Estudo Dirigido do Alcorão Sagrado (parte 2)

Por Ahmad Ismail

Capítulo 1 – O Sallah (o Pilar da Oração)

“RECITA O QUE TE FOI REVELADO DO LIVRO E OBSERVA A ORAÇÃO, PORQUE A ORAÇÃO PRESERVA (O HUMANO) DA OBSCENIDADE E DO ILÍCITO…” (29/45)

“…OBSERVAI A ORAÇÃO, PORQUE É UMA OBRIGAÇÃO, PRESCRITA AOS FIÉIS PARA SER CUMPRIDA EM SEU DEVIDO TEMPO.” (4/103)

“PRATICAI A ORAÇÃO E TEMEI-O, POIS SEREIS CONGREGADOS ANTE ELE” (6/72)

O pilar da oração é portanto, apresentado pelo Livro de Deus como um culto estabelecido, um elo espiritual entre a criatura e o Criador. Este culto envolve uma relação completa, não um mero repetir de palavras e gestos. É antes um constante reavivar da chama da fé e que segundo o grau de consciência e sinceridade preserva o devoto da prática dos males que destróem a fé.

As cinco preces obrigatórias devem ser praticadas em seu tempo definido no decorrer do dia e da noite e os versículos sagrados ressaltam como componentes indispensáveis a recordação (dhikr) e o temor a Deus os quais conferem a correta sinceridade no ato de orar. Como culto estabelecido o Sallah possui um conjunto de regras a serem observadas pelo devoto que são imprescindíveis para sua aceitação por Deus. Nele, nenhum detalhe, gesto, palavra ou movimento é isento de sentido e a concentração reveste estas ações com o objetivo espiritual para o qual se propõem.

Esse objetivo só é alcançado na medida em que a oração seja oferecida com correção, temor e humildade, livre de distrações, ostentação e arrogância. Deus, o altíssimo, a estabeleceu como uma porta de misericórdia para as criaturas, posto que delas nada necessita, enquanto que nenhuma delas prescinde de suas bençãos nesse mundo e no outro e somente por Sua clemência e misericórdia poderão adentrar o paraíso e livrar-se do fogo no dia do juízo. Na oração portanto, a criatura se coloca na sua real condição diante de seu Senhor e desde que o faça com sinceridade e temor este momento se tornará o mais propício para (após o seu cumprimento) estender suas mãos e pedir o que necessita nos assuntos deste mundo e do outro, buscar o perdão e apresentar seu eventual arrependimento.

A razão da obrigatoriedade das cinco preces foi muito bem explanada pelo Mensageiro de Deus, numa fiel narrativa de Imam Al Hassan (A.S.) que disse: “Certo dia um grupo de judeus se apresentou diante do Profeta (S.A.A.S.). O mais sábio deles fez algumas perguntas, entre as quais se encontrava a seguinte: “Ó enviado de Deus, informa-nos por que Deus, Glorificado seja, dispôs obrigatórias para tua comunidade estas cinco orações, em cinco momentos da noite e do dia.” O Profeta (S.A.A.S.) respondeu: “Por certo que o sol no momento do meio do dia tem um halo no qual entra e quando entra nele se desvanece, e tudo o que se encontra fora do trono começa a glorificar a meu Senhor, sublime seja em sua magnificência, e esta é a hora em que meu Senhor, sublime seja em sua magnificência, me abençoou, pois estabeleceu a minha comunidade a oração quando disse: “OBSERVA A ORAÇÃO DESDE QUE O SOL COMEÇA A DECLINAR ATÉ A PRIMEIRA OBSCURIDADE DA NOITE” (17/78); e é a hora que se entrará no inferno no dia da ressurreição. Dessa forma, não há crente que nesta hora tenha se inclinado, prostrado ou se erguido em oração sem que Deus torne proibido para seu corpo as chamas do inferno. Quanto a oração da tarde, é a hora em que Adão (A.S.), o pai da humanidade, comeu do fruto proibido e foi expulso do paraíso, pelo que Deus ordenou a sua descendência a oração da tarde. Deus também dispôs esta oração para minha comunidade e se conta entre as orações mais apreciadas para ELE, e nos recomendou observar especialmente esta entre as orações diárias. Quanto à oração do crepúsculo, é a hora em que Deus aceitou o arrependimento de Adão (A.S.), o qual durou trezentos anos desde que comeu o fruto proibido até que se aceitou seu arrependimento. O profeta Adão (A.S.) realizou três movimentos de oração: um por sua própria falta, outro pela falta de Eva, e um terceiro pela aceitação de seu arrependimento. Por isso, Deus dispôs como obrigatórios estes três movimentos de oração para minha comunidade. O crepúsculo é o momento em que é preferível a súplica e meu Senhor me prometeu que a súplica dos crentes será respondida neste momento. Certamente que esta é a oração que Deus me ordena no Alcorão ao dizer: “GLORIFICADO SEJA DEUS NA ENTRADA DA NOITE E QUANDO AMANHECE” (30/17) E quanto à oração da noite , decerto que na tumba e no dia da ressurreição haverá escuridão, e é por isso que meu Senhor me ordenou e a minha comunidade realizar esta prece para iluminar a tumba e me outorgou e a minha comunidade uma luz para (atravessar) a ponte (até o paraíso). Não há passo que seja dado até a oração (no primeiro terço da noite) ou (da entrada da) noite, sem que Deus torne o corpo proibido para o fogo. Esta é uma oração que o Senhor altíssimo prescreveu para os mensageiros e profetas anteriores a mim. E quanto à oração da aurora, em verdade o sol quando desponta, é como se fosse os chifres de Satã a saírem, pelo que meu Senhor me ordenou que antes da saída do sol e antes que o idólatra se prostre ao sol, realize-se a oração da alvorada e que minha comunidade se prostre a Deus. Sua realização é mais amada por Deus. Esta é uma oração que é presenciada e testemunhada tanto pelos anjos da noite como pelos anjos do dia.”

“EM NOME DE DEUS CLEMENTE MISERICORDIOSO, LOUVADO SEJA DEUS SENHOR DO UNIVERSO, O CLEMENTE O MISERICORDIOSO, SOBERANO DO DIA DO JUÍZO. SÓ A TI ADORAMOS SÓ A TI RECORREMOS POR AUXÍLIO. GUIA-NOS A SENDA RETA, A SENDA DOS QUE AGRACIASTE, NÃO A DOS ABOMINADOS NEM A DOS EXTRAVIADOS.” (1/1-7)

A sura Al Fátiha, que compõe a recitação básica do Sallah contém a essência da Mensagem revelada. Nela encontra-se o reconhecimento da Unicidade Divina, de seu poder e bondade, da realidade espiritual do dia do juízo, a reafirmação da adoração e da confiança em Deus, a busca da orientação e da misericórdia divina. Segundo as tradições fiéis do mensageiro de Deus (S.A.A.S.) e dos Ahlul Bait (A.S.) nela está a síntese de tudo o que foi revelado aos profetas e mensageiros em todos os livros sagrados anteriores e no próprio Alcorão.

“Ó FIÉIS, QUANDO FORDES CONVOCADOS PARA A PRECE DE SEXTA-FEIRA RECORREI A RECORDAÇÃO DE DEUS E ABANDONAI VOSSOS NEGÓCIOS, ISSO SERÁ PREFERÍVEL, SE QUEREIS SABER” (62/9)

A oração congregacional de sexta-feira (obrigatória para os homens da comunidade e meritória para as mulheres) e todas as orações feitas em congregação demonstram o caráter comunitário da religião, desde que o Islam nos ensina que o aspecto individual da fé se completa na ação coletiva e política da busca do bem comum e não uma prática restrita e pessoal. A mensagem do Alcorão é toda ela ampliada para esta dimensão coletiva e comunitária que propõe a religiosidade como uma expressão abrangente dos valores e princípios ordenados por Deus, não algo fechado em si mesmo. Assim as preces congregacionais possuem esse caráter de buscar a concretização da solidariedade, da concórdia, do bem para todos e do fortalecimento dos laços que unem os muçulmanos.

Capítulo 2 – Zakat e Khums

“ESTES SÃO OS VERSÍCULOS DO LIVRO DA SABEDORIA, ORIENTAÇÃO E MISERICÓRDIA PARA OS BENFEITORES, QUE OBSERVAM A ORAÇÃO E CONCEDEM O ZAKAT E ESTÃO PERSUADIDOS DA OUTRA VIDA.” (31/2-4)

A palavra Zakat tem um sentido de “purificação”, no caso, purificação dos bens por meio da doação anual de uma pequena parte dos bens excedentes (o zakat é calculado do excedente, após consideradas as necessidades básicas de si e dos dependentes). O Zakat é obrigatório para o devoto que tenha condições de fazê-lo, e sua obrigatoriedade é frisada no Alcorão em dezenas de versículos sagrados nos quais é citado juntamente com o Sallah. A concessão do Zakat é apresentada no Alcorão como um meio de purificação e de busca do perdão, das bençãos e da misericórdia divina, como vemos a seguir:

“…MINHA CLEMÊNCIA ABRANGE TUDO E A CONCEDEREI AOS TEMENTES QUE CONCEDEM O ZAKAT E CRÊEM EM NOSSOS VERSÍCULOS.” (7/156)

“QUANDO EMPRESTARDES ALGO COM USURA, PARA QUE VOS AUMENTE (EM BENS) ÀS EXPENSAS DOS BENS ALHEIOS , NÃO AUMENTARÃO PERANTE DEUS ; CONTUDO O QUE DERDES EM ZAKAT ANELANDO CONTEMPLAR O ROSTO DE DEUS (SER-VOS-Á AUMENTADO). A ESTES, SER-LHES-Á DUPLICADA A RECOMPENSA.” (30/39)

O Alcorão é cura e misericórdia de Deus para os tementes porque, entre outras coisas, facilita os meios para a cura dos corações das doenças da avareza e do egoísmo; ensina os fiéis a exercer a solidariedade, a generosidade a responsabilidade social e a compaixão. O Zakat é portanto, um meio de cultuar a Deus e foi estabelecido como pilar da religião mesmo para os povos anteriores (judeus e cristãos) o que o Alcorão testifica.

“AS DOAÇÕES SÃO TÃO SOMENTE PARA OS POBRES, PARA OS NECESSITADOS, PARA OS EMPREGADOS DA ADMINISTRAÇÃO, PARA AQUELES CUJOS CORAÇÕES TÊM DE SER CONQUISTADOS, PARA A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS, PARA OS ENDIVIDADOS, PARA A CAUSA DE DEUS E PARA O VIAJANTE; ISSO É UM PRECEITO EMANADO DE DEUS, PORQUE É SAPIENTE, PRUDENTÍSSIMO.” (9/60)

O versículo sagrado expõe com clareza as categorias de pessoas na comunidade que têm direito sobre o Zakat. A jurisprudência Islâmica abrange os detalhes de cálculo e a definição dos bens sobre os quais incide o Zakat que, em geral é cobrado sobre os bens monetários (moeda corrente), ouro, prata, gado, frutos cultivados, etc.

