Paz e amizade sem limites no Alcorão

Por: Dr. Mohammad Rasoul Ahangaran

Introdução

Uma das discussões mais importantes sobre o Islam é a paz. O que o Alcorão diz sobre paz e guerra, e como o Profeta Muhammad (S.A.A.S.) lidava com aqueles que não aceitavam o Islam como forma de vida? Este artigo examina as soluções que o Alcorão fornece para evitar o derramamento de sangue e sua ênfase na paz para a humanidade.

De acordo com os seus ensinamentos, fatores que levam à violência, como disputa, matança injustificada e sentimentos de vingança devem ser refreados. Allah estabeleceu castigos mundanos como retaliação para aqueles que injustamente matam ou ferem outros.

Além disso, o Alcorão estabelece princípios de paz, enquanto o Profeta (S.A.A.S.) foi um exemplo e padrão ao assumir o papel de pacificador com os politeístas e ateus, bem como com os Povos do Livro.

O Islam considera sobretudo aqueles que têm uma atitude pacífica, uma vez que os indivíduos que ignoram os direitos alheios devem ser firmemente combatidos neste mundo, estes enfrentarão o julgamento por seus atos no além.

De acordo com o Glorioso Alcorão, uma característica importante do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) é que ele foi enviado como “Uma misericórdia para as pessoas do mundo”. (21:107)

Parte dessa misericórdia é exibida ao convidar as pessoas para a paz e a amizade. Durante o estabelecimento do governo islâmico em Medina, as primeiras missões do Profeta foram no intuito de estabelecer paz, amizade e fraternidade, como foi ordenado no Alcorão. Por muitos anos, o Profeta (S.A.A.S.) foi solicitado por Deus a não utilizar qualquer exercício de força, incluindo a guerra defensiva como recurso em seu encontro com os inimigos do Islam.

Os esforços foram feitos para tratar os inimigos, incluindo os politeístas e ateus, com a maior misericórdia possível. Os povos do livro foram tratados da mesma maneira. No que se segue, estudaremos dois pontos. O primeiro considera as soluções que o Islam proporciona para evitar derramamentos de sangue e conflitos; o segundo é como tratar os politeístas, os ateus e o Povo do Livro com uma atitude pacífica com a exceção dos opressores, a quem temos o dever de resistir.

Fatores preventivos que levam à guerra e derramamento de sangue

Prevenir conflitos sérios é essencial para estabelecer paz e harmonia. Ou seja, impedir a guerra é mais importante do que acabar com a guerra. O Alcorão Sagrado afirma este assunto e oferece soluções para evitar a guerra. Abaixo, apontamos para alguns deles:

Proibindo a Disputa

A disputa e a argumentação ilógica são um fator que traz guerra e brigas. A disputa é entendida como o ato de falar obstinadamente, defendendo opiniões que não são aceitas pela outra parte.

O Islam recomenda argumentar com base na razão. Este tipo de argumento é chamado de “al-burhan” e Allah (swt) pede aos que não aceitam racionalmente o Islam: “apresente sua razão”, um verso repetido quatro vezes no Alcorão (2:111; 21:24; 27:64; 28:75).

Neste versículo, o Islam não apoia a crença imposta sem uma razão; seu objetivo é permitir uma discussão intelectual respeitosa. Se os incrédulos acharem suas próprias razões insuficientes e perceberem no Islam plausibilidade, aceitarão essa religião.

Outro verso que diz “Não há compulsão na religião” (2:256) também atesta o fato de que os princípios da religião não devem ser aceitos relutantemente: deve basear-se na razão. Ibn Mas’ud e Ibn Zayd, dois discípulos do Profeta, interpretaram de modo errôneo este versículo quando o mencionaram como se tivesse sido ab-rogado pelo versículo da Espada; pois o Islam não recorre à força para impor a aceitação de seus princípios, tampouco confirma sua reivindicação por intermédio da guerra.

Pelo contrário, pretende apresentar suas razões e distinguir a verdade da falsidade com base no raciocínio, como diz o versículo seguinte, “pois já se distinguiu a verdade da falsidade”.

Indica que, no início, não havia relutância; aceitar o Islam deve basear-se em fundamentação, e se um muçulmano reconhece o Islam sem certeza, sua aceitação do Islam não significará nada.

