em geral carecia de uma meta e uma aspiração comum, o que demonstra o declínio daquela sociedade. A segunda implicação é que não havia senão uns poucos pólos de poder por todo o mundo naquela época, e eles eram os reis sassânidas os imperadores romanos, os sultões etíopes e outros déspotas, ditadores e ídolos que se mantinham na liderança de suas comunidades, governando o povo com tirania e egocentrismo. A existência de privações e opressão na comunidade iraniana, a existência de classes impenetráveis, o domínio sem limites dos Brâmanes, aristocratas e militares sobre as classes (consideradas) inferiores e a existência da tirania cultural, moral, econômica e classista, a pressão que torturava o povo, tudo isso manifestava o egoísmo e a sensualidade dos ídolos (reis) que estavam na liderança da comunidade. Assim, os caprichos e desejos de uma minoria dominavam todos os assuntos da maioria.

“Eles comparavam Deus com sua criação”. Isto significa que as pessoas que, de acordo com sua natureza e sua percepção espiritual, acreditavam na existência de uma divindade e de um Criador, concebiam isso na forma de criaturas, e de pequenos seres imperfeitos. Alguns adoravam vacas como seus deuses. Outros adoravam pedras ou ídolos de madeira. De fato, todas as pessoas eram de um modo ou de outro, adoradores de Deus como sua natureza requeria, mas encontravam-se privadas de um perfeito conhecimento a respeito de Deus. Esta era a mais manifesta das perversões.

“Eles distorciam seus nomes ou recorriam a outros que não a Ele (Deus)”. Este era um tipo de desvio mental predominante entre os que acreditavam em Deus. Estavam realmente tão envolvidos com o Nome de Deus que não podiam dar um passo adiante. Nos tempos antigos, por exemplo, aqueles que tinham uma vaga idéia de Deus em suas mentes, sendo incapazes de conhecê-lo perfeitamente, trocavam seus nomes Allah, Mannan ou Ilah e prestavam cultos a eles. Ignoravam a realidade sobre Deus.

Um outro exemplo pode ser observado nas ideologias extremistas da atualidade. Defensores de tais ideologias afirmam que crêem em Deus, mas se são perguntados sobre o que seja Deus, eles não são capazes de explicar o verdadeiro conceito e significado desta palavra. Ao invés disso, tomam a “existência inteira”, as leis que governam o universo, as leis de causa e efeito, as convenções correntes da natureza e da história como sendo “Deus”. Falta-lhes a capacidade para conhecer o verdadeiro significado de Deus, ou seja, para que o reconheçam como um Ser independente e necessário que é sem dúvida, o Criador deste universo, ao invés de ser Ele próprio o Universo (que criou). Eles não podem perceber este conceito racional e filosófico. Assim, estão confusos a respeito do nome e a verdadeira condição existencial de Deus.

Naturalmente, a sabedoria, o amor, o conhecimento, as atrações espirituais e os atributos morais, tudo aquilo que se origina do Monoteísmo e de um conhecimento de Deus, não se desenvolve nestas pessoas e, portanto, as preces, invocações e as sábias orações de Imam Sajjad (A.S.), se tornam sem sentido para elas. Conseqüentemente, o que tais pessoas cultuam é “Deus” como uma palavra sem se preocuparem com seu sentido ou conceito. Este é um sinal de decadência e desvio da religião assim como também uma característica do povo que vivia na época do surgimento dos profetas. No segundo sermão, o Comandante dos Fiéis (A.S.) fez declarações mais detalhadas concernentes ao cenário social do aparecimento dos profetas. Estas declarações citam: “naquela época as pessoas tinham caído nos vícios por meio do que a corda da religião tinha sido quebrada, os pilares da fé tinham sido abalados, os princípios violados, os sistemas tinham se tornado convulsos, as aberturas se estreitaram, as passagens se fizeram escuras, a orientação era desconhecida e as trevas prevaleciam. Deus estava sendo desobedecido. A Satã era dado apoio e a crença tinha sido abandonada. Como resultado, os pilares da religião ruíram, seus traços não podiam ser delineados, suas passagens tinham sido destruídas e suas vias entraram em decadência. As pessoas obedeciam a Satã e trilhavam seus caminhos. Buscavam água em seus poços. Através delas os emblemas de Satã e sua posição eram erguidos em vícios, os quais esmagavam e pisoteavam as pessoas com seus cascos. Os vícios ficavam nas pontas dos pés (em plena estatura), e as pessoas que neles estavam imersas ficavam perplexas e desviadas, eram ignorantes e se deixavam seduzir, como se vivessem numa bela casa, mas com maus vizinhos. Ao invés de sono tinham a vigília e por antimônio, tinham lágrimas em seus olhos. Estavam numa terra em que os sábios eram amordaçados (suas bocas eram caladas), enquanto os ignorantes eram honrados.”

Esta é uma belíssima e artística imagem, na forma de uma preleção comum no púlpito, das condições sociais na era da ignorância, na qual o Comandante dos Fiéis (A.S.) retrata as adversidades, deficiências e desordens lançando sombras sobre a vida do povo. As pessoas que se encontravam perplexas e mentalmente confusas não sabiam o objetivo e o propósito da existência.

Podemos fácil e nitidamente compreender o significado de suas palavras, pois elas nos proporcionam um retrato exato da situação de nossa própria época, quando a nação iraniana foi severamente oprimida e caiu vítima dos tiranos introduzidos pelos executores do regime Pahlavi e os mercenários americanos. De fato, isto é o que neste, e em outros sermões, foi expresso sobre o cenário do surgimento dos profetas (o que o autor usou para conscientemente interpretar em conexão com as situações de opressão da época Pahlavi conformando com exatidão as condições vividas sob tal regime).

Naqueles dias, especialmente durante os três últimos anos do Reinado Pahlavi, as pessoas estavam tão iludidas e extraviadas mentalmente que subiam em caminhões e ônibus em muitas cidades, aplaudiam alegremente e gritavam: “Vida Longa ao Shah!”. Enquanto isso, a consciência desperta de um grupo estava severamente ferida, porém, esta não era a consciência comum de nossa comunidade, pois mesmo aqueles que se abstinham de participar de tais demonstrações, quer fossem funcionários governamentais, clérigos ou de outras classes, aceitavam os meios e procedimentos do regime no poder com sua indiferença e comportamento apático para com a situação dominante. Na verdade as pessoas estavam confusas e (espiritualmente) mortas. Ninguém estava consciente do objetivo que havia por trás de seu trabalho cotidiano. Labutavam noite e dia, mas ignoravam o objetivo, a aspiração e o futuro da realização dos esforços do ser humano. Assemelhavam-se ao burro do moinho que constantemente se move em círculos e jamais alcança uma meta final. Eram agraciadas com as melhores moradias e terras, tendo todas as dádivas de Deus, e no território da consciência humana, as belezas e as faculdades que estavam ocultas e que agora floresceram em nossos rapazes, moças, pais e mães ligados à revolução. De fato, tão abençoado cenário existia no povo, mas, nas palavras do Comandante dos Fiéis (A.S.), “a vizinhança era má”, ou seja, os governantes e os poderosos eram incompetentes e desonestos.

Em termos gerais, sob tais condições recontadas acima e experimentadas em nossa época, se assemelham a quando os Profetas foram designados para a Profecia. Se Deus quiser, daremos mais detalhes sobre o cenário da Profecia, como foi destacada pelas palavras do Comandante dos Fiéis (A.S.), as quais são importantes ao ponto que diz respeito a filosofia da história, que tem sido mal compreendida por muitos indivíduos extraviados, que extraem conclusões errôneas com base em suas análises incorretas deste assunto.

Perguntas e Respostas

Pergunta: Qual a diferença entre a Profecia (Nubuwwah) e a designação para a profecia (Ba’tha)?

Resposta: A designação para a Profecia é a ressurreição e o despertar súbito de um indivíduo ou de um grupo de pessoas que estejam submersos no sono do esquecimento, da ignorância e da confusão espiritual. A Profecia é o fator principal da designação, isto é, após a necessária competência e preparo serem encontradas em alguém para conectá-lo com Deus e a Divina revelação ele é designado como Profeta. Assim, a designação é a conseqüência da Profecia.

Pergunta: O ponto de vista de Ali (A.S.) é universal e aplicável para todas as comunidades tais como as comunidades corruptas do ocidente? Estas comunidades estão sujeitas a destruição sem que ninguém as salve?

Resposta: Sim, é aplicável a todas as comunidades e em todas as épocas. Mas a isso deve ser acrescentado que num tempo em que a corrente profética já esteja terminada com o último Profeta e a ninguém mais seja designada a profecia, são os sábios religiosos os herdeiros dos Profetas (S.A.A.S.) que guiam o povo e salvam as comunidades humanas da destruição.

Pergunta: São, os sinais que Imam Ali (A.S.) nos dá para o aparecimento dos Profetas os mesmos que receberemos quanto o Imam Mahdi (A.S.) surgir?

Resposta: A respeito do Imam Mahdi (A.S.), deve-se mencionar o fato que antes de seu reaparecimento o mundo alcançará uma relativa perfeição. De fato, o governo universal do Mahdi (A.S.) será perfeitamente justo. Metade desta justiça será proporcionada para vocês e para as gerações vindouras antes de seu reaparecimento. Hoje, devido ao estabelecimento do governo Islâmico do Irã, que carrega uma notável porcentagem da Mensagem do Islam nesta estratégica região do mundo, temos nos aproximado do reaparecimento de Imam Mahdi (A.S.).

Pergunta: É verdade que todos esses sinais estão presentes em nossa Revolução e no mundo inteiro. É possível o reaparecimento de Imam Mahdi (A.S.) neste período?

Resposta: Sim, é possível. Porém, outra coisa que é perfeitamente possível é o declínio das superpotências do mundo, o surgimento de novos movimentos e o reavivamento que temos apontado repetidamente. Isto porque o mundo entrou num novo período com o advento de nossa revolução, um período em que os excluídos do mundo e as nações fracas não mais permanecerão indiferentes aos tiranos das grandes potências, se levantarão contra eles e finalmente os derrubarão como um pequeno animal que destrói um imenso elefante montando em suas costas e mordendo suas orelhas.

Lição 2
O Cenário para a Profecia

Na lição anterior, o cenário da designação dos Profetas foi discutido com respeito a algumas afirmações do Nahjul Balaghah. Esta lição se dirige ao que antes foi mencionado, analisando em detalhes as peculiaridades dos dois períodos concernentes a nossa discussão, ou seja, o período pré-islâmico ou época da ignorância (antes da designação da profecia) e o período Islâmico.

A Época da Ignorância

De acordo com as palavras de Ali (A.S.), na época da ignorância, as pessoas sofriam de dois tipos de carências: material e spiritual.

Carência Material

Neste período, o nível de bem estar social e segurança era muitíssimo baixo. Isto é claramente expresso tanto no Nahjul Balaghah (em diferentes sermões) e no Alcorão Sagrado. O Alcorão Sagrado se refere à época da ignorância inúmeras vezes.

Carência espiritual

A carência espiritual era a própria ignorância e confusão das pessoas, isto é, elas se encontravam privadas de um claro caminho de vida e de uma aspiração existencial. E é, de fato, um grande sofrimento para o homem e para a sociedade não buscar uma sublime meta na vida, e ao invés disso apenas se esforçar para prover as necessidades e exigências do dia a dia. Infelizmente, esta condição de vida era característica do “tempo do estrangulamento” (Reinado Pahlavi), quando a vida era desprovida de qualquer aspiração e os melhores e mais ativos indivíduos, aos olhos do povo, eram aqueles que faziam o máximo esforço para gozar uma vida de bem estar ou aqueles que não tinham qualquer envolvimento (com os problemas da nação) e apenas gastavam seu tempo em lascívia e leviandade.

Falando de modo genérico, a classe média, comerciantes, trabalhadores, donas de casa, estudantes universitários e outros, estavam todos empenhados em suprir as necessidades básicas da vida. Assemelhavam-se a um carro que reabastece de um posto a outro como um meio de constantemente ir de posto em posto. De fato, as pessoas trabalhavam a fim de ganhar o pão de cada dia que os capacitava tão somente para trabalhar de novo. Comer para trabalhar. Esta condição de vida não pode ser perfeitamente sentida pela juventude idealista da atualidade que tem metas específicas e aspirações íntimas, que trabalha para o estabelecimento de um verdadeiro Governo Islâmico e que busca a derrocada das superpotências. É a existência dessas aspirações na sociedade atual que revela a carência espiritual (falta de objetivos e aspirações) da sociedade durante o regime anterior, o de Pahlavi. A sociedade durante a “época da ignorância”, ou seja, antes da designação e a Revolução do Profeta (S.A.A.S.), era igualmente sem metas e perdida. As pessoas estavam absolutamente confusas. Giravam em torno delas mesmas exatamente como o burro da pedra de moinho que a rodeia sem parar, talvez percorrendo dez ou quinze quilômetros por dia, mas sem nunca se mover mais do que a uma pequena distância da pedra. Elas eram ignorantes, porém, mais ignorantes do que elas eram aqueles que perseguiam objetivos e aspirações que, se realizadas, destruiriam a eles próprios e toda a comunidade. Com respeito a isso o Alcorão Sagrado diz:

“Não reparaste naqueles que trocaram a graça de Deus pela ingratidão e arrastaram seu povo até a morada da perdição? É no inferno onde entrarão, e que detestável paradeiro!” (S 14 – 28 e 29)

De fato, todos os poderosos e líderes políticos do mundo, todos os grandes capitalistas que cometem qualquer crime para estabelecer suas imensas redes econômicas e todos aqueles que engendraram grande corrupção sobre a terra no curso da história podem ser categorizados entre as pessoas espiritualmente desviadas com metas e aspirações destrutivas. Em suma, foi em tão perdida sociedade e entre tão extraviadas pessoas que os profetas foram designados para a Profecia. A mais destacada característica de tal sociedade é a alienação do homem, que causa o desenvolvimento das aspirações materialistas de um grupo que segue o objetivo de produzir, monopolizar e aumentar o valor dos produtos, o que, por sua vez, resulta em pobreza para os demais.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) diz: “Eu nunca vi uma vasta riqueza sem que ao lado não visse um direito (de outrem) pisoteado.” A pobreza dá origem a distinções de classe que produzem abismos mais profundos entre as diferentes classes de pessoas e causa outros problemas tais como a divisão injusta da autoridade social, com a qual as classes ricas adquirem mais poder do que as outras. Ainda que o dinheiro não seja sempre eficaz no ganho de poder, muitas vezes o poder social também é efetivo para que se faça uso do dinheiro e se criem os monopólios.

Portanto, fatores sociais e econômicos influem no surgimento da tirania, da exploração, da ignorância e no engano numa sociedade onde objetivos perversos e destrutivos tomam o lugar de objetivos e aspirações nobres.

Este é o ponto onde a análises Islâmica e material se encontram frente a frente, pois de acordo com os materialistas os dotes mentais, as crenças e tudo o que faça parte da alma, do pensamento e da mente de alguém se origina de sua posição de classe que inclui as dimensões sociais, econômicas e mesmo culturais da vida, ao passo que o ponto de vista Islâmico diz que a origem de todas as pressões e adversidades existentes na sociedade resulta do predomínio da ignorância e da alienação social. O Islam diz que esta alienação é o que produz as distinções de classe que dividem a sociedade em duas classes, os oprimidos e os opressores.