“TUDO QUANTO DEUS CONCEDEU A SEU MENSAGEIRO, DOS (ESPÓLIOS) DOS MORADORES DAS CIDADES, CORRESPONDE A DEUS, A SEU MENSAGEIRO E A SEUS PARENTES, AOS ORFÃOS, AOS NECESSITADOS E AOS VIAJANTES, ISSO PARA QUE (OS ESPÓLIOS) NÃO SEJAM MONOPOLIZADOS PELOS OPULENTOS DENTRE VÓS…” (59/7)

O Khums (quinto) incide sobre bens imóveis adquiridos, tesouros encontrados e espólios de batalha e ao contrário do Zakat que é anual, o Khums é pago uma única vez. Seu uso também possui um caráter social muito vasto para o fortalecimento da comunidade Islâmica. Há um componente ético e social no Zakat e no Khums que visa promover um equilíbrio na sociedade e minorar de modo considerável a privação dos pobres e necessitados, providenciando a todos uma condição digna de vida, livre da miséria. O Islam dessa maneira, estabelece essa responsabilidade sobre os ricos e todos os que possuem recursos que excedam suas necessidades básicas.

Capítulo 3 – O jejum de Ramadan

“Ó FIÉIS , ESTÁ-VOS PRESCRITO O JEJUM , TAL COMO FOI PRESCRITO A VOSSOS ANTEPASSADOS , PARA QUE TEMAIS A DEUS” (2/183)

O pilar do jejum, como culto devocional, também antecede a revelação do Alcorão; neste e em outros versículos sagrados consta com clareza que o jejum consagrado a Deus era parte integrante das ordens divinas nas revelações anteriores sendo assim, um pilar da religião. Com a descida do Alcorão, como mensagem final e conclusiva para os humanos, o jejum foi ordenado aos que fiéis durante todos os dias do mês sagrado de Ramadan, tal como se segue: “O MÊS DE RAMADAN FOI O MÊS EM QUE FOI REVELADO O ALCORÃO, ORIENTAÇÃO PARA A HUMANIDADE E EVIDÊNCIA DE ORIENTAÇÃO E DISCERNIMENTO. POR CONSEGUINTE QUEM DE VÓS PRESENCIAR O NOVILÚNIO DESTE MÊS , DEVERÁ JEJUAR, PORÉM, QUEM SE ACHAR ENFERMO OU EM VIAGEM JEJUARÁ DEPOIS, O MESMO NÚMERO DE DIAS. DEUS VOS DESEJA A COMODIDADE E NÃO A DIFICULDADE , MAS CUMPRI O NÚMERO (DE DIAS) E GLORIFICAI A DEUS POR TER-VOS ORIENTADO A FIM DE QUE (LHE) AGRADEÇAIS” (2/185)

O versículo sagrado expõe a principal razão do jejum: o louvor e o culto a Deus pela orientação concedida aos seres humanos, sem a qual não haveria possibilidade de remissão. O mês sagrado de Ramadan é o mês da graça divina, no qual Deus o Altíssimo deu início a revelação de todos os seus livros sagrados e com ele somos agraciados com as melhores oportunidades de alcançar o perdão e a misericórdia de Deus, já que as recompensas das ações puras e consagradas (a prece, a caridade, o dhikr, etc) neste mês superam em grande medida as recompensas dessas ações em qualquer outra época do ano. O jejum possui como culto, um conjunto de regras essenciais e de disposições. Consiste básicamente da abstenção completa de alimentos ou líquidos, do fumo e das relações sexuais do romper da aurora até o anoitecer. Entretanto, não se restringe a um jejum físico.

Exige do devoto o esforço constante de afastar-se de tudo que macule a intenção do jejum: todos os pecados graves, palavras ou atos injustos, olhares lascivos, palavras levianas ou conversações fúteis, mentiras, discussões ou palavras vulgares, ou seja, o coração e a mente devem estar envolvidos no estado de jejum.

Como Deus exige do humano apenas aquilo que é racionalmente possível a este, é condição prévia para a prática do jejum um estado de saúde para o qual o jejum não se torne perigoso, como também, é necessário que a pessoa tenha alcançado a puberdade e tenha consciência do significado do ato de jejuar. A jurisprudência especifica cada caso e detalha cada circunstância de modo que cada um possa saber como cumprir suas obrigações perante Deus.

Pela prática do jejum com correta intenção e devoção o muçulmano tem uma oportunidade de aprimorar seu auto-controle, de exercitar a generosidade e a paciência, aprimorando e fortalecendo sua fé.

Capítulo 4 – A peregrinação (Hajj)

“A PRIMEIRA CASA (SAGRADA) ERIGIDA PARA O GÊNERO HUMANO É A DE BAKKA (MECA), ONDE RESIDE A BENÇÃO , SERVINDO DE ORIENTAÇÃO PARA A HUMANIDADE. ENCERRA SINAIS EVIDENTES. LÁ ESTÁ A ESTÂNCIA DE ABRAÃO E QUEM QUER QUE NELA SE REFUGIE ESTARÁ EM SEGURANÇA. A PEREGRINAÇÃO A CASA É UM DEVER PARA COM DEUS, POR PARTE DE TODOS OS SERES HUMANOS, QUE ESTEJAM EM CONDIÇÕES PARA EMPREENDÊ-LA, ENTRETANTO, QUEM SE NEGAR A ISSO SAIBA QUE DEUS PODE PRESCINDIR DE TODA A HUMANIDADE” (3/96-97)

“E (RECORDA-TE) DE QUANDO INDICAMOS A ABRAÃO O LOCAL DA CASA, DIZENDO: NÃO ME ATRIBUAS PARCEIROS, MAS CONSAGRA A MINHA CASA PARA OS CIRCUNGIRANTES, PARA OS QUE PERMANECEM EM PÉ E PARA OS GENUFLEXOS E PROSTRADOS. E PROCLAMA A PEREGRINAÇÃO AS PESSOAS; ELAS VIRÃO A TI A PÉ E MONTANDO TODA ESPÉCIE DE CAMELOS, DE TODO LONGÍNQUO LUGAR, PARA TESTEMUNHAR OS SEUS BENEFÍCIOS E INVOCAR O NOME DE DEUS, NOS DIAS MENCIONADOS, SOBRE O GADO COM QUE ELE OS AGRACIOU (PARA O SACRIFÍCIO). COMEI POIS DELE, E ALIMENTAI O INDIGENTE E O POBRE. QUE LOGO SE PURFIQUEM E QUE CUMPRAM SEUS VOTOS E QUE CIRCUNGIREM A CASA ANTIGA.” (22/26-29)

Os versículos sagrados detalham a ordem de Deus a peregrinação a Casa Antiga, como é chamada por ter sido o primeiro templo consagrado a Deus na terra. A pedra fundamental (a pedra negra) segundo as fiéis tradições foi trazida dos céus pelo Arcanjo Gabriel e entregue a Adão (A.S.) para que a depositasse no local designado por Deus. Sendo assim estabelecido como local do culto monoteísta a seus descendentes. Após milênios em que os povos se dispersaram e se afastaram da religião original e depois do dilúvio, Abraão (A.S.) recebeu de Deus o encargo de levantar a Caaba para a peregrinação dos humanos. Todos os detalhes dos rituais foram detalhados para Abraão e Ismail (A.S.) e desde então a peregrinação a Casa antiga tem sido realizada ano após ano, nos dias designados por Deus.

Representa a congregação das criaturas diante de Deus no local mais sagrado da terra. É obrigatório o cumprimento desse pilar da religião a todo muçulmano ou muçulmana ao menos uma vez na vida, desde que conte com recursos materiais e saúde para fazê-lo. Nele os fiéis realizam todos os rituais estabelecidos por Deus e aqueles que o fazem com total devoção e sinceridade alcançam o perdão de todos os seus pecados. A Caaba é o coração espiritual da terra e o Alcorão a estabeleceu como Qiblah (direção das preces) até o dia do juízo para todos os crentes.

Capítulo 5 – A ordem do bem e a proibição do mal

“E QUE SURJA DE VÓS UMA NAÇÃO QUE RECOMENDE O BEM, DITE A RETIDÃO E PROIBA O ILÍCITO. ESTA SERÁ (UMA NAÇÃO) ABENÇOADA.” (3/104)

“PELA ÉPOCA, QUE O HOMEM ESTÁ NA PERDIÇÃO, SALVO OS QUE PRATICAM O BEM , RECOMENDAM A VERDADE E A PERSEVERANÇA.” (103/ 1-3)

“OS ARREPENDIDOS, OS ADORADORES, OS AGRADECIDOS, OS VIAJANTES (PELA CAUSA DE DEUS), OS GENUFLEXOS E OS PROSTRADOS SÃO AQUELES QUE RECOMENDAM O BEM, PROÍBEM O ILÍCITO E SE CONSERVAM DENTRO DOS LIMITES DA LEI DE DEUS. ANUNCIA AOS FIÉIS AS BOAS NOVAS!” (9/112)

A ordem do bem e a proibição do mal é um preceito divino aos fiéis e de certo modo permeia todas as demais formas de culto, na medida que é o exemplo em ação, mais do que simples palavras ou conselhos. Não obstante, é requerido de cada um que faça aquilo que estiver a seu alcance nesse sentido, quando se faça necessário opor-se a uma situação de injustiça ou opressão, ou de prevalecimento do erro e da iniquidade. Nas fiéis tradições encontramos a atribuída a Imam Ali (A.S.) em que se relata que tenha dito: “Aquele que observar excessos sendo cometidos e pessoas sendo coagidas para o mal, e de coração, desaprovar isso, estará a salvo e livre de responsabilidade por esses atos; e aquele que desaprovar esses atos com a língua será recompensado e estará numa posição mais destacada do que o primeiro; mas quem o desaprovar com a espada, para que a palavra de Deus permaneça suprema e as palavras dos opressores permaneçam ínfimas, agarrar-se-á a diretriz e permanecerá no caminho certo, será iluminado com a convicção”.

Como sabemos, em muitas situações em que os corruptos possuem autoridade ou influência uma pessoa justa e correta não encontra meios de lutar contra os desmandos, e muitas vezes, mesmo combater com as palavras não é possível, então, é obrigatório que a pessoa se oponha ao erro em seu coração. Em outra tradição fiel atribuída ao Profeta (S.A.A.S.) consta que aquele que não desaprova o erro e o mal nem com as mãos, nem com as palavras e nem em seu coração, não possui fé.

Com efeito, a ordem do bem e a proibição do mal começa por si mesmo e o devoto deve buscar conhecimento e sabedoria no ato de aconselhar o bem e se opor ao mal, sempre levando em conta que o exemplo é mais efetivo do que as palavras. Aconselhar com paciência os que erram por ignorância e firmar oposição aos viciosos requer uma correta percepção das circunstâncias. Imam Ali (A.S.) disse; “A firmeza da religião é ordenar o que é bom , proibir o que é ilícito e observar os limites de Deus” .

