As seguintes narrativas foram atribuídas ao Imam Abul Hassan Ali ibn Mohammad Al-Hadi (A.S.), o bem-guiado, o paciente.

Sua resposta aos adeptos do fatalismo e do não-determinismo, e a confirmação da Justiça de Allah e da crença na intermediação de Ali ibn Mohammad:

A paz, a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre aqueles que seguem a orientação correta. Eu recebi vossa mensagem e fiquei ciente do que mencionastes acerca do desacordo em vossa religião, no que diz respeito a questão do fatalismo, as várias opiniões dos que creem no fatalismo e daqueles que creem no não-determinismo, o que vos levou ao afastamento e o antagonismo mútuos. Portanto, solicitastes uma explicação integral do assunto. Eu compreendi tudo o que dissestes.

Que a misericórdia de Allah esteja sobre vós, deveis saber que quando consideramos as tradições e as numerosas narrativas, podemos descobrir todas as coisas que foram adotadas pelos muçulmanos que compreendem as ordens de Allah e os assuntos referentes ao correto e ao incorreto. O correto, deve ser seguido e o incorreto deve ser rejeitado. A Ummah concorda unanimemente quanto ao fato de que o Alcorão Sagrado é o correto, sobre o qual não há dúvida. Todos os mahzab (as escolas de interpretação) islâmicos creem na fidelidade e comprovação do Alcorão Sagrado. Nesse contexto, todos eles são verazes e seguem o caminho correto, pois o Mensageiro de Allah disse: “Minha nação nunca concordará unanimemente num assunto incorreto”.

O Profeta (S.A.A.S.) se referia ao fato de que todos os assuntos em que a ummah concorde unanimemente são corretos, ou seja, assuntos em que as diferentes escolas não estiverem em desacordo. O Alcorão Sagrado, portanto, é veraz, pois todos estão de acordo sobre sua revelação e precisão. Quando o Alcorão Sagrado confirma um evento e uma escola o nega, torna-se necessário crer no evento confirmado pelo Alcorão Sagrado, pois em princípio todos concordaram acerca da veracidade do Alcorão Sagrado. Se essa escola persistir em sua negação daquele evento, deverá ser alijada do Islam por heresia. A principal narrativa da qual a confirmação, a credibilidade e a evidência são provadas pelo Livro de Allah é a narrativa cuja fonte é o Profeta (S.A.A.S.), confirmada e reconhecida pelo Livro de tal maneira que nada dele, Alcorão Sagrado, pode levantar objeção. É o que disse o Profeta (S.A.A.S.): “Deixo entre vós dois encargos: o Livro de Allah e a minha descendência; minha família. Não vos desviareis enquanto permanecerdes ligados a ambos, e eles não se afastarão de vós até que se reúnam a mim no Khaud’”.

As provas da fidelidade desse hadith são numerosas no Livro de Allah. Como exemplo, citemos o dizer de Allah: “Vossos reais guardiões são Allah, Seu mensageiro e os verdadeiros fiéis que observam a oração e pagam o zakat, prostrando-se diante de Allah. Quanto aqueles que se voltam para Allah, Seu mensageiro e os verdadeiros fiéis, saibam que o partido de Allah triunfará”. (Alcorão Sagrado, C.5 – V.55 e 56)

Os sunnis relatam muitas tradições que confirmam que, certa vez, Amirul Mu’uminin (A.S.) deu seu anel em caridade enquanto se encontrava prostrado em oração. Portanto, Allah ficou satisfeito com ele por esse ato e revelou o versículo acima sobre o ocorrido. Também encontramos na tradição que o Profeta (S.A.A.S.) disse: “Aquele cujo soberano sou eu, Ali será seu soberano”. “Ó Ali, a tua relação comigo é a mesma relação entre Arão e Moisés, exceto que não haverá outro profeta depois de mim”. “Ali cobrirá minhas dívidas, cumprirá minhas promessas e será meu khalifa depois de mim”.