Portanto. a alienação espiritual é uma característica destacada da época da ignorância e os profetas surgiram, com efeito, para guiar as pessoas para a senda da retidão e remover a depravação espiritual.

Isto é o que o Comandante dos Fiéis (A.S.) enfatiza no segundo sermão do Nahjul Balaghah o qual foi anteriormente mencionado e que em seguida será revisado e explicado em detalhe.

Ele diz: “Eu também presto testemunho de que Mohammad (S.A.A.S.) é o seu servo e o seu profeta. Deus o enviou com a religião ilustrativa, com o emblema efetivo, com o livro escrito, com a luz refulgente, com o brilho faiscante e a injunção decisiva a fim de dissipar dúvidas (shubuhat) apresentar as provas claras (…)”

“Shubuha” é a forma plural de “shubh”’ e significa dúvida e diferenças de opinião que existem no intelecto e no pensamento humano com respeito a verdade e a falsidade. Estas dúvidas e diferenças surgem, até onde a concerne as crenças das pessoas, quando a sociedade em geral se desvia. De fato, a sociedade passa a acreditar naquilo que é carente de realidade e a desacreditar nas mais manifestas realidades. Por exemplo, durante o governo do regime anterior, o povo tinha passado a crer e aceitar a monarquia, que era um fenômeno falso, e tinha esquecido completamente de uma clara e inegável realidade chamada Imamato.

De tal forma, o Profeta (S.A.A.S.) foi enviado por Deus para remover as dúvidas e os erros da mente e para apresentar as “provas claras”, como o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz, isto é, salvar as pessoas da perplexidade do raciocínio filosófico oferecendo a elas as provas irrefutáveis. Isto não significa, porém, que tais raciocínios sejam basicamente inúteis e a filosofia deva ser abandonada. Algumas pessoas hoje criticam a filosofia Islâmica, a filosofia clássica do Islam, com o falso argumento de que ela esteja mesclada com a filosofia grega. Insinuam que a filosofia Islâmica esteja mesclada ou imiscuída com a filosofia aristotélica. Não percebem que os sábios Islâmicos e os filósofos, séculos atrás, purificaram a filosofia Islâmica (dos equívocos) da filosofia grega. Além disso, estão desatentos quanto ao fato de que uma filosofia com uma visão de mundo celestial não pode estar confundida com uma filosofia que possua uma visão de mundo materialista, muito embora possam ambas partilhar alguns aspectos comuns.

Portanto, a filosofia não deve ser abandonada, ainda que o raciocínio filosófico não seja muito efetivo no despertar e no levantar do povo quando uma revolução precisa ser concebida. Em tal época, apenas as provas e idéias mais claras podem fazer com que as pessoas despertem das condições predominantes, afastando-se dos caminhos errados sobre os quais estejam andando e indo para a senda reta que devem escolher.

Esta tem sido a maneira de todos os Profetas de Deus (A.S.). Eles convocaram as pessoas para sua natureza e para suas crenças naturais, sem que as expusessem vulgarmente, são os raciocínios espirituais.

No caso da Revolução Islâmica do Irã, os raciocínios dos intelectuais para o enfrentamento do Ocidente jamais contentaram senão um número pequeno de pessoas, porque mesmo os intelectuais não estavam satisfeitos com suas próprias idéias devido ao fato de que eles nunca se apresentaram na arena de luta, ao passo que as palavras e as preleções de Imam Khomeini (K.S.), que continham realidades claras com respeito a dependência do regime tirânico de Pahlavi às superpotências e o impedimento da sociedade de praticar sua religião (Islam), suas crenças doutrinárias e cultos, podiam ser perfeitamente entendidas pelo povo, e resultaram enfim num grande movimento em nossa sociedade. Pode-se concluir que os Profetas apresentaram provas manifestas e argumentos que não apenas suscitaram reações, mas também que foram compreendidos pela classe média e então seguidos naturalmente.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua a enumerar as tarefas do Profeta (S.A.A.S.) dizendo: “ministrar admoestações por meio de sinais e prevenir quanto as punições”. De fato, ele quer dizer que o Profeta (S.A.A.S.) informou as pessoas quanto aos sinais do castigo e as punições que haviam sobrevindo às nações do passado no curso da história, e as alertou que também seriam afligidas com as mesmas punições se imitassem o comportamento daquelas nações.

Em seguida ele descreve a situação durante a era da ignorância (antes da designação do Profeta (S.A.A.S.)) e ressalta os problemas e as calamidades que punham em risco as mentes, os corações e a espiritualidades do povo, tudo o que bloqueava os caminhos da orientação e que extraviava as pessoas, problemas estes que nada tinham a ver com o bem estar aparente e a vida material do povo.

Ele diz: “naquele tempo, as pessoas haviam cedido aos vícios, sendo que o vínculo da religião havia se rompido, os pilares da crença haviam sido abalados, os princípios tinham sido violados, os sistemas se encontravam convulsos, as aberturas se estreitavam, as passagens eram escuras, a diretriz era desconhecida e as trevas prevaleciam. Deus estava sendo desobedecido. Para Satã era dado o apoio e a religião tinha sido abandonada. Como resultado, os pilares da religião ruíram, seus traços não podiam ser delineadas, suas passagens tinham sido destruídas e suas vias tinham entrado em decadência.”

A mensagem geral dessas palavras é a de que a sociedade na qual o profeta (S.A.A.S.) estava sendo designado a profecia era desprovida de orientação e a missão dos Profetas era a de guiar as pessoas para a senda da retidão de modo que pudessem abandonar o estado de indiferença predominante entre elas e buscassem bons objetivos e aspirações.

Como foi mencionado antes, se uma motivação mais sublime e mais nobre do que comer, beber e suprir os requerimentos básicos da vida se tornassem dominante nos esforços do povo e se as aspirações e as metas destrutivas fossem abandonadas pela sociedade, as condições econômicas, sociais e políticas se tornariam prósperas, as distinções de classes desapareceriam e os ídolos da riqueza e do poder seriam destruídos. Isto foi experimentado durante os primeiros tempos do Islam, no tempo de todos os profetas e mesmo em nossa própria sociedade revolucionária (se os oponentes nos deixar terminar nossa experiência). É por isso que acreditamos que nossa Revolução Islâmica torna inútil todas as fórmulas políticas, sociais e revolucionárias que apóiam a idéia de que movimentos e revoluções são originados de motivações materiais, distinções de classe e conflitos classistas nas sociedades que aparentemente possuem sistemas políticos próprios e que não estejam sujeitos ao domínio colonialista (como o Irã durante o regime Pahlavi). O que aconteceu no Irã foi exatamente a experiência dos profetas, ou seja, o povo que vivia numa sociedade mentalmente pervertida foi despertado pelos fatores da orientação e correu à sua promessa natural de adorar somente a Deus, para apreciar as abundantes bênçãos de Deus e acreditar em sua própria força social.

Guiado de tal modo, este povo que tinha estado por muitos anos sujeito a opressão e a coerção dos assim chamados líderes e reis, de repente se ergueu, revoltou-se aos milhões e fez nascer a Revolução Islâmica. Hoje, para dar continuidade a Revolução e para garantir sua sobrevivência, é necessário manter a orientação mental do povo intacta a fim de aprofundar sua crença em Deus e no Islam, e fazê-lo mais consciente de sua dignidade humana e de sua responsabilidade.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua seu sermão fornecendo maiores detalhes sobre a atmosfera mental e espiritual da época da ignorância. Ele diz: “As pessoas obedeciam a Satã e trilhavam seus caminhos. Elas procuravam água em seus aguadeiros. Através delas o emblema e a posição de Satã eram erguidos em vícios, os quais esmagavam e pisoteavam as pessoas sob seus cascos. Os vícios ficavam nas pontas dos pés (em plena estatura) e as pessoas neles imersas estavam perplexas, perdidas, eram ignorantes e se deixavam seduzir, como se vivessem numa bela casa com maus vizinhos. Ao invés de sono, tinham a vigília e por antimônio tinham lágrimas em seus olhos (…)”.

De fato, acreditamos que a origem de todas as adversidades, opressões, corrupções, sofrimentos, desordens e crimes existentes na sociedade durante a época da ignorância, resultavam da obediência aos demônios humanos daquele tempo que se confiando em sua autoridade social, ou seja, sua riqueza, poder e sedução, e com ingratidão arruinavam as nobres bênçãos de Deus e devastavam os recursos abundantes e vitais da época e as vidas das pessoas, ou exploravam esses valiosos recursos para o seu próprio benefício, desconsiderando o que acontecia aos seus verdadeiros donos. Com base em semelhante obediência é que o povo seguia apenas pelos caminhos que seus líderes e grupos dominantes lhe mostrava, caminhos que não terminavam senão num destino indesejado, que levava as pessoas à coisa alguma senão o crescimento da miséria, da ignorância e da escravidão e que serviam os interesses pessoais dos grupos dominantes da sociedade, os criadores do mal da corrupção e da decadência.

Na visão Islâmica de mundo, o ser humano é considerado uma criatura pensante, inovadora e independente. Dentre estas três características, o poder do raciocínio humano é a mais importante, pois ele proporciona a consciência que capacita o ser a mover-se e progredir.

Assim, os mais significativos e fundamentais fatores para o movimento da história e da sociedade são o conhecimento e a consciência que estimulam os ser humano a agir. É a consciência que induz a humanidade a mover-se e a agir. No curso da história ações e movimentos espontâneos jamais resultaram numa revolução.

Maxim Gorki em seu livro, Mother, se empenha em provar que foram os movimentos dos trabalhadores que deram origem a Revolução na Rússia, enquanto que um estudo cuidadoso de seu livro mostra que esses movimentos espontâneos não poderiam obter nenhum resultado. De fato, sem a existência de consciência e orientação, os movimentos espontâneos criados na história das revoluções jamais poderiam terminar nos objetivos desejados.

Portanto, a luta e os conflitos de classes que os materialistas enfatizam como sendo a origem de todos os movimentos e revoluções não têm sido de modo algum efetivos. Ao invés disso, os mais significativos fatores para o movimento da história e da sociedade têm sido a compreensão, a orientação e a consciência estimulante. Sem esses fatores, todas as ações e esforços têm costumeiramente terminado em efeitos indesejados que podem ser observados em grande número nas revoluções através do mundo.

Sendo assim, desde que a consciência é a principal fonte de inspiração nas sociedades em que a ignorância predomine, os elementos anti-humanos (possuidores da autoridade corrupta), a fim de manter seu sistema tirânico, sempre tentaram sufocar qualquer idéia libertadora expondo a mente das pessoas à estupefação e a ensinamentos venenosos, para destruir as origens da consciência.

Como resultado, em tais sociedades, as pessoas seguem apenas os desejos desses demônios humanos, aprendem apenas o que eles lhes ensinam, como ovelhas, se dirigem apenas para a água, pois são guiados por esses pastores traiçoeiros (“buscam água em seus aguadeiros”).

É absolutamente doloroso observar que, considerando os esforços e os sacrifícios dos oprimidos, aqueles que se opõem aos opressores sejam usualmente derrotados e mortos, enquanto os chefes ateus raramente o sejam. Por exemplo, Mu`awiya, o modelo manifesto da blasfêmia, jamais aceitou o chamado de Ali (A.S.) para um combate pessoal, porque, como um Satã, seus emblemas tremulavam através do povo excluído que tem sempre sido usado como uma escada no curso da história, com a qual os arrogantes se elevam e se aproximam do seu egocentrismo, domínio e poder.

A vida dos excluídos tem sempre sido mesclada com medo, ansiedade, confusão, pobreza, fome, ignorância, miséria e inconsciência. Isto tem sido uma destacada característica da época da ignorância. Porém, de acordo com os princípios de nossa religião e ideologia Islâmica e de acordo com o Sagrado Alcorão, que diz: “Nós honramos os filhos de Adão (…)” os seres humanos são honrados. De fato, a crença na Unicidade de Deus é acompanhada, no pensamento Islâmico, pela dignidade e pelo valor do ser humano.

Falando de modo geral, as sociedades em que os seres humanos são honrados por causa da crença em Deus e por possuírem força de vontade, não em razão de sua posição social, movem-se para o aperfeiçoamento e a prosperidade, enquanto as sociedades que não dão nenhum valor aos seres humanos e que suas idéias não trilham a senda do melhoramento e da bondade são comumente administradas pelas ditaduras. Na atualidade, com exceção da comunidade iraniana sobre a qual o Islam lançou a sua luz, todas as comunidades humanas são governadas ou pelo “estrangulamento sombrio” (tais como as comunidades socialistas nas quais a ditadura do proletariado é dominante e os assim chamados apoiadores da classe trabalhadora, ou seja, seus líderes, jamais sentiram o sofrimento e a pobreza dos trabalhadores) ou pelo despotismo predominante em países como o Egito, o Iraque, a Arábia Saudita e outros.

Existem, entretanto, outras comunidades (as ocidentais) que são governadas pela estupefação do povo, isto é, mantendo as pessoas entretidas com frivolidades mundanas, sexo, bebidas alcoólicas e outros meios de corrupção e adversidade.

É apenas a comunidade Islâmica que estabelece direitos eqüitativos para todos, quer sejam trabalhadores, doutores ou homens do campo. Mas mesmo esta comunidade Islâmica se manterá distante do Islam, caso a tomada de decisão, o julgamento e a consciência estejam confinados a uma classe especial de pessoas (quem quer que possa ser) e os demais sejam compelidos a segui-la cegamente.

De modo geral, o que o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz é que em sociedades que estejam dominadas pela ignorância e a alienação, muito embora a humilhação e a vulgaridade lancem sombras sobre todos os anseios e aspirações humanas, e a fome, o horror, a doença, a escravidão, a corrupção e a confusão ameacem a sociedade, as pessoas são surpreendentemente tolerantes e cordiais com seus opressores. Isto é o que ele chama de sedição e calamidade (fetna), algo que leva uma pessoa a um estado de consternação e engano, que prejudica a mente e o coração, e que destrói a vida de uma pessoa completamente. É, de fato, sob tais circunstâncias que os profetas surgem. Não o fazem meramente para acabar com a pobreza, para estabelecer o bem estar social, para eliminar a ignorância e instruir o povo. Mas cada um desses pontos é uma parte de um grande todo que abrange a meta dos Profetas.
Esta meta profética é erradicar a perdição humana, a alienação e a confusão para promover a elevação espiritual.

A realização desta meta, contudo, será acompanhada do bem estar material, segurança social, erradicação da ignorância e da distinção de classes.

Perguntas e Respostas

Pergunta: O Senhor afirma que a alienação dá origem a distinções de classes. Então, quais são as causas da alienação?

