Toda alma provará o sabor da morte

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Deus, o Altíssimo, disse: “Toda a alma provará o sabor da morte e, no Dia da Ressurreição, sereis recompensados integralmente pelos vossos atos; quem for afastado do fogo infernal e introduzido no Paraíso, triunfará. Que é a vida terrena, senão um prazer ilusório?” (3:185)

Muitas pessoas vivem na ilusão desta vida. No entanto Deus não quer que as pessoas vivam a ilusão, e sim a realidade. Este versículo acima relata uma das realidades desta vida e uma das questões cujo todas as pessoas independentemente de suas crenças e origens admitem.

1ª parte do versículo

“Toda a alma provará o sabor da morte”

A morte é uma realidade e Deus a afirma, sendo que Ele é totalmente verídico em Suas afirmações que toda alma sentirá o sabor da morte. Isto é, a alma sentirá o sabor e não morrerá. O que morre é o corpo biológico, ele perde suas funções e começa a se decompor, mas a alma é viva e permanecerá assim por toda eternidade.

Mas por que Deus está nos alertando sobre isso? Por que ele nos recorda que todos morreremos um dia se isso já é obvio e bem evidente para todos nós? Há dois objetivos muito importantes para esta recordação:

Primeiro: O aspecto moral

A morte fortalece o aspecto moral do ser humano. A morte serve para engajarmos a moral na nossa conduta do dia a dia. A busca pela moralidade e pela bela conduta é um dos frutos da recordação da morte. A morte nos torna mais honestos, verídicos, amigáveis, amorosos, pacíficos, bondosos, e muitos mais. Isso porque a morte nos faz entender que nenhum ser humano viverá eternamente sobre a Terra, e que a ganância pelas coisas mundanas não vale a pena. Do que adianta a pessoa correr tanto atrás de riqueza e dinheiro se depois ficará tudo para trás. Ou do que adianta mentir ou enganar as pessoas se pode morrer em qualquer segundo. Estas questões são alguns pensamentos que passam na mente do ser humano e que fazem ele frear sua ganância e se apegar mais nos aspectos morais, pois eles são eternos.

Podemos afirmar com certeza que a morte é uma lição que nos ensina sermos mais humanos em nossas vidas e menos selvagens, pois tudo isso que vivemos não vale tanto a pena, e pode ser tirado de nós em questão de segundos.

Na verdade, se tirarmos a moral e os valores do ser humano não sobrará nada. Ele se tornará um animal, um bicho em forma de homem, pois o que deveria torná-lo humano são os princípios e valores humanos, e se extrairmos isso dele não sobra mais nada.

Segundo: Um impedidor

Todos concordamos que a melhor coisa que pode impedir o homem e segurá-lo mediante a prática de ilicitudes é a morte. Ao decorrer da vida o ser humano criou vários elementos cujo pudesse fazer o próximo frear mediante a seus prazeres e ganâncias. A punição, prisão, multa, confisco, pena de morte, prisão perpétua, tudo isso são elementos criados pelo homem para que por meio deles pudesse fazer o próximo frear e se segurar mediante a prática de algum ato ilícito. Mas a melhor de todas as coisas que pode impedir o homem de praticar a ilicitude é a recordação da morte.

Ao lembrar da morte e da punição depois dela a pessoa freia perante muitas coisas que seus desejos o orientam a fazer. Hoje em dia, quando a pessoa é presa ou multada ela pode voltar a praticar o delito em seguida. Isso é visível nas estatísticas que indicam que a grande maioria dos condenados voltam a praticar crimes depois de cumprirem suas penas. A morte não tem volta, pois todos sabem que depois da morte não terá mais condições de se arrepender. Por isso, o Imam Ali (A.S.) dizia: “A morte, por si só, é uma lição”.

É justamente por causa desta lição que as tradições dos Ahlul Bait (A.S.) e dos Imames (A.S.) afirmam a importância e a recomendação de visitarmos os cemitérios. Isso porque estando naquele local, vendo o destino de todos nós e onde seremos enterrados depois da morte, se pode amolecer os nossos corações e torná-los mais sensíveis, menos duros e rudes. Há uma grande lição na visita aos cemitérios.

Certo dia o Imam Ali (A.S.) passava perante um cemitério, e então disse: “Ó habitantes das casas solitárias, e dos lugares sujos, e tumbas escuras. Ó povo da terra enterrados na solidão e isolados na melancolia. Vocês foram antes e nós em breve iremos segui-los. As vossas casas já foram habitadas (por outras pessoas), vossas esposas se casaram com outros e vossas riquezas já foram divididas. Estas são as nossas notícias, então o que vocês tem para nos dizer?” Neste momento o Imam Ali (A.S.) olhou para um de seus companheiros e lhe disse: “Juro que se eles tivessem licença para falar iriam vos dizer que: ‘A melhor bagagem (aqui na tumba) é o Temor a Deus”.