Capítulo 6 – O discernimento entre o HALAL e o HARAM

“Ó FIÉIS, AS BEBIDAS INEBRIANTES , OS JOGOS DE AZAR, A DEDICAÇÃO AS PEDRAS (ÍDOLOS) E AS ADIVINHAÇÕES COM SETAS, SÃO MANOBRAS ABOMINÁVEIS DE SATÃ . ABSTENDE-VOS PARA QUE PROSPEREIS. SATÃ SÓ AMBICIONA INFUNDIR-VOS A INIMIZADE E O RANCOR MEDIANTE AS BEBIDAS INEBRIANTES E OS JOGOS DE AZAR, BEM COMO AFASTAR-VOS DA RECORDAÇÃO DE DEUS E DA ORAÇÃO. NÃO DESISTIREIS DIANTE DISSO?” (5/90-91)

“DIZE: MEU SENHOR VEDOU AS OBSCENIDADES, MANIFESTAS OU ÍNTIMAS, O DELITO; A AGRESSÃO INJUSTA; O ATRIBUIR PARCEIROS A ELE, PORQUE JAMAIS DEU AUTORIDADE A QUE DIGAIS DELE O QUE IGNORAIS” (7/33)

“SEDE LEAIS NA MEDIDA E NÃO SEJAIS DEFRAUDADORES. E PESAI COM A BALANÇA JUSTA, E NÃO DEFRAUDEIS OS HUMANOS EM SEUS BENS E NÃO PRATIQUEIS DEVASSIDÃO NA TERRA COM A INTENÇÃO DE CORROMPÊ-LA” (26/181-183)

Os três versículos sagrados citados acima exemplificam algumas das coisas vedadas por Deus, exaltado Seja, aos seres humanos. Esses versículos foram escolhidos dentre os demais por demonstrarem que o Haram (proibido) se estabelece em conjunto com o Halal (puro, lícito), isto é, ninguém é compelido ao mal e ao erro senão por sua própria escolha, sempre há o caminho lícito a seu alcance para que se afaste do ilícito. Assim, por exemplo, há o comércio lícito como correta alternativa para a fraude ou a cobrança de juros; ou o casamento como correta alternativa para a fornicação e o adultério.

Fica bastante evidente que, nada do que foi vedado ao humano está além de suas forças ou constitui alguma maneira de opressão ou injustiça sobre ele. Ademais, toda coisa ilícita acarreta consequências malignas absolutamente constatáveis.

Ninguém em sã consciência ou honestamente poderá negar os males sociais causados pelo álcool e pelos jogos de azar, pelo sistema de usura; nenhum médico de corretos princípios negará os riscos envolvidos no consumo da carne de porco ou na vida sexual promíscua.

Portanto, o fiel muçulmano é consciente de que tudo o que Deus proibiu, o fez para o bem dos seres humanos e tudo que permitiu, o fez por sua infinita bondade.

“OS FIÉIS QUE PRATICAM O BEM NÃO SERÃO REPROVADOS PELO QUE COMERAM (ANTERIORMENTE DE ILÍCITO) UMA VEZ QUE DELAS PASSEM A SE ABSTER , CONTINUANDO A CRER A PRATICAR O BEM , A SER TEMENTES A DEUS CRER NOVAMENTE E PRATICAR A CARIDADE. DEUS AMA OS BENFEITORES.” (5/93)

Este versículo sagrado nos mostra como a razão e a tolerância dirigem os princípios islâmicos. Ninguém que, por ignorância, tenha pecado, estará fora do alcance da misericórdia divina contanto que sua fé seja sincera e íntegra.

“E NÃO PROFIRAIS FALSIDADES DIZENDO : ISTO É LÍCITO E AQUILO É ILÍCITO PARA FORJARDES MENTIRAS ACERCA DE DEUS. SABEI QUE AQUELES QUE FORJAM MENTIRAS ACERCA DE DEUS JAMAIS PROSPERARÃO.” (16/116)

Este versículo sagrado chama a atenção dos tementes para que não hajam como os descrentes dentre os povos do livro que manipulam as escrituras para tornar o entendimento confuso sobre o que seja lícito e ilícito. Somente Deus tem autoridade para estabelecer os limites , as injunções e o que tenha sido permitido. Temos assim, que incrementar nosso conhecimento através de uma consulta às fontes corretamente fundamentadas, recorrer aos mujtahid nas questões de difícil entendimento e exercer também o uso do intelecto.

Além disso, é preciso muito cuidado ao emitir opinião ou orientar aos outros nessas questões. Infelizmente tornou-se comum, mesmo entre muitos muçulmanos apressar-se em classificar isto ou aquilo como ilícito ou inovação sem um prévio conhecimento fundamentado para tal. Muitos dos problemas que tem dividido os muçulmanos têm origem nesta tendência.

Então, é o correto conhecimento e o estudo cuidadoso que podem assegurar o verdadeiro entendimento sobre o halal e o haram. O melhor para o incremento da fé reside nesta disposição a manter-se dentro dos limites estabelecidos por Deus.

Capítulo 7 – O Ihsan

“JAMAIS ALCANÇAREIS A VIRTUDE ATÉ QUE FAÇAIS CARIDADE COM AQUILO QUE MAIS APRECIARDES. E SABEI QUE DE TODA CARIDADE QUE FAZEIS, DEUS BEM O SABE.” (3/92)

“E O QUE TE FARÁ ENTENDER O QUE É VENCER AS VICISSITUDES?É LIBERTAR UM CATIVO, OU ALIMENTAR, NUM DIA DE PRIVAÇÃO, O PARENTE ORFÃO, OU O INDIGENTE NECESSITADO. É , ADEMAIS, CONTAR-SE ENTRE OS FIÉIS QUE RECOMENDAM-SE A PERSEVERANÇA E SE ENCOMENDAM À MISERICÓRDIA.” (90/12 a 17)

O Ihsan (a bondade) na concepção islâmica possui um amplo sentido que envolve a qualidade da abnegação, a capacidade de vencer o próprio ego, o doar-se de si próprio diante das condições que a vida apresenta. Este é o caminho das vicissitudes, que se entende por negar a si mesmo por amor a Deus e as suas criaturas e neste caminho se encontra o libertar-se de si próprio. O mensageiro de Deus (S.A.A.S.) exemplificou esta senda dizendo: “Nenhum de vós terá verdadeira fé se não deseja para o seu próximo o que deseja para si mesmo.”

O devoto muçulmano, atento a esse princípio, deve portanto pautar sua vida na busca do aperfeiçoamento da bondade. O contrário disso é a perspectiva do ego, a mesquinhez que é uma característica inerente ao descrente e ao hipócrita.

A caridade há de ser compreendida em seu sentido mais vasto, no qual ninguém é tão pobre que não possa exercê-la e ninguém é tão rico que não necessite dela; pois a bondade não se restringe aos bens materiais. A solidariedade, o buscar ver nos outros as mesmas necessidades que temos, desejar aos outros o que desejamos para nós e em última análise isto é requerido do crente muçulmano em suas palavras, atos e intenções. Mesmo aquele que não se julga capacitado para um ato bom, o seu restringir-se do mal é em si, uma atitude de bondade.

“QUEM AMBICIONA A GLÓRIA, SAIBA QUE TODA GLÓRIA PERTENCE INTEGRALMENTE A DEUS. ATÉ A ELE ASCENDEM AS PURAS PALAVRAS E AS NOBRES AÇÕES…” (35/10)

“AQUELES QUE GASTAM OS SEUS BENS PELA CAUSA DE DEUS, SEM ACOMPANHAR SUA CARIDADE COM EXPROBAÇÃO OU AGRAVOS, TERÃO A SUA RECOMPENSA AO LADO DO SENHOR E NÃO SERÃO PRESAS DO TEMOR, NEM SE ATRIBULARÃO. UMA PALAVRA CORDIAL E UMA INDULGÊNCIA SÃO PREFERÍVEIS À CARIDADE SEGUIDA DE AGRAVOS, PORQUE DEUS É, POR SI, TOLERANTE , MUITO OPULENTO. Ó FIÉIS, NÃO DESMEREÇAIS AS VOSSAS CARIDADES COM EXPROBAÇÃO OU AGRAVO, COMO AQUELE QUE DOA DOS SEUS BENS POR OSTENTAÇÃO DIANTE DAS PESSOAS E NÃO CRÊ EM DEUS NEM NO DIA DO JUÍZO. O SEU EXEMPLO É SEMELHANTE AO DE UMA ROCHA COBERTA POR TERRA QUE, AO SER ATINGIDA POR UM AGUACEIRO, FICA A DESCOBERTO. EM NADA SE BENEFICIARÁ DE TUDO QUANTO FIZER, PORQUE DEUS NÃO ILUMINA OS DESCRENTES.” (2/262/264)

“DIZE AOS MEUS SERVOS FIÉIS QUE OBSERVEM A ORAÇÃO, QUE FAÇAM CARIDADE, PRIVATIVA OU ABERTAMENTE, COM AQUILO QUE OS AGRACIAMOS, ANTES QUE CHEGUE O DIA EM QUE NÃO HAVERÁ TRANSAÇÃO, NEM AMPARO.” (14/31)

“EMULAI-VOS EM OBTER A INDULGÊNCIA DO VOSSO SENHOR E UM PARAÍSO, CUJA AMPLITUDE É IGUAL A DOS CÉUS E DA TERRA, PREPARADO PARA OS TEMENTES, QUE FAZEM CARIDADE, TANTO NA PROSPERIDADE QUANTO NA ADVERSIDADE, QUE REPRIMEM A CÓLERA; QUE INDULTAM O PRÓXIMO. SABEI QUE DEUS AMA OS BENFEITORES.” (3:133/134)

Dois aspectos principais são destacados por esses versículos sagrados: A pureza na intenção e na ação e a busca da recompensa eterna. No primeiro, há a consciência de que nenhum bem e nenhuma ação humana dá o direito ao que a realiza, a auto-exaltação. Deus o altíssimo só aceita as boas ações provindas da pureza de coração e que não são seguidas de intenções obscuras e de desejo de vanglória diante dos demais. No segundo aspecto, há a consciência de que agir por amor a Deus é anelar somente dele a recompensa.

O Profeta (S.A.A.S.) e os Imames purificados (A.S.) foram exemplos perfeitos desse procedimento; suas vidas estão repletas de passagens em que exerceram a bondade de maneira tal que, os beneficiados não sentiram o peso da ação e muitas vezes, só ficaram sabendo de quem o benefício veio depois que os seus autores já não se encontravam neste mundo.

“CONVOCA (OS HUMANOS) À SENDA DO TEU SENHOR COM SABEDORIA E UMA BELA EXORTAÇÃO; DIALOGA COM ELES DE MANEIRA BENEVOLENTE PORQUE TEU SENHOR É O MAIS CONHECEDOR DE QUEM SE DESVIA DE SUA SENDA, ASSIM COMO É O MAIS CONHECEDOR DOS QUE SE ENCAMINHAM.” (16/125)

Este versículo sagrado é citado aqui em virtude da perspectiva islâmica que elege o Dâwah fii Sabilillah (convite a fé na senda de Deus) como uma das mais valorosas expressões de bondade. De certa forma dâwah fii sabilillah é uma nobre ação de amor e de desejo do bem ao próximo, ou seja, desejar a ele o melhor nesta e na outra vida e isto é superior do que um benefício que só o alcance temporariamente. A bondade também deve guiar as palavras do que convida a fé. Ele não deve ser uma espécie de prosélito que se empenha em “convencer” as pessoas daquilo que acredita. “Dialoga de maneira benevolente” diz o versículo; dialogar não é discutir ou debater crenças e além disso, diálogo requer falar e ouvir.