Resposta: A causa da alienação é a falta de uso da faculdade do raciocínio, pois esta faculdade pode ser efetiva apenas se for treinada, educada e utilizada convenientemente. Ela é como um projetor poderoso que pode oferecer sua propriedade natural apenas se estiver limpo, sem nenhuma poeira ou névoa. A faculdade do raciocínio pode perder sua capacidade de uso sob a influência de vários fatores, os mais importantes são os caprichos e as paixões. Naturalmente, outros fatores, como por exemplo, os detentores do poder são igualmente efetivos neste sentido, porém, fatores econômicos e materiais unicamente, não devem ser considerados como uma razão para a deficiência do raciocínio e a alienação. O raciocínio é a faculdade pela qual o ser humano analisa diferentes assuntos e chega a uma conclusão geral. É, portanto, independente e pode proporcionar à pessoa as razões concernentes a suas ações.

Pergunta: Em um de seus sermões Ali (A.S.) diz “Eu tiro a verdade da falsidade”. Como o Senhor interpreta a justificativa dos esquerdistas do conflito dialético, com base nesta afirmação?

Resposta: O “conflito dialético” não pode ser justificado por esta afirmação. Por esta afirmação ele diz que pode analisar uma série de dizeres em que o certo e o errado se encontram misturados, distingue o certo a partir do errado e o apresenta as pessoas. Isto é o “certo” dos pensadores que conhecem a verdade.

Pergunta: O que é a sociedade monoteísta sem classes? Monoteísmo e classe não são noções contraditórias?

Resposta: Uma sociedade sem classes é uma sociedade onde não haja nenhuma distinção legal entre diferentes grupos de pessoas e que onde todos os indivíduos sejam providos com direitos e oportunidades iguais. Em tal sociedade, cada indivíduo se esforça de acordo com suas faculdades mentais e físicas e tudo o que ganha pertence a ele próprio. Ninguém tem o direito de exigir a outrem parte do que tenha adquirido. Naturalmente, se um indivíduo mantém uma longa distância dos demais, esta pessoa há de ser aconselhada a auxiliá-los. O Islam prescreve oportunidades e possibilidades iguais para todos os indivíduos. Cada um tem o direito de se educar, de incrementar seu conhecimento, de seguir o seu trabalho desejado, de trabalhar da melhor maneira possível e assim por diante. Ao mesmo tempo, não é permitido no Islam que as pessoas ociosas partilhem daquilo do que os que trabalham venham a adquirir. No Islam as pessoas são livres para trabalhar e se esforçar por si mesmas, contrariamente às comunidades socialistas onde todo o trabalho produtivo e os serviços são um monopólio dos governos sendo, por conseguinte errôneo chamá-las de comunidades sem classe.

Quanto a “sociedade monoteísta”, deve-se dizer que é uma sociedade onde todos se encontram no mesmo status legal e judicial em relação às leis e regulamentos sociais concernentes. Numa sociedade monoteísta, não há nenhuma diferença entre o governante e um homem comum diante da lei. Um Judeu e um Muçulmano são tratados igualmente (o juiz chama um Muçulmano e o Judeu a sua presença e se dirige a ambos da mesma maneira). Uma sociedade monoteísta é uma sociedade Islâmica e uma sociedade sem classes, porém, apenas dentro dos limites que foram explicados acima. Não acreditamos no que os esquerdistas denominam de classes, sociedade sem classes e luta de classes. Todos esses são conceitos marxistas que o grupo chamado de Mujahidin (grupo de hipócritas anti-Islâmicos) misturou com noções Islâmicas para ludibriar o povo. Em resumo, a sociedade ou deve ser “monoteísta”, o que está em conformidade com a cultura Islâmica, ou sem classes (como define o Mujahidin) o que remete a ideologia marxista.

Pergunta: Todos os seres humanos são dotados de igual talento e faculdades?

Resposta: Não, de modo algum os seres humanos possuem os mesmos talentos e faculdades tampouco são iguais na capacidade de compreensão de diferentes matérias e na realização de variadas tarefas. De fato, cada indivíduo possui um talento para certos tipos de trabalho e ninguém está desprovido de certos talentos e faculdades.

Lição 3
A qual classe da sociedade os profetas pertencem?

Neste capítulo discutiremos a origem social dos profetas, ou seja, descobriremos a qual classe social os profetas pertencem. Veremos se pertenciam a classe rica, dos aristocratas e detentores do poder mundano ou a classe pobre, dos excluídos. É, de fato, muito importante conhecer as classes sociais e econômicas das quais os profetas surgiram no curso da história, iniciando movimentos monoteístas e revoluções, e comunicando às massas palavras e mensagens divinas.

O Alcorão Sagrado, as tradições e o Nahjul Balaghah são fontes valiosas que podem nos auxiliar na análise desse assunto, mas, aqui, a ênfase será apenas nas palavras do Nahjul Balaghah. No longo e famoso sermão de Al Qasi`ah encontram-se afirmações que merecem cuidadosa reflexão e que oferecem informações a respeito do assunto discutido.

Sentenças como estas: “Certamente, se Deus permitisse a alguém se orgulhar, permitiria isso a seus profetas escolhidos e a seus Imames. Mas Deus, o Sublime, detestou a vaidade para eles, mas sim, gosta da humildade. Portanto, eles se colocavam com a face sobre o solo, e sujaram sua face com terra, curvaram-se perante os crentes e permaneceram como pessoas humilhadas. Deus os pôs a prova com a fome, afligiu-os com dificuldades, testou-os com o medo, e os perturbou com tribulações.”

Aqui o Comandante dos Fiéis (A.S.) fala sobre orgulho e vaidade, e enfatiza que desde que Deus desaprova estas características, Ele tornou-as desprezíveis aos olhos de seus profetas e das criaturas nobres. Assim, eles se comportavam de forma humilde para com os crentes (respeitosamente), vivendo entre as classes mais baixas do povo, maculando suas faces com o pó em prostração diante de Deus e se refreavam de incorrer em arrogância. Eles faziam, efetivamente, o que o Alcorão Sagrado ordena para que se faça aos pais:

“(…) E estende sobre eles (seus pais) a asa da humildade (…)” (S 17 – V 24)

Os Profetas, de acordo com o Comandante dos Fiéis (A.S.) eram provenientes das massas oprimidas do povo. Eles conheciam as dores e as agonias dos necessitados. Sentiam, por exemplo, o que era a fome, porque Deus tinha os provado com ela. O Alcorão Sagrado cita que Moisés (A.S.) disse: “Oh Deus, eu preciso daquilo que tu me enviar”, de acordo com as narrativas, Moisés (A.S.), estava faminto e implorou a Deus deste modo para que lhe enviasse o pão de modo que pudesse saciar sua fome. Assim, os profetas sentiram o sofrimento dos famintos. Eles tinham provado os sofrimentos da vida. Conheciam bem os problemas do duro trabalho físico, das épocas de frio e de calor. Compreendiam o significado da vicissitude.

Timidez e o estado de temor são características dos oprimidos. Eles costumeiramente estão temerosos quanto ao futuro, a pobreza e o domínio de uma mão poderosa sobre os seus destinos. Estão sempre preocupados e num estado de mal estar emocional, a respeito das situações atuais e as condições vindouras. Esperam que a qualquer momento estejam sob a influência de um opressor poderoso. Da mesma maneira, os profetas sofreram os mesmos temores e ansiedades e, enfim, estiveram também rodeados pelas vicissitudes e sofrimentos a fim de se tornarem puros do mesmo jeito que o ouro tira sua pureza sob alta temperatura. De fato, os profetas não eram indivíduos mimados que de repente saiam de seus palácios e convocavam o povo a fazer uma revolução. Havia uma estreita ligação entre eles e as pessoas comuns. Tinham, como todos os membros da sociedade, sido submetidos à ignorância, provado as dores e os sofrimentos da vida e haviam se tornado dignos de serem chamados “profetas”.

A Definição dos Destituídos

Uma sociedade dominada pela ignorância é sempre formada por dois grupos de pessoas. Um grupo consiste daqueles que fazem planos, administram a sociedade e possuem total autoridade sobre todos os assuntos. O outro grupo consiste dos subordinados e dominados que estão fora da decisão sobre os assuntos da sociedade. Trabalham arduamente (e, portanto, não são inúteis como, habitualmente são chamados, comparados, por exemplo, a quantidade de trabalho dos escravos do Faraó na construção das pirâmides), porém, não têm nenhum direito de fazer valer a sua vontade, sua personalidade e seus pontos de vista na administração dos assuntos de sua sociedade.

O primeiro grupo é uma minoria que consiste das poderosas famílias e dinastias com vários graus de autoridade sobre a sociedade. São chamados os Arrogantes (Mustakbirin). O Segundo grupo é o do povo comum e das massas que são considerados os fracos e que são privados de qualquer autoridade. São os chamados os Destituídos (Mustad’afin). Nosso próprio país, durante o regime corrupto de Pahlavi, foi administrado por um limitado número de indivíduos, com o Shah à frente deles. É verdade que uma instituição chamada “Assembléia Nacional Consultiva” existia, porém, todas as decisões eram tomadas pelo Shah e seus conselheiros americanos, e ditadas aos membros da Assembléia, que não tinham nenhuma vontade própria.

E nos níveis mais baixos, as decisões eram tomadas pelos grandes capitalistas que agiam em conluio com as figuras governamentais, os governadores gerais e assim por diante. De fato, a autoridade total estava centralizada nas mãos de uma pessoa, o Shah. Se todos os ministros, os membros da Assembléia, os diretores gerais e outros concordavam em algo, mas o Shah se opunha, era a sua vontade e decisão que prevalecia. O resto do povo, as massas, não tinham nenhuma autoridade (mesmo sobre seus próprios destinos) para interferirem nos assuntos pertinentes as relações exteriores (com a Rússia e a América, por exemplo), a indústria interna, a agricultura, a pecuária, etc. Quanto mais nos assuntos referentes à religião e a moralidade. Não tinham nenhum direito de interferir no curso dos assuntos de sua sociedade devido à absoluta falta de democracia e de eleições no país.

Esta conjuntura é atualmente uma característica óbvia de todos os países socialistas, mas numa forma mais respeitável, isto é, um partido único (Comunista) possui o poder e a autoridade total na administração dos assuntos desses países. De fato, todos os assuntos desses países são determinados pelos altos quadros governamentais, os conselhos supremos e os próprios secretariados gerais. As outras pessoas não possuem nenhum direito de expressar seus pontos de vista, e suas vontades e decisões não são levadas em conta. Assim, o desenvolvimento mental é reprimido em tais países, e talvez seja por isso que a juventude comumente se dedica aos esportes e ao treinamento físico e se desenvolve no mais alto padrão de atletas nas competições internacionais como as Olimpíadas realizadas na Rússia.

Nas sociedades ocidentais, a situação é mais ou menos a mesma (principalmente nos países chamados “civilizados” da América do Norte e Europa onde a “liberdade” e a “democracia” se difundiram numa aplicação literal). Hoje, infelizmente existem algumas pessoas que tentam transformar a liberdade e a democracia nos conceitos ocidentais de liberdade e democracia, sem saber que o próprio Ocidente se encontra privado de liberdade real, (nos Estados Unidos da América, na Alemanha e outros países, o povo imagina que elege seus representantes livremente enquanto que a realidade é que específicas correntes os conduzem de um lado para outro para que votem a favor de um ou de outro partido). As recentes eleições na América e os conflitos entre democratas e republicanos são a melhor evidência desta realidade.

Falando de modo geral, em todos os países do mundo, as pessoas estão divididas em duas classes: os destituídos e os arrogantes. As massas destituídas por sua vez são dois grupos: os necessitados e os não-necessitados. De fato, um pobre, e um miserável camponês que trabalham 15 horas por dia sob a intempérie da chuva, da neve ou do calor e alguém que vive uma vida comum, sendo um lojista, ou um empregado, etc, sem sofrer tanto, estão ambos na categoria dos destituídos, pois são considerados igualmente sem valor e inúteis, e estão privados do direito de participar na administração de sua sociedade.

De acordo com o Comandante dos Fiéis (A.S.) no citado sermão, os profetas pertenciam às classes dos destituídos e, como eles, tinham sido privados da autoridade de desempenhar uma responsabilidade em sua sociedade. Um exame histórico nos registros biográficos de Mohammad (S.A.A.S.), e de outros profetas esclarecerá mais esta questão.

Moisés (A.S.), nasceu numa família destituída dentre os filhos de Israel que vivia sob severas pressões. Mas após seu nascimento ele foi introduzido numa casa de arrogantes e se tornou o favorito da família do Faraó muito embora não tivesse sido gerado pela esposa do Faraó.

Ele foi criado no melhor padrão de vida, com os mais deliciosos alimentos e diferentes tipos de luxo (como um perfeito aristocrata). Então, quando o Faraó percebeu que estava criando um opositor dentro de sua própria casa, Moisés (A.S.) decidiu fugir. De fato, Moisés (A.S.) tinha iniciado sua convocação e chamado do povo para Deus, tinha iniciado sua prédica revolucionária dentro do palácio real e tinha conseguido converter a esposa do Faraó à submissão a Deus, foi quando o Faraó sentiu o perigo e decidiu persegui-lo. Moisés (A.S.) então fugiu do Egito.

Para resumir, Moisés (A.S.) tornou-se um profeta e conclamou o povo a fazer uma revolução quando estava no palácio real, no cume da arrogância (este registro biográfico de Moisés (A.S.) está narrado no Alcorão Sagrado, e não é necessário aqui, recorrer às tradições).

Nosso Profeta Mohammad (S.A.A.S.) nasceu numa casa tribal de alta posição. Ele era neto e o favorito de Abd Al Muttalib, o chefe de Makka (embora este, diferentemente do Faraó, fosse um piedoso chefe, temente a Deus). Quando seu pai, Abdullah, que era o mais querido filho de Abd Al Muttalib, morreu ainda jovem, Abd Al Muttalib criou-o, até que alcançasse os quatro anos de idade (embora Moisés (A.S.) fosse o favorito de um grande imperador e Mohammad (S.A.A.S.) de um chefe tribal, ambos gozaram do favor de respeitáveis famílias). Então Abd Al Muttalib faleceu e Mohammad (S.A.A.S.) ficou sob a guarda de seu tio Abu Talib que não tinha o mesmo respeito de seu pai, porém, era uma pessoa distinta, não pertencendo às massas.

Abu Talib agiu como um bom guardião por algum tempo e então começou a sofrer a pobreza. Portanto, Mohammad (S.A.A.S.) perdeu o apoio financeiro de seu tempo. Mas logo ele desposou Khadija (A.S.), uma mulher rica. Ele primeiro trabalhou como um funcionário para Khadija (A.S.), mas logo depois, (quinze anos antes de sua designação profética) casou-se com ela, tornando-se um homem relativamente abastado em Medina.

A mesma condição financeira permaneceu com ele até que se tornou um profeta com a idade de quarenta anos (por isso é que se diz que o Islam cresceu por meio da riqueza de Khadija (A.S.) e da espada de Ali (A.S.)).

