Este sermão é conhecido como o Sermão dos Esqueletos, e é um dos mais férteis sermões de Amirul Muminin (A.S.). Massada Ibn Sadaqa, baseado no veraz Já’far Ibn Mohammad (A.S.) relatou que ele (Amirul Muminin) o ministrou em resposta a alguém que lhe pediu que descrevesse Deus, de tal modo que ele o pudesse ver com os próprios olhos. Amirul Muminin (A.S.) ficou zangado, e proclamou as palavras abaixo.

Louvado seja Deus cuja recusa em dar e parcimônia não o torna rico, e cuja magnificência e generosidade não o tornam pobre, embora todo aquele que dá perde, exceto Ele, e todo miserável é reprovado por sua mesquinhez. Ele favorece por meio de generosas benesses, de dádivas abundantes e de concessões. Toda a criação é sua família. Ele lhe garantiu a sobrevivência e lhe ordenou a subsistência. Preparou o caminho para aqueles que se voltam a Ele e para aqueles que buscam o que há com Ele. É tão generoso acerca do que lhe é pedido, como o é acerca do que não é. Foi o Primeiro para o qual não houve “antes”, sendo que nada poderia ter havido antes dele. É o derradeiro para o qual não há “depois”, sendo que não pode haver nada depois dele. Evita que as pupilas dos olhos das pessoas o vejam ou o percebam. O tempo não muda para Ele para que se admita qualquer mudança de condição acerca dele. Não está em lugar algum, para que se possa admitir movimentação a Ele. Caso Ele se desfizesse de tudo o que as minas das montanhas contém, ou de todo ouro, de toda prata, de todas as pérolas e de todos os apetrechos de coral que as conchas do oceano produzem, isso não lhe afetaria a munificência nem diminuiria o montante do que Ele possui. Em verdade, Ele ainda estaria de posse dos tesouros das bênçãos que não diminuiriam pela demanda das pessoas, porque Ele é o ser generoso ao qual a petição dos solicitantes não o torna pobre, nem a pertinácia dos suplicantes o torna mísero. Então, inquiridor, tenha cuidado; limita-te àqueles atributos que o Alcorão descreveu e busca a luz do fulgor da sua diretriz. Entrega à Deus aquele conhecimento que Satã te incitou a buscar, o qual nem o Alcorão te prescreve que busques, tampouco há qualquer vestígio disso nas ações e nos ditos do Profeta ou nos outros líderes da diretriz. Este é o limite extremo que Deus impõe a ti. Fica sabendo que firmes no conhecimento estão aqueles que se contém em abrir as cortinas que vedam o que não é cognoscível, e que a consciência da sua ignorância quanto ao desconhecido oculto lhes impede maiores devassas. Deus se apraz com eles por causa da sua admissão de que estão incapacitados de adquirir um conhecimento que não lhes é permitido. Eles não se aprofundam na discussão do que não é da sua alçada, ou seja, o conhecimento de Deus, e chamam a isso firmeza. Fica contente com isso, e não limites a grandiosidade de Deus segundo a medida da tua própria inteligência, ou ver-te-ás entre os destruídos. Ele é de tal maneira poderoso, que quando a imaginação disparar as suas setas para compreender a extensão do seu poder, e a mente, fazendo-se livre dos perigos dos maus pensamentos, tentarem encontrá-lo na profundeza do seu domínio e os corações ansiarem por aquilatar as realidades dos Seus atributos, e os desdobramentos da inteligência penetrarem além da descrição, a fim de assegurarem o conhecimento acerca do seu Ser, cruzando o obscuro limiar do não-cognoscível, concentrando-se nele, Ele os rechaçará. Essas coisas retornarão derrotadas, admitindo que a realidade do conhecimento quanto a Ele não pode ser compreendida por tais esforços fortuitos e que nem um pingo da sublimidade da sua honra entra no entendimento dos pensadores. Ele originou a criação sem um modelo que pudesse seguir e sem qualquer espécime que fosse preparado por qualquer criador desconhecido que existisse antes dele. Ele nos mostrou o reino do seu poderio e as maravilhas que falam do seu saber. As confissões das coisas criadas, de que devem sua existência a Ele, fizeram-nos conscientes de que o argumento de conhecê-lo, foi fornecido, assim, não há desculpa quanto a isso. Os sinais do seu poder criador e dos estandartes do seu saber estão fixados nas coisas maravilhosas que Ele criou. O que quer que seja que Ele criou, fê-lo como argumento a seu favor e uma diretriz rumo a Ele. Mesmo uma coisa muda constitui uma diretriz rumo a Ele, como se falasse; e a sua diretriz rumo ao Criador é clara. Ó Deus, presto testemunho que aquele que te compara com o desmembramento das partes ou com a junção das extremidades do corpo, não familiarizou o seu eu interior com o conhecimento de ti, de que seu coração não se assegurou da convicção do fato de que não há parceiro algum junto a ti. É como se não tivesse ouvido os seguidores do erro a decantarem seus falsos deuses dizendo: “Por Deus, estávamos certamente em patente extravio quando vos comparamos com Deus, o Senhor do universo”.  Estão errados aqueles que te comparam com os seus ídolos e te vestem com aparatos, pela sua imaginação, de criaturas; atribuem a ti, partes, como partes do corpo, pelo seu próprio pensamento, e te consideram segundo criaturas de vários tipos, por meio do trabalho da sua mente. Presto testemunho de que aquele que te compara com algo tirado da tua criação concebeu uma parelha para ti, e é um descrente de acordo com o que está relatado nos teus inequívocos versículos e indicado na evidência dos teus claros argumentos. Tu és o Deus que não pode estar confinado na mente, aponto de se imaginar mudança de condição, nem nos grilhões da mente, a ponto de tornar-se limitado e um objeto de alterações.

