Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Um final bom e feliz – Sheikh Youssef Ajordi – 28/08/2020

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Nossas condolências a todos pelo martírio do Imam Al-Hussein (A.S.), que a paz de Deus esteja com ele, com Ali ibn el Hussein, com os filhos de Hussein e com os companheiros de Hussein. Pedimos que este novo ano seja um ano de alivio e o ano do reaparecimento do Imam Al-Mahdi (A.F.), o salvador da nação e o vingador do sangue do martirizado em Karbala.

Deus, o Altíssimo, disse em seu livro sagrado: “Porque tu és de nobilíssimo caráter”. (68:4)

Karbala é a escola da ética e da moral. Quando o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) diz: “Hussein é de mim e eu sou de Hussein, Deus ama quem amar Hussein”, uma das interpretações deste dito é que a moral e a ética do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) estão incorporadas e representadas em Hussein (A.S.).

Ó fieis, recomendo a todos vocês e a mim mesmo em seguir, se apegar e praticar a conduta do Profeta, exemplos de Mohammad (S.A.A.S.) e de seu neto Imam Al-Hussein (A.S.). Recomendo a todos vocês e a mim mesmo a temência a Deus agradecendo a Ele pela graça de ter nos agraciado com o Islam, com a Wilayah (Tutela) dos Ahlul Bait (A.S.) e o amor aos Ahlul Bait (A.S.). Em Karbala, a ética e a moral de Mohammad (S.A.A.S.) tinham sido incorporadas em Ashura. Neste sermão farei a exposição de dois lados: o primeiro lado sobre a moral, e o outro sobre a imoralidade.

Irmãos e irmã, saibam que a batalha de Karbala não foi uma batalha de poder ou sangue. Ela foi uma batalha entre o bem e o mal, a moral e a imoralidade e aqui citarei alguns pontos sobre a moral representada pelo Imam Al-Hussein (A.S.) e a imoralidade representada pelo exército do Yazid que Deus o amaldiçoa.

1) A chegada do exército de Hur a Karbala

MORAL: O exército de Hur era de aproximadamente mil homens, os quais chegaram a Karbala quando a água tinha sido esgotada ao longo da viagem. Assim que chegaram a Karbala e estando com muita sede, como vocês acham que o Imam Al-Hussein (A.S.) os tratou? Imam Al-Hussein (A.S.) simplesmente concedeu toda a água que tinha a eles, e a seus cavalos, todos, enfim, saciaram sua sede.

IMORAL: Por outro lado, como este exército retribuiu ao Imam Al-Hussein (A.S.)? Eles simplesmente privaram Imam Al-Hussein (A.S.) e seus familiares da água. Onde, em qual cultura, tradição e lei que se pratica e se retribui assim para quem age desta forma? Pagar o bem com o mal.

2) Não começou com a batalha

MORAL: Imam Al-Hussein (A.S.) mesmo tendo todas as razões de começar a batalha contra eles, preferiu não guerrear com seus inimigos. Ele não iniciou a batalha.

IMORAL: Por outro lado, Omar ibn Sa´ad, o comandante do exército de Yazid, fez questão de falar perante todos os seus soldados e comandantes quando atacou com a primeira flecha contra o exército do Imam Al-Hussein (A.S.). Ele disse: “Testemunhem perante o rei que eu fui quem começou a guerra”.

3) Na véspera de Ashura

MORAL: Imam Al-Hussein (A.S.) ficou colhendo os espinhos do chão na véspera do dia de Ashura, ao redor de suas tendas e acampamento. Quando questionaram porque fazia isso, ele respondeu: “Amanhã minhas tendas serão queimadas e minha família será aprisionada e perseguida. Não quero que eles se machuquem quando estiverem correndo entre as tendas, pois é isso que ocorrerá”. Olhem só o quanto Imam Al-Hussein (A.S.) pensava em tudo. Mesmo ele estando no auge de uma guerra sangrenta que lhe custaria sua vida e a de seus filhos, irmãos e companheiros, ele pensava nas crianças e mulheres. Ele era piedoso.

