Sua interpretação sobre a perfeição da criação

Em seu dizer, “a perfeição da criação”, Imam Assadeq (A.S.) se refere a perfeição da criação dos seres humanos, a perfeição dos sentidos, a estabilidade do intelecto, o discernimento e a completa habilidade para a fala. A esse respeito, Allah diz: “Honramos os filhos de Adão e os conduzimos pela terra e pelo mar; agraciamo-los com todo o bem e os preferimos imensamente à maior parte dos que criamos”. (Alcorão Sagrado, C.17 – V.70). Nesse versículo, Allah informa que preferiu os seres humanos às demais criaturas, como os animais selvagens, as feras, os animais aquáticos, os pássaros ou toda criatura capaz de discernir com a mente ou a articulação. O que está evidente nas palavras de Allah: “Criamos o homem na mais perfeita proporção”. (Alcorão Sagrado, C.95 – V.4) “Ó humano, o que te fez negligente em relação ao teu Senhor, o Munificente, que te criou, te formou, te aperfeiçoou e te modelou na forma que Lhe aprouve?” (Alcorão Sagrado, C.82 – V.6 a 8)

Além desses, existem muitos outros versículos alcorânicos que confirmam esse fato. Assim sendo, a graça maior de Allah aos seres humanos é a perfeição da força intelectual além da preferência à muitas outras criaturas por meio da perfeição do intelecto, do discernimento e da capacidade da fala. Toda criatura ativa nesta terra é independente por intermédio de seus sentidos e da perfeição individual, ao passo que os seres humanos são preferidos em relação as demais criaturas por meio de sua aptidão verbal, da qual carecem todas as outras criaturas perceptivas. Por meio dessa aptidão, Allah fez o homem dominar as outras criaturas. Por conseguinte, os seres humanos gozam dessa capacidade de domínio das outras criaturas, que se encontram submetidas ao homem. O que é evidenciado nas palavras de Allah: “Assim vo-los sujeitou, para que O Glorifiqueis…” (Alcorão Sagrado, C.23 – V.37) “E foi ele quem submeteu a vós, o mar para que dele comêsseis carne fresca e retirásseis certos ornamentos com que vos enfeitais…” (Alcorão Sagrado, C.16 – V.14) “E criou o gado, do qual obtendes vestimentas, alimento e outros benefícios. E tendes nele encanto, quer quando o conduzis aos apriscos, quer quando, pela manhã, os levais para o pasto. Ainda leva vossas cargas até as cidades, as quais jamais chegaríeis, senão a custa de grande esforço. Sabei que o vosso Senhor é Compassivo, mui Misericordioso”. (Alcorão Sagrado, C.16 – V.5 a 7)

Em vista disso, Allah convocou os humanos para que cumprissem Suas ordens e O obedecessem, uma vez que Ele os preferiu às demais criaturas mediante a criação aperfeiçoada, a precisa articulação e o conhecimento depois que concedeu aos humanos a adequada capacidade para que O obedecessem e cumprissem Suas ordens. É o que está evidente nas palavras de Allah: “Temei a Allah, tanto quanto possais. Escutai e obedecei a Ele…” (Alcorão Sagrado, C.64 – V.16) “Allah não impõe a nenhuma alma carga superior às suas forças…” (Alcorão Sagrado, C.2 – V.286)

E há muitos outros textos alcorânicos que expressam esse sentido.

Quando Allah retira o sentido de alguém, Ele o isenta do cumprimento das coisas que são feitas por meio desse sentido. Allah diz: “Não terão culpa o cego, o coxo, o enfermo. Quanto àquele que obedecer a Allah e a Seu mensageiro, ele o introduzirá em jardins abaixo dos quais correm os rios, por outra, quem desdenhar, será castigado dolorosamente”. (Alcorão Sagrado, C.48 – V.17) Nesse versículo, Allah isenta todas essas pessoas da participação no jihad e de todo ato que não possam praticar devido a sua incapacidade.