A opinião de todos os juristas xiitas é que o seguimento (taqlid) não é permitido nos princípios da religião. E isso significa que acreditar em Deus, seu Profeta (S.A.A.S.) e outros artigos de fé não devem ser aceitos inconscientemente.

Assim, o verso “Não há compulsão na religião” não foi ab-rogado e se a plausibilidade do Islam não for confirmada, não devemos forçar alguém a aceitá-lo, porque Deus criou a humanidade com a habilidade de distinguir o certo do errado. Concluímos a partir disso que, o Alcorão convida a humanidade a pensar racionalmente e a dialogar, proíbe a disputa e obstinação que causam guerra e derramamento de sangue.

O Islam e o Alcorão tentaram impedir a guerra e conflitos através da proibição da disputa. Refletindo sobre os versículos como 2:134 e 139 e 11:121 e 122, pode-se chegar à conclusão de que, quando estamos discutindo um problema, os desentendimentos não produzem bons resultados; ambas as partes devem parar de discutir e deixar isso para Deus.

Profanação, mesmo quando como retaliação foi proibida; Os crentes são aconselhados a evitá-la. O Alcorão diz: “Não ofenda aqueles a quem eles invocam além de Deus, para que não ofendam a Deus por hostilidade, sem qualquer conhecimento…” (6:108)

Portanto, o primeiro fator que tem um papel importante na prevenção do conflito e da guerra é evitar a disputa e argumentação ilógica. Espera-se que as pessoas deixem o assunto a Deus. O Alcorão também assegura à humanidade que toda nação é responsável por seus próprios atos: “Aquela é uma nação que já passou; a eles (será) a recompensa do que fizeram, a vós (a recompensa) do que fizerdes, e não respondereis pelo que fizeram”. (2:134)

Qualquer nação ou homem de qualquer religião será punido como resultado de suas próprias más ações. A religião de uma nação não resultará na punição de outras nações. Dessa forma, o Islam impede disputas vãs.

Devido à sua importância, a ideia é repetida na mesma sura (vers. 2, 141).

Nos versículos 43:83 e 70:82, Deus pede ao Profeta (S.A.A.S.) para “deixá-los falar até que encontrem o dia que lhes foi prometido”.

Proibição do assassinato injustificado e a sua punição divina

No Alcorão, um dos mais terríveis castigos celestiais é para os homicidas. “É por isso que decretamos para os filhos de Israel que quem matar uma alma, sem [ser culpada de] homicídio culposo ou corrupção na terra, é como se ele tivesse matado toda a humanidade, e quem salvar uma vida é como se ele tivesse salvado toda a humanidade. Nossos apóstolos certamente trouxeram-lhes sinais manifestos, mesmo assim, muitos deles cometeram excessos na Terra”. (5:32)

Neste versículo, matar uma pessoa é comparado a matar a humanidade da criação de Adão até o fim do mundo.

Existem várias tradições que explicam este versículo. Se uma pessoa mata outra injustamente, ele será julgado igual a um assassino da humanidade e se ele reincide no crime, sua punição será mais severa. O medo do castigo divino é uma sanção interna e um fator que ajuda a prevenir o derramamento de sangue. Os fatores internos de prevenção são mais importantes do que os externos, porque não há como escapar deles.

Então, além de considerar os fatores de prevenção externos, o Islam tenta fortalecer os fatores internos a fim de evitar muitos crimes. O Islam não só estabelece uma punição celestial para os assassinos, mas também proíbe qualquer tipo de opressão e injustiça, mesmo crimes menores, e estabelece castigos celestiais para que a opressão seja dificultada.

Os juristas xiitas concordam por unanimidade que uma das condições para o Imamato é que o Imam não tenha cometido qualquer opressão ou injustiça.

Antes de sua morte, Imam Sajjad (A.S.) abraçou seu filho Imam Baqir (A.S.) e disse-lhe aquilo que havia sido dito a ele próprio por seu pai, Imam Hussain (A.S.): “Ó meu filho, evite oprimir qualquer um que não tenha socorro senão o de Allah”.

Deus impediu conflitos, guerras e derramamentos de sangue, proibindo a opressão e a injustiça e estabelecendo castigos divinos para os assassinos dos fiéis.