O Imam Ali (A.S.) recitava os seguintes versos:

Ó aquele que agiu em sua vida
E que teve esperança numa longa vida
A morte vem de repente
E a tumba é o depósito de suas ações

A morte é a melhor coisa que pode nos impedir de seguir um rumo errado nesta vida.

2ª parte do versículo

“…e, no Dia da Ressurreição, sereis recompensados integralmente pelos vossos atos…”

A recompensa por nossas ações é a segunda coisa mais certa do que a morte. Nada passará despercebido e tudo está sendo vigiado e observado pelo Todo Poderoso. Ele não deixará passar nada, e todos seremos recompensados por nossas ações. A recompensa pode ser tanto uma recompensa positiva ou negativa e a mesma acontecerá no dia do juízo final depois do julgamento, mas na morte, e durante o tempo que a pessoa estiver morta poderá sentir um pouco como será a outra vida, ou seja, depois da ressurreição. As tradições afirmam que: “O túmulo ou é um pedaço do paraíso ou um pedaço do inferno”. Ou seja, a alma do falecido, a qual já afirmamos que nenhuma alma morrerá, e sim o seu corpo é que morre, pode ser castigada ou confortada durante a morte e a vida do Barzakh.

Para quem não sabe, o Barzakh é uma vida intermediária entre esta e a outra vida, a eterna. O Barzakh é uma espécie de zona de trânsito, uma escala de viagem ou até mesmo aquele momento que a pessoa está esperando o seu voo ser chamado para o embarque. Aqueles que são passageiros de primeira classe serão levados à sala VIP onde eles podem descansar, tem comida, bebida, WIFI, tudo grátis e de primeira, isso para ele estar em conforto durante o período de pré-embarque. Já aquele que é da classe econômica tem que ficar vagando por aí no aeroporto até o seu horário chegar. O mesmo é com os mortos. Os fiéis e os bondosos terão suas almas confortadas e consoladas durante a vida do Barzakh, que é uma escala entre esta e a outra vida. Já os infiéis e os malfeitores terão suas almas castigadas e torturadas durante esta vida. Sem contar que eles não serão poupados do castigo na outra vida também, mas aqui, ou seja, no túmulo, será uma prévia para a recompensa ou castigo da outra.

O que pode comprar o passe para a sala VIP nos aeroportos é o dinheiro, já o conforto do mundo do Barzakh é adquirido pelas nossas boas ações.

3ª parte do versículo

“…quem for afastado do fogo infernal e introduzido no Paraíso, triunfará…”

Normalmente que nunca sentiu sede não pode se saciar como aquele que sentiu a sede. Por isso, no dia do juízo final o ser humano será levado à beira do inferno, ele verá o castigo, ele testemunhará a dor do castigo muito próxima dele. Neste momento, aquele cujo for afastado do inferno e conduzido ao paraíso será o verdadeiro triunfante e vitorioso. A verdadeira felicidade está nesta etapa, de quem for salvo do inferno e conduzido ao paraíso.

4ª parte do versículo

“…é a vida terrena não é nada mais senão um prazer ilusório”

Esta vida, com todas as suas belezas, grandezas, riquezas e tudo mais, tudo isso não representa a verdadeira satisfação. Tudo que vivemos aqui nesta vida, seja dinheiro, emprego, imóveis, carro, família, filhos, saúde, fama, prédios, vestes, tudo isso e muito mais é tudo uma ilusão e nada disso é duradouro, pois deixaremos tudo na morte. Os prazeres desta vida são temporários e na verdade não podem ser classificados como prazeres de verdade, pois eles acabam quando os saciamos. É uma ilusão se orgulhar pelo dinheiro, riqueza, filhos, fama, bens, tudo isso é uma ilusão. O Imam Al-Kadhem (A.S.) o qual ficou preso por mais de 12 anos nas prisões de Harun Al-Abbasi, aquele cruel governante de sua época, dizia a Harun que o torturava tanto: “Cada vez que eu passo um dia sob tragédia e tortura aqui, o mesmo dia passará sobre você aí no conforto e luxúria. Mas todos ficaremos diante do único juiz (Deus), o mais justo juiz entre todos”.

Este dito resume muito bem a vida. O Imam (A.S.) nos indica que a vida, sendo difícil ou fácil, sendo justa ou não, ela vai passar, e tudo que nela existe são ilusões que nos levam a tomar decisões que são resultado de ilusões que temos desta vida. Portanto, seja uma vida feliz ou infeliz, justa ou não, boa ou má, seja ela de conforto ou não, tudo isso vai passar, mas é importante que saibamos que todos nós, sem nenhuma exceção, ficaremos diante de um senhor justo, o mais justo de todos. Ele nos julgará e nos colocará onde nós merecemos, seja o inferno ou o paraíso. E inshallah sejamos os merecedores do paraíso, seus habitantes.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo. Que a paz esteja com Mohammad e sua purificada linhagem.

Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Data: 11/07/2020

 

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