Da Prudência Divina

Ele fixou limites para todas as coisas que criou e fez firmes esses limites; e lhes fixou as funções e fez delicadas essas funções. Ele lhes fixou a direção e não ultrapassa os limites da sua posição, nem se restringe em lhe alcançar a finalidade da meta. A direção não desobedece quando lhe é ordenado que se movimente segundo sua vontade; e como poderia ela assim fazer sendo que todos os assuntos são governados pela Sua Vontade? Ele é o produtor das variedades de coisas sem o exercício da imaginação, sem o estímulo de um impulso, este está intrínseco Nele, sem qualquer experimento causado pela vicissitude da hora e sem qualquer parceiro que o tivesse ajudado na criação das coisas maravilhosas. Assim, a criação foi concluída e se curvou a sua obediência e respondeu ao seu chamado. A lentidão de uma lesma ou a inércia do que se cobre de desculpas não a impediu de assim fazer. Então, Ele endireitou as tortuosidades das coisas e lhes fixou limites. Com o seu poder criou coerência em suas partes contraditórias e juntou os fatores de similaridade. Depois as separou em variedades, as quais diferem em limites, quantidades, propriedades e formas. Tudo isto é nova criação, Ele a fez firme e deu-lhe forma de acordo como desejou e planejou.

A Descrição do Céu

Ele arranjou as depressões e elevações das aberturas do céu. Ele juntou as amplitudes das brechas e as juntou umas as outras. Ele lhe tornou fácil o acesso para aqueles anjos que desciam com os seus mandamentos e para aqueles que subiam com as orações das criaturas. Ele o intimou a se formar quando estava ainda na forma de vapor. De pronto, as ligações das suas juntas se ataram. Então, Deus lhe abriu os portais que estavam fechados, e colocou sentinelas de meteoros nos seus nichos e as conteve com as mãos o seu poder, para que não caíssem na vastidão do éter. Ordenou-lhe que permanecesse estacionário em obediência à seu comando. Fez do sol a brilhante indicação para o dia e da lua, refletora, para a indicação da noite. Colocou-os em movimento em suas órbitas e ordenou-lhes o andamento em estágios de caminhada, a fim de se distinguir, com a sua ajuda, o dia e a noite, e para que o reconhecimento dos anos e os cálculos pudessem ser sabidos pelos seus movimentos constantes. Então, ele fixou, na sua vastidão, o Céu, e ali estabeleceu a decoração, consistindo de pequenas e brilhantes pérolas, e estrelas como lâmpadas. Arremessou contra os perscrutadores setas de brilhantes meteoros. Os colocou em movimento na rota designada, transformando-os em estrelas fixas, estrelas que se deslocam, estrelas cadentes, estrelas ascendentes, de mau agouro e de boas novas.

