Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – A firmeza – Sheikh Youssef Ajordi – 29/01/2021

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Recomendo a todos e a mim mesmo o temor a Deus, pois temer a Deus é a melhor das bagagens, sendo que o significado do temor a Deus é se distanciar dos atos ilícitos e praticar aquilo que satisfaça a vontade de Deus.

Deus disse no Alcorão Sagrado: “Em verdade, quanto àqueles que dizem: Nosso Senhor é Deus, e se firmam, os anjos descerão sobre eles, os quais lhes dirão: Não temais, nem vos atribuleis; outrossim, regozijai-vos com o Paraíso que vos está prometido!” (41:30)

Uma narrativa afirma que o Imam Assadiq (A.S.) aconselhou seu companheiro Abdullah ibn Jundub, e dizia: “Ó filho de Jundub, se nossos seguidores se afirmassem seriam saudados pelos anjos, e seriam cobertos pelas nuvens, e iluminavam os seus dias, além disso seriam enriquecidos de todos os lados, e além de tudo seriam atendidos por Deus em tudo que eles pedissem”.  

A firmeza

Esta narrativa é belíssima. Quem de nós não quer ser saudado pelos anjos, e ser cobertos pelas nuvens, e ter sua face iluminada e ser enriquecidos, e além de tudo ser atendido por Deus no que pedir? Mas há uma condição muito importante para tudo isso que é “A firmeza”. O que é a firmeza? A firmeza é aquilo que nós pedimos a Deus e oramos por Deus 10 vezes ao dia quando recitamos o verso “Guie-nos a senda reta” (1:5). Nós pedimos isso todos os dias para Ele, que nos firme na senda reta.

Mas a resposta vem em seguida mais adiante no Alcorão Sagrado, quando Deus diz ao Profeta: “Sê firme, pois, tal qual te foi ordenado, juntamente com os arrependidos, e não vos extravieis, porque Ele bem vê tudo quanto fazeis”. (11:112)

Saibam irmãos e irmãs que a questão de se firmar no caminho e na senda reta não é um simples desejo e sonho, e sim algo que devemos buscar em nossas práticas. A firmeza significa estar firme e não se desviar da senda reta. Para aproximar o significado vou dar um exemplo. Quando alguém viaja de avião aparece no painel inicial de cada acento qual é o ponto de partida daquele voo, qual é percurso e qual é o seu ponto de destino. Aquele avião para chegar seguro a seu destino então deverá continuar voando de acordo com o plano e jamais sair do percurso definido para ele. Caso contrário as consequências serão trágicas.

O mesmo ocorre quando você está fazendo uma viagem de carro em alta velocidade na rodovia intermunicipal ou interestadual. Se você sair das linhas pré-determinadas então a consequência será trágica. São questões de segundos e não minutos que podem levar a pessoa a consequências mortais.

Ficar atento

A grande parte das pessoas sofreram quedas e declínios simplesmente porque não foram firmes em seus caminhos. É de extrema importância que a pessoa fique sempre atenta a si mesma, e se observe para não se desviar.

A grande maioria dos nossos problemas é porque não nos atentamos para nossa firmeza e caminho. Não é brincadeira isso, pois aquele que não se firma no caminho se desviará e se perderá, e seu destino será a ira de Deus, e não conquistará a salvação e este será o fim.

Se alguém entre nós contrata um funcionário e o mesmo começa a fazer corpo mole ou não trabalha direito, então o patrão demitirá aquele funcionário porque não está seguindo as regras e nem fazendo o seu serviço direito. O mesmo pode ocorrer quando a pessoa não se firma no caminho da senda reta determinado por Deus, ela poderá ser demitida da misericórdia e da clemência de Deus. Se a pessoa almeja a salvação e deseja estar na companhia dos profetas e dos infalíveis no dia do juízo final então deverá ficar atenta a esta questão fundamental que é a firmeza no caminho da senda reta.

Uma pergunta…

Por que mesmo com a existência de uma sociedade fiel em Deus as sociedades vivem as calamidades e as tragédias?

Resposta: Isso é resultado e consequência das próprias ações humanas. Como Deus, o Altíssimo, dizia: “A corrupção surgiu na terra e no mar por causa do que as mãos dos humanos lucraram…” (30:41) Numa outra passagem Deus dizia: “Jamais os condenamos, senão que foram eles iníquos consigo mesmos”. (43:76)

Ou seja, tudo que ocorre numa sociedade é resultado das próprias ações e decisões daquela sociedade, a principal causa de suas felicidades ou infelicidades são eles mesmos.

A missão dos profetas (A.S.)

A missão de todos os profetas e mensageiros foi de seguir o caminho rumo a satisfação divina e estar firme na senda reta para alcançar a satisfação de Deus. Eles nunca perdiam tempo com os obstáculos que surgiam no decorrer do caminho. É por isso que o caminho até o paraíso é chamado de “O caminho de espinhos”, ou seja, ao longo da jornada sempre haverá muitos obstáculos e espinhos que irão atrapalhar do ser humano, mas o mais importante de tudo é que ninguém pare ou se desvie no meio do caminho.

Qual é o motivo do desvio?

