Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Os dias da Al-Mubahalah e do donativo – Sheikh Youssef Ajordi – 14/08/2020

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

PRIMEIRO SERMÃO

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os Seus Profetas e mensageiros.

Felicitações a todos pela ocasião do dia da Mubahala e o dia da caridade, no qual Imam Ali (A.S.) apresentou seu anel como caridade ao necessitado.

Deus, o Altíssimo, disse: “Porém, àqueles que discutem contigo a respeito dele, depois de te haver chegado o conhecimento, dize-lhes: Vinde! Convoquemos os nossos filhos e os vossos, e as nossas mulheres e as vossas, e nós mesmos; então, deprecaremos para que a maldição de Deus caia sobre os mentirosos. (153)”. (3:61)

Ao decorrer da história ocorreram diversos fatos e episódios, nos quais Deus era o juiz. Dentre os episódios históricos mais marcantes e importantes da história está o “Dia da Mubahala”. Este fato é extremamente importante e considerado uma grande prova sobre toda a humanidade, pois este dia foi confirmado pelos muçulmanos, como também, todos os historiadores narram e afirmam que este fato realmente ocorreu. Este fato foi considerado uma prova, quando duas frentes se enfrentam e decidem quem será o árbitro, então, o outro grupo irá aceitar e admitir o decreto do árbitro cujo ambos reconheceram e juraram à ele, isto é um duelo Mubahala.

Como começou?

Foi após o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) começar a receber as revelações do Alcorão Sagrado e a pregar a doutrina de Deus entre as pessoas. Existia uma região chamada Najran, onde seus habitantes eram na grande maioria cristãos. O Profeta Mohammad (S.A.A.S) enviou uma mensagem ao bispo de Najran convocando-o ao Islam ou a pagar a Jeziyah, que é uma espécie de tributo para os não muçulmanos que vivem em território islâmico. Quando o bispo recebeu a mensagem e a leu, falou com seus assessores e sábios e, então, foi decidido que enviassem uma comitiva de 60 pessoas para Medina, a fim de dialogar com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.). A comitiva chegou em Medina, se encontrou com o Profeta e, assim, começou a dialogar e debater com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), chegando ao ponto de eles não aceitarem mais os argumentos e provas apresentadas pelo Profeta Mohammad (S.A.A.S), os versos do Alcorão Sagrado.

Então Deus revelou: “…àqueles que discutem contigo a respeito dele, depois de te haver chegado o conhecimento, dize-lhes: Vinde! Convoquemos os nossos filhos e os vossos, e as nossas mulheres e as vossas, e nós mesmos; então, deprecaremos para que a maldição de Deus caia sobre os mentirosos…”

Todos os historiadores e escolas islâmicas interpretam os seguintes adjetivos dos versículos:

1-    Nossos filhos, seriam Hassan e Hussein, os senhores dos jovens do paraíso.

2-    Nossas mulheres, seria Fátima Azzahra (A.S.), a senhora das mulheres do universo

3-    Nós mesmos: Imam Ali (A.S.), o príncipe dos Fiéis.

Por que o Profeta (S.A.A.S.) escolheu estas pessoas?

Quando o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) foi perguntado: por que escolheu estas pessoas para acompanhá-lo neste duelo, ele respondeu: “Se Deus soubesse que havia pessoas mais dignas sobre a Terra de que Ali, Fátima, Hassan e Hussein, então tinha me ordenado que fizesse a Mubahala com elas. Mas Ele me ordenou que fizeste a Mubahala com estes (Ali, Fátima, Hassan e Hussein) e foi assim que eu venci a Mubahala sobre os cristãos”.

O manto

No local da Mubahalah, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) colocou o manto sobre Ali, Fátima, Hassan e Hussein (A.S.) e disse: “Ó Deus, cada um de Seus profetas tinha os próprios Ahlul Bait (Família, gente da casa) sendo que eles eram as pessoas mais próximas a eles do que as demais criaturas. Ó Deus nosso, estes são os meus Ahlul Bait (A.S.), então os purifique e afaste toda e qualquer abominação deles”. Então o anjo Gabriel desceu e revelou: “… Deus deseja afastar de vós a abominação, ó Ahlul Bait, bem como purificar-vos integralmente”. (33:33)

A tradição

O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) foi ao ponto de encontro enquanto carregava Hassan e Hussein em seus braços, Ali estava do seu lado direito e Fátima do lado esquerdo. Quando a comitiva cristã viu aquilo, pensaram e se perguntaram: “Vamos voltar atrás?!”  Ou seja, apenas a cena do Profeta (S.A.A.S.) vindo com toda aquela calma, segurança e paz, já os deixou inseguros e nervosos. Eles perguntaram à um de seus companheiros: “O que você acha, vamos em frente no duelo com Mohammad ou não?”

Ele respondeu: “Juro por Deus, estou convicto de que Mohammad é um Profeta enviado pelo vosso Profeta (Jesus). Juro por Deus que nenhuma nação chegou a fazer a Mubahala com algum Profeta e continuou viva (isto é, todos morreriam após aquele duelo). Se vocês ainda quiserem continuar com suas religiões, então desistam deste duelo e voltem para vossas terras”.

Já o bispo maior, chamado Abi Haritha, disse: “Eu vejo faces que, se pedirem à Deus que remova montanhas de seus lugares, Ele as atenderia. Então, não vamos fazer a Mubahala, pois assim, não iria sobrar nenhum cristão sobre a Terra até o dia do juízo final”.

O bispo então ordenou seus companheiros a desistirem da Mubahala, pois percebeu que eles perderiam aquele duelo, e desse modo, seriam extintos por Deus. Os cristãos então foram ao Profeta (S.A.A.S.) e assim, e lhe disseram: “Ó Profeta, não queremos mais fazer o duelo”. Portanto, aceitaram as condições do Profeta, e continuaram com suas crenças, porém pagariam 2000 mil saquinhos de ouro, 1000 seriam pagos em Safar e 1000 em Rajab, como forma de imposto.