A Respeito dos Anjos

Então, Deus, o Glorificado, criou para habitar os seus céus e para ocupar as mais altas camadas do seu reino, novas variedades de criaturas, denominadas anjos. Com estes, ele encheu as cavidades e povoou a vastidão da abóbada. Em meio as aberturas dessas cavidades ressoam as vozes dos anjos que glorificam a Deus nos cercos da sublimidade, atrás das cortinas que obstruem, velados quanto a sua Grandiosidade. E atrás desse ressoar, que ensurdece os ouvidos, há o fulgor da luz, que impede que a visão o alcance, fazendo com que, a visão se desaponte com sua limitação. Deus os criou com diferentes formas e características. Eles têm asas. Glorificam a sublimidade de Sua honra. Não tentam apropriar-se da sua habilidade que se mostra com a criação. Tampouco reivindicam que criem algo, no que Deus é sem paralelo. São, ao invés disso, criaturas honoráveis que não se jactam de ter precedência sobre Ele quanto a proferirem algo, sendo que agem de acordo com o seu comando. Fê-los legatários da sua revelação e os enviou aos profetas como portadores das suas leis e proibições. Imunizou-os contra as ondulações das dúvidas. Como conseqüência, nenhum dentre eles, se extravia da senda da sua vontade. Ele os tem ajudado com os benefícios do socorro, e coberto seus corações com humildade e paz. Tem lhes aberto as portas da submissão as suas glórias. Tem lhes fixado os brilhantes minaretes como sinais da sua unicidade. Os pesos dos pecados não lhes sobrecarregam os ombros e as alternações das noites e dos dias não os fazem mover-se. As dúvidas não atacam, com setas, a firmeza da sua fé. Os maus conselhos não afetam as bases das suas crenças. A faísca da malícia não produz ignição entre eles. A estupefação não empana o que de conhecimento Dele seus corações possuam, ou a grandiosidade e reverência da sua glória que residem em seus peitos. Os pensamentos maus não se inclinam na direção deles, a ponto de lhes afetar a imaginação com sua ferrugem. Entre eles há os que se encontram nas auréolas das pesadas nuvens, ou nos cumes das altas montanhas, ou nos desalentos da escuridão avassaladora. E há aqueles cujos pés são como brancas insígnias que sumiram na vasta expansão dos ventos. Sob eles sopra o vento leve que os retém até a sua última meta. A ocupação com adoração a Deus fê-los despreocupados e as realidades da fé têm servido de elo entre eles e o conhecimento Dele. Sua crença quanto a Ele tem os feito concentrados Nele. Eles anseiam por Ele, não por outros. Têm experimentado a doçura do seu conhecimento e bebido da taça refrescante do seu amor. As raízes do seu temor foram implantadas nas profundezas dos seus corações. Por conseguinte, têm curvado suas costas através das suas reverências a Ele. A extensão da sua humildade e a extrema proximidade não lhes retira a corda do seu temor. Não são dados ao orgulho a ponto de se ufanarem das suas ações. A humildade perante a glória de Deus não lhes permite pesarem as próprias virtudes. O langor não os afeta, apesar da sua longa aflição. Seus anelos quanto a Ele não diminuem, a ponto de fazer com que abandonem a esperança em seu sustentador. As pontas das suas línguas não ficam secas com as constantes orações. Os engajamentos com outros assuntos não os ocupam aponto de os fazerem mudar suas altas vozes para Ele. Para outras mais fracas. Seus ombros não ficam deslocados com a postura da adoração. Não mexem os pescoços para este ou aquele lado, para conforto, em desobediência ao seu comando. Os atrativos da negligência não agem contra sua determinação de porfiarem, e os acenos dos desejos não lhes sobrepujam a coragem. Consideram o senhor do trono como o suprimento diário das suas necessidades. Levados por seu amor para com Deus, voltam-se a Ele, enquanto outros se voltam para as criaturas. Não alcançam o limite final da adoração a Ele. O apego apaixonado a sua adoração não faz com que sejam introspectivos, a não ser quanto as fontes de seus próprios corações, fontes essas que nunca estão destituídas da sua esperança e do seu temor. O temor a Deus nunca os abandona, a ponto de fazer com que esmoreçam em seus esforços, tampouco as tentações os enredam, a ponto de fazer com que venham a preferir esta leve busca e não os seus esforços. Eles não consideram grandes os seus virtuosos feitos passados, porque se o fizessem, então, o temor lhes apagaria quaisquer esperanças dos corações. Eles não divergiram entre si quanto ao seu Sustentador, como resultado de um provável controle de Satã sobre eles. O mal da separação, um do outro, não os dispersou. A desconfiança e o rancor não os sobrepujaram. As maneiras de vacilação não os dividiram. As diferenças dos graus de coragem também não fizeram com que se dividissem. De sorte que eles são devotados à fé. Nem os excessos, nem a letargia, nem a languidez, quebram-lhes a corda da fé. Não há o mais diminuto ponto nos céus em que não haja um anjo em prostração perante Deus ou ocupado numa pronta realização dos seus comandos. Com a longa adoração do seu Sustentador eles aumentam o seu conhecimento e a honra Dele aumenta em seus corações.

