O Islam como ele é

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!

 Por Ahmad Ismail Abdul Aziz

O que é o Islam?

ISLAM é uma mensagem divina, uma orientação ou caminho revelado por Deus a seus profetas para a salvação do homem. Esta mensagem divina se destina a toda humanidade sem distinção de povo, raça ou época.

O Islam é uma igreja?

Não. O Islam não é uma igreja ou seita, tampouco uma filosofia. Não teve um fundador humano e não possui sacerdotes. A palavra Islam tem vários significados relacionados à Paz, pacificação da alma, entrega, submissão voluntária a Deus. Portanto, é uma atitude pessoal de submeter-se à vontade Divina, uma relação direta entre o homem e seu Criador.

O que é um muçulmano?

Muçulmano é todo aquele que se submete à Deus, adotando o Islam como sua fé e prática. Muçulmano não é um povo ou raça. Não se deve confundir árabe (que é um povo) com muçulmano. Existem muçulmanos de todas as origens e raças em todas as partes do mundo. Apenas cerca de 15% dos muçulmanos do mundo são de origem árabe, e a fé islâmica é a que mais cresce atualmente no mundo. Ser muçulmano não significa freqüentar um determinado lugar mas sim, abraçar a fé segundo o que Allah (DEUS) revelou.

Quais os fundamentos da fé islâmica?

Tawhid (monoteísmo): A fé na existência de um único Deus, Senhor do Universo, a quem é devida a adoração. O mesmo Deus anunciado por Abraão, Moisés, Jesus e os demais profetas (a paz esteja sobre eles). A Unicidade divina tal como foi revelada aos profetas significa que Deus não tem parceiros em seu reino, nem semelhantes entre as criaturas, não é homem nem mulher, portanto não gerou filhos, e nem foi gerado. Não teve um começo e nem terá um fim. Sua essência e natureza não pode ser compreendida pelo homem.

Nubuwwa (profecia): É a fé na verdade de que Deus manifestou sua vontade e anunciou suas leis à homens escolhidos e eleitos como profetas e mensageiros dentre os povos antigos. O primeiro deles foi Adão (A.S.) pai do gênero humano e o último foi Mohammad (S.A.A.S.), sendo que esta corrente de profecia teve, segundo as fiéis tradições, 124.000 profetas e mensageiros. A alguns destes foram reveladas escrituras sagradas. As principais foram: O livro de Abraão (A.S.), a sagrada Torah revelada a Moisés (A.S.), os Salmos revelados a Davi (A.S.) , o Injil (Evangelho) revelado a Jesus (A.S.) e por último o Sagrado Alcorão revelado a Mohammad (S.A.A.S.), que é o selo das escrituras divinas.

Âdl (Justiça): A fé de que Deus o Altíssimo, estabeleceu suas leis na Justiça e a imprimiu em toda sua criação, ordenando-a ao Homem. Assim, Deus é justo e eqüitativo em todas suas ações e em todos seus decretos. Nenhuma de suas ações ou decretos comporta injustiça ou erro.

Imamato: É a fé que Deus elegeu dentre os humanos, Imames (líderes espirituais) encarregados de guardarem a fidelidade da mensagem revelada aos profetas (A.S.). Estes Imames em todas as épocas têm o encargo de estabelecer a soberania da verdade, proteger a religião dos desvios e conduzir os povos à aplicação correta da lei divina. Como nas épocas passadas, Deus não deixou a humanidade sem guia ou orientação precisa. Com o término da missão do último Profeta (S.A.A.S.), Ele (Deus) estabeleceu 12 sucessores da descendência de Mohammad, como Imames, preservando a correta aplicação do Din (Islam).

Al mâád (a Eternidade): É a fé nas verdades espirituais anunciadas pelos profetas, relativas ao invisível: a vida no além – a ressurreição – o Dia do Julgamento – a Existência real do paraíso e do inferno.