O dâwah exige que ambas as partes estejam capacitadas e inclinadas ao diálogo e que também estejam dispostas a ouvir com boa vontade. Se um devoto que conte com suficiente conhecimento para explicar os fundamentos da fé, encontra uma pessoa que demonstra interesse e boa vontade em ouvir sobre o Islam, o devoto deve prestar o dâwah da melhor maneira que lhe seja possível e então terá se desincumbido de sua obrigação, pois é Deus quem guia a senda da retidão e somente ELE é conhecedor da intimidade dos corações.

Capítulo 8 – O Jihad (Esforço na causa de Deus)

“COMBATEI PELA CAUSA DE DEUS AQUELES QUE VOS COMBATEM; PORÉM NÃO PRATIQUEIS AGRESSÃO, PORQUE DEUS NÃO AMA OS AGRESSORES.” (2/190)

“EM VERDADE DEUS DEFENDE OS FIÉIS PORQUE DEUS NÃO APRECIA NENHUM PÉRFIDO E INGRATO. ELE PERMITIU (O COMBATE) AOS QUE FORAM ATACADOS ; EM VERDADE DEUS É PODEROSO PARA SOCORRÊ-LOS. SÃO AQUELES QUE FORAM EXPULSOS INJUSTAMENTE DOS SEUS LARES SÓ PORQUE DISSERAM: NOSSO SENHOR É DEUS! E SE DEUS NÃO TIVESSE REFREADO OS INSTINTOS MALIGNOS DE UNS EM RELAÇÃO AOS OUTROS, TERIAM SIDO DESTRUÍDOS MOSTEIROS, IGREJAS , SINAGOGAS E MESQUITAS, ONDE O NOME DE DEUS É FREQUENTEMENTE CELEBRADO…” (22:38/40)

Esses dois versículos sagrados evidenciam as principais razões da ordem divina do Jihad:

* a defesa da verdade em relação a seus inimigos (hipócritas e descrentes).

* a defesa dos injustiçados, dos oprimidos, das pessoas comuns da sociedade que necessitam de proteção (as crianças, as mulheres e os idosos).

O direito de defesa também é um dever. Se este dever não é exercido ou é negligenciado, a corrupção, o mal e a brutalidade alastram-se na sociedade. Com isso se compreende que ao não se exercer uma justa e equilibrada reação, isto pode significar “conivência” com o mal.

É muito comum no ocidente se confundir a “bondade e a inclinação a paz” com total ausência de “exercício da força e da reação”. Por mais idealizado seja um “pacifismo ilimitado” sabemos que a realidade é muito diferente. Todas as sociedades e todos os regimes políticos reconhecem a necessidade de leis restritivas e punitivas e aceitam o uso da força para refrear forças agressoras. Mesmo a guerra, por mais que seja indesejável, em muitas situações surge como alternativa possível; um exemplo bem conhecido foi a segunda guerra mundial. Diante da ameaça e da aberta agressão do nazi-fascismo, o resto do mundo recorreu a alternativa da guerra. Assim, o Alcorão exorta a comunidade muçulmana a defender-se e a defender a religião, sem que com isso se tornem agressores ou opressores, apenas devem refrear os que os combatem para que a justiça prevaleça.

“QUE COMBATAM PELA CAUSA DE DEUS AQUELES DISPOSTOS A SACRIFICAR A VIDA TERRENA PELA FUTURA, PORQUE A QUEM COMBATER PELA CAUSA DE DEUS. QUER SUCUMBA, QUER VENÇA, CONCEDEREMOS MAGNÍFICA RECOMPENSA.” (4/74)

“QUANTOS PROFETAS E COM ELES, QUANTOS GRUPOS LUTARAM PELA CAUSA DE DEUS, SEM DESANIMAREM COM O QUE LHES ACONTECEU; NÃO SE ACOVARDARAM NEM SE RENDERAM! DEUS AMA OS PERSEVERANTES.” (3/146)

“DEUS COBRARÁ DOS FIÉIS O SACRIFÍCIO DE SEUS BENS E PESSOAS EM TROCA DO PARAÍSO. COMBATERÃO PELA CAUSA DE DEUS, MATARÃO E SERÃO MORTOS. É UMA PROMESSA INFALÍVEL, QUE ESTÁ REGISTRADA NA TORAH, NO EVANGELHO E NO ALCORÃO. E QUEM É MAIS FIEL A SUA PROMESSA DO QUE DEUS ?…” (9/111)

“MOBILIZAI TUDO QUANTO DISPUSERDES EM ARMAS E CAVALARIA PARA INTIMIDAR, COM ISSO, O INIMIGO DE DEUS E VOSSO, E A OUTROS QUE NÃO CONHECEIS, MAS QUE DEUS BEM CONHECE. TUDO QUANTO INVESTIRDES NA CAUSA DE DEUS, SER-VOS-Á RETRIBUÍDO E NÃO SEREIS DEFRAUDADOS. SE ELES SE INCLINAREM À PAZ, INCLINA-TE TU TAMBÉM A ELA, ENCOMENDA-TE A DEUS, O QUE TUDO OUVE , O QUE TUDO SABE.” (8:60/61)

Os versículos acima evidenciam que o Jihad na causa de Deus sempre esteve ligado a defesa da Mensagem Revelada e da comunidade de crentes, num compromisso estabelecido tanto na Torah revelada a Moisés (A.S.) como no Injil revelado a Jesus (A.S.). De maneira que muitos profetas e mensageiros dos tempos antigos, em muitas circunstâncias, recorreram ao Jihad.

Os Mujahiddun (combatente na causa de Deus) é apresentado no versículo como “o que se dispõe a sacrificar a vida terrena pela futura”, isto é, aqueles que diante de uma situação extrema em que a luta em defesa do Islam e dos muçulmanos é requerida, encontram em seus corações o amor por Deus acima de todas as coisas e por meio disso vencem mesmo o medo da morte. A essas pessoas, diz Deus, Exaltado Seja no Alcorão: “…QUER SUCUMBA , QUER VENÇA , CONCEDEREMOS UMA MAGNÍFICA RECOMPENSA” E diz ainda: “E NÃO DIGAIS QUE ESTÃO MORTOS AQUELES QUE SUCUMBIRAM PELA CAUSA DE DEUS. AO CONTRÁRIO, ESTÃO VIVOS, PORÉM VÓS NÃO PERCEBEIS ISSO.” (2/154)

É ponto pacífico para os que crêem em Deus, no Último Dia e no que foi revelado ao Profeta (S.A.A.S.) que os mártires são os mui amados de Deus e que ao tombarem na luta pela justiça e pelo bem são perdoados de seus pecados e são, sem sombra de dúvida “habitantes do paraíso”. Só duvidam disso e não o podem compreendê-lo os descrentes e os hipócritas. Não nos cabe julgar em que medida esta ou aquela ação em nome do Jihad levada a efeito seja ou não seja justa ou correta. Também não devemos tomar todas as ações nomeadas de Jihad como tal. Ações que envolvam a agressão a civis e sequestros se enquadram no perigoso campo da dúvida e não podem ser consideradas ações de defesa legítima.

Nos é suficiente lembrar que o jihad é uma luta de defesa diante da agressão e da opressão ao Islam ou aos muçulmanos. Também devemos estar conscientes que o Jihad é um esforço na causa de Deus que assume diversas formas e não só a guerra. Diversas tradições fiéis afirmam que o Jihad envolve mesmo o esforço pessoal no sentido de vencer suas próprias inclinações para o mal e estabelecer as ordens de Deus em suas ações cotidianas. A afirmação no versículo “…SE ELES SE INCLINAREM PARA A PAZ, INCLINA-TE TU TAMBÉM…” demonstra que a ordem para o jihad não significa uma conclamação ao ódio ou a intolerância; significa sim que a paz deve ser fruto da justiça e da ausência da agressão e da opressão.

Capítulo 9 – O amor ao Profeta e a sua família

“DIZE-LHES: SE VOSSOS PAIS, FILHOS, IRMÃOS, ESPOSAS, VOSSA TRIBO, OS BENS QUE TENHAIS ADQUIRIDO, O COMÉRCIO, CUJA ESTAGNAÇÃO TEMEIS E AS CASAS NAS QUAIS RESIDIS, SÃO-VOS MAIS QUERIDOS DO QUE DEUS E SEU MENSAGEIRO, BEM COMO A LUTA POR SUA CAUSA, AGUARDAI, ATÉ QUE DEUS VENHA CUMPRIR SEUS DESÍGNIOS, SABEI QUE ELE NÃO ILUMINA OS DEPRAVADOS.” (9/24)

“DIZE-LHES (Ó MOHAMMAD): NÃO VOS EXIJO RECOMPENSA ALGUMA POR ISTO, EXCETO O AMOR PELOS MEUS PARENTES PRÓXIMOS…” (42/23)

O Alcorão ordena os devotos a estabelecer seu amor ao Profeta (S.A.A.S.) e a sua família (A.S.) e este amor é em si uma prova de fé e fidelidade a Deus. Nas fiéis tradições consta que quando o versículo sagrado “NÃO VOS EXIJO RECOMPENSA ALGUMA, EXCETO O AMOR PELOS MEUS PARENTES” foi revelado, Ibn Abbas perguntou ao Profeta (S.A.A.S.): “Ó enviado de Deus! Quem são os teus parentes próximos, a respeito dos quais se fez obrigatório amá-los? E então o Profeta (S.A.A.S.) disse três vezes: “Ali, Fátima e seus filhos.” Disse também o Profeta (S.A.A.S.): “O amor a eles é um sinal de fé e a inimizade a eles é um sinal de hipocrisia. Aquele quem os ama, ama a Deus e seu profeta e aqueles que sejam seus inimigos , será como se fossem inimigos de Deus e seu profeta”.

A natureza desse amor foi perfeitamente demonstrada por Imam Ja’far As Sádiq (A.S.) ao dizer: “Aquele que obedece Deus é um que nos ama e aquele que o desobedece é um inimigo nosso.”

Capítulo 10 – O temor a Deus

“Ó FIÉIS, TEMEI A DEUS COMO DEVE SER TEMIDO E NÃO MORRAIS SENÃO COMO MUÇULMANOS.” (3/102)

“Ó FIÉIS TEMEI A DEUS E QUE CADA ALMA CONSIDERE O QUE TIVER OFERECIDO PARA O DIA DE AMANHÃ, TEMEI POIS A DEUS PORQUE DEUS ESTÁ BEM INTEIRADO DE TUDO O QUE FAZEIS.” (59/18)

O Alcorão em diversas passagens ressalta a importância do temor no incremento da religião e mesmo se anuncia como uma “mensagem aos tementes” no versículo “ESTE É O LIVRO NO QUAL NÃO HÁ DÚVIDA, ORIENTAÇÃO PARA OS TEMENTES.” (2/2).