Conseqüentemente, o Profeta do Islam (S.A.A.S.) nasceu em uma família aristocrática e viveu uma vida confortável e rica até que foi designado para a profecia por Deus. Depois desta designação, contudo, devido as altas despesas da propagação e do chamado ao povo e devido a impossibilidade de conduzir os negócios, ele tornou-se um homem pobre. Outros profetas, também, foram relativamente abastados. Encontra-se nas tradições (embora não haja claros registros históricos disponíveis) que Jó (A.S.), por exemplo, possuía terras, pomares e jardins que foram destruídos quando Deus desejou testar sua fé. Davi (A.S.), também, tinha uma origem rural. Ele foi um homem do povo. Porém, tornou-se um líder e um governante. Salomão (A.S.) nasceu na casa deste governante (Davi (A.S.)). De fato, este Profeta escolhido de Deus (ainda que não haja diferença entre ele e Moisés (A.S.) quanto a sua pureza, piedade, espírito revolucionário e profecia) foi o filho de um governante. Abraão (A.S.) nasceu na casa de um fabricante de ídolos, e estes não apenas não se encontravam entre os de classe baixa e destituídos, como também eram considerados respeitáveis e devotos.

Concluímos, portanto, que um considerável número (mas não todos) dos profetas se originaram de famílias de posses e poder. Assim, temos dois pontos a apreciar conjuntamente: primeiro, o Comandante dos Fiéis (A.S.) dizendo que os Profetas pertenceram aos destituídos e as massas humildes do povo. Segundo, os Profetas (alguns deles), como vimos acima, tendo nascido em famílias socialmente estáveis de alta posição.

São estas duas realidades incompatíveis? Não. Não é o ponto principal aqui verificar se são compatíveis ou não. O ponto principal é eliminar o mito dos comunistas de que todos os agentes revolucionários tenham se originado do proletariado, dos destituídos e das classes excluídas. O que é essencial é que um revolucionário (seja ele um líder da revolução ou um homem do povo) deve ser investido de moral e atributos revolucionários. Os materialistas e os intérpretes do Marxismo alimentam uma crença errônea de que só podem possuir moral e atributos revolucionários os indivíduos que pertençam às classes pobres, e dos destituídos. Quando, o homem é sempre e em todo lugar, um ser humano e, portanto, corrigível. Ele pode, como os profetas, sobre os quais Ali (A.S.) diz: “Eles vieram dos destituídos”, se prover com esses em hábitos e atributos corretos e revolucionários.

É verdade que uma educação e um preparo aristocrático resulta somente numa pessoa aristocrática, no entanto não é verdadeira a crença de que tal educação seja indestrutível e não-cambiável. De fato, se a orientação divina (quer seja na forma do intelecto, da meditação e do despertar da consciência dos indivíduos ou por meio do esforço e da purificação da alma pelos mestres da moralidade, os Profetas) iluminar os seres adoecidos que estejam sob a influência dos hábitos e condicionamentos aristocráticos, eles sairão de sua depressão espiritual e se revestirão de disposição revolucionária.

Resumo

Dois pontos são observados quando a origem social dos profetas é posta em discussão:

Primeiro, aqueles que são designados para a Profecia são investidos dos atributos dos destituídos, moral revolucionária e espírito combativo contra os sistema vigente de classes dos arrogantes, isto é, quando da designação (e mesmo antes dela) eles possuíam uma posição contrária aos arrogantes e em apoio aos destituídos.

Segundo, possuir esses atributos não implica necessariamente que todos os Profetas tenham pertencido às classes oprimidas. Eles podiam pertencer ou não a elas, como já mencionamos, mesmo na época da designação à profecia e no começo de sua revolução eles podiam pertencer a camada social dos arrogantes, tendo uma vida confortável. Não havia a necessidade de terem sofrido com o árduo trabalho antes da designação. Naturalmente, deveriam sentir a dor e a angústia, mas isto não significa que deveriam romper os laços de relacionamento com sua classe social e seu nível de vida.

Criaturas espiritualmente elevadas possuem compreensão e sentimento de solidariedade.

Subseqüente a discussão a respeito dos arrogantes e dos destituídos, deve se acrescentar aqui que tal divisão de classe não existe nas sociedades monoteístas. Ela é, na verdade, uma característica exclusiva das sociedades que sofrem com a ignorância e a alienação. Temos naturalmente, governantes, dirigentes, califas, autoridades religiosas e governos em sociedades monoteístas, mas nenhum deles é arrogante o suficiente para dirigir os assuntos da sociedade com base em crenças pessoais. Também, existem cidadãos comuns em tais sociedades, consistindo de trabalhadores, comerciantes, camponeses, pedreiros, funcionários públicos etc, mas nenhum deles tampouco é arrogante. Cada classe tem, na verdade, alguma autoridade sobre seus próprios assuntos sociais proporcionalmente ao número total de seus membros.

Por exemplo, na atual situação do Irã (embora o Irã não seja em 100% ou nem em 50% uma sociedade Islâmica no momento) cada indivíduo tem alguma autoridade e o direito de voto como um membro de uma sociedade com 36 milhões de pessoas. É sobre esta base que os grandes movimentos e mesmo as questões políticas de nosso país são atualmente administradas e dirigidas pelo próprio povo, embora isso possa ser considerado errado até onde os padrões prevalecentes dos assuntos políticos no nível internacional concernem. A verdade é que se as pessoas não estiverem inclinadas a certas ações e políticas, ligações e rompimentos, o governo (ele próprio consistindo de muçulmanos pertencendo às classes baixas) não ousará tomar posições, como ele está a fazer hoje, e realizar tão corajosas ações. Isto é indicativo de um país Islâmico (embora o Irã não seja ainda um país Islâmico perfeito).

Quando o Islam, se Deus quiser, lançar sua luz sobre nossa sociedade em todas as suas dimensões, o papel de cada indivíduo na administração do país será ao ponto que ele, ou ela, (ainda que sendo da mais baixa posição social) possa atuar e se comprometer em favor da comunidade Islâmica. Hoje, se um dado governo ou uma certa ação seja condenada nos sermões de Sexta-Feira diante de uma multidão, ou se um tratado entre nosso país e um dado governo seja oralmente feito (ou violado) em tais sermões, nem o nosso governo nem o outro cuidará disso.

Mas numa comunidade Islâmica perfeita, não há nenhum indivíduo irresponsável. Em semelhante comunidade, em que a cultura e a educação Islâmica sejam perfeitamente predominantes, todo indivíduo (seja um homem de negócios, uma dona de casa e assim por diante) pode concluir um tratado ou anunciar um acordo de interrupção das hostilidades ou uma ocasião especial e o governo Islâmico está obrigado a levar isso em consideração, mesmo embora este indivíduo não seja um ministro, um comandante militar ou um diplomata. De fato, todo indivíduo pode decidir por toda comunidade em ocasiões especiais, e sua decisão será acatada por todos.

No entanto, isto não é, praticável na presente cultura e com os hábitos de nossa sociedade. Mas à medida que esta sociedade se aproxima do Islam e de seus ensinamentos, isto tenderá a ser realizado. Deve ser acrescentado, naturalmente, que quando dizemos que algo não seja por hora praticável, não significa que o Islam como um todo não possa ser materializado. Ele pode, mas apenas quando o mundo estiver pronto para sua adoção.

Perguntas e Respostas.

Pergunta: O Senhor disse que a riqueza de Khadija (A.S.) e a espada de Ali (A.S.) possibilitaram o progresso do Islam. Isto não leva ao conceito equivocado de que a riqueza e as coisas materiais tenham sido os únicos fatores para a expansão do Islam?

Resposta: Acreditamos que a riqueza apenas desempenhou um papel neste contexto, mas a verdade é que os bens materiais também possuem certos papéis e isto é inegável. Foi, na verdade, o recurso material necessário para saciar a fome dos recém-convertidos como também para prover as despesas daqueles que foram enviados pelo Profeta (S.A.A.S.) para vários lugares da região e do mundo. Isto não nega a influência da espiritualidade, do dinamismo de pensamento e da ideologia Islâmica, já que o dinamismo necessita dos recursos materiais quando atua e progride do mesmo modo como necessita do labor físico e ação.

Pergunta: O Senhor definiu os destituídos em seus aspectos políticos e sociais. Não é necessário também explicar os aspectos econômicos e culturais?

Resposta: As atividades econômicas dos destituídos (como já definimos) se encontram sob a influência dos poderosos, ou seja, as atividades econômicas são costumeiramente centralizadas onde o poder é centralizado (sob o regime anterior do Irã, por exemplo, nenhuma atividade produtiva ou econômica tinha lugar exceto através da interferência direta ou indireta do governo). Portanto, aspectos econômicos são dependentes dos aspectos políticos. Pode-se, contudo, afirmar que o poder político se origina do poder econômico. Isto é possível, porém carece de universalidade. Algumas vezes o poder político é a causa da absorção do dinheiro e em outras, o dinheiro faz surgir o poder político. Eles estão inter-relacionados, mas numa sociedade onde o poder político é centralizado em um certo grupo, a economia não pode crescer de modo independente. Os aspectos culturais (cultura no seu sentido predominante, não no revolucionário) da sociedade, também, são afetados pela opinião daqueles que possuem o poder econômico e político. Assim, quando a opressão política domina a sociedade, a cultura existente e os aspectos políticos dos destituídos são também influenciados por ela.

Pergunta: A seguinte tradição, narrada dos Imames (A.S.) concernente a condição dos destituídos, é autêntica? “Os Destituídos são aqueles que se empenharam na senda de Deus, mas não puderam realizar seu objetivo de estabelecer o sistema divino. Os mais valorosos dentre eles são os profetas e os santos (awlia), próximo deles estão os crentes que se esforçam na senda de Deus.”

Resposta: Ela pode ser autêntica quanto a todos os Profetas e seus fiéis seguidores pertencentes a categoria dos destituídos. Ela nos dá a definição dos destituídos, não o conceito da condição de exclusão.

Lição 4
Como os Profetas foram escolhidos?

Quais eram as responsabilidades dos Profetas para com Deus? Qual era os cenários culturais, sociais e intelectuais em que os profetas surgiram? Para responder estas questões, analisemos as seguintes afirmações do primeiro sermão do Nahjul Balaghah: “Da progênie de Adão, Deus escolheu (istafa) Profetas e obteve deles a promessa quanto a sua revelação, e de portarem sua Mensagem, como seus fiéis depositários.”

Istafa (escolher o melhor) é uma questão fundamental. Em árabe, nem todas as seleções são indicadas por este vocábulo. Apenas quando um elemento puro é reconhecido e escolhido dentre um conjunto de elementos o vocábulo “istafa” é usado. Ele é empregado atualmente quando um elemento puro e outro impuro são separados num conjunto de coisas e o primeiro é extraído. Até onde os aspectos físicos e espirituais da humanidade concernem, os Profetas foram seres humanos comuns, mas ao mesmo tempo, possuíam a competência requerida para alcançar altos estágios e posições. Conseqüentemente foram selecionados, indivíduos distintos, nascidos de pais não-politeístas e não maculados pela corrupção humana. Assim “istafa” implica em seu sentido geral que uma geração educada e disciplinada dá origem a uma geração ainda mais preparada para a sociedade.

Como um exemplo, o Profeta do Islam (S.A.A.S.) nasceu em uma família pura e santa, de um pai e uma mãe que foram, por sua vez, distintos do ponto de vista moral e espiritual (e não com base na raça, no sangue, na riqueza ou privilégios aristocráticos). De fato, Abdullah foi superior a todos os pais e Amina foi superior a todas as mães. Estes dois seres disciplinados espiritualmente casaram-se e deram a sociedade um filho mais nobre do que todos os filhos, um ser melhor capacitado espiritualmente.

Tanto isso é certo que os Profetas que surgiram antes de Moisés (A.S.), possuíam menos espiritualidade do que aqueles que vieram depois dele e depois de Jesus (A.S.), pois cada Profeta foi o produto da educação e da disciplina legada pelos profetas que o precederam, o divino preparo espiritual predominante proporcionado pelos profetas anteriores foi absolutamente decisivo para o incremento daqueles que os seguiram. Portanto, o Comandante dos Fiéis (A.S.) utiliza a palavra “istafa” para indicar que Deus designou estes seres que tinha tal preparo espiritual para a profecia: “(…) e obteve deles a promessa quanto a sua revelação e de serem os portadores de sua Mensagem como fiéis depositários.”

Neste ponto o Comandante dos Fiéis (A.S.) menciona o compromisso dos Profetas e diz que eles estão comprometidos em dois aspectos:

Primeiro, estão comprometidos com a revelação divina, o que significa que estão obrigados a dizer somente o que lhes seja revelado e não misturar suas opiniões pessoais com a Mensagem Divina. Em segundo lugar, que estão obrigados a comunicar a Mensagem e não ocultá-la para si.

“No decorrer do tempo a maioria das criaturas perverteram a confiança de Deus, ignoraram sua posição e adotaram ídolos junto a Ele, Satanás os afastou de seu conhecimento e os manteve afastados da adoração a Ele.”

Em cinco sentenças breves, o Comandante dos Fiéis (A.S.) nos dá uma descrição precisa das circunstâncias mentais, sociais e culturais do povo do tempo do surgimento dos profetas. Na primeira sentença ele emprega a frase “akçaru khalqihi” (a maioria das criaturas) para indicar que não todas as pessoas, mas a maioria delas, tinha pervertido a prescrição e os mandamentos de Deus porque a absoluta escuridão ou ignorância jamais tem domínio (total) sobre a sociedade, ou seja, em nenhuma época o povo tem sido abandonado sem orientação divina, mestres e mensageiros que têm alguns fiéis seguidores. Na realidade ele se refere a uma sociedade e a um tempo em que as pessoas ignoraram as ordens de Deus, modificando os princípios gerais comunicados através da corrente profética e se desviando do curso e do programa de vida determinado pelos Profetas por meio da aplicação das perversões, dos preconceitos e das más inclinações pessoais.

Ele continua com a frase “facahiluhaqqah” (ignoraram sua posição), dando a entender que as pessoas se esqueceram do Poder de Deus e de sua Providência na administração dos assuntos da sociedade (esta mesma situação é predominante na atualidade entre os ocidentais que não percebem a falta de Deus em suas vidas, porque têm permanecido afastados de sua verdadeira natureza. Esqueceram-se da existência de Deus embora aparentemente acreditem em Deus e ouçam seu nome a todo instante. Eles realmente não conhecem a posição de Deus e seu status na sociedade).

O que é a confiança e o pacto de Deus (ahd)? Deus Todo-Poderoso deu aos seres humanos um modelo geral de vida e um curso específico dentro do qual as pessoas deveriam se mover. Este curso ou modelo é a realidade para a qual todos os profetas convocaram as pessoas no decorrer da história, o Monoteísmo, o respeito pela humanidade, a moral, a qualidade legal e natural dos seres humanos. Este é o programa divino, uma Ordem e um pacto.

Satã tenta perverter este curso e este mandamento, e induzir as pessoas a obedecer e a adorar outras criaturas, ao invés de Deus. Deus ordena as pessoas para que honrem o ser humano, e Satã as conclama para que o humilhem e o menospreze. Assim, a perversão do pacto divino é o desvio do curso e do modelo mencionados, para que se ignore a posição de Deus e para que a sociedade seja transformada em algo satânico onde parceiros sejam adotados junto a Deus.