A primeira narrativa da qual as outras foram extraídas é aceita com unanimidade por eles, os sunnis, já que não há desacordo quanto a sua fidelidade. Além disso, a tradição concorda com o Livro de Allah, uma vez que o Livro, e também numerosas evidências, atesta a correção da narrativa, tornando obrigatório para a ummah afirmar sua correção, uma vez que as evidências alcorânicas sobre tais narrativas são óbvias. Eles estão de acordo de que o Alcorão Sagrado concorda com essas narrativas. Depois disso, narrativas fidedignas do Profeta (S.A.A.S.) que foram comunicadas dos Verazes, os Imames, por pessoas bem conhecidas e dignas de confiança ficam provadas. Em virtude disso, se torna obrigatório para todo crente e toda crente acatar tais narrativas como verdadeiras. Ademais, ninguém deverá exagerá-las, senão os obstinados. Porque os dizeres da família do Profeta estão conectados às palavras de Allah. Allah diz: “Em verdade, aqueles que molestam Allah e Seu Mensageiro, Allah os amaldiçoará neste mundo e no outro, e tem-lhes preparado um afrontoso castigo”. (Alcorão Sagrado, C.33 – V.57)

A similaridade desse versículo é o dizer do Profeta (S.A.A.S.): “Aquele que molestar Ali estará molestando a mim, aquele que molestar a mim estará molestando a Allah, e aquele que molestar a Allah estará prestes a ser castigado”. “Amar a Ali é amar a mim, e amar a mim é amar a Allah”. “Que os Wulai continuem a fazer o que fazem e eu os submeterei a um homem que será como eu próprio, que ama a Allah e ao Seu Mensageiro, e eles os amarão – Ali, erga-te e vá até eles”. “Amanhã, eu designarei (para o comando do exército que estava saindo para conquistar Khaibar) um homem que ama a Allah e a Seu mensageiro e eles os amarão, um conquistador não um desertor, e ele não retornará sem que antes Allah lhe dê a vitória”. Como o Profeta (S.A.A.S.) havia vaticinado a vitória, cada um de seus companheiros ficou ansioso por ser o designado. Na manhã seguinte, o Profeta (S.A.A.S.) chamou Ali (A.S.) e lhe entregou o comando do exército que conquistaria Khaibar. Além disso, o Profeta (S.A.A.S.) o denominou de conquistador e não de desertor, e declarou que Allah e Seu Mensageiro o amariam e ele os amaria.

A introdução acima foi a evidência sobre o nosso assunto em discussão e nos ajudará a provar nossa discussão posterior da questão do fatalismo, do não-determinismo e do meio termo. Todo apoio e poder pertencem a Allah a Quem con amos todos os nossos assuntos. Primeiro, iniciemos com o dizer do Imam Assadeq (A.S.): “Nem fatalismo nem não-determinismo. É uma posição intermediária. É a perfeição da criação, a liberdade de escolha, o tempo su ciente, os recursos para a execução como a montaria, e os meios de incitamento para a ação”. Imam Assadeq (A.S.) reúne a totalidade dos méritos nessas cinco qualidades. Se um servo é desprovido de qualquer uma delas, suas ações serão invalidadas. O Imam está falando da origem do conhecimento que as pessoas devem buscar e que o Livro se refere a sua confirmação. As sentenças decisivas do Profeta (S.A.A.S.) também atestam isso porque os dizeres do Profeta e de sua família nunca excedem os limites do Alcorão Sagrado. É compulsório aos servos de Allah seguirem as narrativas que concordem com os versículos revelados e que foram confirmadas pelo Alcorão Sagrado. Somente os obstinados são capazes de omitir-se de tal obrigação, como mencionamos anteriormente.

Descobrimos, depois de termos examinado a questão, que os dizeres do Imam Assadeq (A.S.) a respeito da confirmação da posição intermediária e da negação tanto do fatalismo como do não-determinismo são atestados e estão em concordância com o Livro. Temos também outra narrativa que foi relatada do Imam Assadeq (A.S.) adequada para o nosso assunto. Ele foi, certa vez, perguntado se Allah obrigava os servos a cometer atos de desobediência. O Imam respondeu: “Allah é muito justo para fazer tal coisa”. Ele então foi perguntado se Allah dava aos servos a liberdade máxima de escolha. O Imam respondeu: “Allah é muito poderoso e soberano para fazer isso”.