Notemos que o Livro de Deus se anuncia como orientação para os tementes; não para o que comumente entendemos como sendo “os que creêm”. Crer racionalmente, isto é, aceitar a veracidade divina e da vida no além é apenas um grau elementar da fé. Taqwaa (temor) se refere a um estado superior de consciência da fé, o qual se define pela plena convicção de que “Deus é testemunha de todas as nossas ações”. Este estado de taqwaa difere sobremaneira de uma mera crença, que por sua vez é acessível a quase todo tipo de pessoa. De fato, muito poucas pessoas assumem o ateísmo, ou seja, o mundo está repleto das mais variadas formas de crenças e organizações religiosas e no entanto, o que vemos é um mundo bastante irreligioso, dominado pela maldade e pela hipocrisia.

Assim, o Islam ensina que não nos basta crer; a menos que essa crença seja incrementada com o temor a Deus, nossas ações se assemelharão as dos descrentes e Satã terá considerável controle sobre nossas vidas. Mesmo o peso das ações se relaciona com a qualidade deste temor e isso deve ser entendido como uma disposição íntima a obediência, pois bem sabemos que a dimensão da fé não é a dimensão das aparências e nossas escolhas e intenções estão além das consequências visíveis. Então o Alcorão diz: “…TEMEI A DEUS PORQUE DEUS ESTÁ BEM INTEIRADO DE TUDO O QUE FAZEIS.”

“…E QUEM TEMER A DEUS, ELE LHE ABSOLVERÁ OS PECADOS E LHE AUMENTARÁ A RECOMPENSA.” (65/5)

O Alcorão declara as melhores promessas de Deus aos tementes e aos perseverantes, também diz que os tementes não se atribularão no dia do Juízo , quando os demais estarão envoltos em grande aflição e pavor.

Capítulo 11 – O recato e o pudor

“DIZE AOS FIÉIS QUE RECATEM OS SEUS OLHARES E CONSERVEM SEUS PUDORES , PORQUE ISSO É MAIS BENÉFICO PARA ELES; DEUS ESTÁ BEM INTEIRADO DO QUE FAZEM” (24/30)

“DIZE AS FIÉIS QUE RECATEM OS SEUS OLHARES, CONSERVEM OS SEUS PUDORES E NÃO MOSTREM SEUS ATRATIVOS, ALÉM DOS QUE (NORMALMENTE) APARECEM; QUE CUBRAM O COLO COM SEUS VÉUS E NÃO MOSTREM OS SEUS ATRATIVOS, A NÃO SER A SEUS ESPOSOS, PAIS, SOGROS,FILHOS, ENTEADOS, IRMÃOS, SOBRINHOS, ÀS MULHERES SUAS SERVAS, SEUS CRIADOS ISENTOS DAS NECESSIDADES SEXUAIS OU ÀS CRIANÇAS QUE NÃO DISCERNEM A NUDEZ DAS MULHERES..”. (24/31)

O recato e o pudor são dois valores inerentes ao Islam. Desde o início da revelação o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) buscou através de seu exemplo reformar a sociedade, naquele momento ainda marcada pelos costumes pagãos, trazendo uma nova ética e uma nova moral orientada segundo os princípios e as ordens de Deus.

Todos nós conhecemos as conseqüências de uma sociedade dominada pelo relaxamento moral e pela promiscuidade. O objetivo fundamental da ênfase islâmica no recato e no pudor é demonstrar ao ser humano, homem ou mulher, sua verdadeira condição como criatura dotada de dignidade. O oposto dessa perspectiva é o que promove o atual estado de coisas, onde o ser humano é levado a considerar a si próprio e aos demais como meros objetos de consumo.

Essa mentalidade irreligiosa e materialista permeia os costumes erroneamente chamados de “modernos” para os quais “o certo” é viver de modo promíscuo, com absoluta “liberdade”. A imensa rede de publicidade tem explorado a exaustão a exposição do corpo e as sociedades são induzidas a acreditar que isso significa um avanço nos costumes, o que na verdade não passa de um processo massificador que reduz homens e mulheres a produtos à venda.

O Islam nos ensina o auto-respeito e o respeito aos nossos semelhantes e isso envolve o recato e o pudor. Esta oposição não deve ser vista como um movimento retrógrado ou inimigo da modernidade . O verdadeiro atraso para uma sociedade é medir os seres humanos segundo padrões tão medíocres; e rebaixar as mulheres e os homens a uma condição tão indigna. O recato e o pudor é uma imposição divina aos homens e as mulheres e isso vai além do seu modo de vestir. O uso do véu pelas mulheres não deve portanto ser entendido como uma forma de opressão, mas um modo de ressaltar estes valores e protegê-las de um estado de opressão muito mais insidioso imposto pelos costumes das sociedades irreligiosas dirigidas pelo materialismo.

“Ó HUMANOS, TEMEI A VOSSO SENHOR, QUE VOS CRIOU DE UM SÓ SER, DO QUAL CRIOU A SUA COMPANHEIRA E DE AMBOS, FEZ DESCENDER INUMERÁVEIS HOMENS E MULHERES …” (4/1)

O versículo sagrado expõe a natureza da criação e do plano divino constante na existência do homem e da mulher como companheiros um do outro. O casamento é a expressão dessa realidade. A união do homem e da mulher é no sentido do versículo um sinal da bondade de Deus . A expressão dessa realidade também é citada no versículo: “… PORQUE ELAS SÃO VOSSAS VESTIMENTAS E VÓS SOIS DELAS..”

Assim o homem e a mulher são o apoio, a proteção e o conforto de um para o outro e para tal foram criados. O Islam enfatiza o casamento como a realização desse plano divino e portanto, tudo o que possa corromper esta expressão da vontade divina está fora dos limites estabelecidos por Deus. O recato e o pudor adquirem pois o caráter de salvaguardar a ambos da fornicação e do adultério. O Islam não vê o sexo como algo mal em si, não há nada no Islam que aponte algum tipo de condenação ao sexo como se encontra na tradição cristã. Ao contrário , a abordagem do assunto no Alcorão é profundamente clara e realista: uma disposição divina para o homem e para a mulher. O Islam exige pois de ambos o respeito a si próprio e o desfrutar desse benefício a eles proporcionado por Deus dentro dos limites por Ele estabelecidos, limites estes, constantes no casamento.

Capítulo 12 – A paciência e a perseverança

“Ó FIÉIS, AMPARAI-VOS NA PERSEVERANÇA E NA ORAÇÃO, PORQUE DEUS ESTÁ COM OS PERSEVERANTES.” (2/153)

“Ó FIÉIS,PERSEVERAI,SEDE PACIENTES.ESTAI SEMPRE VIGILANTES E TEMEI A DEUS PARA QUE PROSPEREIS.” (3/200)

“O QUE POSSUIS É EFÊMERO, POR OUTRA, O QUE DEUS POSSUI É ETERNO. EM VERDADE PREMIAREMOS OS PERSEVERANTES COM UMA RECOMPENSA DE ACORDO COM O MELHOR DE SUAS AÇÕES.”(16/96)

O Islam nos ensina que a paciência é um importante componente da fé e que deve ser cultivada com constância pela prece e a meditação sobre as palavras de Deus. Em momento algum o caminho da retidão nos é apresentado como algo suave e fácil. Abraçar o Islam não significa que a vida se tornará um mar de flores; aprender a viver é em si uma imensa benção e isso se traduz em: aprender a ver a vida tal como ela é. Aprender que a perseverança no esforço e no apego ao que é justo é a única coisa que pesará na balança da vida.

As vidas dos profetas (A.S.) e dos imames (A.S.) estão repletas de exemplos de paciência e perseverança, momentos de angústia e perseguição e devem ser constantemente lembrados pelos fiéis.

Defrontar-se com pequenas e grandes adversidades é algo inevitável na vida terrena, a fé guiada pela convicção proporciona ao devoto a força para vencer os obstáculos que, para os que não creêm, são aparentemente intransponíveis.

Capítulo 13 – O Dua’a e a confiança em Deus

“QUANDO MEUS SERVOS TE PERGUNTAREM DE MIM, DIZE-LHES QUE ESTOU PRÓXIMO E OUVIREI O ROGO DO SUPLICANTE QUANDO A MIM SE DIRIGIR. QUE ATENDAM O MEU CHAMADO E QUE CREIAM EM MIM, AFIM DE QUE SE ENCAMINHEM” (2/186)

“ENCOMENDA-TE A DEUS, PORQUE BASTA ELE POR GUARDIÃO” (33/3)

“…QUANTO AQUELE QUE SE ENCOMENDAR A DEUS, SAIBA QUE ELE LHE SERÁ SUFICIENTE, PORQUE DEUS CUMPRE O QUE PROMETE…” (65/3)

“DEUS! NÃO HÁ MAIS DIVINDADE ALÉM DELE. QUE A DEUS SE ENCOMENDEM POIS, OS CRENTES.” (64/13)

Os versículos sagrados apresentam a disponibilidade divina para ouvir os apelos dirigidos e isso é em si um fator confortante para os que crêem. Deus Exaltado Seja, ampara os que nele confiam, ouve os apelos sem que haja intemediários entre a criatura e seu Criador. O Islam nos ensina que o dua’a é uma nobre prática de adoração, isto é, o recorrer a Deus em todos os assuntos e em todas as nossas necessidades legítimas diariamente. Imam Ja’far As Sádiq (A.S.) disse: “Deus contará os apelos dos crêem como boas ações e por meio disso aumentará seus graus no paraíso.” De maneira que o próprio ato de pedir a Deus constitui uma forma de culto.

A questão da confiança assume um papel preponderante na vida do devoto. Ele deve cultivá-la em seu coração continuamente com total convicção do poder e da bondade de Deus como fonte de todas as bençãos e de toda proteção. Imam Mohammad Ibn Ali (A.S.) disse: “Aquele que põe sua confiança em Deus e encomenda-se em tudo a ele, é aprazido e Deus lhe será suficiente em seus assuntos.”

Este elo é estabelecido pela fé e pelo conhecimento de que o destino de todas as questões se encontram nas mãos de Deus e de ninguém mais.