Adotar parceiros junto a Deus não está apenas limitado a adorar um objeto. Mas quando a posição de Deus permanece desconhecida e as pessoas não sabem que a criação e a legislação pertencem a Deus (do mesmo modo que as leis da criação, as leis relativas aos movimentos celestes e da terra, do dia e da noite, do homem, do nascimento e da morte – estão na posse de Deus somente, a legislação e a administração da sociedade e da vida, também, está sob a Sua autoridade. Isto é o que significa a posição de Deus na vida humana) elas aceitam certas linhas de pensamento como suas diretrizes, determinados seres humanos como seus líderes e algumas falsas tradições e costumes como seu modo de viver. Com isso, trocam Deus pela ignorância, pela inconsciência e pelos demônios (que apenas em nossa limitada razão podem ser considerados rivais para Deus, na realidade, Deus não tem rival).
Por exemplo, os Egípcios estavam realmente tomando um “Faraó” como Anwar Sadat como um parceiro de Deus quando deixaram seu destino em suas mãos.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua suas afirmações: “Satã afastou-os de seu conhecimento (de Deus) (…)” Enfatizando que quando a posição de Deus permanece desconhecida numa sociedade, os demônios tentam preencher as mentes humanas, que estejam privadas do conhecimento de Deus, de uma maneira ou de outra. Algumas vezes uma pessoa carece de algo e ela sabe o que lhe falta. Porém, mais doloroso é o caso de uma pessoa que carece de algo e não sabe que devido a isso, o espaço vazio (do que lhe falta) foi preenchido por outra coisa, que sua sede tem sido saciada com água insalubre.
(Esta é a maior opressão dos seres humanos, a supressão no homem do senso de busca de Deus ou a imposição da inconsciência nele). Mais tarde veremos que os profetas tiveram a responsabilidade de por fim a esta opressão e compensá-la.

Há de se notar aqui que o Satã (Shaytan), ao qual Ali (A.S.) se refere em seu sermão, não deve ser confundido com Iblis, a criatura que, de acordo com o Alcorão Sagrado, recusou-se a se prostrar diante de Adão e então implorou a Deus para mantê-lo vivo até o Dia do Julgamento, mas Deus prometeu mantê-lo vivo apenas “até o dia do tempo predeterminado”. Esta criatura não deve de modo algum ser confundida com outras criaturas. Devemos nos acostumar a adotar as exatas noções das afirmações do Alcorão Sagrado, e não apenas as que nossos preconceitos afirmam. Satã tem um significado diferente.

Falando de modo geral, de acordo com o Alcorão Sagrado, o vocábulo se aplica àquelas forças que, criam corrupção, maldade e extravio. Com base nisso, temos no Alcorão Sagrado “demônios entre os homens e os gênios”, ou seja, criaturas satânicas em meio a humanidade que se vestem, caminham e agem, e criaturas satânicas da espécie dos gênios (jinnis). Estas criaturas primeiramente citadas são as que algumas vezes habitam dentro do ser humano, e são denominadas de egoísmo, desejos carnais, avareza, agressão, negligência e assim por diante. Algumas vezes elas habitam fora do ser humano e se intitulam, reis, rufiões obstinados, líderes religiosos corruptos, cenas lascivas, etc.

Então, se não desenvolvermos demônios dentro de nós mesmos, os demônios externos não poderão nos influenciar. Por esta mesma razão não podemos pôr a culpa de nossos próprios desvios nas condições sociais ou naqueles que nos tenham levado a negligência.

Consta no Alcorão Sagrado que os arrogantes e os destituídos discutirão no Dia do Julgamento. Os destituídos acusarão os arrogantes de tê-los desviado, porém, os arrogantes negarão isso e argumentarão que os outros não deveriam ter dado ouvidos a eles. Ambos estarão falando a verdade e ao mesmo tempo, ambos estarão condenados.

“(…) e os manteve afastados da adoração a Ele”. Com esta afirmação o Comandante dos Fiéis (A.S.) quer dizer que quando os seres humanos não conhecem a Deus, é absolutamente natural que não o adorem e não o sirvam.

Resumo

• Deus escolheu seus melhores servos (istafa) como seus Profetas.

• Ele (Deus) aceitou o compromisso dos Profetas para duas responsabilidades: comunicar as pessoas apenas o que tivessem recebido pela revelação e não ocultar nada do que tenha sido revelado.

• Quando do surgimento dos Profetas, as pessoas tinham adotado parceiros junto a Deus devido a falta de conhecimento a respeito da posição de Deus e, portanto, os demônios os tinham afastado de Deus, fazendo-os buscar o caminho da negligência a Deus.

Lição 5
Deveres e responsabilidades dos Profetas

Na lição anterior, concluiu-se que os profetas escolhidos de Deus tiveram certas responsabilidades para com Ele e as pessoas. Esta lição tem por objetivo discutir estas responsabilidades.

Nossa discussão aqui não abrange matérias como o estabelecimento de uma sociedade monoteísta ou um governo profético, não significando que estas matérias não tenham sido parte da missão dos profetas. Estes pontos definitivamente foram objetivos deles, e os profetas vieram para estabelecer a sociedade ideal para a humanidade. De fato, a responsabilidade, ou missão, aqui significa a mudança que os profetas efetuaram dentro do ser humano, pois fundar uma sociedade justa e monoteísta é impossível sem seres humanos formados para isso, do mesmo modo como uma revolução social é inseparável de uma revolução interior nas pessoas. Esta mudança e esse estímulo se originam do coração do Profeta, envolve o coração das pessoas e finalmente leva a um movimento transformador interno em meio aos indivíduos despertos e fiéis. Se os meios de semelhante provocação estiverem disponíveis (pelos quais os Profetas são responsáveis) então é o tempo para construir a sociedade e estabelecer o sistema monoteísta.

Agora, estudaremos as responsabilidades dos profetas nas seguintes palavras do Comandante dos Fiéis (A.S.): “Então Deus enviou seus mensageiros e vários de seus profetas com eles, para fazerem com que se preenchesse os requisitos de sua criação, recordassem seus benefícios, para os exortarem pela pregação, para desvelarem as virtudes ocultas da sabedoria e para que mostrassem os sinais de Sua onipotência(…)”

Com esta plataforma geral, os profetas se ligaram ao povo e a seus anseios íntimos, com esses objetivos e estas maneiras de desenvolver interiormente os seres humanos, iniciaram sua missão e sobre estas mesmas bases se empenharam em estabelecer a comunidade Islâmica. Assim, em todas as dimensões da comunidade Islâmica, na educação, na economia, no governo, nas relações humanas, etc, nada que seja contraditório a estes objetivos deve ser encontrado.

Por exemplo, se em uma comunidade Islâmica algo crie negligência ao invés de “recordação” isto será contrário à filosofia essencial da designação profética. De fato, todos os sinais sociais de um sistema Islâmico, todas aquelas coisas que constituem a menor e maior estrutura de uma comunidade Islâmica devem induzir as pessoas à “preencherem os requisitos de sua criação”.

Estes cinco programas (aos quais o Comandante dos Fiéis (A.S.) se refere) foram compensatórios às deficiências existentes entre as pessoas na época da ignorância quando os profetas ainda não tinham sido enviados. Deficiências e fraquezas mencionadas no mesmo sermão, que já analisamos antes. “No decorrer do tempo muitos indivíduos perverteram a confiança de Deus para com eles (…)”.

O que é esta confiança ou este pacto? É a absoluta submissão do ser humano a Deus, ele tem um compromisso para com Deus, que é adorar unicamente a Ele. Adorar a outros senão Deus significa submissão a outrem, quer sejam elas submissões mentais, físicas, doutrinárias ou práticas. O ser humano é realmente responsável de não se submeter a ninguém senão a Deus, mas isto não significa que uma pessoa tenha que aceitar esta responsabilidade sem que tenha poder e livre arbítrio para rejeitá-la. A natureza do ser humano e seu mecanismo interno se conformam ao serviço e a adoração a Deus.

Estas estão, de fato, ocultas na natureza primordial do gênero humano. O Alcorão Sagrado diz:

“Acaso, não vos prescrevi, ó filhos de Adão, que não adorassem Satã, porque é vosso inimigo declarado? E que me adorassem, porque esta é a senda reta?” (S 36 – V 60 a 61).

Depois da designação, os profetas conclamaram os seres humanos a destruírem a inovação e a distorção que haviam efetuado no pacto com Deus, e que estabelecessem contato com Ele, baseando-se em seu pacto (“(…) que preenchessem os requisitos de sua criação”). Isto é a própria retirada das deficiências da época da ignorância, a era “em que a posição de Deus permanece desconhecida”. A época em que os profetas vieram para recordar as bênçãos divinas.

Conclamar as pessoas para que cumpram o seu pacto natural com Deus não é uma matéria complementar. Tem um feral e, ao mesmo tempo, absoluto conceito envolvendo a propagação por meio de meras palavras, proporcionando aos endereçados um argumento final e ensinando a purificação das pessoas através de um comportamento disciplinado. No Alcorão Sagrado temos:

“Convoca os humanos à senda de teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação, e dialoga com eles de maneira benevolente (da melhor maneira)…” (S 16 – V 125).

Neste versículo, Deus ordena ao Profeta (S.A.A.S.) para que explique às mentes simples do povo, e também aos adversários, o conhecimento nos estágios primários e que seja em seguida uma firme fundação para o raciocínio realizado, guiando-os pela pregação. Isto resulta na purificação da mente e da alma e, como um estágio final, impede-os de estabelecerem um raciocínio equivocado, dialogando com eles e convencendo-os.

Com respeito a seu relacionamento com os seres humanos, os profetas estavam obrigados e tinham como responsabilidade remover os obstáculos mentais. Assim, aqueles indivíduos ou regimes que criavam tais obstáculos se opunham e lutavam contra os profetas. Conseqüentemente, a convocação dos Profetas para que as pessoas cumprissem seu pacto natural ia da sabedoria e do raciocínio para o Jihad Islâmico (o esforço espiritual e religioso na senda de Deus) para que se removam os obstáculos.

O pacto natural e a natureza primordial do gênero humano (a adoração unicamente a Deus) estão em conformidade com a estrutura natural de todo o universo. Portanto, todos os decretos e regulamentos da Lei Divina, que são incumbências aos seres humanos, se conformam a natureza humana. Isto é evidenciado em vários versículos do Alcorão Sagrado:

“Volta o teu rosto para a religião monoteísta. É obra de Deus, sob cuja qualidade inata Deus criou a humanidade. A criação de Deus é imutável (…)” (S 30 – V 30).

Na Surata Ar-Rahman (O Clemente) alguns dos versículos falam da estrutura e dos atributos da humanidade e do tempo da criação tais como: “O Clemente, ensinou o Alcorão, criou o homem (…)”, outros se referem aos fenômenos naturais:

“O sol e a lua giram (em suas órbitas). E as estrelas e as árvores prostram-se em adoração. Elevou o firmamento e estabeleceu a balança da justiça.” (S 55 – V 5 a 7).

Há de se perceber aqui que por “prostrar-se em adoração” o Alcorão Sagrado quer dizer que os fenômenos naturais se encontram num estado de submissão a Deus, e se movem de acordo com regras e leis específicas. Deve-se também observar que a balança nada tem a ver com o Sol, a Lua ou as plantas, mas exclusivamente com as boas ou más ações da humanidade para que sejam reconhecidas e pesadas.

Então, o Alcorão Sagrado continua: “Para que não defraudeis no peso, pesai, pois, escrupulosamente, e não diminuais a balança”. Isto significa que os seres humanos não devem violar as leis da criação e as leis religiosas que estão em um estado de equilíbrio e conformidade. Por conseguinte os seres humanos são obrigados a manter esta conexão prática com a natureza (as leis naturais). Assim, quando eles ou a comunidade se movem contra a Lei Divina e os seus regulamentos, estão realmente se movendo contra a natureza primordial da humanidade e do mundo. E os profetas vêm para levar este “pacto natural” (pacto com Deus que se origina do coração do gênero humano e garante um tipo de harmonia entre suas ações e movimentos e a estrutura do Universo) para o estágio da ação.

Um outro dever dos profetas, de acordo com o Comandante dos Fiéis (A.S.) é o de recordar as pessoas sobre as bênçãos esquecidas de Deus. Os seres humanos esquecem muitos das dádivas e bênçãos de Deus, a mais importante das quais, a própria existência, que é o eixo de todas as bênçãos de Deus. Nós lemos no Alcorão Sagrado:

“E não sejais como aqueles que se esqueceram de Deus e, por isso mesmo, Ele os fez se esquecerem si mesmos (…)”. (S 59 – V 19)

O próprio ser (a maior não obstante esquecida benção), a despeito de não ser mais do que uma coisa tem vários efeitos e manifestações. Portanto, o esquecimento se refere às ferramentas e meios pelos quais se pode atingir conhecimento e recursos de reconhecimento do intelecto, os meios de tomada de decisão, os meios de inovação e de aceitação de responsabilidade, que na falta de algum deles, prejudica-nos como seres humanos. Por meio do intelecto e do poder de análise, uma pessoa adquire conhecimento e entendimento, encontrando os modos (de ação). E por intermédio de seu livre arbítrio tem a capacidade de escolher.

Então, quando alguém distingue o caminho certo do errado e o escolhe, pode aperfeiçoar a si mesmo através da inovação e da resolução dos impasses. De fato, a falta de inovação e da iniciativa impede uma pessoa de seguir o caminho do aperfeiçoamento e de progredir nos campos da cultura, da civilização, do conhecimento ativo e da moralidade. Finalmente, quando uma pessoa conscientemente escolhe o caminho, se torna responsável. Esta pessoa se depara com casos em que deve agir e também com casos em que deve se recusar a agir. Se não compreende bem o caso e se lhe falta liberdade para escolher, não terá nenhuma responsabilidade. Porém, se compreende bem e tem liberdade de escolha, então será responsável.

De modo geral, numa sociedade ignorante, os seres humanos esquecem uma ou todas estas quatro características, e os profetas vêm para recordá-los daquilo que tenham esquecido. Por isso as pessoas destituídas e incultas que são recordadas pelos profetas quanto a si mesmas, como resultado de sua crença em Deus, podem se levantar contra os mais estáveis sistemas políticos e triunfar.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) enumera os deveres dos profetas dizendo “para exortá-los pela pregação (…)”. O profeta é responsável por propagar sua Mensagem, de outro modo, a revelação permanece em seu monopólio, assim, duas dimensões da profecia não são realizadas. O Alcorão Sagrado afirma isso:

“E recorda-te de quando Deus obteve a promessa dos povos do Livro, de propagá-lo e evidenciá-lo a humanidade, e de não ocultá-lo (…)”. (S 3 – V 187)

Se o Profeta não cumprir sua responsabilidade, os problemas relativos a profecia permanecerão sem solução. Isto também é verdadeiro com a comunidade Islâmica, onde a propaganda cumpre um grande papel. De fato, não é Islâmico se uma comunidade falha na propagação da Mensagem de Deus.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua, “para desvelar diante deles as virtudes ocultas da sabedoria”, dando a entender que os profetas deveriam convocar as pessoas ao raciocínio, a contemplação e a sabedoria, que todos os seres humanos possuem inerentes a sua natureza. O poder do raciocínio e da contemplação pode ser fraco numa comunidade ou numa nação ou entre uma geração não necessariamente em razão de condições geográficas, deficiências raciais ou estupidez, mas devido ao fato que as classes poderosas, as quais anseiam o domínio, afastam as pessoas do raciocínio correto e impedem o desenvolvimento mental por diferentes meios (tais como os sistemas errados de educação que predominam atualmente em países subdesenvolvidos, que fazem com que as mentes se acostumem a várias fórmulas e permaneçam estagnadas devido a falta de práticas necessárias).

