Sermão de Sexta-feira da Mesquita do Brás – Os elementos para alcançar o sucesso e o progresso (parte 2) – Sheikh Ghassan Abdallah – 21/06/2019

Primeiro Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Deus disse no Alcorão Sagrado: “Ó fiéis, atendei a Deus e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Deus intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele” (8:24).

Dando continuidade ao nosso tema da semana passada, sobre os elementos do progresso, é importante sabermos que todo ser humano é formado por dois importantes elementos: A Razão e a Consciência. Estes dois elementos são importantíssimos para formarem a personalidade do homem, que por meio dela vive e decide sobre sua vida. A razão deve ser o recurso para o qual temos que recorrer para analisar, pensar e meditar sobre qualquer tema ou assunto, e em seguida decidirmos o que é melhor. Já a consciência é aquele aspecto espiritual que se estabelece na alma, e assim o ser humano vai sentir os significados do amor, do bem, da clemência, da lealdade e etc.

Elementos da Razão e do Intelecto

Partindo daqui veio o discurso alcorânico que mescla os dois elementos, e por isso no Alcorão o discurso da razão sempre é acompanhado de fortes argumentos e provas científicas que tornam os temas apresentados de fácil compreensão e entendimento, e provam a veracidade de sua fala. Ao mesmo tempo vemos o discurso emocional e espiritual que é apresentado no Alcorão Sagrado e fala diretamente com a alma e o espírito de cada pessoa. Com isso, percebemos que o Alcorão é um livro cujo entrosado com todos os discursos para a compreensão total do ser humano, entre a matéria e o espírito, entre esta e a outra vida. O Alcorão nos apresenta a religião como um coração que bate forte e uma alma criativa e cheia de amor e piedade ao próximo, acompanhada da razão e do intelecto.

O Alcorão Sagrado tornou a razão o elemento principal da vida do ser humano e a posicionou como o mais importante elemento de toda sua vida. Deus pede para a razão que pense, medite e procure saber e conhecer o intelecto. Ele pede para que esta razão pense nos fenômenos e sinais naturais da vida, e quer que os analise e não os veja simplesmente como fenômenos da natureza, e sim sinais cujo por meio deles Deus demonstra Sua grandiosidade e veracidade, pois Deus disse no Alcorão Sagrado: “De pronto lhes mostraremos os Nossos sinais em todas as regiões (da terra), assim como em suas próprias pessoas, até que lhes seja esclarecido que ele (o Alcorão) é a verdade. Acaso não basta teu Senhor, Que é Testemunha de tudo?” (41:53). Numa outra passagem Deus exaltado seja pede para que as pessoas analisem e meditem nestes sinais e fenômenos: “Dize: Contemplai o que há nos céus e na terra! Mas sabei que de nada servem os sinais e as advertências àqueles que não crêem” (10:101). E desde o início o Alcorão quis apresentar o resultado da análise do ser humano mediante este fenômenos e sinais, os quais ele deve analisar e não deixar passar em branco, pois Deus disse: “Não reparas, na terra? Logo produz, com ela, plantas multicores; logo amadurecem e, às vezes, amarelam; depois converte (as plantas) em feno. Por certo que nisto há uma Mensagem para os sensatos” (39:21). Se este discurso divino tiver o seu adequado local na nação certamente muitas realidades e atuais descobertas seriam descobertas antigas, já teria sido descobertas muito antes desse período, afirma o Allama Mohammad Jawad Moghniyeh.

Por isso, queridos irmãos, a razão possui uma grande e importante posição em nossas tradições e culturas, e como uma das tradições Qodsi afirma: “Deus disse a Adão. Eu ordeno você que escolha um destes três elementos. Então escolha um e deixe os outros dois. Então Adão perguntou: E quais seriam? Então Deus disse: A razão, a religião e o pudor. Então Adão escolheu a razão (Intelecto). E Deus orientou a religião e o pudor que o deixassem e fossem embora, mas eles responderam: nós fomos ordenados a acompanhar a razão”.