Quando Allah concede ao indivíduo a capacidade de pagar o zakat ou realizar o hajj, Ele considera obrigatório que faça essas duas coisas. Quanto aos pobres, Ele não torna obrigatório o pagamento do zakat nem a realização do hajj. Ele diz: “A peregrinação a Casa é um dever para com Allah, por parte de todos os seres humanos, que contem com recursos para empreendê-la…” (Alcorão Sagrado, C.3 – V.97) Os versículos 3 e 4 da sura 58 demonstram outra prova do fato de que Allah, o Abençoado, o Exaltado, não impôs aos servos uma responsabilidade superior à sua capacidade nem admoestou-os sobre uma prática da qual não possam se abster. Isso é a perfeição da criação.

Com liberdade de escolha, o Imam Assadeq (A.S.) quer dizer que nada pode proibir ou impedir o homem de executar as ordens de Allah. O que está evidente na referência que Allah faz aos fracos que se encontrem tão oprimidos que não tenham meios de obedecer a Ele. Allah diz: “Excetuam-se os inválidos, quer sejam homens, mulheres ou crianças, que carecem de recursos ou não podem encaminhar-se por senda alguma”. (Alcorão Sagrado, C.4 – V.98). Portanto, Allah afirma que os indivíduos fracos, que estão privados da liberdade de escolha, estarão isentos se forem crentes fiéis.

Com tempo suficiente, Imam Assadeq (A.S.) quer dizer a idade em que o reconhecimento de Allah se torna obrigatório para o indivíduo. A saber, o tempo da capacidade para o discernimento e a idade madura até a morte. Aquele que morrer antes de alcançar tal estágio de aperfeiçoamento estará na senda reta. O que está evidente na palavra de Allah: “Quem migrar pela causa de Allah, achará, na terra, amplos e espaçosos refúgios. E quem abandonar seu lar migrando pela causa de Allah e de Seu Mensageiro, e for surpreendido pela morte, sua recompensa caberá a Allah, porque é Indulgente; Mui Misericordioso”. (Alcorão Sagrado, C.4 – V.100) Allah isenta essas pessoas de qualquer imperfeição porque não puderam atingir o estágio devido do aperfeiçoamento da religião devido a limitação do tempo. Allah também isenta os imaturos quanto às coisas que são obrigatórias aos que alcançam a idade madura. O que está evidente no versículo 31 da sura 24. Por conseguinte, Allah não censura as mulheres por deixarem a mostra as partes atraentes de seu corpo aos seus filhos pequenos. Da mesma maneira, as crianças não estão sujeitas a muitas normas.

Com recursos, Imam Assadeq (A.S.) se refere à capacidade financeira e a subsistência que auxilia o homem a executar as ordens do Senhor. O que está evidente nas palavras de Allah: “Estão isentos os inválidos, os enfermos, os que não têm recursos, sempre que sejam sinceros para com Allah e Seu Mensageiro. Não há motivo de queixa contra os que fazem o bem, e Allah é Indulgente, Mui Misericordioso”. (Alcorão Sagrado, C.9 – V.91) Esse versículo demonstra que Allah desculpou aqueles que não possuem recursos su cientes para as despesas e que Ele reprovou os que possuíam tais recursos e que podiam cumprir os rituais do hajj, participar do jihad e praticar outras coisas igualmente obrigatórias. Allah também desculpou os pobres e impôs aos ricos a obrigação de destinar parte de seus recursos a eles. Ele diz: “(Concedei-a) aos que empobreceram empenhados na causa de Allah, que não podem se dar aos negócios na terra, e que o ignorante não os crê necessitados, porque são reservados. Tu os reconhecerás por seus aspectos, porque não mendigam com impertinência. De toda caridade que fizerdes Allah estará ciente”. (Alcorão Sagrado, C.2 – V.273) No versículo citado, Allah isenta os pobres da responsabilidade referente a tudo o que não são capazes de fazer ou que não tenham os meios necessários para tal.