A lei islâmica não só proíbe oprimir os muçulmanos; se aplica no que diz respeito à opressão também aos cristãos, judeus e zoroastras. Persegui-los sob um governo islâmico é proibido e acarreta a punição divina. O Profeta (S.A.A.S.) disse: “Qualquer um que incomode os Povos do Livro que vivem sob o contrato de segurança (dhimma) é como se ele tenha incomodado a mim”. Desta forma, proibindo a opressão e a perseguição aos outros, e considerando o castigo celestial para o opressor, o Islam prepara o terreno para a paz e amizade entre os humanos.

Criando castigos mundanos

Deus prescreveu retaliação como um castigo mundano para aqueles que injustamente matam ou ferem outros: “Há vida para vós na (a lei de) talião” (2:179). A retaliação (ao crime) é necessária, pois contribui para a continuidade da vida humana e ajuda a evitar o caos social. O Islam estabeleceu punições mundanas não só para aqueles que injustamente matam muçulmanos, mas também para aqueles que matam os infiéis que não lutam contra o Islam.

Todos os juristas muçulmanos concordam unanimemente que, se um muçulmano injustificadamente mata um não muçulmano, ele deve ser punido. Se o assassino, depois de ser punido, mata outro membro do povo do Livro, ele será morto em retaliação. De acordo com juristas, se um muçulmano xiita mata outro muçulmano, ele receberá a retaliação, independentemente da nacionalidade do assassino ou da vítima. Assim, o Islam impediu derramamento de sangue e conflitos, considerando retaliação por assassinato injusto.

Controlando sentimentos de vingança

Antes do advento do Islam as tribos árabes realizaram a prática vingativa de matar não só o assassino, mas também os membros da sua tribo. Ao longo da história ocorreram muitas grandes guerras entre as tribos como resultado de um ou alguns assassinatos. O Islam impede a hostilidade e a guerra. Allah condena o assassino e aconselha os parentes a não se vingarem cometendo excessos contra os parentes do assassino, ou contra o seu clã ou povo. Além disso, o Islam definiu a maneira de punir o assassino, de modo a controlar o sentimento vingativo da família da vítima. Estes, não têm permissão para agir a seu bel prazer nessa questão.

Imam Ali (A.S.) declarou sua vontade aos filhos Imam Hassan e Imam Hussein (A.S.), no seu leito de morte, com respeito a seu assassino – que Muljim deveria receber sua punição com um único golpe de espada. O Imam também lembrou-lhes da declaração do Profeta de “abster-se de mutilar o cadáver, mesmo o corpo de um cão selvagem”.

O Islam busca remover a crueldade controlando sentimentos vingativos e impedindo qualquer um de cometer crimes contra o assassino.

Paz e harmonia sem limites

O Islam surgiu em uma sociedade que sofria de racismo e discriminação. Eles acreditavam na superioridade da raça árabe. O Islam anulou esta atitude de superioridade, exceto no temor a Deus: “Ó humanidade! Na verdade, nós o criamos de um homem e de uma mulher, e o fizemos nações e tribos para que pudésseis reconhecer uns aos outros. Na verdade, o mais nobre de vocês aos olhos de Deus é o mais temente…” (49:13).

Um dos grandes ensinamentos do Profeta era que as diferenças de raça e etnia eram apenas uma razão para o reconhecimento mútuo. Assim, essas diferenças não indicam qualquer superioridade ou inferioridade. O Islam convida a todos para serem irmãos e irmãs e a eliminar sentimentos de superioridade. Além disso, Deus convida Seu Profeta a mostrar humildade aos crentes: “Abaixa a tua asa (na ternura) para os crentes”. (15:88) “Abaixa a tua asa (em bondade) para os crentes que se seguem”. (26:215) “Abaixar as asas” é uma alusão à humildade máxima que se pode mostrar a outra pessoa.