Isso está presente no diálogo entre o Imam Mousa ibn Jafar Al-Kadhem (A.S.) e Hisham ibn Al-Hakam: “Ó Hisham, Deus estabeleceu duas provas (argumentos) sobre as pessoas, sendo uma Externa e outra Interna. A externa são os profetas e a externa é a própria razão da pessoa”. Numa outra passagem o Imam Mousa Al-Kadhem (A.S.) disse a Hisham: “Ó Hisham, Deus completou sua prova e argumentos sobre as pessoas por meio das razões sendo que os profetas ganharão por meio da palavra, e não com a força, imposição ou espada. Ele indicou a majestade do criador por meio das palavras”. Mas infelizmente este aspecto cujo seu discurso foi tão claro no Alcorão Sagrado está sendo pouco usado. Infelizmente nos nossos diálogos e contatos é pouco utilizado o aspecto da razão e do intelecto, e isto está claro nas conversas e diálogos das redes sociais.

Um amigo me questionou do porque alguns movimentos islâmicos não conseguirem alcançar as expectativas da sociedade mesmo no meio de seus simpatizantes. Um dos motivos disso de acordo com minha opinião é que a visão destes grupos e movimentos não é compatível com raciocínio e o intelecto, e isso é uma grande falha para todo e qualquer movimento, mesmo se começar com grande popularidade. Pois se não estiver acompanhado da razão e do intelecto ele perderá força com o passar do tempo. Deus o Altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “Volta o teu rosto para a religião monoteísta. É a obra de Deus, sob cuja qualidade inata Deus criou a humanidade. A criação feita por Deus é imutável. Esta é a verdadeira religião; porém, a maioria dos humanos a ignora” (30:30). O segundo motivo é que tudo que não é compatível com a essência e a natureza humana também não terá eco e futuro, mesmo se ganhar a simpatia das pessoas no início de seu movimento. Entre os motivos é que há uma tradição islâmica que infelizmente foi manipulada e desviada por alguns mercenários maldosos. E por isso que sempre dizemos que as tradições islâmicas necessitam de um grande movimento liderado por sábios especialistas e confiáveis, para que possam fazer uma peneira em todas estas tradições e histórias. São estas tradições e histórias desviadas que estão causando tantos danos e crises pelo mundo. Uma das principais peneiras que deve filtrar tudo é o Alcorão Sagrado, sendo que este livro é a principal referência para todos nós, os quais devemos verificar sempre.

A nação e os valores e princípios morais

O quanto mais a nação respeita valores como a amizade, lealdade, amor, misericórdia e a piedade, mais ela certamente terá progresso e evolução. O Alcorão Sagrado não acredita na parcialidade dos valores e sim na sua totalidade. Não há como um ser humano ou fiel viver o amor e a piedade em sua casa, mas não viver isso entre os membros de sua comunidade. Por isso, queridos irmãos, as passagens e tradições islâmicos afirmaram a importância dos valores morais e éticos, e entre tais um dos principais é o princípio do PERDÃO. O Islam não quer que o ser humano viva com ódio em sua alma, pois o Alcorão Sagrado acredita que na boa conduta há uma magia e que isso pode fazer uma grande transformação e revolução na vida social. Por isso temos que arrancar o ódio de entre nós e praticarmos o perdão e a piedade com os outros. Por isso, Deus disse no Alcorão Sagrado: “Emulai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual à dos céus e da terra, preparado para os tementes (133). Que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade; que reprimem a cólera; que indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores (134)” (3). Em uma outra passagem Deus disse: “E o delito será expiado com o talião; mas, quanto àquele que indultar (possíveis ofensas dos inimigos) e se emendar, saiba que a sua recompensa pertencerá a Deus, porque Ele não estima os agressores” (42:40). Numa outra passagem, Deus o Altíssimo disse: “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Mohammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo! (34) Porém a ninguém se concederá isso, senão aos tolerantes, e a ninguém se concederá isso, senão aos bem-aventurados (34)” (41).

Então, queridos irmãos e irmãs a religião, não é apenas oração e jejum, pois não há significado na oração e no jejum se estas obrigações e devoções religiosas não forem uma preparação de uma pessoa fiel e correta, que seja boa sociedade, para viver estes valores e estes princípios. O Imam Assadeq (A.S.) disse: “Não fiquem impressionados com a oração da pessoa, pois talvez ele tenha se acostumado a praticá-la e não pode ficar sem ela. O verdadeiro teste é na veracidade das falas, na confiança e na lealdade”. Ou seja, o verdadeiro teste das pessoas está em colocar em prática todos estes valores e princípios morais.