Como foi mencionado antes, o poder do intelecto é uma propriedade comum a todos os seres humanos.

Mas algumas vezes isso se encontra oculto (pelos costumes e tradições ou por sistemas vigentes) e como um tesouro do qual nenhum benefício é extraído, um tesouro escondido atrás da cortina dos caprichos e hábitos, das quimeras, das lendas, das matérias distorcidas e das idéias absurdas sob o nome de religião, ciência e filosofia. De fato, os possuidores do poder, das riquezas e do engano (reis, sacerdotes, pseudo-teólogos e aristocratas) privam os seres humanos do poder do intelecto ou não proporcionam os meios para o desenvolvimento do pensamento (este é o verdadeiro programa colonial imposto aos países dominados).

Neste contexto é que os Profetas surgem e desvelam os tesouros do pensamento e da sabedoria, conclamando o povo a contemplação. Isto é observado nos seguintes versículos do Alcorão Sagrado que convocam as pessoas a refletir sobre os mais comuns fenômenos do mundo e para que vejam neles a maravilha que está costumeiramente oculta aos olhos dos seres humanos.

“Acaso não reparam nos camelos, como são criados?” (S 88 – V 17).

“Que o homem repare, pois, em seu alimento” (S 80 – V 24).

“Em verdade, derramamos a água em abundância, depois, abrimos a terra em fendas (…)” (S 80 – V 25 e 26).

Estes eventos e fenômenos aos quais o Alcorão Sagrado se refere são absolutamente comuns e familiares aos seres humanos, embora quando eles os contemplam, suas mentes gradualmente se desenvolvem e se tornam ativas. Este desenvolvimento mental foi claramente percebido na comunidade Islâmica durante os primórdios do Islam quando os muçulmanos se levantaram em um curto período de tempo das profundezas da ignorância e da estreiteza de visão para grandes alturas intelectuais e logo chegaram a serem conhecidos como os fundadores das ciências experimentais e das grandes universidades.

Uma outra tarefa que os profetas cumpriram e a qual o Comandante dos Fiéis (A.S.) se refere é “e mostrar a eles os sinais de Sua Onipotência” dando a entender que eles demonstraram às pessoas as manifestações do Poder divino. Isto é o que ele próprio faz em seu sermão número 1 do Nahjul Balaghah, ou seja, se refere a alguns exemplos dos sinais divinos para persuadir o povo a refletir sobre os mesmos.

Ele continua: “os céus que são elevados sobre eles, a Terra, colocada sob eles, os meios de vida que os mantêm, as mortes que os fazem perecer, as aflições que os fazem envelhecer e os incidentes de que sucessivamente são acometidos.” O que é este teto (celeste) sobre nossas cabeças? Uma amálgama de ar, espaço, estrelas e assim por diante, ao qual nos acostumamos, não obstante algo que nos provoca a pensar o que realmente seja e, como resultado, nos proporciona entendimento e reconhecimento. Newton adquiriu o verdadeiro reconhecimento concernente a uma grande realidade por prestar atenção ao natural e muito comum incidente com o qual ninguém antes dele tinha se preocupado. Ele simplesmente questionou a razão pela qual os objetos caíam verticalmente ao invés de subirem quando eram soltos no ar, e em seguida descobriu a poderosa força da gravidade. De fato, todo progresso científico e os desenvolvimentos no campo da astronomia se originaram da mesma atenção para qual os Profetas conclamaram as pessoas.

O que é este leito (a terra) abaixo de nossos pés? De que foi criada? O que está abaixo dela? Aonde chegaremos, se escavarmos a terra? Estas são as questões das quais ciências como a geologia, a mineração, etc., se originam.

O que é o alimento que mantêm a vida? Como é preparado? O que é necessário e por que temos que nos esforçar para obtê-lo? O que é viver com todos os seus aspectos tais como falar, caminhar, comer, etc., e o que é a morte e tornar-se inerte? O que provoca o envelhecimento? Por que alguém é feliz e contente num estágio da vida, e exausto, fraco e incapaz em outro? As respostas para essas questões e o cuidadoso estudo de tais eventos e fenômenos (vida, morte, juventude e velhice, etc) induz os seres humanos a empregar suas mentes e a ativá-las. Por isso é que os profetas têm que demonstrar os sinais do Poder de Deus às pessoas.

Lição 6
A Continuidade da Profecia

Continuidade é um dos pontos principais na discussão da profecia. No primeiro sermão do Nahjul Balaghah, o Comandante dos Fiéis (A.S.) tenciona descrever a diretriz profética como uma consistente e contínua linha no curso da história estendida até o tempo do Profeta do Islam (S.A.A.S.). De fato, jamais no decorrer da história houve um tempo ou lugar desprovido de um profeta ou dos sinais de um profeta do passado, isto é, ou um profeta viveu em meio a um povo, designado por Deus para que lhes anunciasse boas novas ou para fazê-los temer (a ira de Deus), ou algo foi deixado por algum profeta, que o povo obedecesse como se fosse o próprio profeta.

Assim, crer no fato que a terra jamais foi deixada sem uma prova (de Deus) não significa necessariamente que em uma dada nação ou comunidade, um profeta sempre tenha vivido e que imediatamente tenha sido substituído por um outro quando de sua morte. Mas sim, que, depois da morte de um profeta e antes do advento do próximo houve algo (um livro ou um fiel discípulo) que o povo seguia e obedecia como o sucessor do profeta.

Na península arábica, por exemplo, passou-se um longo tempo antes que o Profeta do Islam (S.A.A.S.) surgisse. Houve uma longa transição entre o desaparecimento de Jesus (A.S.) e o advento de Mohammad (S.A.A.S.). No sermão número 89 do Nahjul Balaghah, o Comandante dos Fiéis (A.S.) destaca esse assunto dizendo: “Deus enviou o Profeta (S.A.A.S.) quando a missão dos outros profetas havia terminado e os povos se encontravam adormecidos.”

Agora prosseguiremos nossa discussão sobre a continuidade da profecia considerando as palavras do Nahjul Balaghah. No Sermão número 1, o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz: “Deus jamais permitiu que a sua criação ficasse sem um profeta por Ele instituído, ou sem um livro procedente Dele, ou um argumento unificador, ou uma afirmação permanente”.

A diferença entre Nabí (Profeta) e Rasul (Mensageiro) é que um Nabí apenas recebe a Mensagem de Deus, enquanto que um Rasul, além de receber a Mensagem, tem a missão de propagá-la e comunicá-la ao povo. Isto não é, totalmente aceitável porque o objetivo de receber uma Mensagem não é senão a propagação e a comunicação da mesma a outrem. Entretanto, podemos supor que um Nabí recebe a Mensagem, porém não é o tempo para comunicá-la, como o Profeta do Islam (S.A.A.S.) recebeu a Mensagem (Revelação) na Noite do Poder, “Em verdade fizemos descer a Mensagem na Noite do Poder”, contudo, demorou 23 anos até que ele pudesse cumprir o dever de comunicá-la ao povo.

Na Surata Ta Há (Surata 20), versículo 114, O Alcorão Sagrado se dirige ao Profeta (S.A.A.S.), dizendo:

“Não te apresses com o Alcorão antes que sua revelação seja concluída…”

Por conseguinte, o Nabí Mursal (profeta representante), como o Comandante dos Fiéis (A.S.) menciona, se refere a um profeta que realmente leva sua mensagem ao povo.

Qual é o significado de Kitabun Munzal (um livro descido)? Esta descida se refere a um lugar? O fato é que “descer um livro” realmente significa transformar um livro em letras e palavras que a humanidade compreenda, ou seja, adaptar os conceitos e as realidades celestiais ao nível da compreensão e do intelecto humano.

De fato, Deus, Exaltado Seja, inspirou o Profeta (S.A.A.S.) com verdades e ensinamentos sublimes e complexos na forma das mais simples palavras e expressões que pudessem ser compreendidas por todos. O que mais tarde veio a ser denominado Alcorão. Exatamente como um mestre simplifica matérias difíceis e as ensina a seus alunos. Esta comparação pode, contudo, ser errônea, pois em qualquer caso há uma conexão lógica e comum entre a mente e o coração de um professor e de seus alunos, enquanto que existe um grande abismo entre o coração humano comum e os ensinamentos divinos. O Comandante dos Fiéis (A.S.) afirma que na ausência de profetas e de livros sagrados, havia, ou um argumento unificador (uma inextinguível prova pela qual as pessoas pudessem convencer os opositores) ou uma afirmação permanente na qual o povo pudesse confiar.

Em geral, toda nação no curso da história teve uma orientação das que seguem:

Primeiro, um profeta (como Moisés (A.S.), Jesus (A.S.), Abraão (A.S.) etc). De acordo com uma tradição houve 124.000 profetas, o primeiro deles foi Adão (A.S.) e o último Mohammad (S.A.A.S.).

Segundo, um Livro Sagrado, deixado por um Profeta. No mesmo Sermão o Comandante dos Fiéis (A.S.) se refere ao Último Profeta (S.A.A.S.), dizendo: “O Profeta deixou entre vós o mesmo (um livro) que os outros profetas deixaram a seus povos (…)”. Por “Livro” ele quer dizer uma coleção de ensinamentos e mandamentos escritos, os quais todos os Profetas possuíram. Alguns desses livros foram, porém, revelados aos próprios profetas (esses foram muito poucos), mas outros foram legados por profetas anteriores, ou distorcidos ou mal compreendidos, os quais os profetas sucessores se empenharam em corrigir e interpretar corretamente.

Como exemplo, depois de Moisés (A.S.), a Torá foi mal interpretada por alguns, e até mesmo confundida com idéias politeístas, e assim profetas como Salomão (A.S.), Davi (A.S.), etc, que sucederam Moisés (A.S.), tentaram comunicar ao povo os verdadeiros significados e conceitos desse Livro.

Isto também é verdadeiro em relação ao Alcorão Sagrado. Isto é, há uma considerável diferença entre a nossa compreensão dos ensinamentos alcorânicos e o das gerações passadas (levando em conta o fato de que os conceitos e realidades do texto do Alcorão Sagrado permaneceram inalterados). No passado, estes ensinamentos foram bastante incompreendidos em virtude de questões distorcidas e modos errôneos de pensar que dominavam a mente das pessoas e as afastavam da correta compreensão do Alcorão Sagrado. Mas hoje, o Alcorão Sagrado é compreendido corretamente e a tendência é que no futuro algumas realidades alcorânicas sejam desveladas, as quais agora não percebemos (de acordo com algumas tradições, quando finalmente o Imam Mahdi (A.S.) reaparecer, ele apresentará uma nova religião, o Islam verdadeiro).

Na atualidade, alguns juristas Sunitas e não-Sunitas têm anunciado que a religião que o povo segue no Irã não é o Islam. Eles falam a verdade porque nosso Islam não é o “Islam” no qual eles acreditam (um “Islam” distorcido que contém idolatria, valores politeístas e anti-Islâmicos). Nosso Islam é diferente do “Islam” cuja mesquita é inaugurada pelo Presidente americano e cujo Alcorão é impresso pelo Shah do Irã. Há uma grande distância entre estas duas formas de Islam.

Os livros dos profetas foram, contudo, suficientes enquanto permaneceram inalterados, seus conceitos corretamente expostos e corretamente interpretados. No caso de Moisés (A.S.), por exemplo, seu Livro permaneceu perfeito e sem distorções depois de sua morte, durante o tempo em que os filhos de Israel se encontravam num estado de confusão e buscavam alcançar Jerusalém, e garantiu a vitória dos Israelitas como também o estabelecimento da Comunidade de Moisés (A.S.). Esta comunidade, que foi poderosa e possuiu um governo, veio a surgir após a morte de Moisés (A.S.). De fato, Moisés (A.S.) preparou a revolução e incitou o povo, mas não viveu tempo suficiente para assistir o estabelecimento de sua comunidade ideal e foi o povo que realizou esta tarefa. A Torá foi realmente preservada e mantida afastada de distorção pelos sucessores de Moisés (A.S.) (Yusha ibn Nun e Kalib ibn Yuhanna) que conseguiram seguir o dinamismo monoteísta, Islâmico e celestial, ou seja, a Torá genuína.

Terceiro, uma prova permanente e inegável. Isto pode ser visto no período depois da ascensão de Jesus (A.S.) aos céus (ele não foi morto), durante aquele tempo os cristãos foram submetidos à múltipla opressão, por parte do Império Romano, cujas fundações eram baseadas no politeísmo, que perseguiam severamente os seguidores desta religião monoteísta em ascensão, e a opressão por parte dos não-cristãos israelitas que não acreditaram na Mensagem de Jesus (A.S.). Como resultado, os israelitas cristãos ortodoxos viveram por muitos anos escondidos e num estado de imobilidade sem a oportunidade de reunirem-se ou comunicar o legado profético para outros livremente. Os famosos discípulos de Jesus (A.S.) tinham suportado uma grande quantidade de sofrimento ao viajarem entre as cidades e países a fim de propagar a Mensagem de Jesus (A.S.). Em suma, a situação predominante de opressão afastou fez com que o verdadeiro evangelho de Jesus (A.S.) se tornasse diferentes versões, os quatro evangelhos atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, nenhuma delas contendo as palavras, os dizeres e os sinais exatos de Jesus (A.S.). Assim, o livro original (O Evangelho) não se encontrava entre o povo, porém a existência dos mandamentos da Torá, que Jesus (A.S.) tinha anunciado como válidos e praticáveis, embora modificados, a existência das mencionadas calamidades e a existência das diretrizes de Jesus (A.S.) eram provas inegáveis impedindo as pessoas de refutarem a profecia de Jesus (A.S.) e impelindo-as a comunicar os ensinamentos cristãos para as gerações seguintes que podiam, por sua vez, agir com base em tais ensinamentos.

Quarto, uma afirmação permanente, ou seja, os meios e os decretos que não se encontram num Livro, mas que as pessoas possuem. Está relatado numa tradição de Imam Hassan Al-Askari (A.S.), na qual ele explicou as qualidades e atributos dos jurisprudentes Islâmicos. Alguém perguntou ao Imam (A.S.) porque os homens sábios dos Cristãos e dos Judeus (sacerdotes e rabinos) são reprovados no Alcorão Sagrado enquanto os sábios do Islam são elogiados. Qual a diferença entre eles? O Imam (A.S.) deu uma resposta detalhada, a epítome da qual, é que os sábios do Islam também não são, incondicionalmente, elogiados. Eles são elogiados contanto que possuam os atributos que o Islam determinou. Mas, se ao contrário, seguem as mesmas perversões e vergonhas a que os sacerdotes e rabinos aderiram, eles também serão dignos de censura.