Estes 5 fundamentos da fé são a essência da mensagem revelada à todos os profetas e estão presentes em todas as escrituras divinas. A fé na unicidade Divina e na profecia são expressas no testemunho de fé do muçulmano (shahadataini):

ÁSHADU AN LA ILAHA ILLA LLAH WA ÁSHADU ANNA MOHAMMAD RASULULLAH

Tradução: EU TESTEMUNHO QUE NÃO HÁ DEUS SENÃO DEUS E QUE MOHAMMAD É SEU MENSAGEIRO.

Aquele que dá esse testemunho com fé, crê em Deus, em todos seus profetas, nos livros que revelou e em toda mensagem divina, portanto é um muçulmano.

Quem é Mohammad (S.A.A.S.)?

Mohammad (S.A.A.S.) foi o último profeta de Deus. Ele nasceu em Makka (atual Arábia Saudita), e aos 40 anos de idade recebeu a revelação do Arcanjo Gabriel (os primeiros versículos do Alcorão). Sua missão consistiu em conclamar toda a humanidade ao Islam e nisso se diferenciava dos profetas anteriores, pois todos os que o precederam tinham uma missão restrita a seus respectivos povos, enquanto a mensagem e o Livro a ele revelado se destinava à todos os povos e raças da terra. No decorrer de duas décadas Mohammad (S.A.A.S.) conclamou seu povo ao abandono da idolatria e ao retorno à fé original de Abraão (A.S.). Sua missão foi marcada por grandes sofrimentos e perseguições por parte dos árabes idólatras que governavam a cidade de Makka. Por fim, com a conversão de toda a península arábica, Mohammad (S.A.A.S.) entrou em Makka e purificou a Caaba Sagrada de todos os ídolos, restabelecendo o culto e a fé monoteísta para toda a humanidade.

O que é a Caaba?

A Caaba foi o primeiro templo erigido e consagrado a Deus na terra. O profeta Abraão (A.S.) e seu primeiro filho, o profeta Ismael (A.S.), com a ordem de Deus levantaram a Caaba na terra sagrada de Maaka. Naquele local, segundo as fiéis tradições, Adão (A.S.) e Eva (A.S.) habitaram e o arcanjo Gabriel entregou a Adão a pedra fundamental (a pedra negra) que simbolizava a promessa de remissão à humanidade. Com o passar dos milênios e com a dispersão dos povos pelo mundo, os homens abandonaram a fé monoteísta original e decairam em multiplas formas de idolatria. Após a era diluviana, Deus designou como missão a Abraão o restabelecimento da Casa Antiga (Caaba). A pedra negra foi colocada como fundamento do templo e foi anunciado a Abraão (A.S.) que àquele lugar sagrado as gerações futuras viriam em peregrinação para a adoração e o culto a Deus até o final dos tempos. A Caaba se localiza na cidade sagrada de Makka.

O que é o Alcorão?
O Alcorão é a última e definitiva escritura sagrada. Ele foi revelado ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.) no decorrer de 23 anos. Trata- se da palavra textual do próprio Deus, isto é, nele não há uma única palavra do profeta (S.A.A.S.). Esta escritura revelada foi divinamente preservada em sua forma e língua original, palavra por palavra, letra por letra, sem que nenhuma alteração humana pudesse macular a Mensagem nele contida. No Alcorão constam as histórias dos povos antigos, os exemplos dos profetas, as promessas de Deus quanto a recompensa dos fiéis e o castigo dos descrentes, as leis divinas detalhadas e expostas que vigorarão até o final dos tempos e pelas quais todos os humanos responderão e o esclarecimento de vários assuntos e divergências humanas.

Como se deu sua revelação?

A revelação ocorreu com a aparição do Arcanjo Gabriel ao Profeta (S.A.A.S.) lhe anunciando os primeiros versículos. O profeta (S.A.A.S.), que era iletrado, ouvia a revelação (e esta se imprimia em seu coração de modo que não mais se esquecesse) e então anunciou o que havia ouvido do Anjo aos seus seguidores, estes por sua vez buscavam memorizar as passagens e em alguns casos registravam versículos em materiais primitivos como pedaços de couro por exemplo.

Quando se realizou a compilação do texto?