Também é narrado que o Imam Assadeq (A.S.) disse: “Com respeito a questão do fatalismo, as pessoas têm três diferentes opiniões. Uma é a crença de que as pessoas possuem uma liberdade total de escolha em seus atos. Os que adotam semelhante crença estão desconsiderando os limites do domínio de Allah sobre todas as coisas. Eles estão errados.

Outra opinião é a crença de que Allah obriga os servos a cometerem atos de desobediência, e que impõe a eles uma responsabilidade acima de sua capacidade. Os que adotam essa crença imputam injustiça a Allah. Estão errados. A última opinião é a crença de que Allah impõe aos servos uma responsabilidade que corresponde a sua capacidade e que ele nunca os sobrecarrega. Devem, portanto, agradecer a Ele quando praticam uma boa ação e devem buscar Seu perdão quando cometem um pecado. Os que adotam essa crença são perfeitos muçulmanos”.

Na narrativa mencionada, o Imam Assadeq (A.S.) declara que aqueles que adotam o fatalismo e aqueles que adotam o não-determinismo se opõem ao que é correto. Eu já demonstrei então que os que seguem a crença do fatalismo e os que seguem a crença no não-determinismo estão errados. Portanto, a verdade se encontra no caminho intermediário. Citarei um exemplo para cada uma das três crenças a fim de tornar a questão mais clara, mais compreensível, provada pelos versículos do Livro e confirmada pelos homens de intelecto. O sucesso e a proteção são buscados somente em Allah. O fatalismo, crença que aqueles que a adotam estão equivocados, é a afirmação de que Allah o Majestoso obriga os servos a cometerem atos de desobediência, e que depois disso, os castiga. O que sustenta essa crença está descrevendo o julgamento de Allah como injusto e está desmentindo a Ele. Também está a renegar as palavras de Allah: “Teu Senhor não defraudará a ninguém”. (Alcorão Sagrado, C.18 – V.49) “Isso, pelo que tiverem cometido suas mãos, porque Allah nunca é injusto com os Seus servos”. (Alcorão Sagrado, C.22 – V.10) “Allah em nada defrauda os humanos…” (Alcorão Sagrado, C.10 – V.44) e muitos outros versículos.

Aqueles que afirmam ser forçados a cometerem atos de desobediência estão acusando Allah a obrigá-los a serem culpados e consideram injusta a Sua punição. Aquele que acusa Allah de injustiça está desmentindo o Seu Livro, e aquele que o faz é considerado, de modo unânime, um descrente. Os que adotam essa crença se comparam a um escravo que não possui liberdade ou coisa alguma neste mundo. Seu dono percebeu esse fato, mas ordenou que fosse comprar algo sem lhe dar o dinheiro para isso.

O dono afirmou ser justo, correto, sábio e imparcial, e ameaçou castigar o escravo se ele retornasse sem o artigo a ser comprado, muito embora soubesse que o negociante daquele artigo era tão cuidadoso que ninguém poderia conseguir nada dele sem pagar antes o preço devido, e que ele não tinha dado ao escravo o dinheiro necessário. Como o escravo não pode trazer o que o dono havia exigido, voltou desapontado. O dono ficou muito furioso e o castigou. Se o dono fosse realmente justo e sábio, não castigaria o escravo, já que sabia que ele não possuía nada e que não tinha lhe dado o dinheiro necessário para a compra. Se nesse caso ele pune o escravo, está errado, é um transgressor e mente ao afirmar ser justo, sábio e correto. Se ele não o pune, deixa de cumprir sua falsa e injusta ameaça que anula a justiça e a sabedoria. Allah é muito Glorioso e Sublime para ser assim considerado. Ele é Altíssimo e Majestoso.