Allah aconselha o homem a mostrar humildade aos seus pais (17:24) e aos crentes. Allah também pede aos muçulmanos para serem afetuosos com os outros muçulmanos apesar das diferenças que possam existir entre eles. O Alcorão denomina muçulmanos de qualquer raça e tribo “irmãos” um do outro: “Os crentes são irmãos” (49:10) e por isso, eles devem estabelecer a relação da irmandade um com o outro. O Profeta em sua primeira missão em Medina estabeleceu a relação de fraternidade entre muçulmanos que abrigavam hostilidade entre si. O Islam eliminou essa hostilidade: “E apegai-vos todos, à corda de Deus e não vos dividais. Recordai as graças de Deus para convosco, quando éreis adversários mútuos e Ele conciliou vossos corações e, por Sua bênção, vos tornastes verdadeiros irmãos; e quando estáveis à beira do abismo do Fogo, Ele vos salvou. Assim, Deus esclarece Seus versículos, para que vos encaminheis”. (3:103)

Atos, como calúnias e mentiras, que causam conflitos e disputas, foram igualmente proibidos. A punição para tais atos é mais severa do que as que envolvem questões pessoais. Da mesma forma, ações que promovem boas relações e a paz são melhor recompensadas do que aquelas que beneficiam apenas o indivíduo. O Imam Ali (A.S.) indicou o valor das relações pacíficas citando o Profeta (S.A.A.S.) que disse: “Estabelecer a paz e amizade é melhor que um ano de oração.”

Explicando a missão do Profeta (S.A.A.S.), o Alcorão diz: “Nós não te enviamos senão como uma misericórdia para todas as nações”. (21:107)

Este verso mostra que o próprio Islam é baseado em misericórdia e bondade e indiretamente pede aos muçulmanos que tratem a humanidade com piedade e paz. O Alcorão também diz: “E quando tomamos um compromisso dos Filhos de Israel (dizendo): Não adoreis senão a Deus; tratai com bondade a vossos pais e parentes, os órfãos e os necessitados; falai aos humanos palavras bondosas; observai a oração e concedei o zakat. Então, renegastes com desdém, salvo um pequeno número de vós.” (s.2 v.83)

Nesse versículo, Deus instruiu as pessoas a se tratarem com respeito e bondade. A prática do bem não é somente as boas palavras; deve ser observada em todos os aspectos da vida pessoal.

“Deus nada vos proíbe quanto àqueles que não vos combateram por conta da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que trateis com eles com bondade e equidade. Deus ama os justos”. (60:8)

Em outras passagens, o Alcorão elogia “Aqueles que reprimem a ira e perdoam os humanos”. (3: 134) Isso significa que pessoas virtuosas, muçulmanas e não-muçulmanas perdoam a humanidade, perdoam os erros, e não retribuem o mal com o mal. Considerando o versículo anterior, Deus ordenou ao Profeta (S.A.A.S.) e as pessoas que convidam outros para o Islam a tratar seus inimigos de forma pacífica, confrontá-los com paciência e tolerância, e a perdoar seus maus-tratos. Esse comportamento amigável e honrado pode fazer do inimigo um amigo íntimo. O Profeta Muhammad disse: “Comporta-te bem com aqueles que te maltratam”. Assim, fica claro que, no Islam, ter o comportamento pacífico é um princípio geral, embora em alguns casos, quando há uma violação sistemática dos direitos é realizada, pode ser feita uma exceção.

A conduta pacífica do Profeta com politeístas e ateus

Apesar das pressões que o Profeta enfrentou durante sua residência em Meca e antes de imigrar para Medina, que durou 13 anos, recebeu a ordem de ser paciente com os politeístas apesar da sua hostilidade e proibiu retaliar os inimigos militantes. Isso ficou estabelecido até a revelação deste ayat em Medina: “A sanção é dada àqueles que lutam porque foram injustiçados; e Deus é de fato capaz de dar-lhes a vitória”. (22:39) Com base nos comentários do Alcorão e dos ahadith, esse versículo foi o primeiro a ser revelado em Medina. Assim, o Profeta e seus discípulos foram autorizados a lutar com os politeístas para se proteger contra os opressores.

Muitos eventos durante o tempo do Profeta indicam que ele fez esforços extremos para não cometer violências. Por exemplo, quando os politeístas violaram o tratado de paz de Hudaybiyyah, o Profeta se absteve de cometer derramamento de sangue, ele tinha um exército de 1000 soldados equipados; em vez disso, buscou a intermediação com seu tio Abbas.

Esse foi um esforço para capturar a Meca de modo pacífico. Ao refletir sobre o comportamento do Profeta em relação aos politeístas Qurayshi, especialmente seus chefes, podemos entender o significado real do versículo 107 no capítulo 21, que afirma: “Nós não te enviamos senão como uma misericórdia para todas as nações”.