Em uma das tradições do Profeta Jesus Cristo (A.S.) ao povo de Israel ele disse a eles: “Vocês não foram ordenados no Torat que deverão se conectar com vossos parentes? Eu digo a vocês, se conectem com aqueles que romperam com vocês, deem para que vos privou, façam o bem para aqueles que vos maltrataram, saúdem quem não vos saudou, sejam honestos com vossos inimigos, perdoem aqueles que foram injustos com vocês da mesma forma que querem ser perdoados. Aprendam com o perdão de Deus a vocês. Vocês não veem que a luz do sol de Deus cai sobre os bondosos e os maldosos ao mesmo tempo? E que a chuva de Deus cai sobre os virtuosos e sobre os pecadores ao mesmo tempo. Então, se não amarem exceto aqueles que vos ama, não praticam o bem exceto para quem praticou o bem a vocês, não recompensarem apenas aqueles que vos concederam algo, qual a diferença entre vocês e os outros? Pois isso pode ser feito pelos pecadores e maldosos também, os quais não possuem sonhos e nem interesses. Se quiserem ser amados e escolhidos por Deus então sejam bondosos com quem foi maldoso com vocês, saúdem quem não lhes saúda, perdoem aqueles que foram injustos com vocês, escutem minhas palavras, pratiquem meu testamento e protejam meu legado para que sejam sábios e eruditos”.

Numa passagem do Imam Ali Zein Al-Abedin (A.S.) no Dúa do Makarem Al-Akhlaq ele diz: “…Ó meu Senhor, ao aconselhar aqueles que foram falsos comigo e recordar bem aqueles que me mencionaram com Ghibah (Calúnia)….” E minhas palavras são acompanhadas das tradições e histórias dos Ahlul Bait (A.S.), pois eles nunca reagiram a um mal com maldade, sempre com bondade, e isto está claro em todas as histórias deles.

Segundo Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Servos de Deus, temam a Deus, o qual deseja que vivamos o significado da temência em nossa vida e em nossa consciência, pois a temência é uma introdução para a satisfação de Deus. Ele disse no seu livro sagrado: “Ó fiéis, temei a Deus! E que cada alma considere o que tiver oferecido, para o dia de amanhã; temei, pois, a Deus, porque Deus está bem inteirado de tudo quanto fazeis”. (59:18)

Numa outra passagem Deus o Altíssimo disse: “E temei o dia em que nenhuma alma poderá advogar por outra, nem lhe será admitida intercessão alguma, nem lhe será aceita compensação, nem ninguém será socorrido!” (2:48)

Numa outra parte do Alcorão Sagrado, Deus exaltado seja disse: “E temei o dia em que retornareis a Deus, e em que cada alma receberá o seu merecido, sem ser defraudada.” (2:281).

Neste dia em que o livro será apresentado e o ser humano olhará nele. Ele verá que neste livro não houve nada a ser esquecido. Pois o ser humano pode fazer o bem e esquecer ou fazer o mal e esquecer, e por isso que Deus disse: “O Livro-registro será exposto. Verás os pecadores atemorizados por seu conteúdo, e dirão: Ai de nós! Que significa este Livro? Não omite nem pequena, nem grande falta, senão que as enumera! E encontrarão registrado tudo quanto tiverem feito. Teu Senhor não defraudará ninguém” (18:49). Numa outra passagem Deus exaltado seja disse sobre aquele dia em que nada valerá senão as práticas de cada pessoa: “E a trombeta soará; e aqueles que estão nos céus e na terra expirarão, com exceção daqueles que Deus queira (conservar). Logo, soará pela segunda vez e, ei-los ressuscitados, pasmados!” (39:68). Numa outra passagem Deus o Altíssimo disse: “E no dia em que soar a trombeta, espantar-se-ão aqueles que estiverem nos céus e na terra, exceto aqueles que Deus agraciar. E todos comparecerão, humildes, ante Ele” (27:87).