Capítulo 14 – O perdão e o tawbah

“IMPLORA O PERDÃO DE VOSSO SENHOR E VOLTAI-VOS A ELE ARRPENDIDOS , QUE ELE VOS AGRACIARÁ GENEROSAMENTE ATÉ UM TERMO PRÉ-FIXADO E AGRACIARÁ A CADA UM QUE TIVER MÉRITO”… (11/3)

“E É ELE QUE ACEITA O ARREPENDIMENTO DOS SEUS SERVOS, ABSOLVE-LHES AS FALTAS E ESTÁ CIENTE DE TUDO O QUANTO FAZEM.” (42/25)

“DEUS JAMAIS PERDOARÁ A QUEM LHE ATRIBUIR PARCEIROS; PORÉM FORA DISTO , PERDOA A QUEM LHE APRAZ…” (4/48)

“…SABEI QUE DEUS AMA OS BENFEITORES, QUE, QUANDO COMETEM UMA OBSCENIDADE OU SE CONDENAM, MENCIONAM A DEUS E IMPLORAM O PERDÃO POR SEUS PECADOS, MAS QUEM SENÃO DEUS PERDOA OS PECADOS?E NÃO REINCIDEM COM CONHECIMENTO, NO QUE COMETERAM.” (3:134/135)

“A ABSOLVIÇÃO DE DEUS RECAI TÃO SOMENTE SOBRE AQUELES QUE COMETEM UM MAL POR IGNORÂNCIA E LOGO SE ARREPENDEM. A ESSES DEUS ABSOLVE, PORQUE É SÁBIO, PRUDENTÍSSIMO. A ABSOLVIÇÃO NÃO ALCANÇARÁ AQUELES QUE COMETEM OBSCENIDADES ATÉ A HORA DA MORTE, MESMO QUE NESSA HORA ALGUM DELES DIGA: AGORA ME ARREPENDO. TAMPOUCO ALCANÇARÁ OS QUE MORRERAM NA DESCRENÇA, POIS PARA ELES DESTINAMOS UM DOLOROSO CASTIGO.” ( 4:17 /18)

Os versículos sagrados não deixam qualquer dúvida sobre a disposição divina ao perdão, que não nenhuma barreira entre o humano e seu Criador para que seu arrependimento seja aceito. O Islam nos ensina que o pecado surge do apego ao erro ou da ignorância ao que seja correto. Em ambas circunstâncias o que prevalece é a ausência da orientação divina, assim, no momento em que uma criatura se conscientiza do que é certo e sinceramente abandona o erro, se coloca no âmbito do perdão de Deus. Evidentemente, existem os pecados graves que acarretam consequências irreversíveis ou que envolvem o prejuízo a outrem , que podem exigir uma compensação pela lei para restabelecer a justiça.

A ênfase do versículo que determina a aceitação do arrependimento enquanto a morte não nos alcança explica o fato de que Deus não perdoa por exemplo, os que deixam o mundo como idólatras ou politeístas, ainda que possa perdoar a quem quiser que tenha cometido outros pecados; entretanto o deixar o mundo sem arrepender-se dos pecados coloca a pessoa numa difícil condição no além. Porquanto em diversas tradições fiéis o Profeta (S.A.A.S.) e os Imames purificados de Ahlul Bait (A.S.) ressaltam a importância do istghfar (pedido de perdão) e do tawbah na vida diária do devoto.

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse: “O lamento dos condenados no inferno é maior em razão do adiamento do arependimento”. Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “Quando um servo pede perdão abundantemente , este pedido se ergue em seu registro brilhando.” Não adiar o arrependimento e se empenhar no Istighfar são ações sensatas e o contrário disso é entregar-se ao erro e adotar pretextos esdrúxulos para permanecer como se está, até que não haja tempo ou oportunidade para se emendar.

Um outro ponto que se refere ao perdão e a misericórdia de Deus é o que o Alcorão orienta os fiéis no sentido de adotarem uma posição de temor e esperança, dizendo:

“SÓ PENSAM ESTAR SEGUROS DOS DESÍGNIOS DE DEUS OS DESVENTURADOS.” (7/99)

“… E NÃO DESESPERAM DA MISERICÓRDIA DE DEUS SENÃO OS DESCRENTES.” (12/87)

Comentando estes versículos sagrados Imam Ali (A.S.) recomendou para que ninguém se sentisse a salvo do castigo de Deus, nem mesmo o melhor de toda a comunidade, e que não perdesse a esperança na misericórdia de Deus nem mesmo o pior de toda a comunidade. Estas duas posições extremas são certamente caminhos de ruína, tanto o orgulho e o auto-conceito que nos leva a nos considerarmos “salvos” quanto a descrença que nos leva a nos considerarmos perdidos. Estas duas posições são modos de abandono de si mesmo as circunstâncias.

Capítulo 15 – O respeito aos pais

“…AGRADECE A MIM E AOS TEUS PAIS, PORQUE O RETORNO SERÁ A MIM.” (31/14)

“O DECRETO DE TEU SENHOR E QUE NÃO ADOREIS SENÃO A ELE, QUE SEJAIS INDULGENTES COM VOSSOS PAIS, MESMO QUE A VELHICE ALCANCE UM DELES OU AMBOS EM VOSSA COMPANHIA; NÃO OS REPROVEIS NEM OS REJEITEIS, AO CONTRÁRIO, DIRIGI-LHES PALAVRAS HONROSAS. E ESTENDE A ELES A ASA DA HUMILDADE E DIZE: Ó SENHOR MEU, TEM MISERICÓRDIA DE AMBOS COMO ELES TIVERAM MISERICÓRDIA DE MIM, CRIANDO-ME DESDE PEQUENO.” (17:23/24)

“PORÉM, SE TE CONSTRANGEREM A ASSOCIAR-ME O QUE IGNORAS , NÃO LHES OBEDEÇAS; COMPORTA-TE COM ELES COM BENEVOLÊNCIA NESTE MUNDO E SEGUE A SENDA DE QUEM SE VOLTOU CONTRITO A MIM…” (31/15)

O respeito aos pais ocupa honrada posição no Islam. A gratidão, a afabilidade e o carinho para com eles é uma obrigação dos filhos. Deus abomina os ingratos e amaldiçoa os que abandonam seus pais na velhice, como se tornou comum nas sociedades irreligiosas. A disposição divina da paternidade e da maternidade está acima mesmo de eventuais situações em que os pais não agem com justiça ou devido tratamento para com seus filhos. A desobediência para com os pais (exceto na questão do constrangimento à desobediência a Deus) é um grave pecado com conseqüências nesta e na outra vida. Disse o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.): “O aprazimento de Deus repousa no aprazimento dos pais e sua ira repousa na ira deles.”

Capítulo 16 – O laço de fraternidade entre os muçulmanos

“SABEI QUE OS FIÉIS SÃO IRMÃOS ENTRE SI, RECONCILIAI, POIS, COM VOSSOS IRMÃO SE TEMEIS A DEUS, PARA QUE VOS MOSTRE MISERICÓRDIA.” (49/10)

“E APEGAI-VOS TODOS AO VÍNCULO DE DEUS E NÃO VOS DIVIDAIS; RECORDAI-VOS DAS MERCÊS DE DEUS PARA CONVOSCO, PORQUANTO ÉREIS ADVERSÁRIOS MÚTUOS E ELE CONCILIOU VOSSOS CORAÇÕES E POR SUA GRAÇA, VOS CONVERTESTES EM VERDADEIROS IRMÃOS E QUANDO ESTIVESTES À BEIRA DO ABISMO INFERNAL, (DEUS) DELE VOS SALVOU. ASSIM DEUS ELUCIDA OS SEUS VERSÍCULOS PARA QUE VOS ILUMINEIS” (3/103)

“QUANTO AOS DESCRENTES SÃO PROTETORES UNS DOS OUTROS; E SE VÓS NÃO O FIZERDES (PROTEGEREM-SE MUTUAMENTE) HAVERÁ INTRIGA E GRANDE CORRUPÇÃO SOBRE A TERRA” (8/73)

Os laços de fraternidade que unem os muçulmanos possuem diversos aspectos e uma vasta abrangência. Desde as relações sociais até o compromisso de lealdade e solidariedade que deve alicerçar toda a comunidade islâmica. Desnecessário dizer o quão lamentáveis tem sido as conseqüências da negligência e do abandono desse princípio fundamental. O Islam surgiu como um elemento agregador que conclamava os humanos a estabelecerem uma nova qualidade de relação em que as crenças baseadas no orgulho racial e tribal seriam substituídas por um reconhecimento mútuo da irmandade pela fé.

A fonte para o triunfo dos muçulmanos em todas as épocas reside nesse princípio e enquanto isso se mantiver apenas como um ideal conhecerão condições decepcionantes de fraqueza e opressão. No campo individual o Islam requer de cada muçulmano o apego ao compromisso da fé que se resume em reconhecer o direito e sacralidade da vida, dos bens, da honra e da propriedade de todo irmão muçulmano. Isto envolve uma série de obrigações morais que necessitariam de muitas páginas para que fossem detalhadas.

Imam Ja´far As sádiq (A.S.) exemplificou algo disso dizendo: “Um muçulmano é irmão do outro e não deve oprimir-lhe, nem decepcioná-lo, nem maldizê-lo, nem traí-lo, nem desprezá-lo.”

Em uma outra famosa narrativa, quando inquirido por um homem sobre os deveres de um muçulmano para com o outro, Imam Ja’far As Sádiq (A.S.) respondeu: “Há sete deveres que incumbem ao crente, cada um dos quais lhe é obrigatório, e se negligenciar a algum dos mesmos, sai do âmbito da soberania e da obediência ao Criador e não lhe corresponderá nada em relação a Deus. O mais fácil desses deveres é que deseje para teu irmão o que deseja para ti mesmo e desejes que o te aborreces não aconteça a ele. Não decepcione a teu irmão, pelo contrário, procura agradá-lo e satisfazer a sua vontade. Ajuda-o com teu próprio ser , teus bens, língua, mãos e pés. Sê seus olhos, sua guia e seu espelho. Não te sacies enquanto ele se encontra faminto; não bebas estando ele sedento, e não te vistas quando ele não tiver com que se cubrir. Acaso ele não tenha servos e tu sim, é obrigatório para ti que envies o teu servo para que lave suas roupas, cozinhe sua comida e arrume sua cama. Sê fiel a palavra a ele dada e aceita seu convite ; visita-o quando esteja enfermo, acompanha seu corpo em seu funeral, e se acaso souberes que ele tem uma necessidade apressa-te em satisfazê-la antes de que ele te peça.”

Capítulo 17 – A salvaguarda dos direitos fundamentais

“…QUEM MATAR UMA PESSOA, SEM QUE ESTA TENHA COMETIDO HOMICÍDIO OU SEMEADO A CORRUPÇÃO NA TERRA, SERÁ CONSIDERADO COMO SE TIVESSE ASSASSINADO TODA A HUMANIDADE; QUEM A SALVAR, SERÁ REPUTADO COMO SE TIVESSE SALVO TODA A HUMANIDADE…” (5/32)

“Ó FIÉIS, ESTÁ-VOS PRECEITUADO O TALIÃO PARA O HOMICÍDIO, LIVRE POR LIVRE, SERVO POR SERVO, MULHER POR MULHER; MAS SE O IRMÃO DO MORTO PERDOAR O ASSASSINO, DEVEREIS INDENIZÁ-LO ESPONTÂNEA E VOLUNTARIAMENTE. ISTO É UMA MITIGAÇÃO E MISERICÓRDIA DE VOSSO SENHOR. MAS QUEM VINGAR-SE DEPOIS DISSO, SOFRERÁ UM CASTIGO DOLOROSO.” (2/178)

“NÃO MATEIS O SER QUE DEUS VEDOU MATAR, SENÃO LEGITIMAMENTE; MAS QUANTO A QUEM É MORTO INJUSTAMENTE, FACULTAMOS AO SEU PARENTE A REPRESÁLIA, PORÉM QUE NÃO SE EXCEDA NA VINGANÇA POIS ESTÁ AUXILIADO (PELA LEI).” (17/33)

“TENDES NA LEI DE TALIÃO A SEGURANÇA DE VOSSAS VIDAS Ó SENSATOS, PARA QUE VOS REFREEIS.” (2/179)

Os versículos sagrados demonstram a posição sagrada da vida perante Deus. A vida humana é assim resguardada pela lei para que os instintos violentos sejam refreados e o crime contra a vida não se alastre e nem se torne banal. A proteção da Shariah recai sobre todos os cidadãos de um estado islâmico, muçulmanos ou não e do mesmo modo todos são alcançados pela lei no caso de transgressão. A determinação “do homicídio ou corrupção na terra ” se refere as duas únicas situações que o sangue de uma pessoa se torna lícito, isto é : o caso em que se tenha cometido transgressão contra a vida de um inocente ou contra os direitos de Deus ( apostasia, prática de magia, abominações como o estupro, etc). A Shariah (lei divina) se estabelece na proteção de todos os direitos fundamentais : a vida , a honra e a propriedade das pessoas.