Aqueles que adotam o fatalismo ou suas variantes acusam a Allah de injustiça e imputam a Ele deslealdade e opressão, pois a firmam que Allah impôs o castigo aqueles a quem obrigou serem desobedientes. Os que a firmam tal coisa acreditam que Allah poupará os culpados de Sua punição. Os que a firmam isso estão desmentindo a ameaça de Allah, a qual é mencionada em muitas passagens do Alcorão Sagrado, tais como: “Aqueles que lucram por meio de um mal e estão envolvidos por suas faltas serão condenados ao inferno, no qual permanecerão eternamente”. (Alcorão Sagrado, C.2 – V.81) “Aqueles que malversarem o patrimônio dos órfãos, introduzirão fogo em suas entranhas e entrarão no Tártaro”. (Alcorão Sagrado, C.4 – V.10) “Aqueles que negam os Nossos versículos, os faremos entrar no fogo infernal. Cada vez que sua pele se tiver queimado, a trocaremos por outra, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Allah é Poderoso, Prudentíssimo”. (Alcorão Sagrado, C.4 – V.56) Os que desmentem a ameaça de Allah são descrentes porque negam um dos versículos do Livro de Allah. Também se contam entre aqueles sobre quem Allah diz: “Credes, acaso, numa parte do Livro e negais a outra? Aqueles que, dentre vós, cometem tal coisa, não receberão em troca senão o aviltamento, na vida terrena e, no Dia da Ressurreição serão submetidos ao mais severo castigo.

E Allah não está desatento ao que fazeis”. (Alcorão Sagrado, C.2 – V.85) Nós acreditamos que Allah recompensará os servos por suas boas ações e punirá os culpados por seus pecados no limite da capacidade que deu a eles. Ele ordenou que se fizesse o que foi determinado e alertou contra os atos de desobediência. Em Seu Livro, Allah diz: “Quem tiver praticado o bem receberá o décuplo pelo mesmo; quem tiver cometido um pecado receberá um castigo equivalente, e não serão defraudados”. (Alcorão Sagrado, C.6 – V.160) “No dia em que cada alma se confrontar com todo o bem que tiver feito e com todo o mal que tiver cometido, ansiará para que haja uma grande distância entre ela e ele (o mal). Allah vos exorta a Dele lembrardes…” (Alcorão Sagrado, C.3 – V.30) “Nesse dia, toda alma será retribuída segundo o seu mérito; nesse dia não haverá injustiça…” (Alcorão Sagrado, C.40 – V.17) Esses e muitos outros versículos decisivos negam o fatalismo e aqueles que o adotam, porém, citaremos apenas alguns para não avolumar este escrito.

A crença no não-determinismo que foi negada por Imam Assadeq (A.S.), que também acusou seus aderentes de incorreção, é a opinião de que Allah o Majestoso deu aos servos uma liberdade extrema de escolha a respeito de Suas ordens. O desenvolvimento desse tópico é profundo se nos esforçarmos na explicação e na busca do correto entendimento. Os imames da descendência do Profeta se referiram a esse ponto quando disseram: “Se Allah der aos servos a liberdade total de escolha, Ele deverá então acatar a sua escolha e eles merecerão recompensa por isso, será inadequado que Allah os castigue, uma vez que os deixou agir como quisessem”. A opinião leva a duas conclusões: A primeira, os servos se apoiaram mutuamente contra Allah e o obrigaram a acatar sua escolha, quer Ele gostasse dela ou não. Por conseguinte, o Senhor é fraco. A segunda, o senhor é muito fraco para que possa fazer os servos se submeterem às Suas ordens e deixarem de cometer as coisas que Ele ordenou que não cometessem; portanto, Ele lhes dá liberdade total de escolha em relação ao que ordenou. Por isso, eles possuem liberdade absoluta para optar pela fé ou pela descrença. Essa opinião é como o exemplo de um homem que comprou um escravo para servi-lo, reconhecer seus favores de propriedade e cumprir suas ordens. O dono afirmou ser poderoso, soberano e sábio.