IMORAL: Por outro lado, os inimigos não queriam saber de piedade nenhuma. Eles atacaram o acampamento, queimaram as tendas, machucaram as crianças, e privaram-nas de água. E até mataram as crianças. Só imaginem a cena da flecha como raio entrando no pescoço do pequeno Abdullah, o filho do Imam Al-Hussein (A.S.). Só esta cena é a mais cruel entre tudo que eles fizeram com esta nobre família.

A virtude de recomendar o bem e coibir o mal

Deus, o Altíssimo, disse: “Sois a melhor nação que surgiu na humanidade, porque recomendais o bem, proibis o ilícito” (3:110). O princípio de recomendar o bem e coibir o mal é um dos mais nobres da doutrina islâmica, e foi com base nele que a nação do Islam foi escolhida como a melhor das nações do mundo.

Durante toda a trajetória da batalha de Karbala, todos os companheiros e até mesmo o Imam Al-Hussein (A.S.), em nenhum momento, deixaram de praticar este princípio, mesmo no auge da batalha. Até mesmo com os inimigos os quais estavam lá para matá-lo, o Imam Al-Hussein (A.S.) em nenhum momento deixou de falar com eles e recomendá-los a voltarem aos seus raciocínios lógicos. O exemplo disso foi quando um soldado inimigo viu o Imam Al-Hussein (A.S.) chorando no dia de Ashura. Quando perguntou a ele se estava chorando de medo, Imam Al-Hussein (A.S.) respondeu: “Não, estou chorando por vocês e pelo destino que os aguarda”. Imam Al-Hussein (A.S.) chorava, pois sabia que o destino dos soldados inimigos ao enfrentá-lo seria certamente o inferno. Olhem só o quanto o Imam Al-Hussein (A.S.) amava seus próprios inimigos.

O que entendemos com estas lições?

A principal lição que entendemos é que os princípios da moral e da ética jamais devem ser ignorados, seja em quaisquer condições e situações que isso ocorrer. Não há nenhuma desculpa ou razão para que a pessoa dê as costas para estes princípios. Sendo que a verdadeira moral é aquela traduzida nas situações extremas em que o ser humano pode passar, pois são nestas situações extremas que a moral deve ser reforçada e aplicada. Sendo assim, um verdadeiro fiel é aquele cujo a sua educação e ética são ainda mais aplicadas em situações extremas, quando o ser humano passa por situações difíceis em sua vida.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a benção de Deus estejam com Mohammad e sua purificada linhagem.

Que a paz e as bençãos de Deus estejam com todos.

SEGUNDO SERMÃO

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Deus, o Altíssimo, disse em seu livro sagrado: “Dize-lhes: Quereis que vos inteire de quem são os mais desmerecedores, por suas obras? (103) São aqueles cujos esforços se desvaneceram na vida terrena, não obstante crerem haver praticado o bem (104)” (18).

Isso é um grande problema. Quando a pessoa pratica e por fim suas obras não são acatadas por Deus. Praticar e agir é como a pessoa querer transportar água com peneira. Há esta possibilidade? Jamais alguém pode levar água de um lado para outro com peneira, pois tudo cairia no chão. Rogamos a Deus para que não sejamos incluídos neste grupo, e isso depende de nós e de nossas intenções. O quanto somos sinceros a Deus.

Um final feliz

Os não merecedores são os verdadeiros perdedores, pois além de agirem e praticarem tantas obras durante a vida, mesmo assim eles serão ignorados na outra vida e não terão um final feliz. O que faremos então para ter um final feliz? Imam Al-Hussein (A.S.) disse: “Veja a morte como felicidade, a vida com os injustos como uma humilhação”.

Por que para o Imam Al-Hussein (A.S.) a morte era uma felicidade?

Havia várias razões para isto.

Primeiro – O agrado e a satisfação de Deus

Imam Al-Hussein (A.S.) não visava nada que não fosse a satisfação e o agrado de Deus, e sua morte certamente satisfaria a Deus já que a preservação e a proteção da religião estava dependendo deste sacrifício.