A Descrição da Terra e sua Dilatação sobre as Águas

Deus espalhou a terra sobre as ondas tempestuosas e violentas, nas profundezas dos mares expandidos, onde as ondas colidiam entre si, e altíssimas vagas saltavam umas sobre as outras. Produziam espumas como a camela ao tempo do cio. Então, o tumulto da água tempestuosa foi subjugado pelo peso da terra, quando esta fez pressão com seu corpo, sua ruidosa agitação cessou, e quando a terra rolou sobre a água, tal qual uma massa compressora, esta se submeteu mansamente. Desse modo, após o tumulto das suas vagas ter amainado, as águas ficaram domadas e sobrepujadas, tornando-se prisioneiras dos grilhões da desventura, ao passo que a terra se espalhou e tornou-se sólida na tempestuosa profundeza dessas águas. A terra pôs um fim ao orgulho, ao auto-conceito, a elevada posição e a superioridade das águas, e truncou-lhe a intrepidez do fluxo. Por conseguinte, ela se acomodou, após o seu intempestivo fluxo e se assentou, após o seu tumulto. Quando a excitação da água terminou, espremida pelas extremidades da terra, sob o peso das altas montanhas, colocadas a cavaleiro dela, Deus fez manar nascentes de água dos seus altos topos e as distribuiu por entre as planícies, baixios e morros. Então, o tremor da terra parou, por causa da penetração das montanhas em várias partes da sua superfície e pelo fato de terem sido fixadas em áreas profundas, bem como sua presença nos planaltos. Então, Deus criou a vastidão entre a terra e o firmamento e providenciou ventos que lufavam por sobre seus habitantes. Depois, Ele dirigiu esses habitantes para que se espalhassem por todos os lugares convenientes. Depois disso Ele não deixou a sós os estéreis tratos de terreno, em que as partes altas faltavam os arroios e por onde os rios não podiam encontrar o seu caminho, mas criou as nuvens flutuantes que vivificam as áreas improdutivas e fazem crescer a vegetação. Ele fez uma grande nuvem por meio de juntar pequenas nuvens, e quando a água se juntou nela e os relâmpagos começaram a lampejar nos lados dela, e o lampejo continuou a incidir sob as nuvens brancas, bem como sob as nuvens pesadas Ele fez com que a chuva caísse copiosamente. A nuvem estava curvada na direção da terra e os ventos se puseram a comprimi-la para que produzisse água, como a camela que se abaixa para amamentar. Quando a nuvem se prostrou em direção ao solo e emitiu toda a água que levava em si, Deus fez crescer a vegetação na planície e no planalto e a erva nas montanhas secas. Como resultado, a terra sentiu-se aprazida por estar decorada com seus jardins e maravilhada com sua vestimenta de fofa vegetação e com os ornamentos de suas flores. Deus fez de tudo aquilo, meios para o sustento das criaturas e alimento para os animais. Ele abriu caminhos para sua expansão e estabeleceu minaretes de diretriz para aqueles que se põem em suas estradas. Quando Deus espraiou a terra e impôs o seu comando, escolheu Adão (A.S.) como o melhor de sua criação, e fez dele o primeiro de toda a criação humana.  Fê-lo residir no Paraíso e arranjou para que nele comesse e também indicou o que lhe era proibido. Deus lhe disse que o procedimento contrário às proibições significaria a desobediência a Ele e a deterioração de sua própria posição. Contudo, Adão fez justamente o que lhe havia sido proibido, tal qual Deus de antemão sabia. Consequentemente, Deus o fez descer à Terra, depois de lhe aceitar o arrependimento, para povoar a terra com sua progênie, para servir de prova e justificativa para Ele, entre suas criaturas. Mesmo quando fez Adão morrer, Ele não os deixou sem alguém que serviria entre eles como prova e justificativa para sua divindade e para servir de elo entre eles e seu conhecimento, mas Ele lhes forneceu provas através dos seus mensageiros escolhidos, portadores da confiança de sua mensagem, eras após eras, até que o processo chegasse ao término com o nosso Profeta Mohammad (S.A.A.S.), e os seus rogos e admoestações alcançassem a finalidade. Ele os distribuiu com estreiteza bem como com profusão. Ele o fez com justiça para testar a quem Ele desejasse, com prosperidade ou carência, e para testar por meio disso, o agradecimento ou a paciência do rico e do pobre. Então, Ele emparelhou a abundância com o infortúnio da pobreza, a segurança com o dissabor das calamidades, e os prazeres da alegria com as amarguras da dor. Ele fixou as idades e as fez longas ou curtas, prematuras ou longevas, culminando com a morte. Fez a morte capaz de puxar as cordas das idades e causar-lhes a separação. Ele conhece os segredos daqueles que os escondem, as conversações secretas daqueles que se dão a isso, os sentimentos interiores daqueles que se dão a adivinhações, as insinuações dos olhos, os conteúdos recônditos dos corações e as profundezas do desconhecido. Conhece também o que pode ser ouvido somente pelo aguçar dos ouvidos, os redutos estivais das formigas e as moradas invernais dos insetos, o ressoar dos gritos das mulheres chorosas, o ruído dos passos. Conhece ainda a localização dos estojos internos das folhas onde os frutos crescem, o local do esconderijo dos animais selvagens, ou seja, nas montanhas e nos vales, os buracos de esconderijo dos mosquitos nos troncos das árvores, sua folhagens, os pontos de broto das folhas, nos ramos, os pontos de fluidez do sêmen passando através das passagens das virilhas, as pequenas nuvens elevadas, bem como as gigantescas, os pingos de chuva nas espessas nuvens, as partículas de pó espalhadas pelo redemoinho de vento, através de suas bordas, as linhas apagadas pela inundação das chuvas, as movimentações dos insetos nos cupinzeiros, os ninhos de criaturas aladas nos cumes das montanhas e o cantar dos pássaros canoros na bruma dos seus locais de choco. Ele sabe acerca do que tem sido entesourado pelas madrepérolas, e do que há sob as ondas dos oceanos e de tudo que está oculto pela escuridão da noite, e de tudo que à luz do dia brilha, bem como de tudo sobre o que às vezes a escuridão prevalece e às vezes a luz brilha, das pegadas de cada passo, a emoção de cada movimento, o eco de cada ruído, o movimento de cada par de lábios, a morada de cada ser vivente, do peso de cada partícula, dos soluços de cada coração lamentoso, e de tudo o que há sobre a terra, como as frutas das árvores, as folhas que caem ou o receptáculo do sêmen; ou o congelamento do sangue ou coágulo e da evolução da vida e do embrião. Em tudo isso Ele não encontra problema ou impedimento algum que o barre na preservação daquilo que criou, nem qualquer langor ou desgosto o impede de reforçar o comando e o gerenciamento das criaturas, sendo que o seu conhecimento penetra através delas e estão dentro de sua contabilidade. Sua justiça se estende sobre todas elas e sua benevolência as abrange no todo, a despeito de deixarem de fazer a Ele o que lhes é devido.