Pelo incitamento da ação, o Imam Assadeq (A.S.) se refere a intenção, que é a motivação de todas as ações. O coração é o sentido da intenção. Allah não aceita a ação de ninguém que a pratique sem a sincera intenção. Assim sendo, Ele diz sobre os hipócritas: “…estavam mais perto da descrença do que da fé, porque diziam com suas bocas o que não sentiam em seus corações. Porém, Allah sabe de tudo o que ocultam”. (Alcorão Sagrado, C.3 – V.167) Como uma palavra de reprovação, Allah se dirige aos crentes: “Ó fiéis, por que dizeis o que não fazeis? É muito odioso, perante Allah, dizerdes o que não fazeis”. (Alcorão Sagrado, C.61 – V.2 e 3)

Qualquer pessoa que diga alguma coisa com sinceridade será impelida por sua intenção a pôr em prática o que diz. Se alguém diz alguma coisa sem convicção, a realidade do que disse não poderá ser vista. Além disso, Allah aceita a intenção verdadeira de uma ação que não corresponda a intenção em virtude de algum obstáculo. É o que está evidente nas palavras de Allah: “quem houver sido obrigado (a renegar a Allah) cujo coração se mantenha firme na fé…” (Alcorão Sagrado, C.16 – V.106) “Allah não levará em consideração vossos juramentos involuntários”. (Alcorão Sagrado, C.2 – V.225) O Alcorão Sagrado e os dizeres narrados do Profeta provam que o coração é o dono de todos os sentidos e o corregedor de suas ações. Nada pode anular o que o coração corrige.

O que dissemos acima foi uma explicação das cinco qualidades citadas pelo Imam Assadeq (A.S.) no esclarecimento da opinião do meio termo entre o fatalismo e o não-determinismo extremado. Se torna obrigatório a todos que possuam essas cinco qualidades reunidas agirem perfeitamente de acordo com as instruções de Allah e de Seu Mensageiro. O indivíduo que for desprovido de alguma delas estará isento de praticar as ações que exigirem essa qualidade. Muitos versículos alcorânicos comprovam o teste da capacidade que abrange ambas as opiniões (do fatalismo e do não-determinismo). Allah diz: “Sabei que vos provaremos, para certificar-Nos de quem são os combatentes e perseverantes, dentre vós, e para provarmos a vossa reputação”. (Alcorão Sagrado, C.47 – V.31) “Quanto àqueles que desmentem os Nossos versículos, lhes apresentaremos gradativamente, o castigo, de modo que não o percebam”. (Alcorão Sagrado, C.7 – V.182) “Acaso, pensam que não serão testados os que dizem “cremos”? (Alcorão Sagrado, C.29 – V.2)

Nos seguintes versículos, o termo “ tna” significa “teste”: “E pusemos à prova Salomão, colocando sobre o seu trono um corpo sem vida, então voltou-se contrito”. (Alcorão Sagrado, C.38 – V.34) “Disse-lhe (a Moisés): Em verdade, em tua ausência, quisemos testar o teu povo, e o samaritano logrou desviá-los”. (Alcorão Sagrado, C.20 – V.85) “Não é mais do que a uma prova Tua…” (Alcorão Sagrado, C.7 – V.155) Os versículos anteriores se comparam e atestam um ao outro.

Nos seguintes versículos, o termo “balwa” significa “teste”: “…porém fez-vos como sois, para testar-vos quanto àquilo que vos concedeu”. (Alcorão Sagrado, C.5 – V.48) “Então, Allah vos fez encarar a derrota, para provar-vos…” (Alcorão Sagrado, C.3 – V.152) “Por certo que os provaremos como provamos os donos do pomar…” (Alcorão Sagrado, C.68 – V.17) “Que criou a vida e a morte para testar quem de vós melhor se comporta…” (Alcorão Sagrado, C.67 – V.2) “E quando o seu Senhor pôs à prova a Abraão…” (Alcorão Sagrado, C.2 – V.124) “Se Allah quisesse, Ele mesmo teria se livrado deles; porém (facultou-vos a guerra) para que vos provásseis mutuamente…” (Alcorão Sagrado, C.47 – V.4)

Todos os versículos em que o termo “balwa” é mencionado tratam do assunto do teste ou da prova de Allah; Na realidade, Allah o Majestoso não criou os humanos por diversão, não os deixou ao léu, e não demonstrou Sua sabedoria por futilidade. Ele afirma esse fato em Suas palavras: “Pensais acaso que vos criamos por diversão?” (Alcorão Sagrado, C.23 – V.115)