A mesma questão foi afirmada pela Senhora Zainab, que após o massacre de Karbala, simplesmente colocou a mão debaixo do corpo ensanguentado e mutilado do seu irmão, o levantou um pouco do chão e disse olhando para os céus: “Ó Deus, aceite de nós este sacrifício”. 

Segundo – A morte seria um encontro com os amados

Imam Al-Hussein (A.S.) conhecia a verdade desta vida e para ele a vida não era o seu objetivo final. Muito pelo contrário, para ele esta vida não valia nada e o que ele mais almejava era reencontrar os amados, seu avô o mensageiro de Deus (S.A.A.S.), seu pai o príncipe dos fiéis (A.S.), sua mãe a senhora das mulheres do universo Fátima Az-zahra (A.S.), e seu irmão o senhor dos jovens do paraíso Imam Al-Hassan (A.S.). Um meio de reencontrá-los seria a morte, por isso ele não temia a morte.

Terceiro – A morte por uma nobre causa

Imam Al-Hussein (A.S.) tinha uma nobre razão e propósito que o levaria a almejar a morte. Sua morte ergueria a mensagem e a religião de Deus. Além disso, do que valeria de uma vida em humilhação com os tiranos? Certamente, a morte seria uma felicidade, pois seria a libertação desta prisão de humilhação destes opressores.

Resultado

Todos nós iremos morrer algum dia. Como dizia o poeta “Se a flecha da morte errar de mira hoje, amanhã te atingirá”. Tanto os Profetas, virtuosos imames e mensageiros de Deus morreram. Sabemos que a única certeza é a morte, e se sabemos isso, então, a razão não nos indicaria a nos importar mais com a outra vida do que esta? Como diz uma nobre tradição do Imam Ali (A.S.): “Os tipos de devoção são três, a de escravos (por medo do castigo), a dos interessados (para ganhar o paraíso) e a dos livres (que adoram a Deus nem por medo do castigo e nem pelo interesse ao paraíso, e sim porque Ele é merecedor de ser adorado)”.

Seja lá qual for o tipo da devoção do fiel, seja ela por medo, por interesse ou simplesmente merecedora, certamente, o resultado de todas é o agrado e a satisfação de Deus, e é isso que nós devemos almejar em nossas práticas.

É racional que a pessoa se importe mais com a outra vida mais do que está. Não é certo largar esta vida e agir para a outra apenas e nem é certo agir para a outra e não se importar com esta. Como dizia a nobre tradição: “Age para esta vida como se fosse viver eternamente, e para a outra como se fosse morrer amanhã”.

Juro por Deus que se a pessoa soubesse que iria morrer amanhã não falaria mal dos outros, não deixaria de praticar seus deveres, não invejaria alguém e nem desejaria o mal para o próximo. Se a pessoa tiver certa que iria morrer em 24 horas, então, não se importaria tanto com os interesses nem com as ilusões desta vida, porque irá abandonar tudo de uma hora para outra.

É tão belo quando o anjo da morte vier para tirar a vida de alguém e esta pessoa estiver com todo os seus assuntos em dia. Imaginem se uma empresa por exemplo é surpreendida por uma visita de uma fiscalização de um órgão como por exemplo a Receita Federal ou a Justiça. Se o dono dela não estiver com sua papelada e tributos em dia certamente ficará desesperado pois a fiscalização irá puni-lo por isso. Já se alguém for pego de surpresa por uma fiscalização e tiver tudo em dia, não terá o que temer e dirá ao fiscal “Seja bem-vindo”.

Se alguém for pego de surpresa pelo anjo da morte, se tiver suas ações e deveres religiosos em dia certamente sua alma irá em paz, mas aquele que estiver em dívida com as pessoas e com Deus, certamente que sua alma sofrerá e não ficará em paz.

É nosso dever, e vamos nos comprometer para nos empenharmos para que sejamos incluídos entre esta categoria de fiéis, os quais a morte para eles é uma felicidade e a vida com os tiranos uma total insatisfação e humilhação.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

 

 

 

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