“Novembro Negro”, mês de luta pela igualdade racial e direitos humanos

Novembro é o mês no calendário brasileiro em que se comemora o Dia da Consciência Negra, marcado no dia 20, numa alusão ao martírio do líder quilombola Zumbi dos Palmares, assassinado em 1695.

Ele foi preso, morto e sua cabeça foi cortada e levada para o governador da província de Pernambuco.

A data virou um marco da luta pela igualdade racial e Direitos Humanos no Brasil.

As atividades que ocorrem no “Novembro Negro” têm como objetivo refletir a respeito do Dia da Consciência Negra, lançando luz sobre as estatísticas que revelam que a disparidade racial acontece mesmo em um país conhecido por sua diversidade cultural como o Brasil, mas que enfrenta desafios persistentes em relação ao tema.

A diversidade étnico-racial e cultural é a maior riqueza do Brasil, mas o racismo segue como um fator que nos impede de realizar plenamente esse potencial, pois ele impede de várias maneiras que haja equidade para todos os cidadãos.

O Brasil tem uma dívida social que precisa ser saldada com justiça e oportunidades iguais para todos.

A história de lutas e resistência dos africanos trazidos para serem escravizados no Brasil e a luta dos negros e dos povos indígenas, têm um destaque importante na história. E uma das páginas mais marcantes e gloriosas da nossa história ficou conhecido como a “Revolta dos Malês”, uma revolução antiescravista e por direitos, ocorrida na cidade de Salvador, na Bahia, em 25 de janeiro de 1835.

Este episódio planejado para a eliminação do regime local português e das injustiças que praticavam contra os negros, a emancipação dos escravizados e a liberdade para exercer rituais religiosos, ganhou o nome de “Revolta dos Malês”, porque os revolucionários eram de origem africana e chamados de Malês, devido ao fato de que, na língua yoruba, Imalê é a designação para muçulmano.

A presença do Islã na Bahia foi um fator importante e a mola de múltiplas das rebeliões de negros escravizados, sendo essa a razão por que os negros que praticavam a religião islâmica no Brasil eram vistos como revolucionários orgulhosos, com autoestima.

A inspiração revolucionária foi encontrada nos versos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, que lhes dava energia e forças para lutar contra as injustiças praticadas contra os negros, em prol da emancipação dos escravizados e a liberdade para exercer seus rituais religiosos

A “Revolta dos Malês” não foi uma eclosão espetacular surgida espontaneamente ou de um incidente qualquer e sem plano preestabelecido. Mas sim uma revolta planejada nos seus detalhes, precedida de todo um período organizativo, sem a qual não se poderá compreender as proporções que alcançou em uma das principais províncias do Império.

Mas o plano rebelde não foi rigorosamente aplicado, talvez em decorrência dos rumos que tomaram os acontecimentos e da antecipação do início da revolta, em face da delação dos preparativos.

As tropas governamentais do império surpreenderam os revoltosos, que estavam reunidos para compartilharem a refeição comunitária ingerida após o pôr do sol com a qual se quebra o jejum diário durante o mês do Ramadan.

E após o confronto inicial, os revolucionários saíram por ruas, becos e vielas de Salvador, convocando os escravizados e os libertos a se unirem à revolução. Atacaram o palácio do Presidente da província, invadiram quartéis, enfrentaram tropas e fragatas de guerra ancoradas no porto da cidade, e deu-se uma verdadeira carnificina, pois era evidente a superioridade das forças oficiais.

A “Revolta dos Malês” mobilizou entre 600 e 1.000 homens, o que equivale, comparando-se proporcionalmente com a população da cidade de Salvador nos dias de hoje, a aproximadamente 50 mil pessoas.

Foi um importante movimento antiescravidão, que deu uma grande lição de garra e luta pela liberdade que engrandece a história das lutas sociais no Brasil, com seus feitos praticamente omitidos pela historiografia oficial.

Glória eterna à memória dos homens e das mulheres, de todas as raças e credos religiosos, que se uniram e lutaram no Ramadã de 1835 contra as injustiças, ousando “tomar o céu de assalto” para pôr fim à escravidão no Brasil e conquistar a liberdade.

Para saber mais sobre a “Revolta dos Malês”, leia a obra “Imalês, fragmentos da presença de muçulmanos nas revoltas contra a escravidão no Brasil”, do escritor Sayid Marcos Tenório, disponível em nossa loja online.

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