“NÃO VOS DIFAMEIS, NEM VOS MOTEJEIS COM APELIDOS…” (49/11)

“Ó FIÉIS, EVITAI TANTO QUANTO POSSÍVEL A SUSPEITA, PORQUE ALGUMAS SUSPEITAS IMPLICAM EM PECADO. NÃO VOS ESPREITEIS NEM VOS CALUNIEIS MUTUAMENTE. QUEM DE VÓS SERIA CAPAZ DE COMER A CARNE DE SEU IRMÃO MORTO? TAL ATITUDE VOS CAUSA REPULSA! TEMEI A DEUS PORQUE ELE É REMISSÓRIO, MUI MISERICORDIOSO” (49/12)

“E AQUELES QUE DIFAMAREM AS MULHERES CASTAS, SEM APRESENTAR QUATRO TESTEMUNHAS, INFLIGI-LHES OITENTA CHICOTADAS E NUNCA MAIS ACEITEIS OS SEUS TESTEMUNHOS, PORQUE SÃO DEPRAVADOS.” (24/4)

“QUANTO AO LADRÃO E A LADRA, DECEPAI-LHES A MÃO COMO CASTIGO DE TUDO QUANTO TENHAM COMETIDO; É UM EXEMPLO QUE EMANA DE DEUS, PORQUE DEUS É PODEROSO E PRUDENTÍSSIMO.” (5/38)

A salvaguarda da vida, da honra e da propriedade é um bem valioso de toda a sociedade. As leis da shariah existem para o equilíbrio e a paz da comunidade, para que se estabeleça um ambiente social onde os cidadãos de bem sintam-se valorizados e possam conduzir suas vidas com a certeza de que estarão seguros. Naturalmente, a lei é implementada dentro de princípios de justiça em que haja a garantia de que não se cometerá excessos ou erros na aplicação das sentenças.

Toda a jurisprudência islâmica se desenvolveu com base em critérios bastante cuidadosos que pudessem refrear o espírito de retaliação e os veredictos mal fundamentados, para que a lei não se corrompesse e produzisse males ainda maiores a sociedade do que os tenham sido cometidos.

Capítulo18 – A justiça social

“DEUS FAVORECEU COM SUA MERCÊ UNS MAIS DO QUE OUTROS; PORÉM OS FAVORECIDOS NÃO REPARTEM OS SEUS BENS COM OS SEUS SERVOS PARA QUE COM ISSO SEJAM IGUAIS. DESAGRADECERÃO ACASO AS MERCÊS DE DEUS? (16/71)

O versículo sagrado expõe duas determinações divinas. A primeira diz respeito a uma condição proporcionada por Deus ao gênero humano, condição esta de “teste” inerente à estada do homem neste mundo. Deus, em sua prudência, testa os humanos com diferentes favores e diferentes condições materiais. A segunda determinação se refere à incumbência dada ao próprio homem de se esforçar para o bem comum e a justiça.

A justiça, o bem estar de todos e a prosperidade social são tarefas que cabem aos próprios homens. Será pelo livre arbítrio que o gênero humano escolherá o que fazer com os benefícios e recursos naturais que Deus lhe proporciona. Vivemos num planeta dotado de recursos para alimentar dezenas de vezes toda a população humana, o sistema econômico mundial tem produzido riquezas quase incalculáveis e no entanto a maior parte dos seres humanos vivem numa assustadora condição de miséria e de desamparo. Como gênero humano temos falhado no que Deus nos incumbiu. Decerto que os que possuem os meios e os recursos, aqueles que receberam mais das mercês de Deus, responderão duramente no dia do Juízo. Que argumento terão para não ter distribuído com generosidade e justiça aquilo que receberam de Deus? Que justificativa será possível para que tenham criado um sistema cruel de acúmulo que condena bilhões de seres humanos a fome e a penúria? Deus em sua infinita sabedoria separará pois os gratos a seus favores que trabalharam para a justiça e o bem estar de todos dos ingratos, egoístas e avarentos que não se importaram com o sofrimento humano e trabalharam para a injustiça.

“OS QUE PRATICAM A USURA SÓ SERÃO RESSUCITADOS COMO AQUELE QUE FOI PERTURBADO POR SATANÁS, ISSO PORQUE DISSERAM QUE A USURA É O MESMO QUE O COMÉRCIO, NO ENTANTO, DEUS PERMITE O COMÉRCIO E PROÍBE A USURA…” (2/275)

“DEUS ABOMINA A USURA E MULTIPLICA A RECOMPENSA DOS CARIDOSOS; ELE NÃO APRECIA NENHUM DESCRENTE, PECADOR.” (2/276)

A questão aqui apresentada envolve tanto o nível social como individual. A usura históricamente tem sido o mecanismo maligno que tem perpetuado a miséria de muitos para a riqueza de poucos. Todo o sistema econômico mundial se fundamenta nesta máquina de produzir dependência e pobreza e usurpar as riquezas das sociedades para enriquecer nações e classes dominantes. A usura é descrita como o oposto da caridade. O sistema de usura se oculta nas relações comerciais, se utiliza deste para agir livremente e minar as sociedades. Ao entendermos o sistema cruel da usura entendemos também o porque a ordem econômica mundial nos conduziu a este atual estado de coisas. Não será possível promover a justiça social , a verdadeira igualdade sem que o sistema de usura seja abolido.

“CONCEDE POIS AOS PARENTES OS SEUS DIREITOS, ASSIM COMO AO NECESSITADO E AO VIAJANTE. ISSO É PREFERÍVEL PARA AQUELE QUE ANSEIA CONTEMPLAR A FACE DE DEUS. ESTES SERÃO OS BEM AVENTURADOS .” (30/38)

“SE VOSSO DEVEDOR SE ACHAR EM SITUAÇÃO PRECÁRIA , CONCEDEI-LHE UMA MORATÓRIA, MAS, SE O PERDOARDES SERÁ PREFERÍVEL PARA VÓS, SE QUEREIS SABER.” (2/280)

Aqui se apresentam as determinações divinas no âmbito individual. Deus nos ordena a justiça e a generosidade nas relações. Respeitar os direitos é fazer justiça. Agir com generosidade e não exercer nenhum tipo de opressão é o que é requerido dos que temem a Deus e anelam sua recompensa.

Enquanto que a primeira determinação se refere a justiça em si, já que conceder o direito, não é um ato de desprendimento, mas sim uma obrigação moral; a segunda determinação se refere ao exercício da misericórdia e da bondade. Estas duas determinações devem estar sempre juntas na ação do devoto.

Capítulo 19 – A igualdade entre os humanos

“Ó HUMANOS, EM VERDADE NÓS VOS CRIAMOS DE MACHO E FÊMEA E VOS DIVIDIMOS EM POVOS E TRIBOS PARA QUE VOS RECONHECESSEIS UNS AOS OUTROS. SABEI QUE O MAIS HONRADO DENTRE VÓS, ANTE DEUS, É O MAIS TEMENTE. SABEI QUE DEUS É SAPIENTÍSSIMO E ESTÁ BEM INTEIRADO.” (49/13)

O Islam não reconhece nenhuma superioridade natural entre homens e mulheres, entre povos ou nações. Cabe notar que o versículo sagrado não faz qualquer menção sobre o conceito de raça, o qual a própria ciência moderna já admite como algo sem qualquer fundamento na realidade. Em outras palavras, o Islam não admite qualquer forma de racismo. Qualquer doutrina racista ou que pregue algum tipo de superioridade com base em identidades culturais, nacionais ou tribais se opõe ao Islam, porque o Alcorão declara terminantemente a igualdade natural de todos os seres humanos.

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse: “Em verdade, os humanos de Adão até hoje são iguais como os dentes de um pente e não há superioridade do árabe sobre o não-árabe, ou do avermelhado sobre o negro, exceto pelo temor .”

Ademais, o versículo sagrado ainda nos esclarece a razão pela qual os homens foram divididos em povos e tribos: “PARA QUE VOS RECONHECESSEIS UNS AOS OUTROS.” Há um profundo e belo significado nessa passagem: As diferenças existem para que aprendessemos a superá-las, a respeitá-las como uma determinação divina e reconhecermos no “outro” a igualdade natural que une a todos. Para Deus, a única característica distintiva que conta é o temor a ELE porquanto toda discriminação com base tribal, nacional ou de características físicas nega o Islam.

Capítulo 20 – A gratidão

“DEUS VOS EXTRAIU DAS ENTRANHAS DE VOSSAS MÃES DESPROVIDOS DE ENTENDIMENTO, PROPORCIONOU-VOS OUVIDOS, VISTAS E CORAÇÃO, PARA QUE LHE AGRADECESSEIS” (16/78)

“Ó FIÉIS, DESFRUTAI DE TODO O BEM COM QUE VOS AGRACIAMOS E AGRADECEI A DEUS E SÓ A ELE ADORAIS.” (2/172)

A gratidão a Deus está intimamente ligada ao reconhecimento da unicidade divina. Este reconhecimento não se restringe a palavras, mas se constrói por meio das atitudes guiadas pela consciência de que Deus é o Senhor de todas as coisas e que dele provém todas as bençãos. De fato, todo o sentido da prática religiosa se assenta nesta consciência de gratidão. Não nos é possível mencionar a vastidão de favores que continuamente recebemos de Deus em nossa existência, começando pela própria existência que é uma dádiva sem preço. A menos que uma pessoa reconheça isso no mais profundo de seu coração jamais chegará a ser um verdadeiro devoto de Deus.