Quando a revelação se concluiu já havia um número considerável de pessoas que tinham memorizado o texto integral de modo que se tornava muito difícil alterar qualquer letra do texto. O próprio Profeta (S.A.A.S.) deliberou a seu primo Ali Ibn Abu Tálib (A.S.) a missão de compilar o texto sagrado. O texto do Alcorão é comprovadamente fiel, de tal maneira que é conhecido e recitado por muçulmanos de todas as partes do mundo hoje tal como o era a 1400 anos atrás.

Esta preservação do texto original é uma qualidade única do Alcorão na medida que os livros sagrados anteriores sofreram profundas alterações e muito dos seus originais foram perdidos com o passar dos séculos.

O conhecimento da língua árabe é obrigatório para o muçulmano?

Não. Muito embora o Alcorão tenha sido mantido em sua forma original (em idioma árabe), existem boas traduções nos principais idiomas falados no mundo.

O Islam possui princípios e leis claras e compreensíveis a todos os seres humanos. É suficiente que a pessoa aprenda o essencial para recitar as preces, porém é muito recomendado que busque aprender o máximo possível para uma melhor compreensão dos preceitos da fé.

Como deve ser entendida a LEI DIVINA?

Em todas as escrituras sagradas Deus estabeleceu mandamentos, restrições e permissões com o objetivo de traçar uma diretriz de salvação para o homem. Um certo conjunto de Leis essenciais sempre foram mantidas e ordenadas à humanidade, e este conjunto de leis foi finalmente detalhado no Alcorão, é o que chamamos de Sharia (lei divina). A sharia constante no Alcorão é uma lei constante e ordenada a TODOS OS SERES HUMANOS, muçulmanos ou não, e por meio delas cada um de nós será julgado para a recompensa ou o castigo divino. Esta Sharia foi estabelecida por Deus, pois somente Ele tem o direito de legislar, ou seja, nem mesmo os profetas tinham o direito de criar leis, proibições ou permissões, sem a prévia autorização de Deus. Logo, a Shariah divina não foi criada pelo homem e não pode ser alterada por ele. Portanto, aquele que busca seguir o Alcorão deve saber que está a seguir as diretrizes de Deus e somente a Ele responderá por isso. O que Deus permite no Alcorão ninguém pode proibir e o que Deus proíbe no Alcorão ninguém pode permitir. As permissões e as proibições da Sharia divina foram estabelecidas para o bem do homem nesta e na vida eterna. Contudo, a relação do homem com a Lei Divina, no que Deus decretou como lícito ou ilícito, é uma relação que se estabelece por meio do livre arbítrio.

O que Deus essencialmente ordena aos humanos no Alcorão?

A adoração somente a Ele porque é o Senhor do Universo e de tudo que nele há e todas as bênçãos encontram-se em suas mãos, de tal modo que devemos recorrer a Ele em todas as nossas necessidades e depositar Nele nossa confiança e buscar realizar sua vontade. Ordena também a bondade, a caridade, a perseverança, a paciência diante da adversidade, a tolerância para com as criaturas e a justiça, o afastamento daquilo que Ele tenha vedado ao humano, a obediência para com os pais, a humildade e o apego a verdade e o respeito para com os direitos dos outros.

O que Deus essencialmente proíbe aos humanos?

Deus nos vedou o politeísmo (associar qualquer coisa ou pessoa a Ele em adoração ou devoção), a idolatria em todas as suas formas, a avareza, o orgulho, a inveja, a usar seu Santo Nome em vão, a mentir sobre Ele ou sobre o que tenha revelado (conscientemente ou não), a prática da injustiça, dos maus tratos aos pais, do adultério, da fornicação, do roubo, da fraude, do assassinato, da usura, da magia, da adivinhação, do jogo de azar, das obscenidades, da calúnia e da difamação. O consumo do que tenha decretado como impuro (a carne de porco e derivados, do sangue e dos animais mortos de modo incorreto e das bebidas alcoólicas).

A lei divina constante no Alcorão difere dos livros sagrados anteriores?