Estar firme no caminho não é uma questão secundária, e sim essencial. A obediência a Deus é o nosso principal objetivo, que deve ser levado em consideração. Quantos de nós infelizmente não ficaram atentos a si mesmos e caíram no abismo? Imaginem alguém em alta velocidade, se não ficar atento a si mesmo ele poderá sofrer um acidente fatal. O motivo de alguns de nós mudarem radicalmente de caminho e caírem no abismo é este, não ficarem atentos a si e caírem nas tentações de Satã e na desobediência a Deus. Sendo que um dos principais motivos para o desvio do caminho são aqueles problemas espirituais e morais que afetam nossa alma e coração, como a inveja, ódio, hipocrisia, orgulho, arrogância, ghibah, sarcasmo, sarro dos outros e muito mais. Estes problemas levam ao desvio e certamente fazem com que o ser humano saia do plano e do percurso desenhado por Deus.

Não subestimem estes problemas, queridos irmãos e irmãs, são estas questões que levam o homem ao desvio.

Uma história de Satã e um Sábio devoto

Certo dia Satã juntou todos os seus seguidores e fez uma reunião para ouvir a opinião deles sobre como poderia desviar um grande sábio que vivia em devoção total a Deus no topo de uma montanha. Naquela reunião um dos seguidores de Satã levantou a mão e disse: “Eu posso desviá-lo”. Satã perguntou a ele como. O seguidor disse: “Com dinheiro”. Satã disse não, e que ele não podia. Os outros seguidores de Satã foram opinando um a um e todos foram rejeitados até que um deles levantou e disse: “Ó grande Satã, eu posso desviar aquele homem”. Satã lhe perguntou como e ele lhe respondeu: “Com sua própria devoção”. Satã gostou da ideia e lhe designou para aquela missão.

Aquele seguidor de Satã então se disfarçou em um pobre homem e subiu na montanha buscando abrigo na casa daquele devoto numa noite fria e chuvosa. Chegou a aquele sábio e lhe pediu permissão para passar aquela noite ali com ele. O sábio devoto lhe permitiu, mas lhe disse que ele é um devoto e não queria que ninguém o atrapalhasse em sua vigília noturna. O servo de Satã aceitou e ficou ali o acompanhando em sua devoção.

Naquela noite aquele sábio devoto, como de costume, permaneceu a noite toda em vigília e o servo de Satã ficou ali do lado também, orando e o acompanhando em sua oração. Depois de rezarem 50 orações o sábio devoto viu aquele homem que era na verdade um servo de Satã rezando sem parar. Então ele também seguiu rezando e orou até chegar em 100 orações. Depois disso ele percebeu que aquele homem que foi passar a noite lá ainda continuava rezando, então ele quis continuar para não perder dele. Com isso ele já foi atingido pela flecha de Satã, pois o seu foco não era mais ser um devoto de Deus, e sim orar mais que o outro.

Depois do servo de Satã terminar 300 orações aquele sábio devoto ficou admirado pela quantidade de orações que aquele homem havia feito, pois ele achava primeiro que era o mais devoto de todos. O sábio perguntou ao servo de Satã disfarçado de homem: “Desde quando você reza 300 orações por noite?”. O servi de Satã respondeu: “A história é longa. Eu pratiquei o Zina (Fornicação) e depois disso para eu reparar o meu erro comecei a orar 300 orações por dia. Então, se você quiser alcançar o meu nível terá que praticar um pecado e depois repará-lo, só assim conseguirá alcançar o meu grau”.

Aquele devoto ficou confuso e disse: “Como assim? Praticar um pecado? Não, isso é Haram!”. O servo de Satã lhe disse que só assim ele alcançaria este grau e poderia ter a força para praticar 300 orações por noite, e que os portais do perdão e clemência de Deus são grandes e jamais seriam fechadas, e assim ele poderia ser perdoado por Deus depois desta prática pecaminosa.

Aquele sábio devoto caiu na conversa do servo de Satã, desceu a montanha naquela noite e foi ao vilarejo, bateu na porta de uma mulher que praticava esta indecência. Quando aquela mulher abriu a porta reconheceu aquele devoto, mas ao invés de deixá-lo entrar lhe disse: “Você não tem vergonha de vir me procurar para praticar esta ilicitude? Então, a mulher não deixou aquele homem sábio e devoto entrar em sua casa.

Dizem que aquela mulher morreu naquela mesma noite e aquele sábio devoto também. Ambos, no dia do juízo final, serão julgados, sendo que a mulher será mandada para o paraíso e aquele sábio para o inferno. Sabem por quê?

Aquela mulher tinha se arrependido e pedido o perdão sincero a Deus, e Ele tinha aceitará seu perdão. Além disso ela estava totalmente decidida a não praticar mais aquela ilicitude com mais ninguém e por isso não abriu a porta para aquele homem sendo que ela evitou que ele praticasse aquele ato indecente com ela.

A moral da história é que ninguém deve subestimar o orgulho e nem a inveja ou o ódio, que afetam nossos corações e nos desviam do caminho certo e da senda reta.

Fátima Azzahra (A.S.)

Esta mulher foi exemplo de firmeza no caminho não porque ela era filha do profeta Mohammad (S.A.A.S.) e nem porque o seu marido foi o Imam Ali (A.S.) ou porque ela foi a mãe dos Imames Hassan (A.S.) e Imam Al-Hussein (A.S.). Ela foi a senhora das mulheres do universo porque ela foi firme no caminho e na senda reta.

Aicha, esposa do profeta Mohammad (S.A.A.S.), dizia: “Nós costurávamos e passávamos a linha na agulha a noite sob a luz da face de Fátima Azzahra”. Não havia luz elétrica naquela época. O que iluminava aquele espaço era a luz da face de Fátima Azzahra (A.S.).

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção e Deus esteja com Mohammad e sua purificada linhagem. Que a paz e as bênçãos de Deus estejam com todos.

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