Capítulo 21 – A recordação de Deus (Dhikr)

“E RECORDA-TE DO TEU SENHOR INTIMAMENTE, COM HUMILDADE E TEMOR, SEM MANIFESTAÇÃO DE PALAVRAS,AO AMANHECER E AO ENTARDECER, E NÃO SEJAS UM DOS NEGLIGENTES.” (7/205)

“RECORDAI-VOS DE MIM. QUE EU ME RECORDAREI DE VÓS, AGRADECEI-ME, NÃO SEJAIS INGRATOS A MIM.” (2/152)

“E NÃO SEJAIS COMO AQUELES QUE SE ESQUECERAM DE DEUS E POR ISSO MESMO, ELE OS FEZ ESQUECEREM DE SI PRÓPRIOS. ESTES SÃO OS DEPRAVADOS.” (59/19)

“…E ENCAMINHA ATÉ ELE OS CONTRITOS, QUE SÃO FIÉIS E CUJOS CORAÇÕES SOSSEGAM COM A RECORDAÇÃO DE DEUS. NÃO É CERTO QUE À RECORDAÇÃO DE DEUS SOSSEGAM OS CORAÇÕES?”(13/28)

A recordação de Deus ocupa uma posição mesmo superior a toda forma de îbad (culto) desde que é o que inspira o devoto a ação do culto em si , tanto no cumprimento do que Deus determinou como no restringir-se daquilo que tenha vedado.

O dhikr é uma prática de múltiplas dimensões. Se estabelece na mente na forma da recordação, na língua na forma do testemunho de fé, na invocação e no louvor e se estabelece no coração daqueles que Deus tenha agraciado, de modo que estes encontram a serenidade. Assim, trata-se de algo a ser cultivado continuamente para que pouco a pouco se torne natural e passe a dirigir o coração do devoto. Imam Ja’far As Sádiq (A.S.) disse; “O coração é o santuário de Deus, portanto não coloqueis nele nada senão Deus”. Este dizer chama nossa atenção para a essência do Dhikr, que é exercitar o amor a Deus e a lembrança dele, e este exercício se concretiza na medida em que o nosso coração não está ligado ao mundo. Devemos nos colocar no mundo com a plena consciência de que somos viajantes nele e que as expectativas de um devoto devem estar dirigidas para a vida eterna. Este é o dhikr em seus mais completo significado.

A recordação aqui referida não é algo a se fazer apenas nos momentos de necessidade (o que é característico dos que pouco a fazem) tampouco deve se restringir aos momentos de oração. O Alcorão nos alerta que Satã, o inimigo do gênero humano mantém constante espreita, ávido para nos fazer esquecer de Deus, quer seja por meio de excesso de distrações ou por inspirar a desobediência e as dúvidas infundadas. O dhikr é um escudo que se interpõe entre Satã e o coração do homem.

Capítulo 22 – O uso do raciocínio

“E NÃO SEJAIS COMO AQUELES QUE DIZEM: ESCUTAMOS! QUANDO NA VERDADE NÃO ESCUTAM. AOS OLHOS DE DEUS OS PIORES ANIMAIS SÃO OS “SURDOS” E “MUDOS”, QUE NÃO RACIOCINAM”. (8/21 e 22)

“EM VERDADE NÃO É DADO A NENHUM SER ACREDITAR SEM A ANUÊNCIA DE DEUS. ELE DESTINA A ABOMINAÇÃO ÀQUELES QUE NÃO RACIOCINAM.” (10/100)

O Alcorão nos orienta a exercer o dom do raciocínio, o qual é característica que distingue o ser humano e o capacita a discernir entre o bem e o mal, a verdade e a falsidade. A descrença é na realidade, uma recusa ao raciocínio; quer seja pelo apego consciente ao erro ou pela negligência no exercício da reflexão. Em ambos os casos se encontra a recusa ao raciocínio. É muito comum que uma pessoa que assim proceda, busque justificativas para permanecer na condição em que se encontra, ora se apoiando nas crenças de seus antepassados, ora se julgando já suficientemente orientada. Esses comportamentos nada mais são do que formas elementares de “ignorância” que condenam o homem a uma condição similar a dos animais.

Imam Al Kádzim (A.S.) disse: “Deus possui dois argumentos em relação aos humanos, um interior e um exterior: o exterior são seus enviados, os profetas e os imames (a paz sobre eles) e o interior são os seus intelectos.”

Com efeito, no dia do juízo todos os seres humanos se apresentarão diante de Deus sem qualquer justificativa aceitável para não terem abraçado a senda correta. Os versículos sagrados se referem a estes que permanecem na ignorância, que o fazem ou por serem movidos por suas paixões ou por se recusarem deliberadamente a buscar o conhecimento.

Capítulo 23 – O conhecimento sobre a vida terrena

“SABEI QUE A VIDA TERRENA É TÃO SOMENTE JOGO E DIVERSÃO, VELEIDADES, MÚTUA VANGLÓRIA E RIVALIDADE COM RESPEITO A MULTIPLICAÇÃO DOS BENS E FILHOS; É COMO A CHUVA QUE COMPRAZ AOS CULTIVADORES, POR VIVIFICAR A PLANTAÇÃO; LOGO, COMPLETA-SE O SEU CRESCIMENTO E A VERÁS AMARELADA E TRANSFORMADA EM FENO. NA OUTRA VIDA HAVERÁ CASTIGOS SEVEROS, INDULGÊNCIA E COMPLACÊNCIA DE DEUS. QUE É A VIDA SENÃO UM PRAZER ILUSÓRIO?” (57/20)

“E CONTINUOU(SATÃ): ATENTA PARA ESTE QUE PREFERISTE A MIM! JURO QUE SE ME TOLERARES ATÉ O DIA DA RESSURREIÇÃO, SALVO UNS POUCOS, APOSSAR-ME-EI DA SUA DESCENDÊNCIA. DISSE-LHE (DEUS): VAI-TE! E PARA AQUELES QUE TE SEGUIREM , O INFERNO SERÁ O CASTIGO BEM MERECIDO! SEDUZE COM A TUA VOZ AQUELES QUE PUDERES DENTRE ELES; ATURDE-OS COM A TUA CAVALARIA E A TUA INFANTARIA; ASSOCIA-TE A ELES NOS BENS E NOS FILHOS E FAZE-LHES PROMESSAS! QUAL! SATÃ NADA LHES PROMETE SENÃO QUIMERAS.” (17/ 62 a 64)

“ACASO, OBTERÁ O HOMEM TUDO QUANTO AMBICIONA? SABEI QUE SÓ A DEUS PERTENCE A OUTRA VIDA E A PRESENTE.” (53:24/25)

“QUEM DESEJAR A RECOMPENSA DA OUTRA VIDA A TERÁ AUMENTADA; AO CONTRÁRIO, QUEM PREFERIR A RECOMPENSA DA VIDA TERRENA, TAMBÉM LHE CONCEDEREMOS ALGO DELA, PORÉM, NÃO PARTICIPARÁ DA (BEM AVENTURANÇA) DA OUTRA VIDA.” (42/20)

“BENDITO SEJA AQUELE EM CUJAS MÃOS ESTÁ A SOBERANIA, QUE É ONIPOTENTE, QUE CRIOU A VIDA E A MORTE PARA QUEM DE VÓS MELHOR SE COMPORTA…” (67/1 e 2)

“PORVENTURA PENSAM OS HUMANOS QUE SERÃO DEIXADOS EM PAZ, SÓ PORQUE DIZEM : CREMOS ! SEM SEREM POSTOS A PROVA?” (29/2)

Os versículos sagrados nos apresentam um quadro bastante completo do sentido e da natureza da existência humana nesse mundo. O primeiro deles detalha as múltiplas inclinações e interesses mundanos em que o homem se empenha : sua busca de poder, de acúmulo de bens, de influência sobre os demais, satisfação constante dos prazeres e de diversão. Em seguida o versículo expõe o processo inexorável do tempo que reduz toda a ambição humana a nada e o ciclo que se fecha com a morte e então anuncia, a realidade da vida no além. Os versículos seguintes nos informam do propósito declarado de Satã de desviar o homem por suas promessas relativas as seduções da vida terrena. O Alcorão também nos orienta no sentido do que e como buscar em nosso tempo de vida neste mundo e de como estão estabelecidas as recompensas, posto que Deus não frustra os esforços de ninguém e que cada um receberá segundo o que está a buscar. Por fim, a vida nos é apresentada como um teste constante, quer seja com o benefício ou com a adversidade, para que Deus separe os perseverantes e os tementes dos que não creram e não buscaram firmar-se a senda correta.

Capítulo 24 – Promessas de Deus para os fiéis

“A QUEM PRATICAR O BEM, SEJA HOMEM OU MULHER E FOR FIEL. CONCEDEREMOS UMA VIDA AGRADÁVEL E PREMIAREMOS COM UMA RECOMPENSA DE ACORDO COM O MELHOR DE SUAS AÇÕES”. (16/97)

“AQUELES QUE EVITAREM ADORAR O SEDUTOR E SE VOLTAREM CONTRITOS A DEUS, OBTERÃO AS BOAS NOVAS, ANUNCIA POIS AS BOAS NOVAS AOS MEUS SERVOS, QUE ESCUTAM AS PALAVRAS E SEGUEM O MELHOR (SIGNIFICADO) DELAS! SÃO AQUELES QUE DEUS ENCAMINHA E SÃO OS SENSATOS.” (39/ 17 e 18)

“QUANTO AOS FIÉIS QUE PRATICAREM O BEM, NÓS OS INTRODUZIREMOS EM JARDINS ABAIXO DOS QUAIS CORREM RIOS, ONDE MORARÃO ETERNAMENTE. A PROMESSA DE DEUS É INEXORÁVEL. E QUEM É MAIS LEAL DO QUE DEUS NO QUE ASSEVERA? (4/ 122)

Os versículos sagrados expõem as promessas de Deus como algo ao alcance dos que crerem, forem fiéis e tementes. Tal é a misericórdia de Deus oferecida a todos que se propuserem alcançá-la. Certa vez foi pedido a Imam Ali (A.S.) que falasse sobre as palavras de Deus “CONCEDEREMOS UMA VIDA AGRADÁVEL” e ele disse: “significa contentamento”. Deus promete aos fiéis e bondosos o contentamento com aquilo que lhe tenha sido destinado neste mundo, sem o qual qualquer pessoa está fadada a insatisfação e ao sofrimento. Sem o amparo de Deus diante das dificuldades da vida, sem sua correta orientação diante das falsas facilidades e dos enganos o homem é um cativo de seus próprios desejos e nenhum benefício o satisfaz. Porém, Deus promete aos fiéis o seu amparo e a sua orientação nos caminhos do mundo. Mas também nos promete algo muito mais valioso: uma recompensa ininterrupta no Paraíso reservado aos que o amam. O devoto é aquele que se apega as promessas divinas e coloca seu esforço para o aprazimento de Deus.

PALAVRAS FINAIS

Nesse estudo dirigido do Alcorão procuramos abordar alguns dos principais aspectos do Livro de Deus. Nenhuma obra humana poderia resumir as palavras eternas de Deus. Procuramos então apenas apresentar uma pequena parte da vastidão de ensinamentos e orientações descidas a título de um estudo introdutório ao Islam. Queira Deus aceitar nosso esforço e se apiedar de nós. Que Deus permita que esse pequeno estudo dirigido seja de valia para os que buscam a verdade e a orientação divina. Que seja útil aos muçulmanos e muçulmanas no aprimoramento de seu conhecimento do din.

«
»