Os Sacerdotes e Rabinos eram realmente dependentes dos poderosos e os apoiavam. Ainda que as realidades tivessem sido contrariamente manifestas aos olhos do povo eles não agiam no sentido de fornecer às pessoas um retrato verdadeiro de sua religião. Mas o povo podia discernir, com base em uma série de princípios naturais (primordiais), a perversão do caminho para o qual tinham sido levados. Basicamente, em qualquer época há um conjunto de princípios naturais aceitos entre o povo, resultante das contínuas instruções dos profetas no decorrer dos séculos, que capacita as pessoas a distinguir a verdade da falsidade (por exemplo, quando um sábio religioso ou um homem de Deus se compromete com um inimigo de Deus, isso pode ser dito sem o raciocínio de que ele esteja errado. É absolutamente claro e natural que ele esteja num caminho errado, pois ninguém pode obedecer a Deus e a seus inimigos simultaneamente). As pessoas podem, efetivamente, distinguir o caminho certo do errado pela referência de seus corações e de acordo com suas crenças intrínsecas que constituem o próprio “argumento unificador” ou a “afirmação permanente.”

Estes quatro elementos citados sempre estiveram presentes na vida do homem antes do advento do Profeta do Islam (S.A.A.S.). Algumas vezes aconteceu, porém, que dois profetas viviam na mesma época em diferentes recantos do mundo, ou dois livros Revelados eram seguidos por duas diferentes nações. Mas o ponto importante era que a Orientação Divina surgiu em todos os lugares e em todas as épocas (mesmo entre os povos primitivos). Além disso, mais importante do que o número daqueles que os negaram é que isso jamais fez que os Profetas negligenciassem o cumprimento de suas obrigações.

No sermão número 1 do Nahjul Balaghah o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz: “Esses Mensageiros eram de uma tal fibra, que não se sentiam diminuídos por causa da pequenez do seu número, ou da enormidade dos seus negadores.”

De fato, nenhum dos profetas caiu vítima do desânimo, ao contrário, todos eles tiveram sucesso em atingir seus objetivos embora o número deles fosse pequeno (124.000 em proporção a população do mundo do começo até agora) e o número de seus negadores fosse imenso. Os negadores foram aqueles que propagaram falsamente a opinião de que o caminho e a mensagem dos profetas e a profecia estavam erradas. Eles foram em grande número, e em alguns casos assassinaram alguns profetas, embora os profetas jamais tenham desistido de perseguir sua meta principal, ou seja, uma comunidade próspera, e nunca se desesperaram em realizar sua missão.

Eles não apenas lutaram pela elevação espiritual do povo de sua própria época, mas também se empenharam em atingir a prosperidade total e a evolução histórica dos seres humanos como um todo. E eles foram bem-sucedidos a este respeito. Mesmo os profetas que foram assassinados tiveram a oportunidade de antemão levar sua Mensagem e apresentar as diretrizes celestiais do pensamento que embora tivessem sido mantidas ocultas por algum tempo, foram finalmente desveladas e praticadas outra vez.

Mudarres, como um seguidor dos Profetas, tinha sua Mensagem para comunicar ao tempo da opressão do regime do Shah Reza. Ele acreditava na política do “Equilíbrio Negativo” ou em suas próprias palavras, “adami”, querendo dizer que não devíamos prestar tributo nem ao ocidente, nem ao oriente. Ele dizia, “A religião não deve estar separada da política”. Através da comunicação de semelhante mensagem política e social, ele foi preso, exilado e finalmente envenenado e sufocado com seu próprio turbante (seu túmulo é agora nas proximidades de Kashmar). Ele morreu e foi enterrado numa remota região desértica, mas gradualmente uma de suas crenças, o “Equilíbrio Negativo” (antes do anúncio dessa política por Mudarres, os governos britânico e Russo eram igualmente privilegiados no Irã. Por exemplo, em 1919, Vuthuq ad-Dulih concedeu a parte ocidental do Irã a Inglaterra sob um tratado. Os Russos fizeram objeção a isso, e ele concedeu o norte para eles), foi revivida dezoito ou vinte anos mais tarde, no tempo do Dr. Mussadiq.

Mudarres, Sayyed Jamal (de Asadabad), e outros, todos tendo sido mensageiros da verdade e da justiça e compassivos mestres de sua própria época, foram tão devotados e corajosos que expressaram seus pontos de vista e abandonaram suas próprias linhas de pensamento. Mas poderia ser muito melhor se eles mesmos pudessem ter a oportunidade de materializar suas mensagens de uma maneira mais apropriada e testemunhar a queda do “Faraó” e a liberdade do povo depois de terem estado expostos a tantos problemas e sofrimentos. Porém, seus nomes, ações e mensagens estão registrados na história a despeito de suas mortes prematuras. Eles não negligenciaram seus objetivos e deveres e a história tampouco os esquecerá.

Perguntas e Respostas

Pergunta: Jesus (A.S.) surgirá após o reaparecimento do Imam Mahdi (A.S.)?

Resposta: Sim, a tradição atesta isso.

Pergunta: Sabemos que a Torá e a Bíblia sofreram adulterações. Por que o Alcorão foi a exceção?

Resposta: Provou-se com argumentos sólidos que nem mesmo uma “,” (vírgula) foi omitida ou adicionada ao Alcorão. Durante o tempo do Terceiro Califa (Othman) alguém recitou um versículo omitindo intencionalmente uma “,” antes de “Alladhina”, o que mudava o significado do versículo enormemente, dando a entender que apenas os rabinos e monges que entesouram ouro e prata são condenados, enquanto que o versículo se refere a dois grupos de pessoas, rabinos e monges que fraudam os bens dos demais no extravio da verdade e as pessoas (que podem ser rabinos, monges ou não) que amontoam ouro e prata. O versículo diz:

“Ó fiéis, em verdade, muitos rabinos e monges fraudam os bens dos demais e os desencaminham da senda de Deus. Quanto àqueles que entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Deus, anuncia-lhes um doloroso castigo.” (S 9 – V 34)

Com isso, Abdullah Ibn Mas’ud, que estava presente, pôs sua espada sobre o ombro dessa pessoa e disse irado: “Se você não recitar o versículo com a “,” que omitiu, eu o separarei do Islam.” Eles possuíam esta sensibilidade. Eles mesmos tinham ouvido o Profeta (S.A.A.S.) recitar os versículos do Alcorão Sagrado e os tinham memorizado e registrado em seus escritos e, assim, preservavam-no a custa de suas vidas. Deste modo, o Alcorão Sagrado, que desceu ao Profeta (S.A.A.S.) foi preservado em sua forma original pelos memorizadores e recitadores que permanentemente o repetiam e o mantiveram protegido das adições e omissões.

Pergunta: Qual é a diferença entre “bayyeneh” e “hujjat”?

Resposta: Bayyeneh é uma prova clara e manifesta que simplesmente convence uma pessoa enquanto hujjat é uma prova ou argumento pelo qual uma pessoa discute com seus adversários.

Lição 7
O Término da Profecia.

“Entre eles havia um predecessor que nomeava a quem deveriam seguir, ou um seguidor que havia sido apresentado pelo predecessor”. (Sermão número 1 – Nahjul Balaghah).

Na lição anterior, mencionamos que os seres humanos jamais foram privados de profetas ou livros Revelados. Na afirmação acima, o Comandante dos Fiéis (A.S.) ressalta que todos os Profetas tiveram a mesma direção, embora seus seguidores discordem entre si nos dias de hoje (Judeus contra Cristãos, Cristãos contra Muçulmanos…). Ele na verdade quer dizer que não tinha existido nenhuma discordância ou conflito entre os Profetas, todos eles trilharam a mesma senda, levando a mesma Mensagem e conhecendo um ao outro muito bem. Cada um deles anunciou o Profeta que o sucederia e falava de forma respeitosa sobre aquele que o havia precedido. Por exemplo, Moisés (A.S.) informou seus seguidores que Jesus (A.S.) seria seu sucessor e Jesus (A.S.) mencionou, por sua vez, o nome de Moisés (A.S.). Assim, os conflitos e as guerras surgidas entre os seguidores são completamente ilógicos, originam-se do egocentrismo e da arrogância.

Vemos, portanto, que esta situação (a sucessiva vinda dos profetas, os livros celestiais e dos seguidores dos profetas, como os Imames) continuou ao longo da história e da evolução da humanidade até que Deus designou Mohammad (S.A.A.S.). A este respeito, o Comandante dos Fiéis (A.S.) prossegue com essas palavras:

“Dessa maneira, passaram-se eras, e o tempo passou, pais se foram, e os filhos lhes tomaram o lugar até que Deus designou Mohammad (S.A.A.S.) como seu Profeta, em cumprimento a sua promessa e na complementação de sua Profecia”.

O que Deus prometeu que deveria ser definitivamente cumprido? A resposta pode ser encontrada no Alcorão Sagrado onde se anuncia boas novas, nas palavras de Jesus (A.S.), quanto ao advento de Mohammad (S.A.A.S.), dizendo:

“E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó filhos de Israel, em verdade sou o Mensageiro de Deus enviado a vós, corroborante da Torá antes de mim e anunciador de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad (…)”. “(…) e Ele quem enviou o seu Mensageiro, com a orientação e a Religião da Verdade, para que prevaleça sobre todas as religiões (…)”. (S 61 – V 6 ao 9)

Portanto, a promessa de Deus é a vitória da religião de Mohammad (S.A.A.S.) (e profecia) sobre todos os rumos intelectuais e experiências sociais da humanidade. Isto não significa, porém, que durante a vida do Profeta (S.A.A.S.) este objetivo deveria ser alcançado (como isso não foi alcançado na prática, devido o falecimento do profeta (S.A.A.S.)), nem significa que o Profeta do Islam (S.A.A.S.) enfim superaria todas as religiões, nações e escolas de pensamento (embora isto tenha sido realizado muitas vezes na história e o Governo Islâmico aproximou-se de uma extensão mundial).

A proclamação da verdade possui um significado mais sutil. De fato, o pensamento e a mentalidade dos seres humanos e sua criatividade, iniciativa e capacidade de inovação cada vez mais lhes proporciona novos caminhos. Ideologias surgem, crescem e se difundem deste modo, e pensadores e filósofos (como Platão, Sócrates, etc) idealizam seus planos para a vida social da humanidade ou as bases desses novos caminhos.

Então, a via (ou escola) dos Profetas triunfará sobre todos os sistemas de pensamento adotados pelos seres humanos no tempo em que o programa completo da profecia for comunicado as pessoas. A senda de Moisés (A.S.) foi certamente a senda Divina, porém ninguém afirma que era a mais perfeita via já revelada a humanidade. Era inteiramente apropriada para o tempo de Moisés (A.S.), mas carecia da abrangência que a capacitasse a englobar várias necessidades da vida humana em todas as épocas. É provável que escolas de pensamento produzidas pelo homem surgirão no curso dos séculos vindouros de maneira a serem mais aperfeiçoadas do que a via deixada por Moisés (A.S.).

Assim, a mensagem de Moisés (A.S.) não era uma mensagem para superar todas as outras escolas de pensamento e sistemas de crenças porque a linha profética não tinha ainda chegado ao fim e a taça da profecia ainda não havia transbordado. Moisés encheu-a com sua parte e Jesus (A.S.) com mais outra, porém eles não podiam dar continuidade porque os seres humanos não tinham ainda capacidade para absorver mais. As pessoas eram, efetivamente, fracas na sua capacidade de entendimento. De outro modo, Deus teria feito descer sobre elas a mensagem inteira da profecia através de seu primeiro profeta designado.

Mas, quando as pessoas já possuíam o preparo essencial, Deus designou seu Último Mensageiro para que lhes comunicasse tudo (o conhecimento e a consciência) que pudesse ser contido na mente humana e para completar a cultura da Profecia, cumprindo a divina promessa e superando todos os sistemas de crença e todas as escolas de pensamento criadas pelo homem.

A complementação da Profecia trata-se do fim da linha através da qual a humanidade se conecta diretamente com Deus, a revelação. Quando esta linha chega ao fim e com o surgimento do Último Profeta (S.A.A.S.) não há mais necessidade da revelação, da explanação do Arcanjo Gabriel (A.S.) e assim por diante, porque os próprios seres humanos estão a partir daí capacitados a compreender os novos caminhos da vida e extraí-los daquilo que foi oferecido a eles numa forma completa pelo último Mensageiro de Deus (Mohammad) (S.A.A.S.), que se encontra no fim da corrente profética.

Agora, uma vez mais, retornando ao Nahjul Balaghah, vemos que todos os Profetas precedentes, tais como Noé, Abraão, Moisés, Jesus (A.S.) tiveram um compromisso de acreditar no último, já que eles anunciaram sua vinda: o Último Profeta (S.A.A.S.) encontrava-se, pois no ápice da profecia e os outros profetas que se encontravam abaixo dele tinham que o esperar, e crer nele (acreditar em sua profecia e mensagem) e amá-lo.

O Comandante dos Fiéis diz: “Deus nomeou Mohammad (S.A.A.S.) como seu Profeta, em cumprimento de sua promessa e complementação de sua Profecia. Seu compromisso tinha sido obtido dos profetas. Caracterizava-o a sua boa reputação e a sua honorável ascendência”.

Há, entretanto, um significado mais sutil nessas afirmações: o compromisso dos profetas não foi nenhum documento escrito nem um acordo oral. Eles tiveram, ao invés disso, um compromisso natural e primordial de elevar o intelecto e a compreensão dos seres humanos e de prepará-los para o advento do último Mensageiro (S.A.A.S.). Este compromisso é similar ao compromisso dos mestres de grau inferior para com os mestres de grau superior, embora possam nem mesmo se conhecer. De fato, os primeiros são responsáveis pelo preparo da mente dos estudantes de maneira apropriada, para que os segundos possam fazer as matérias mais avançadas e os conceitos mais complexos serem facilmente compreendidos.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua abordando os traços de caráter do Profeta (S.A.A.S.), seus sinais físicos, familiares, espirituais e comportamentais e as características foram conhecidas por todos e assim um pequeno número de pessoas, tais como Salman Farsi (A.S.), pôde de maneira inédita, e sem ser introduzido a seus primeiros ensinamentos e programas, reconhecê-lo e chegar a uma crença perfeita em sua religião. Quanto ao nascimento do Profeta (S.A.A.S.), o Comandante dos Fiéis (A.S.) emprega o adjetivo “honorável” para indicar que não havia nenhuma deficiência considerando este aspecto, ou seja, os pais do Profeta (S.A.A.S.) foram ambos castos e piedosos, e seu nascimento foi também honorável com respeito às circunstâncias do tempo e lugar.

Perguntas e Respostas

Pergunta: As pessoas podem, com exceção dos profetas, estabelecer conexão com Deus através da revelação? Se for assim, podemos concluir que depois do término da Profecia, Deus inspira suas puras criaturas com alguns mistérios?