Sobre este dia o Príncipe dos Fiéis (A.S.) dizia: “Ó Meu senhor, eu vos peço a segurança, Dia em que de nada valerão bens ou filhos, salvo para quem comparecer ante Deus com um coração sincero (26:88), e te peço a paz no dia em que será o dia em que o iníquo morderá as mãos e dirá: Oxalá tivesse seguido a senda do Mensageiro! (25:27), e te peço a segurança no dia em que os pecadores serão reconhecidos por suas marcas, e serão arrastados pelos topetes e pelos pés (55:41), te peço o abrigo no dia em que nenhuma alma poderá advogar por outra, porque o mando, nesse dia, só será de Deus (82:19), e te peço a paz no dia em que o homem fugirá do seu irmão, da sua mãe e do seu pai, da sua esposa e dos seus filhos (80:34 a 36)”. Então, queridos irmãos temos que nos preparar para este dia. Temos que proteger os princípios da justiça pois o dia do juízo final é o dia em que Deus julgará entre seus servos com justiça e não haverá espaço para a propina ou privilégio. Deus o Altíssimo disse: “Deus ordena a justiça, a caridade….” (19:90).

Entre os significados da temência é o do ser humano viver a responsabilidade em tudo que Deus pede. E entre as questões que eu gostaria de citar aqui está a presença na oração de sexta-feira, a qual eu não vejo aquele entusiasmo dos muçulmanos. Deus disse no Alcorão Sagrado: “Ó fiéis, quando fordes convocados, para a Oração da Sexta-feira, recorrei à recordação de Deus e abandonai os vossos negócios; isso será preferível, se quereis saber” (62:9). Que tipo de bem, ninguém sabe, só Deus sabe. Na época quando este versículo foi revelado, é registrado que no momento em que o profeta estava discursando alguns muçulmanos saíram da mesquita para receber a mercadoria e os fornecedores que tinham acabado de chegar bem no momento da oração de sexta-feira. Eles abandonaram a oração e foram ao comércio. Este fato foi registrado também no Alcorão Sagrado: “Porém, se quando se depararem com o comércio ou com a diversão, se dispersarem, correndo para ele e te deixarem a sós, dize-lhes: O que está relacionado com Deus é preferível à diversão e ao comércio, porque Deus é o melhor dos provedores” (62:11).

As tradições nobres do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) citam que: “A pessoa que sair de casa em direção a oração de sexta-feira terá por cada passo uma boa ação registrada e uma maldade apagada”. Um homem veio ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e disse a ele que tinha interesse em realizar a peregrinação, mas que não tinha dinheiro. Então, o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse a ele: “Pratique a oração de sexta-feira, pois é a peregrinação dos pobres”.

Queridos irmãos, Deus exaltado seja classificou as devoções em dois grupos, o primeiro grupo Deus quer que seja realizado em secreto, para que não haja orgulho por sua devoção tais como a oração da noite e outras devoções. O segundo grupo de devoções Deus quis que sejam realizadas em público e que sejam demonstradas e praticadas com força, pois este grupo de devoções é considerado um símbolo de Deus, e Ele disse no Alcorão Sagrado: “Tal será. Contudo, quem enaltecer os símbolos de Deus, saiba que tal (enaltecimento) partirá de quem possuir piedade no coração” (22:32). Estes símbolos são importantes para afirmar a identidade islâmica, especialmente nestes espaços e ambientes nos quais vivemos o risco de ficarmos misturados com as tradições não islâmicas. Cada um de nós deve se importar e deve trazer seus filhos e seus familiares para esta oração para viver o ambiente islâmico e as tradições.

A segunda questão que tenho interesse em reafirmar é a questão da união islâmica. O que estamos vemos nos canais e redes sociais é que representantes de escolas e vertentes islâmicas promovem o fanatismo e o radicalismo expondo a sua matéria prima histórica, que é desviada. Estes são ignorantes e infantis, não tem a mínima conduta e ética no diálogo. Este não é trabalho para eles e sim um trabalho que deve ser realizado por cientistas e sábios Eruditos islâmicos de ambos os lados.

Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos vocês.

 

 

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