Prece.

Deus meu, tu mereces a mais formosa das descrições e a mais alta das estimas. Se o desejo é com relação a ti. Tu és o melhor que se pode desejar. Se a esperança repousa em ti, tu és o mais digno de ser depositada a esperança. Deus meu, tu me concedeste força tal, que não posso louvar a ninguém a não ser a ti e não posso tecer elogios a ninguém senão a ti. Não dirigirei meu louvor a outros que sejam fontes de desapontamento e centros de dúvidas. Tenho reprimido minha língua de pronunciar louvores feitos pelos seres humanos, bem como os elogios das coisas criadas e sustentadas. Deus meu, cada louvador tem, sobre quem louva, o direito da premiação e recompensa. Em verdade, tenho voltado a ti com os olhos nos tesouros da tua misericórdia e nos armazenamentos de perdão. Deus meu, aqui está um que te tem singularizado com a unicidade que te é devida e a ninguém mais tem considerado merecedor de louvores e elogios, a não ser tu. Meu anseio com relação a ti é de tal modo consistente, que nada, a não ser a tua generosidade, pode curar a carência, nem prover quanto à precisão, a não ser a tua ordem e a tua generosidade. Assim, agracia-nos neste lugar com a tua vontade e livra-nos de esticarmos as mãos a qualquer outro que não sejas tu. Em verdade, tu és Poderoso sobre todas as coisas.

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