Resposta: A respostas a esta questão se encontram na diferença entre revelação e inspiração. Revelação é a descida de conceitos específicos junto com palavras especiais (de Deus) para um Profeta. O Alcorão Sagrado é, (tal como crêem os muçulmanos), uma revelação descida ao Profeta do Islam (S.A.A.S.) por intermédio de Gabriel (A.S.). Ele é completamente diferente daquilo que comumente os seres humanos recebem em seus corações ou compreendem numa maneira incomum. Estas são inspirações que as criaturas puras, fiéis e sinceras de Deus ocasionalmente recebem. Portanto, a revelação está muito além da inspiração e não há nenhuma importância no fato de que eventualmente alguma pessoa seja inspirada com alguns segredos no período após o término da Profecia.

Pergunta: Se todos os Profetas tiveram a mesma linha e direção por que seus seguidores, que têm que praticar seus mandamentos, não seguiram o mesmo caminho?

Resposta: A razão é que os seguidores dos profetas foram gradualmente ludibriados, isto é, com o passar do tempo, mãos maliciosas e ignorantes foram postas em ação, enganado os seguidores e distorcendo os ensinamentos dos profetas.

Pergunta: O que é, Wilayat-i-faqih (a tutela dos jurisprudentes religiosos)? Isto está entre os fundamentos da religião ou entre os princípios secundários da religião?

Resposta: “Wilayat” significa a tutela da comunidade e Faqih é um jurisprudente ou teólogo. Assim, Wilayat-i- Faqih é a tutela da comunidade Islâmica pelos teólogos ou jurisprudentes no período em que o Imaculado Imam (A.S.) esteja ausente. É um dos princípios secundários da religião, um sistema de governo, e aqueles que não acreditam nele e o negam, se tornam descrentes no Islam.

Pergunta: Quais são os pontos em comum nas religiões monoteístas e quais são suas diferenças?

Resposta: Os princípios doutrinários que elas apresentam são comuns a todas as tradições monoteístas (ou seja, mensagens celestiais, pois não temos mensagens celestiais não-monoteístas) e as diferenças entre elas se encontram talvez nos decretos e mandamentos especiais, cada um deles dado para uma era específica na qual esta tradição foi fundada.

Pergunta: O que é ijthad?

Resposta: Seu significado literal é “se esforçar ou se empenhar” mas em seu sentido técnico se refere a um esforço teológico em compreender as leis e regulamentos Islâmicos e extraí-los do Livro (O Alcorão Sagrado), das tradições, etc., por meio de experiência especial que se tenha adquirido num longo curso de preparo com os grandes sábios e autoridades religiosas Islâmicas. Uma pessoa que possua a habilidade de realizar este trabalho é chamada de Mujtahid.

Pergunta: Por que o Profeta do Islam surgiu entre os árabes e não entre os persas, por exemplo? É verdade que não tivesse ele surgido entre os árabes, a civilização árabe teria sido esquecida?

Resposta: Não há nenhuma razão definitiva com respeito a esta questão, porém talvez possa se argumentar que desde que os árabes eram os mais despreparados e desprovidos de instrução como também a mais beligerante nação daquela época, e já que eles poderiam mais facilmente ser influenciados pelos demais, possuíam circunstâncias apropriadas para a aceitação do chamado profético ao Islam. Sua carência de instrução e preparo não era, contudo, um obstáculo para sua aceitação ao chamado, mas de outra maneira, causaria mais problema e tribulação ao Profeta (S.A.A.S.) para atraí-los. Talvez se esta religião surgisse em outras nações, seria mais difícil convencê-los. Os árabes, embora presos a corrente das superstições, possuíam certos qualidades, tais como, bravura, devoção, tolerância (ao sofrimento) e liberdade (não estando ainda sujeitos ao governo das potências satânicas) que os fazia a mais merecedora nação para ser exposta a esta religião celestial do Islam. Quanto a civilização árabe, deve ser dito que os árabes, possuindo uma civilização, uma cultura e história própria, não teriam sido esquecidos caso o Profeta (S.A.A.S.) não tivesse surgido entre eles, do mesmo modo que os turcos, tajiks, espanhóis e outros que permaneceram até os nossos dias.

Lição 8
O Status dos Crentes antes, durante e depois do surgimento dos Profetas.

Em outro sermão do Nahjul Balaghah, conhecido como Al Khutbah Al Qasi’ah, o Comandante dos Fiéis (A.S.) declara e explica algumas questões que foram citadas previamente no sermão número 1, concernentes ao status das pessoas durante a época da ignorância, as condições do tempo do surgimento dos profetas e a situação das pessoas após a designação dos Mensageiros à Profecia. Ele descreve, com efeito, as condições e circunstâncias que tinham naturalmente lançado sombras sobre a vida das pessoas na época da ignorância como também o vitorioso status que as pessoas adquiriram após o surgimento dos profetas sob a luz de seus esforços, empenhos e lutas.

Um estudo de algumas das afirmações desse sermão que se acrescenta ao que aprendemos sobre as circunstâncias da Profecia, as responsabilidades dos profetas, etc., nas lições anteriores, nos trará uma segura conclusão para este livro. Em uma parte deste sermão lemos: “Meditai sobre a condição das pessoas dentre os crentes que passaram antes de vós. Quais sofrimento e provações que suportaram”.

Isto significa que devemos analisar profundamente as circunstâncias dos crentes que viveram antes de nós, não os tratando de maneira superficial porque não podemos aprender muito da aparência formal dos eventos passados. Apenas quando se descobre a causa desses eventos e os considera com profundidade se pode perceber que os crentes do passado se encontravam sob severa pressão e que estiveram sujeitos a sofrimentos como a fome, a tortura, a prisão e maiores angústias do que aquelas que sofremos hoje, ou seja, enfrentando problemas e acontecimentos políticos e reconhecendo o verdadeiro caráter de diferentes grupos e frentes e a posição que assumem.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua com as seguintes afirmações: “Acaso não foram eles os mais sobrecarregados, dentre todos os povos, nas mais extenuantes circunstâncias, em todo o mundo?”.

Os verdadeiros crentes sempre foram os mais sobrecarregados, os mais afligidos pela dor e as mais pobres criaturas de Deus antes do advento dos profetas e da realização das revoluções Islâmicas (todas as revoluções lideradas pelos Profetas foram Islâmicas no sentido de terem almejado primeiramente a submissão a Deus). Por quê?

Primeiro, porque os crentes têm que prover seu próprio sustento. De fato, os verdadeiros crentes, aqueles que alcançaram o espírito da crença em Deus, jamais se comprometeram com os opressores. Eles comumente se recusam a prestar serviço e a auxiliar os opressores, isso quando não podem lutar contra eles. Assim, sob governos tirânicos, os crentes estão constantemente face a face com as dificuldades e inconveniências até onde concernem seus assuntos econômicos. Isto pode ser encontrado nas tradições. De modo contrário, os descrentes se comprometem com os opressores muito facilmente, se engajam no serviço a estes e, portanto, desfrutam de uma vida confortável.

Segundo, além de prover seu próprio sustento, os crentes geralmente são obrigados a carregar nos ombros o peso das imposições dos opressores, concernentes a vida luxuosa desses. Como exemplo, todos nós sabemos que a queda do regime (Pahlavi) deparou com exorbitantes despesas que tiveram que ser pagas por aqueles que não haviam se comprometido com ele. Aqueles que se comprometeram com aquele regime não estavam sujeitos a tais fardos e imposições. Eles próprios também tiravam vantagens das situações predominantes.

Terceiro, os crentes têm que tolerar as imposições políticas dos poderes opressores contra os quais lutam. Tais poderes não os deixam expressar suas crenças ou ter liberdade de pensamento e opinião. Eles forçam os crentes a aceitar suas próprias idéias. Portanto, o amordaçamento predominante numa sociedade é uma grande carga sobre os ombros dos crentes que se recusam a aderir às idéias e opiniões impostas pelos poderes governantes opressores. Eles são, com efeito, as pessoas mais combativas, sempre enfrentando os opressores a fim de erradicar as calamidades e as corrupções.

É narrado (nas tradições) que o crente está sempre num estado de luta de um modo ou de outro. Sob governos ilícitos e corruptos, ele se envolve nas batalhas subterrâneas e organizadas em oculto e vive de uma maneira dissimulada e cheia de precaução, e sob governos legítimos e lícitos, ele se dedica aos envolvimentos políticos, ideológicos e militares ou enfrenta o inimigo para salvaguardar o caminho de Deus. Assim, o crente está sempre num estado de luta que é muito incômodo. Lutar não significa necessariamente ferir-se ou suportar sofrimento. Isso inclui, em adição a tudo isso, temores, derrotas, preocupações e ansiedades. O verdadeiro combatente é, portanto, aquele que não se rende a nada disso e que apenas luta pela causa de Deus e por seu dever, não por causa da vitória. Conseqüentemente, a luta é mais incômoda e difícil do que todas as provações da vida.

Por fim, o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz, que são as pessoas mais pobres e sobrecarregadas porque têm que viver num estado de amordaçamento, pobreza, opressão e silêncio prudente.

Ele continua a explicar o status dos crentes com as seguintes afirmações: “Os faraós os tornaram escravos. Infligiram-lhes as piores punições e os mais amargos sofrimentos. Permaneceram continuamente num estado de ruinosa desgraça e de severa subjugação. Não encontraram meio algum de escape ou de proteção”.

A primeira afirmação implica que os crentes foram forçados a obedecer aos Faraós (detentores do poder tirânico) entronizados como deuses, muito embora fossem servos de Deus por natureza. Algumas vezes, naturalmente, tais “deuses” ou objetos de adoração acreditam ser eles próprios “Deus” e, por conseguinte, (acreditam) que submissão a eles é submissão a Deus. Contudo, quando induzem o povo a adorá-los, a submissão a eles é, (na verdade) submissão a um não-Deus (um falso deus). Foi narrado que: “Aquele que dá ouvidos a um orador se torna seu servo. Se este fala de Deus aquele que ouve será um servo de Deus, se fala de Satã, aquele que ouve será um servo de Satã.”

E Satã é algumas vezes o próprio ego humano e a concupiscência para cuja obediência os faraós forçaram os crentes em Deus, que não conheciam modo algum de como defender sua dignidade humana e livrar-se de semelhante servidão. Tal era o status dos crentes em Deus e seguidores dos profetas, que lidavam com os poderes satânicos reinantes.

O Terceiro Ato do Status dos Crentes

O Status das pessoas, antes, durante e depois da designação dos Profetas pode ser comparado a uma peça em três atos, o primeiro o qual mostra tribulações e sofrimentos, o segundo fala da resistência e da perseverança e o terceiro descreve, vitória e liberdade. De fato, os crentes jamais conquistaram a vitória sem resistir às dificuldades e lutar por seus objetivos. O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua: “até que Deus notou que estavam sofrendo com resignação as agruras, por amor a Ele, e suportando os dissabores por temor a Ele, então lhes proporcionou uma saída do sofrimento das provações. De maneira que, Ele lhes transmutou a humilhação em honra, e o medo em segurança”.

Nestas afirmações, o Imam (A.S.) mostra que a direção dos esforços dos crentes é para Deus e eles toleram as tribulações e os problemas indesejáveis tais como a fome, a tortura, a prisão, as duras punições, etc., em sua Senda e por causa de Seu Amor, de modo que Deus, vendo sua paciência e perseverança, revelará a eles os meios de saída das calamidades e dos problemas, mantendo sua conveniência e tranqüilidade, transformando sua humilhação em honra e seu temor em segurança e por fim, sua derrota em triunfo.

Deve ser acrescentado aqui que a honra (não se submeter à humilhação) e a segurança (não temer nenhum inimigo) são as coisas mais importantes que concernem aos oprimidos. Sob o governo satânico (os poderes tirânicos) as pessoas não estão imunes com respeito a suas vidas, propriedades, sua moralidade, etc., ao passo que sob um governo de Deus e dos oprimidos tais preocupações e ansiedades não existem de modo algum.

O Comandante dos Fiéis (A.S.) continua sua discussão com estas afirmações: “Em conseqüência, eles se tornaram governantes e líderes conspícuos, e os favores de Deus para com eles atingiram limites que seus próprios desejos não haviam alcançado”, querendo dizer que toda comunidade de crentes, depois que Deus, concedeu a vitória a eles, tornou-se líderes (imames, guias e exemplos) e modelos a serem imitados por outros povos e nações oprimidos que seguiram seus métodos e caminhos e organizaram movimentos (de libertação). Isto é claramente observado no mundo atual no qual uma nação de crentes (os iranianos), depois de ter lutado por um longo tempo e alcançado o triunfo sobre o regime tirânico, tornou-se agora o líder de todo o mundo dos oprimidos, uma realização que nunca tinha sido imaginada pelos iranianos.

Eles pensaram, de fato, na vitória, mas nunca imaginaram tornarem-se líderes e modelos referenciais para todos os oprimidos do mundo como aqueles da Arábia Saudita, do Iraque, do Egito, dos países do golfo Pérsico, da África e das Américas, que têm sido grandemente influenciados e motivados pelas realizações dos iranianos. E este nada mais é do que senão um favor de Deus como o Comandante dos Fiéis (A.S.) diz.

Conclusão (Dois Pontos Gerais no Sermão)

Primeiro, neste Sermão (número 191) a ênfase é principalmente sobre os aspectos espirituais das calamidades do povo e suas adversidades. De fato, tais fatores como o amordaçamento, a falta de segurança, o fardo das imposições mentais e a carga de satisfazer os desejos satânicos dos governos ilegítimos, tudo o que faz a humanidade sofrer espiritualmente e incita uma pessoa a luta são mais enfatizados do que os infortúnios materiais (provações) como a fome pela qual o povo raramente se levanta. Para resumir, a honra e a dignidade dos seres humanos são as coisas mais caras para eles, que os estimula a lutar seriamente e se levantar em defesa. A fome e coisas semelhantes podem ser resolvidas de outras maneiras. Estes são os pontos enfatizados neste sermão.

Segundo, O Imam (A.S.) ressalta aqui que em uma comunidade de crentes, quando o governo arrogante é derrubado é o oprimido que assume o poder sobre um outro grupo de arrogantes. Como um exemplo, após a revolução de Moisés (A.S.) e a destruição do Faraó, foram os próprios crentes e as massas que se tornaram governantes e estabeleceram um governo verdadeiro. Também, durante a vida do Último Profeta (S.A.A.S.), como durante o governo dos primeiros Califas, as próprias pessoas foram mestres de seus assuntos e desempenharam papéis significantes na resolução das questões que surgiram. Elas amavam o Profeta (S.A.A.S.) e acataram o que ele tinha dito, mas não cegamente e sob as pressões propagandistas. Elas aceitaram livremente suas decisões e tomaram as decisões menores. Infelizmente, com o passar do tempo, a participação das pessoas e a sua contribuição nos assuntos de governo das comunidades Islâmicas gradualmente diminuiu e estas comunidades passaram a ser, como as comunidades dominadas pela ignorância, consistindo de duas classes de pessoas: os arrogantes e os destituídos. Enquanto que uma verdadeira comunidade Islâmica consiste de apenas uma classe: a dos crentes.

 

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