A filosofia da Mubahala

É muito belo e importante que celebremos o evento de Mubahala, como também, saber qual a importância e a filosofia da Mubalaha e o que aprendemos com isso.

Em nosso dia a dia, pode acontecer alguns episódios que chegamos a colocar Deus como o nosso árbitro, mas nem sempre isso acontece. Alguns de nós, apenas mencionam a religião e defendem sua arbitragem quando está a seu favor, já em outros casos buscam as leis humanas e civis e procuram juízes. Isso porque, a religião, neste caso, não está a seu favor. Isso está certo? Obviamente que não. Este grupo de pessoas foram classificados por Deus como: “… Credes, acaso, em uma parte do Livro e negais a outra? Aqueles que, dentre vós, que cometem, não receberão, em troca, senão aviltamento, na vida terrena e, no Dia da Ressurreição, serão submetidos ao mais severo dos castigos…” (2:85)

Pedimos a Deus que nos proteja da pandemia e das pragas.

Pedimos a Deus que sempre seja o nosso árbitro e que sempre entreguemos nossos casos a Ele, o todo poderoso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo.

SEGUNDO SERMÃO

Em nome de Deus o Clemente o Misericordioso

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Deus, o Altíssimo, disse: “Vossos reais confidentes são: Deus, Seu Mensageiro e os fiéis que observam a oração e pagam o zakat, genuflectindo-se ante Deus.” (5:55)

A doação do anel

Não há dúvida nenhuma de que, o referido neste versículo, é um único homem sobre esta Terra. Foi ele quem estendeu sua mão ao necessitado para que visse o anel nela e, então, o pegasse como doação. O doador foi o Imam Ali (A.S.), quando estava rezando na mesquita e alguém começou a pedir ajuda para os muçulmanos que estavam nela, mas ninguém o atendeu. Sendo assim, Ali (A.S.) estendeu sua mão, aquela mão abençoada que tinha sido beijada pelo Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), por suas dádivas, sacrifícios e oferendas ao Islam. Então, o necessitado entendeu que era para pegar o anel de Ali como doação. Ele o pegou e então aquele gesto sincero e puro foi registrado no Alcorão Sagrado.

A filosofia da adoração

Este gesto foi o suficiente para que Ali (A.S.) fosse marcado como um verdadeiro e legitimo confidente e tutor da nação. Por meio deste gesto, Ali nos traduz a filosofia da adoração a Deus, pois ele, enquanto rezava, não sentia mais nada do que ocorria ao seu redor, além de seu temor a Deus, o Altíssimo. Seu corpo inteiro estremecia de temor a Deus, o todo poderoso. Ali se concentrava tanto durante a sua oração que alguns companheiros diziam: “O melhor momento para tratar as feridas de Ali nas guerras era quando ele rezava, pois ele não sentia nada, já que estava totalmente concentrado na adoração a Deus”.

Entretanto, como ele atendeu aquele pobre necessitado durante a oração, oferecendo seu anel como doação, enquanto estava em genuflexão? O que o Imam Ali (A.S.) quis dizer com este gesto? Qual a sua mensagem com isso?

O Imam (A.S.) quis dizer para todos nós que a filosofia e o objetivo da oração é atender à necessidade dos fiéis. A filosofia do jejum e da peregrinação é socorrer um pobre necessitado. Um nobre dito diz: “Aquele que corre entre as pessoas para socorrê-los, Deus o protegerá de um perigo eminente”. Este é o valor e resultado para quem ajuda os outros de todo coração e com sinceridade. Atender as necessidades e ajudar os fiéis, não é um ato pequeno e sim muito, mas muito grandioso perante Deus, o Altíssimo.

Alguns podem perguntar: Como o príncipe dos fiéis (A.S.) estava rezando e ouviu o homem necessitado pedindo ajuda? A resposta é: Nada distrairia a atenção do Imam Ali (A.S.) a Deus durante sua oração, exceto algo que fizesse parte da própria oração. Na verdade, Ali (A.S.) não queria que a oração fosse um obstáculo para que a ajuda chegasse a um pobre necessitado, pois a ajuda a um fiel está conectada aos ensinamentos da oração e todas as devoções do Islam. Não há nada no Islam que poderia provar o contrário.

Outra pergunta poderia ser feita: Por que nós rezamos? Será que é porque Deus precisa da nossa oração?

É obvio que não, Deus não precisa da nossa oração, mas nós é que precisamos dela para nós mesmos. A questão é a seguinte: a oração não é uma mera prática e sim deve ter seus ensinamentos traduzidos na conduta do dia a dia. Alguns sábios dizem: “A oração não é um tapete que se estende para reza e quando terminar você o dobra e fecha, e só o abre para a próxima oração. A Salat não é dobrada e colocada em cima do cômodo, mas deve ser levada ao longo do dia, para onde a pessoa for”.

A oração deve ser carregada por todo o nosso dia, isto é, no trabalho, na escola, em casa, na rua, e por onde passarmos. O melhor proveito é quando a pessoa leva os ensinamentos da oração em todos os lugares, por onde for.  O que mais precisamos é carregar os ensinamentos da oração fora da oração. Nenhum obstáculo deve impedir que realizemos e pratiquemos a mensagem da oração após a oração, o que diria então durante a oração?!

Saudações sobre ti, ó Príncipe dos Fiéis. Rogamos a Deus que sejamos seus leais seguidores.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e a benção de Deus estejam com Mohammad e sua purificada linhagem.

Que a paz e as bençãos de Deus estejam com todos.

 

 

 

 

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