Comentários sobre os argumentos dos inimigos do Islam sobre Takkya.

Por: Ahmad Ismail

Não encontrando base racional ou documental no Alcorão ou na sunna autêntica para dar a Takyya a conotação criminosa que desejam, os inimigos do Islam recorrem a distorcer alguns versículos do Alcorão, tirá-los de seu contexto original para enganar os incautos e acender as suspeitas contra os muçulmanos.

Em um dos muitos textos de difamação lançados na internet consta: Kitman – mentir omitindo, como, por exemplo, citar para um infiel somente parte de um preceito que o cativará e o levará a conversão, sem dizer o restante e a quais outros preceitos está ligado.

Esta e todas as outras modalidades citadas nesses textos (tawryia – taysir – darura – muruna) obedecem a mesma regra fundamental: O Islam proíbe a fraude para auferir qualquer tipo de lucro ou vantagem sobre os outros.

Assim sendo, ocultar a verdade para não causar sofrimento a um doente terminal ou para unir duas pessoas que tenham entrado em litígio por razões irrelevantes (um pai e um filho ou um problema conjugal), não tem qualquer relação com a falsa interpretação pretendida pelo autor do texto.

A definição de kitman mencionada é apenas uma tolice, uma pessoa não pode ser convencida a aceitar o Islam por kitman. Ademais, um testemunho de fé só é válido se houver consciência dos pilares, das obrigações e direitos de um muçulmano. Quem escreveu isso, mentiu por puro fanatismo anti-islâmico e por ignorância da jurisprudência.

Em suma, qualquer mentira para auferir vantagem sobre alguém é fraude – e fraude é haram. O Alcorão condena a fraude e sobretudo a fraude nos contratos e convênios. Por isso diz: “Ó crentes, cumpri vossos acordos…” Como toda regra tem sua exceção – a exceção foi (não é válida para hoje) daquele acordo com os idólatras perjuros durante a guerra em Medina – não estamos autorizados a fazer o mesmo nos dias de hoje – aquela anulação do acordo foi ordenada por Deus naquela situação específica, tal como o Alcorão diz: “Cumprí o ajuste com os idólatras, com os quais pactuastes, e que não tenham vos atraiçoado nem auxiliado alguém contra vós; cumprí o tratado até o seu termo. Deus ama os tementes”. (C.9 – V.4) A proclamação aqui mencionada é particularizada – Deus Altíssimo cancelou o acordo com os idólatras que havia sido firmado por uma razão: o perjúrio e a traição que aqueles idólatras tinham cometido em várias ocasiões. Sabemos disso pelo que está sendo dito no versículo subsequente: “cumpri o ajuste com os idólatras com os quais pactuastes, e que não tenham vos atraiçoado nem auxiliado alguém contra vós; cumprí o tratado até o seu termo.”

Imaginar que os muçulmanos precisariam de tais artifícios nos dias de hoje (onde não existe guerra declarada ou perseguição ao Islam na maioria dos países ocidentais) é de um primarismo intelectual deprimente.

No mesmo texto, o autor utiliza quatro ayats do Alcorão para respaldar suas acusações, todos os versículos foram distorcidos nessa tentativa: provar que os muçulmanos teriam recebido autorização para mentir contra os não-muçulmanos: “E um homem fiel, do clã do Faraó, que ocultava a sua fé, disse: Matarás a um homem somente porque diz: Meu Senhor é Deus, ainda que tenha vos apresentado as evidências de vosso Senhor? Ademais, se for um impostor sua mentira recairá sobre ele; mas, se for fiel, algo do que ele promete vos atingirá. Deus não encaminha aquele que é transgressor, mentiroso”. (Alcorão C.40 – V.28)

O ayat mencionado pelo autor do texto não tem qualquer relação com o assunto tratado; não é um ayat normativo ou determinante (que contenha alguma lei a ser cumprida), apenas narra um acontecimento na época de Moisés, no qual um homem temente debateu com o Faraó. Pois bem, ao citar um ayat de forma tão despropositada o autor do texto deixa evidente o seu despreparo para tratar de um assunto que desconhece; somente motivado por seu fanatismo anti-Islam.