Em essência tanto as ordens quanto as proibições são as mesmas, confirmadas no Alcorão. A proibição por exemplo da carne de porco se encontra na Torah revelada a Moisés (A.S.). Apenas a proibição expressa do consumo das bebidas alcoólicas foi descida no decorrer da revelação do Alcorão.

O que Deus promete aos humanos no Alcorão?

Aos que crerem, adorando somente a Ele e forem tementes, praticantes do bem e que se afastarem do mal e do que Ele tenha proibido Deus promete sua misericórdia e a recompensa eterna com a entrada no Paraíso. Aos que descrerem e associarem algo ou alguém a Deus, ou que se devotarem ao mal desconsiderando o que tenha proibido Deus promete a punição eterna com a entrada no inferno. Em adição a isso, Deus, exaltado Seja, promete o perdão a todo aquele que se arrependa sinceramente e se volte a ele contrito.

Como deve se entender a salvação?

A fé completa no que Deus revelou, expressa pela adoção da senda divina ordenada por Deus (Islam) é a condição essencial para a esperança de salvação do homem. Segundo cada época e cada revelação esta promessa de salvação estava ligada à fé no que tinha sido revelado e na fé no seu mensageiro enviado. Assim, quando Deus enviou Moisés (A.S.) com a Torah, aqueles que creram e se firmaram nesta senda deixaram o mundo sob a promessa de misericórdia e salvação e os que renegaram a mensagem e o profeta a eles enviado se desligaram da promessa divina; o mesmo se deu quando Jesus (A.S.) foi enviado, os que nele creram e se firmaram na mensagem dele (sem descrer no que veio antes dele) deixaram o mundo sob a promessa e os demais foram desligados da promessa de salvação. Da mesma maneira com o advento de Mohammad e a descida do Alcorão, aqueles que crerem e se firmarem a isso e deixarem o mundo nessa condição estarão sob a promessa de misericórdia e de salvação, os que descrerem e morrerem nesta condição estarão desligados dessa promessa. Estar ligado a promessa de salvação pela fé no que Deus revelou é uma “esperança”, ninguém pode ter certeza de sua salvação pois isto depende da Vontade de Deus e Ele perdoa a quem quer e aceita a fé e as obras de quem quer, o julgamento pertencerá a Ele. Assim, Deus diz no Alcorão: “E QUEM QUER QUE ALMEJE OUTRA RELIGIÃO (FÉ), QUE NÃO SEJA O ISLAM, JAMAIS SERÁ ACEITA, E NO ALÉM, CONTAR-SE-Á ENTRE OS DEVENTURADOS.” (3: 85)

O que é declarado neste versículo sagrado é que a submissão a Deus é a única forma de adoração que foi revelada pelo próprio Deus a todos os profetas em todas as épocas. Não se trata de uma afirmação exclusivista, mas sim, a confirmação de que com a revelação do último livro e a descida da lei definitiva as leis e livros sagrados anteriores foram anuladas, sendo pois, ordenado ao ser humano abraçar o Islam, obedecendo a ordem divina. Aquele que deixar este mundo com fé e ações consoantes ao que Deus revelou tem a esperança de que sua fé e suas boas ações sejam aceitas por Ele para que receba a recompensa do Paraíso. Por outro lado, o que deixar este mundo sem esta fé correta, seguindo qualquer uma das muitas crenças forjadas pelos homens (ou descrendo em qualquer um dos profetas) suas boas ações e sua crença não serão aceitas.

Como devemos entender a existência de tantas crenças diferentes no mundo?