A bondade do Profeta também é retratada em seu tratamento para com os líderes politeístas que cometeram crimes graves. Quando Abu Sufyan, o chefe dos politeístas, converteu-se ao Islam, o profeta apresentou sua casa como um lugar pacífico quando afirmou: “Quem se refugiar no lar de Abu Sufyan, ou quem fecha a porta de sua casa ou se refugia em Masjid-al-Haram estará seguro”.

Outro exemplo é o comportamento do Profeta em relação a Safwn ibn Umayyah, um famoso criminoso cujo nome foi listado entre as dez pessoas que o Profeta (S.A.A.S.) descreveu como aqueles que tinham que ser punidos por seus numerosos crimes. O Profeta (S.A.A.S.) perdoou Safwn através de Umayyah ibn Wahhab, um dos discípulos do Profeta e o convidou para o Islam. Em resposta, Safwn pediu ao Profeta (S.A.A.S.) que lhe desse dois meses para considerar essa oferta, e o Profeta (S.A.A.S.) deu- lhe quatro meses. O comportamento do Profeta mostra que ele nunca teve a intenção de impor suas crenças: a conversão para o Islam deve basear-se na percepção e consciência. Em vez de confiscar suas propriedades, quando os muçulmanos estavam em necessidade, o Profeta (S.A.A.S.) pediu a Safwn para que cedesse 70 armaduras como um empréstimo garantido.

Em outro caso, quando o exército muçulmano estava entrando em Meca, Sa’d ibn ‘Ub dah estava carregando a bandeira. Quando passava por Abu Sufyan, ele gritou: “Abu Sufyan, hoje é o dia da luta e do derramamento de sangue. Hoje Deus fará Quraysh desprezado e humilde”. Quando o Profeta (S.A.A.S.) ouviu essas palavras, declarou: “Não, hoje é o dia da misericórdia e bondade. Hoje é o dia em que Deus amará Quraysh”. De acordo com Ibn Hisham, após essa conversa, o Profeta retirou Sa’d ibn ‘Ub dah da posição de porta-bandeira e entregou-a ao Imam Ali (A.S.). Depois de conquistar Meca, apesar da hostilidade de Quraysh, o Profeta (S.A.A.S.) disse: “Sigam, todos estão livres.”

Dirigindo-se ao Profeta (S.A.A.S.), Deus diz no Alcorão: “Pela misericórdia de Deus foste gentil com eles; e se tivesses sido severo ou de coração insensível, teriam se afastado de ti. Portanto, perdoa-os, suplica o perdão para eles e consulta-os nos assuntos. E uma vez que tenhas decidido, põe a tua confiança em Deus. Deus ama aqueles que põem sua confiança Nele”. (3:159)

No ano nove A.H., o versículo 5 no capítulo 9 foi revelado e até então não foi dada permissão para combater os idólatras apesar de todos os prejuízos. Até então, a guerra não tinha sido legislada. Isso significa que os politeístas tiveram a oportunidade de mais de 20 anos para estudar o Islam, formular objeções ou refutar suas reivindicações. Eles não o fizeram e, em vez disso, continuaram a perseguir os crentes e impedir que a Mensagem chegasse ao povo; finalmente, Deus revelou o versículo acima. No entanto, em seguida Deus diz: “Se algum dos idólatras procura a tua proteção (ó Profeta), proteja-o, para que ele escute a palavra de Deus. Então, escolta-o até que chegue ao seu lugar de segurança, pois é um povo que não possui conhecimento”. (9:6)

O versículo usa a frase “ouvindo a palavra de Allah”, mas os exegetas aceitam que o significado seja estudar o Islam em geral. Aquele que quer saber mais deve ter a chance de voltar para casa ou para um lugar seguro. Assim, a guerra inicial não é contra aqueles que não foram informados sobre o Islam; é um ato contra os opressores que rejeitam o Islam em razão de seus interesses pessoais.

Natureza defensiva da guerra

Os aspectos defensivos da guerra inicial tornar-se-ão claros depois de pesquisar os seguintes versículos. Os principais responsáveis pela de guerra e aqueles que os seguem são, como afirmado em versos 12, 13 e 36 do capítulo 9: “…se depois de terem firmado o tratado convosco, perjurarem e difamarem vossa religião, combatei os chefes descrentes, pois não cumprem os tratados- talvez se abstenham disso”. “Não combateríeis pessoas que violassem os acordos, se empenhassem em expulsar o Mensageiro e fossem os primeiros a vos provocar? Acaso os temeis?  Deus é mais digno de ser temido, se sois crentes”. “Combatei os idólatras, da mesma maneira que eles vos combatem; Deus está com os tementes”.