“Allah não vai chamá-los para explicar leviandade em seus juramentos, mas irá julgá-lo pela intenção em seus corações”. Alcorão (C.2 V.225) O contexto dessa observação é o casamento, o que explica por que a Sharia permite aos cônjuges mentirem uns para o outro para um bem maior. O versículo, corretamente traduzido, em seu contexto (e sem comentário extra) é: “E não façais de Deus um obstáculo em vossos juramentos de não serdes bondosos, piedosos e reconciliadores entre as pessoas. Deus ouve tudo e é Sábio. Deus não vos culpa por vossos juramentos frívolos; porém, vos culpa por aquilo que vossos corações lograram (com intenção). Deus é Perdoador, Compassivo”. O comentário do autor do texto é também um despropósito. O ayat trata exclusivamente dos juramentos levianos – nada mais. Os árabes costumavam dizer “juro por Deus não auxiliarei fulano em nada” – o Alcorão condenou essa prática de incluir Deus num juramento como uma barreira para não fazer o bem. Percebam como o texto é facilmente refutado, uma vez que seu autor quer induzir os leitores a uma interpretação forçada, com o jogo de palavras e distorção da finalidade do texto alcorânico.

“Ó Profeta, por que vedas a ti mesmo o que Deus tornou lícito a ti, procurando com isso agradar as tuas esposas, quando sabes que Deus é Indulgente, Misericordioso? Deus vos preceituou a reparação de vossos juramentos (não cumpridos). E Deus é vosso Guardião, E Ele é O Onisciente, O Prudente”. (C.66 – V.1 e 2) Ao mencionar somente o versículo 2, o autor do texto (conscientemente ou não) abriu a possibilidade de distorcer o objetivo do versículo e a quem o mesmo se referia. A passagem é referida ao Profeta (S.A.A.S.), e a ninguém mais. Não tem nela autorização para anular compromissos assumidos ou dissolução de juramentos. O texto original diz: “Qad faradallahu lakum tahillata aimanikum”, Deus vos preceituou a reparação de vossos juramentos (não cumpridos), não fala de dissolução pura e simples. A reparação (autorizada em outro versículo) é “para promessas assumidas que não tivessem por qualquer motivo deixado de ser cumpridas, a reparação era (naquela época) a libertação de um servo (pagar a libertação de um escravo). Os dois ayats falam de uma situação ocorrida na vida pessoal do Profeta (S.A.A.S.), uma de suas esposas havia feito com que ele prometesse não tocar numa outra (uma promessa descabida, pois fazia parte de seu direito – num sistema poligâmico). Enfim, não tem qualquer relação com os demais muçulmanos, os dois versículos tratavam de um assunto pessoal do Profeta (S.A.A.S.) e suas esposas. O máximo a se aplicar como norma é que promessas assumidas devem via de regra ser cumpridas, mas se por algum motivo de força maior não o forem, devem ser reparadas com um ato de caridade.

“(Eles, os judeus) tramaram (contra Jesus); e Deus, por Sua parte, também tramou. Deus é o melhor dos tramadores”. (C.3 – V.54) Repare que o autor do texto foi infeliz na sua tradução. O texto original não fala de “não-muçulmanos”, fala dos judeus que tramaram contra Jesus (A.S.) (não contra Deus). Literalmente: “Wa makaru wa makarullaha wa llahu khairun makirin”. Eles tramaram e Deus tramou contra eles, e Deus é o melhor dos tramadores”. Sim, no Alcorão e também na Torá (em hebraico) Deus é apresentado como o Sagaz, que arma contra os descrentes. Quando Deus Altíssimo disse a Moisés (A.S.) vá ao Faraó que eu endurecerei seu coração… Ele estava montando uma armadilha para aquele arrogante que tomava a si mesmo por Deus. Então, é uma prerrogativa de Deus utilizar estratagemas contra os descrentes. Mas isso não quer dizer (como conclui apressadamente o autor do texto) que os muçulmanos tenham autorização para fazer o mesmo; essa conclusão ele tirou de sua própria cabeça.

 

 

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