Ordenou ao escravo que fizesse determinadas coisas, alertou-o para que não cometesse outras, prometeu uma grande recompensa caso executasse suas ordens e o ameaçou com um castigo doloroso se desobedecesse. O escravo não obedeceu as ordens de seu dono. Em outras palavras, ele não observou nenhuma das ordens e instruções de seu dono. Seguiu sua própria vontade fazendo somente o que quis fazer. O senhor não foi capaz de impedi-lo ou submete-lo ao que lhe ordenou. Portanto, teve de dar a ele a liberdade total de escolha e teve que aceitar suas ações, que foram praticadas segundo a vontade do escravo e não a vontade do dono. Quando o dono pediu que trouxesse algo o escravo trouxe outra coisa, a qual ele próprio escolheu. Quando o escravo voltou, o dono perguntou-lhe a razão de trazer algo que ele não tinha requerido. O escravo respondeu que havia agido de acordo com sua própria vontade e decisão, pois confiara na liberdade absoluta de escolha que seu dono lhe dera. Os que são autorizados não estão proibidos de fazer qualquer coisa que desejem. Por isso, a liberdade absoluta de escolha é impossível. Assim, o dono deve ser capaz de ordenar a seu escravo que siga as instruções e faça o que lhe for mandado fazer, de acordo com a vontade de seu dono e não de acordo com a sua própria vontade. O dono deve também conceder ao escravo uma capacidade limitada para que ele possa seguir as instruções e executar as ordens. Quando o dono ordena ao escravo seguir instruções definidas e o alerta sobre determinadas ações, deve informá-lo das recompensas pelo cumprimento das instruções e do castigo pela prática das ações sobre as quais o alertou. Deve também avisá-lo do castigo e chamar sua atenção para as recompensas descrevendo-as para o servo, assim, ele perceberá a força de seu dono por intermédio da capacidade de cumprir as ordens e se afastar do que lhe foi proibido fazer. Se esse for o caso, a retidão e a justiça do dono serão abrangentes e seu argumento contra o escravo se fará evidente por meio de seus avisos. Se o escravo cumprir a instrução do dono, será recompensado, e se deixar de fazê-lo, será punido. Se o dono der ao escravo a liberdade total de escolha, estará impotente para controlá-lo já que o escravo poderá agir bem ou mal, obedecer ou não. Por conseguinte, o dono será incapaz de castigar o escravo desobediente ou obrigá-lo a obedecer.

Se o que foi acima mencionado for aplicado a Allah, então Seu poder, Sua autoridade, Suas ordens, instruções, recompensa e castigo serão todos inválidos. O que também contradiz o Livro de Allah, que diz: “Desagrada a Ele a ingratidão de Seus servos, em troca, se agradecerem, isso Lhe aprazerá…” (Alcorão Sagrado, C.39 – V.7) “Ó fiéis, temei a Allah tal como deve ser temido, e não morrais senão como muçulmanos”. (Alcorão Sagrado, C.3 – V.102) “Não criei os gênios e os humanos senão para que Me adorassem. Não lhes peço sustento algum, nem quero que Me alimentem”. (Alcorão Sagrado, C.51 – V.56 e 57) “Adorai a Allah e não Lhe atribuais parceiros…” (Alcorão Sagrado, C.4 – V.36) e ainda “Ó fiéis, obedecei a Allah e a Seu mensageiro, e não vos afasteis deles enquanto escutais”. (Alcorão Sagrado, C.8 – V.20)

Os que adotam a crença de que Allah deu aos servos a liberdade absoluta de escolha em Suas instruções e avisos estão imputando a impotência a Ele, considerando que seja obrigatório para Ele acatar tudo o que fizerem e tornar sem efeito Suas ordens, promessas e ameaças; pois os servos estarão livres para fazerem o que quiserem. Podem crer ou descrer e ninguém terá o direito de impedi-los ou proibi-los de nada. Assim sendo, os que adotam o não-determinismo extremo anulam as promessas, ameaças e ordens de Allah e também tudo o que já mencionamos. Estão incluídos entre aqueles sobre quem Allah diz: “Credes, acaso, numa parte do Livro e negais a outra? Aqueles que, dentre vós, tal cometem, não receberão em troca senão o aviltamento na vida terrena e, no Dia da Ressurreição serão submetidos ao mais severo castigo. Allah não está desatento ao que fazeis”. (Alcorão Sagrado, C.2 – V.85) Allah é muito sublime para corresponder as descrições feitas pelos adeptos do não-determinismo.