Os versículos ordenam recorrer a guerra apenas como uma estratégia defensiva, contra aqueles que cometem atrocidades. A ordem para iniciar a guerra nunca foi posta em prática: o propósito de Deus era ameaçar os politeístas e intimidar os líderes orgulhosos. É narrado pelos historiadores, após a revelação dos versos anteriores, os politeístas se converteram ao Islam em grupos depois de terem percebido a verdade; o Profeta (S.A.A.S.) não precisou seguir a orientação para o combate. Portanto, a guerra no Islam é “guerra defensiva”, por princípio, e Deus prescreve apenas quando necessário.

Paz e amizade com os Povos do Livro

Os muçulmanos são encorajados a fortalecer seu relacionamento com os Povos do Livro, ou seja, os judeus, cristãos e zoroastras, embora alguns deles possam ter ocasionalmente tentado questionar a fé dos muçulmanos ou fazê-los afastar-se do Din. Deus convoca os muçulmanos a tratá-los com piedade e gentileza e se esforçar para buscar companheirismo: “E não disputeis com os adeptos do Livro, senão da melhor forma…” (29:47)

Se uma conversa leva ao debate, os muçulmanos devem respeitar o outro lado gentilmente, argumentando seus pontos, evitando insultos e conversas inapropriadas. Houve casos em que o Profeta (S.A.A.S.) foi obrigado a lutar contra alguns dos Povos do Livro. Por exemplo, depois de alguns judeus em Medina terem agido contra o tratado de paz que haviam firmado com o Profeta (S.A.A.S.) para destruir o Islam, o seguinte versículo foi revelado: “Lute contra aqueles que não creem em Deus, nem no último dia, nem proíbem o que Deus e Seu mensageiro proibiu, nem segue a religião da verdade, daqueles que receberam o livro, até que paguem o imposto e estejam num em estado de sujeição”. (9:29)

Este versículo foi revelado no ano nove A.H. após as três tribos judaicas de Medina, nomeadamente Banu Qaynuq, Banu Nadhir e Banu Qurayzah, concluírem um tratado de paz com o Profeta (S.A.A.S.) e em seguida, quebrarem seu juramento. Assim, Deus ordenou (na ocasião) lutar contra o povo do livro caso rejeitassem as leis do governo islâmico, obrigando-os a pagar o imposto (em vez de zakat e em troca de serviços que recebem do governo) e a evitar a hostilidade contra os muçulmanos.

Sobre o significado da frase “estejam num estado de sujeição”, alguns dos exegetas mencionaram em seu comentário é: que devem aceitar essas leis, além de observar as leis estatais. Isso não significa que os muçulmanos tenham sido autorizados a insultá-los.

De acordo com o contrato de paz do Profeta com os cristãos Najrn no décimo ano de Hijrah, podemos entender que os Povos do Livro que vivam num país islâmico e aceitem pagar impostos devem, em contrapartida, receber garantias de segurança. O Alcorão Sagrado declara que o princípio geral para tratar aqueles que não lutam contra os Muçulmanos da seguinte forma: “Deus nada vos proíbe quanto àqueles que não vos combateram por conta da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que trateis com eles com bondade e equidade. Deus ama os justos”. (60:8)

Com base nesse versículo sagrado é um princípio geral de que os muçulmanos devem tratar todas as pessoas, que não desejam prejudicar os muçulmanos, ocupar suas terras e/ou expulsá-las de suas casas, com bondade e justiça.

Conclusão

O Islam convida toda a humanidade para a paz, independentemente de sua nacionalidade ou religião, e recomenda que fundamentem suas relações em paz e boa conduta. Claro, pode haver exceções estreitamente definidas, mas o princípio geral é que os muçulmanos devem viver em paz. As diferenças tribais, raciais ou linguísticas não devem causar a arrogância. Os muçulmanos devem ainda agir com gentileza com os não-muçulmanos. Este princípio geral não deve ser confundido com a contradição da noção de luta para resistir aos opressores e defender os direitos. O Islam convida todas as pessoas para a paz e a amizade e convida outras religiões ao diálogo com esse espírito.

 

 

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