Desde o princípio dos tempos a humanidade se afastou da orientação divina caindo na ignorância espiritual. Quando os descendentes de Adão (as primeiras gerações) se dispersaram pela terra foram se esquecendo da crença original (Monoteísmo) ensinada por Adão e começaram a praticar diversas formas de culto a natureza, aos anjos, aos gênios e a seus antepassados. Em parte por temor do que não compreendiam e em parte pela inspiração de Shaitan (Satã) que busca sempre desviar o homem da verdade. Logo, passaram também a adorar homens de destaque em suas sociedades e ídolos de pedra. A cada período e para cada povo foram sendo enviados mensageiros para alertá-los e conclamá-los ao retorno à senda original. Porém, na maioria das vezes a mensagem divina era com o tempo corrompida gerando seitas e desvios. O mesmo ocorreu com as escrituras sagradas até chegarmos à situação atual onde diversas crenças possuem em alguns casos traços da mensagem original mesclados com crenças humanas e politeístas. Desde que a verdade é uma, e Deus é Único, a senda para a salvação também é única e foi confirmada por todos os profetas e por todas as escrituras originais. Porque Deus não autorizou a ninguém a inventar religiões e seitas e nenhum dos profetas fundou qualquer igreja ou seita. Deus o Altíssimo estabeleceu o Islam (submissão a sua vontade) como senda de salvação e anunciou suas leis divinas para que todo aquele que buscasse a verdade se firmasse a isso com a esperança de seu perdão e de sua recompensa.

Como alguém se torna muçulmano?

Toda criatura ao nascer é muçulmana em sua natureza original. O humano ao alcançar a idade suficiente para distinguir o bem do mal eventualmente se afasta dessa condição original, exerce seu livre arbítrio e adota um modo de vida e de crença contrária a vontade Divina e a verdade. Todo aquele que pela fé reconheça a Deus como Único e deseje em seu coração consagrar-se a seu Criador abraçando o Islam (submissão a Deus) retoma sua condição original de muçulmano, assim, ao declarar com consciência e sinceridade o testemunho de fé, retorna à condição de muçulmano.

Quais as principais práticas do Islam?

Fé e conduta são como as duas faces de uma mesma moeda, são como uma única coisa. A fé é validada pela sua expressão nas ações e não por uma mera declaração com a língua, de modo similar que alguém não sacia sua sede apenas por dizer “água”. A adoração a Deus se manifesta por certas práticas que são chamadas de pilares do Islam. São na verdade expressões vivas da fé (ibadat – atos de adoração) daí o fato que sejam pesadas por Deus segundo a pureza da intenção. Os principais são ordenados e detalhados no Alcorão e são:

– A Prece – As cinco preces diárias

– O Jejum de Ramadan – o jejum consagrado nos dias do mês Sagrado de Ramadan

– O Zakat – uma parcela anual de no mínimo 2,5% dos ganhos excedentes do fiel (que tenha condições para isso) concedida aos necessitados.

– O Khums – a quinta parte de determinado bem adquirido (por uma venda de imóvel por exemplo) (a ser doado uma única vez) para o bem da comunidade em geral destinado a todo tipo de benefício social e assistencial aos muçulmanos.

– O Hajj (peregrinação) – a peregrinação ao menos uma vez na vida (para quem tenha condições financeiras e de saúde para tal) à cidade Sagrada de Makka para o cumprimento dos rituais do Hajj.

– O Jihad – o esforço pela causa de DEUS, que significa o esforço para o triunfo do bem e da justiça e a proteção do Islam e dos muçulmanos sempre que isso se faça necessário.

– O Encorajar do Bem e a Coerção do Mal – que é uma disposição pessoal de se empenhar pelo bem e pela verdade e se opor ao mal, ao erro e à injustiça dentro do que lhe seja possível.

O que torna o Islam uma crença tão polêmica?

Por muitas razões o Islam é uma fé mal compreendida no ocidente. A principal razão é o fato de que no Islam a vontade e a ordem Divina estão acima de todas as coisas, de maneira que o fiel deve pautar sua vida e sua conduta segundo o que Deus determinou, e essa regra se aplica tanto ao governado quanto ao governante. A lei de um país islâmico deve ser de acordo com a lei divina enquanto no ocidente as leis são feitas segundo o entendimento e a conveniência de um determinado grupo de pessoas. Por conseguinte, o Islam se opõe ao materialismo, à injustiça, ao domínio do dinheiro que rege todas as atividades humanas no mundo moderno.

O Islam é contra a modernidade?