Nossa opinião é que Allah o Majestoso criou os humanos com o Seu poder e deu-lhes a capacidade de adorá-Lo. Portanto, Ele ordena certas coisas e alerta sobre outras. Ele aceita das criaturas que sigam Suas instruções e escolhe para elas aquilo que O satisfaz. Ele também avisou sobre os atos de desobediência, censurou os desobedientes e Ele os castigará. Todos os direitos de escolha pertencem a Allah de modo exclusivo. Somente Ele pode escolher tudo o que quiser e ordena a observância dos mandamentos escolhidos e Ele pode alertar sobre qualquer coisa e punir quem a cometa por causa da capacidade que concedeu aos servos de cumprir Suas ordens e se absterem de cometer atos de desobediência.

Ele é, obviamente, Justo, Reto e completamente Sábio. Tornou perfeito o argumento por Si mesmo com justificativas e avisos. Ele, de maneira absoluta, possui o direito de opção por meio do qual escolhe qualquer um de Seus servos para comunicar a Mensagem e expor Seus argumentos contra os humanos. Quando Ele escolheu Mohammad (S.A.A.S.) para transmitir Sua mensagem ao povo, os descrentes disseram, por inveja e arrogância: “Por que não foi revelado este Alcorão Sagrado a um homem célebre, de uma das duas cidades (Mecca e Taif)?” (Alcorão Sagrado, C.43 – V.31) Eles se referiam a Umayya bin Abissalt ou a Abu Mas’ud Ath Thaqa 1. Allah anulou e rejeitou sua escolha e seu modo de pensar. Ele diz: “Serão eles, acaso, os distribuidores das misericórdias de teu Senhor? Nós distribuímos entre eles o seu sustento, na vida terrena, e exaltamos uns sobre outros, em graus, para que uns se submetam aos outros, porém, a misericórdia de teu Senhor será melhor do que tudo o que acumulam”. (Alcorão Sagrado, C.43 – V.32)

Portanto, Allah escolhe somente o que Ele deseja e alerta sobre tudo aquilo que Ele abomina. Certamente recompensará aqueles que obedecerem a Ele e punirá os desobedientes. Se tivesse dado liberdade de escolha às pessoas, teria que aceitar a escolha de Quraish, que preferiam Umayya bin Abissalt e Abu Mas’ud Ath Thaqa à Mohammad (S.A.A.S.). Além disso, instruiu os crentes sobre isso ao dizer: “Não cabe ao el, nem à el, agir conforme seu arbítrio quando Allah e Seu mensageiro já decidiram sobre o assunto…” (Alcorão Sagrado, C.33 – V.36)

Ele não permitiu que escolhessem de acordo com suas ideias e paixões. Aceitou deles somente o cumprimento de Suas ordens e o afastamento dos atos de desobediência. Essas ordens e admoestações foram comunicadas a eles por aquele que Allah escolheu como Seu mensageiro. Por conseguinte, quem se submete ao mensageiro escolhido será orientado a senda reta e quem desobedecer será desviado e estará sujeito ao argumento de Allah, que é a capacidade de obedecer as ordens de Allah e evitar a desobediência. O desobediente será privado das recompensas de Allah e sofrerá Sua punição. Essa opinião não é fatalismo tampouco não-determinismo.

Abaya bin Rab’y Al Asadi perguntou ao Imam Ali (A.S.) sobre a capacidade com a qual o homem pode car de pé, sentar e fazer tudo o que deseja. Al-Mu’uminin (A.S.) disse: “O que achas dessa capacidade? Supõe que a possua sem a interferência de Allah, ou que a possua da mesma maneira que Allah?” Abaya não teve resposta. “Tu deves responder, Abaya”, disse Al-Mu’uminin. “O que devo dizer?” perguntou ele. Amirul Mu’uminin disse, “Eu te matarei se afirmares que tens essa capacidade sem a interferência de Allah, e eu te matarei também se afirmares que a tens da mesma maneira que Allah”. “O que devo dizer então?” Abaya perguntou, surpreso. O Imam (A.S.) respondeu: “Deves dizer que a tens por meio de Allah Que é o Único que a possui de modo perfeito. Se Ele te dá tal capacidade, é em razão de Sua bondade. Se Ele a tirar de ti, será um tipo de provação. Ele é o verdadeiro possuidor de todas as coisas que concede a ti; e o verdadeiro soberano em tudo o que podes fazer por intermédio Dele. Tu já ouviste as pessoas buscarem a capacidade de mudança e a força quando dizem, “Toda capacidade de mudança e toda força pertencem a Allah?”” “Sim”, respondeu Abaya. “Qual é o significado desse dizer, Amirul Mu’uminin?” O Imam Ali (A.S.) respondeu: “significa que não podemos evitar os atos de desobediência a Allah exceto por Sua proteção, e que não temos poder para obedecer a Ele senão por meio de Seu auxílio”. Ao ouvir essas respostas, Abaya, cheio de admiração, beijou as mãos e os pés de Amirul Mu’uminin (A.S.).