Alguém pode perguntar: “Allah não estava ciente das ações dos servos antes de testá-los?” Respondemos que Allah conhecia perfeitamente o que os servos fariam. O que é comprovado por Suas palavras: “…ainda que fossem devolvidos (à vida terrena) certamente reincidiriam em lançar mão de tudo o que lhes foi vedado, porque são mentirosos”. (Alcorão Sagrado, C.6 – V.28)

Allah os testou somente para demonstrar Sua justiça a eles e para fornecer um argumento contra eles antes da punição. A lógica dessa noção é provada nas palavras de Allah: “Mas, se os houvéssemos fulminado com um castigo antes disso, teriam dito: “Ó Senhor nosso, por que não nos enviaste um mensageiro…”” (Alcorão Sagrado, C.20 – V.134) “Jamais castigamos (um povo) sem antes termos enviado um mensageiro”. (Alcorão Sagrado, C.17 – V.15) “Foram mensageiros alvissareiros e admoestadores…” (Alcorão Sagrado, C.4 – V.165) Por essa razão, Allah testa os servos com a capacidade que Ele concede a eles. Essa é a opinião do meio termo, que se encontra entre o fatalismo e o não-determinismo. O que também é atestado pelo Alcorão Sagrado e pelos dizeres transmitidos dos Imames da linhagem do Profeta (A.S.). É possível que se levante a seguinte questão: “O que se pode dizer sobre a interpretação das palavras de Allah: “Allah permite que se desvie quem quer, e encaminha Quem lhe apraz…” (Alcorão Sagrado, C.14 – V.4) e de versículos similares? Para responder essa questão, dizemos que o versículo anterior e os versículos correlatos possuem dois significados; O primeiro, é que os versículos são noti cações da capacidade absoluta de Allah. O que significa que Allah é capaz de guiar para o caminho correto ou provocar o extravio de qualquer pessoa segundo a Sua vontade. Contudo, se Allah submetesse as pessoas, por sua capacidade absoluta, à crença ou à descrença, então elas não mereceriam a recompensa ou a punição. Nos referimos detalhadamente a esse significado antes. O segundo, a orientação de Allah representa Sua introdução ao caminho reto. O que está evidente nas palavras de Allah: “E orientamos o povo de Çamud, porém, preferiram a cegueira à orientação. E fulminou-os a centelha do castigo ignominioso, pelo que lucraram”. (Alcorão Sagrado, C.41 – V.17) Se Allah os obrigasse a adotar o caminho reto, eles não se desviariam. Além disso, nem todo texto alegórico do Alcorão Sagrado pode ser adotado como prova contra os textos decisivos. Allah nos ordena seguir somente os textos decisivos do Alcorão Sagrado.

Ele diz: “Ele foi Quem revelou o Livro, nele há versículos fundamentais (decisivos) que são a base do Livro, havendo outros alegóricos. Aqueles cujos corações abrigam a dúvida, seguem os alegóricos, a fim de causarem dissensões interpretando-os capciosamente. Porém, ninguém senão Allah conhece a sua verdadeira interpretação. Os sábios dizem: Cremos nele (o Alcorão Sagrado) e que tudo emana de nosso Senhor. Mas ninguém o admite, salvo os sensatos”. (Alcorão Sagrado, C.3 – V.7) “…anuncia as boas novas aos Meus servos que escutam as palavras e seguem o melhor delas. São aqueles que Allah encaminha, e são os sensatos”. (Alcorão Sagrado, C.39 – V.17 e 18) “O melhor” das palavras no versículo citado significa o que é decisivo (fundamental) e evidente.

Que Allah vos oriente a dizerdes e fazerdes o que agrada a Ele e o que Ele aceita; e que proteja a vós e a nós da desobediência a Ele por Sua graça e bondade. Todo louvor a Allah tal como Ele merece. As bênçãos de Allah estejam sobre Mohammad e sua imaculada família. Que Allah nos seja su ciente. Ele é certamente o melhor guardião.

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