Eis aqui outra narrativa comunicada de Amirul Mu’uminin (A.S.): Um homem chamado Najda veio até o Imam Ali (A.S.) e perguntou sobre o reconhecimento de Allah. “Ó Amirul Mu’uminin (A.S.), como reconheces a teu Senhor?” O Imam Ali (A.S.) respondeu: “Eu O reconheço por intermédio da capacidade de discernimento que Ele concedeu-me e do intelecto que me orienta para tal reconhecimento”. “Inclinaste-te compulsoriamente a esse reconhecimento?” perguntou Najda. O Imam Ali (A.S.) respondeu: “Se eu tivesse sido forçado a esse reconhecimento não deveria ser elogiado por qualquer boa ação que praticasse, nem censurado por qualquer má ação que cometesse. Ademais, se fosse assim, nem o praticante do bem tampouco o mal feitor deveriam ser responsabilizados. Contudo, eu sei que Allah é Existente e Eterno quando todas as outras coisas foram criadas, são mutáveis e efêmeras.

Certamente, o Sempre Eterno (Allah) não se assemelha às coisas criadas e efêmeras”. Disse Najda, “Ó Amirul Mu’uminin, percebo que estás a falar pela sabedoria”. O Imam Ali (A.S.) respondeu: “De fato, eu sou livre, serei punido se cometer uma má ação em vez de uma boa ação”.

Também foi relatado que um ancião perguntou a Amirul Mu’uminin, em sua viagem de volta da Síria (da Batalha de Si n), se a luta deles contra os sírios tinha sido um decreto de Allah. “Sim”, respondeu Amirul Mu’uminin (A.S.), “Tu não és capaz de subir numa colina nem descer até um vale a menos que seja por meio de um decreto de Allah”. Perguntou o homem, “Ó Amirul Mu’uminin, então o meu cansaço será pela recompensa de Allah?” Amirul Mu’uminin (A.S.) respondeu: “Não perguntes isso, ó ancião. Allah está na realidade te preparando uma grande recompensa quando caminhas, quando paras para descansar e quando voltas. Tu não foste forçado ou compelido a fazer coisa alguma. É possível que penses assim, que o decreto de Allah seja algo inevitável ou obrigatório. Se assim fosse, então a recompensa ou o castigo seriam sem sentido, as promessas e as ameaças divinas seriam ilógicas e as pessoas não estariam sujeitas às coisas que não podem ser evitadas. Essa é a opinião dos idólatras e dos seguidores de Satã. As ordens de Allah o Majestoso são executadas de modo opcional e Ele nos alerta das coisas proibidas em caráter de admoestação. Ele não é obedecido compulsoriamente nem é sobrepujado quando é desobedecido. Não criou os céus e a terra e tudo o que há entre eles sem um propósito, muito embora seja essa a ideia dos descrentes. Ai dos descrentes, sofrerão o tormento do fogo”. O ancião beijou a cabeça de Amirul Mu’uminin (A.S.) e em seguida recitou (os seguintes versos): “Tu és o Imam para a obediência daqueles que desejam o perdão de Allah no Dia da Salvação. Tu revelaste os pontos obscuros da religião, que Allah te recompense com plena satisfação, em nosso nome. Ninguém encontra justi cativa para cometer uma má ação pelo erro ou pela desobediência a Allah”.

Nas narrativas mencionadas, Amirul Mu’uminin (A.S.) fornece evidências que foram extraídas do Livro de Allah e repudia as opiniões do fatalismo e do não-determinismo, uma vez que levam os que as adotam ao erro, à descrença e à negação do Livro. Que Allah nos proteja do desvio e da descrença. Não acreditamos no fatalismo nem no não-determinismo; acreditamos no meio termo. A opinião do meio termo representa o teste ou exame por meio da capacidade que Allah nos concedeu e exigiu que a puséssemos em prática; e provamos essa opinião pelo Livro e pelas crenças dos Imames piedosos da família do Profeta (A.S.).

Como exemplo do exame mediante a capacidade, citamos o seguinte: Um senhor abastado desejou testar seu escravo, portanto, deu a ele uma parte de sua riqueza e ordenou que fizesse determinadas coisas e que não gastasse aquela riqueza em determinadas coisas. A riqueza então pode ser gasta em duas coisas: ou naquelas que agradam ao senhor ou naquelas que não o agradam. O senhor também alojou o escravo numa casa informando a ele que viveria ali temporariamente, pois, no futuro, seria levado para uma outra morada, uma morada permanente onde ou seria recompensado ou castigado. Se o escravo gastasse a riqueza nas coisas que agradassem ao senhor, as quais ele havia ordenado, receberia a recompensa na morada permanente que tinha sido prometida. Porém, se gastasse a riqueza nas coisas que o senhor havia proibido, enfrentaria o castigo permanente numa morada futura. O senhor limitou um período de tempo para que o escravo vivesse na casa temporária. Levaria então o escravo e a riqueza que havia lhe dado em posse temporária, muito embora ele, o senhor, fosse o dono verdadeiro do escravo e do que havia lhe confiado, quando o prazo determinado de vida naquela casa expirasse. Uma vez que o senhor era justo, leal, reto e sábio, não tomaria de volta a riqueza entregue ao escravo antes do prazo determinado. Supondo que o escravo gastou a riqueza nas coisas ordenadas pelo senhor, cumprirá ele sua promessa e o recompensará, ou não? Certamente que o cumulará de favores, já que o testou numa casa temporária e o recompensará, por ser obediente, com uma felicidade permanente numa morada eterna.

Supondo que o escravo gastou a riqueza, a ele entregue em posse temporária, nas coisas que o senhor havia lhe avisado para não gastar durante sua estadia ali, a punição que foi avisada inevitavelmente cairá sobre ele sem que o senhor esteja sendo injusto, já que o havia instruído, informado, e alertado para que não gastasse a riqueza naquelas coisas. Portanto, o senhor cumprirá suas promessas e executará suas ameaças de modo a ser descrito como soberano e poderoso. O senhor no exemplo mencionado representa Allah o Majestoso, o escravo, o ser humano; a riqueza, o poder incomensurável de Allah; o teste, a manifestação de Sua sabedoria e força; a casa transitória, este mundo; a riqueza que foi entregue ao escravo, a capacidade que Allah concedeu aos humanos; as coisas em que o senhor ordenou o emprego da riqueza, a capacidade de seguir os mensageiros de Allah e de reconhecer tudo o que relataram de Allah o Majestoso. As coisas que o senhor alertou para que não se empregasse a riqueza representam os caminhos de Iblis; a promessa do senhor representa a fonte inesgotável de prazer do Paraíso; a morada permanente, a vida futura; e o teste pela capacidade concedida ao escravo representa a crença no meio termo.

As cinco qualidades que o Imam Assadeq (A.S.) mencionou no dizer citado: “Nem fatalismo nem não-determinismo. É uma posição intermediária. É a perfeição da criação, a liberdade de escolha, o tempo su ciente, os recursos para a execução como a montaria, e os meios de incitamento para a ação”, abrangem os méritos; devo, em virtude disso, explicá-los separadamente e fornecer evidências alcorânicas.


1 De acordo com a maior parte dos livros de exegese e história, os dois homens a quem se referiam eram Al Walid Bin al Mughira (de Mecca) e Abu Mas’ud Ath Thawa (de Ta’if). Provavelmente os nomes no texto foram mencionados por copistas desatentos.

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