De modo algum. O Islam incentiva o homem a buscar o conhecimento e a aplicá-lo para o bem da humanidade. O Islam entende como dádivas divinas os avanços da ciência e da tecnologia que ajudem a melhorar a vida do ser humano. O que é rejeitado são os aspectos negativos da modernidade, os costumes imorais, a irreligiosidade e tudo o que perverta a natureza humana ou promova a corrupção e a maldade. O Islam não reconhece na modernidade nenhuma autoridade para alterar o certo e o errado, isto é, se algo é errado continuará sendo no futuro e não são os costumes das pessoas que devem ser tomados como guia para nossas ações mas sim a Orientação Divina.

Qual a relação entre política e religião no Islam?

O Islam nos ensina que a vida humana possui uma natureza global, ou seja, tudo está relacionado, não se pode solucionar um problema global com medidas parciais. A religião deve possuir uma dimensão política capaz de fornecer soluções e respostas aos problemas do homem neste mundo, ensinando-o a viver e a construir uma sociedade sã dirigida por valores religiosos. A política deve possuir uma dimensão religiosa de tal modo que promova o bem e viabilize uma sociedade justa, e não ser um meio de servir-se do homem, explorá-lo para o benefício de poucos e o sofrimento de muitos. Portanto, o Islam nos ensina a orar e agir (não apenas orar), a atender o necessitado e também nos esforçarmos para que a sociedade e o país atinja um estágio onde ninguém precise mais pedir. O Islam nos propõe uma atitude de reforma íntima que se reflita a nossa volta já que vê a sociedade como uma extensão do indivíduo e da família.

O Islam oprime a mulher?

O Islam condena toda e qualquer forma de opressão e afirma uma condição de distinção e dignidade a mulher. Ela é considerada o fundamento da família e cabe ao homem preserva-la e respeita-la. Os direitos e deveres entre ambos são equilibrados segundo a natureza de cada um deles. A opressão que se verifica sobre a mulher no mundo islâmico (e também no ocidente de modo diferente) não faz parte da religião; é a expressão de costumes tribais que contrariam o Islam. Não há nada no Islam que proíba a mulher de estudar ou trabalhar, ao contrário, o Islam recomenda que a mulher construa sua individualidade sem que negligencie suas obrigações com a família e os filhos.

O uso do véu (hijáb) é uma ordem divina ou um costume ou tradição?

Deus, exaltado Seja, ordena no Alcorão o pudor tanto para os homens como para as mulheres e diz: “ORDENA AOS FIÉIS QUE RECATEM OS SEUS OLHARES E CONSERVEM SEUS PUDORES…” (S. 24 V. 30) E diz ainda: “ORDENA AS FIÉIS QUE RECATEM SEUS OLHARES, CONSERVEM SEUS PUDORES E NÃO MOSTREM SEUS ATRATIVOS, ALÉM DOS QUE APARECEM; QUE CUBRAM O COLO COM SEUS VÉUS E NÃO MOSTREM SEUS ATRATIVOS SENÃO A SEUS ESPOSOS, PAIS, FILHOS, ENTEADOS, IRMÃOS, SOBRINHOS, SERVAS, CRIADOS (EUNUCOS) OU ÀS CRIANÇAS QUE NÃO DISTINGUEM A NUDEZ DAS MULHERES…” (S. 24 V. 31). É entendido como o que normalmente aparece, as mãos e a face. O cobrir o corpo nada tem a ver com opressão, mas sim com dignidade e auto-respeito. O Islam favorece a mulher para que esta seja valorizada pelo que ela é e não por sua aparência, libertando-a da condição indigna que a sociedade tem reservado a ela comparando-a um pedaço de carne, explorando-a de muitas formas. O uso do hijáb (véu) não deve ser entendido como um ato de submissão ao marido, ou costume de algum país, é na verdade submissão à ordem divina.

Todos os costumes e tradições dos países muçulmanos devem ser vistos como islâmicos?

Não. Grande parte dos costumes árabes e dos demais países muçulmanos são costumes culturais desses povos que muitas vezes se opõem ao Islam. Deve-se se fazer uma correta distinção entre o Islam (o que o Alcorão ordena ou a tradição (sunna do profeta) recomenda) dos costumes e práticas existentes nos países islâmicos.

Existe circuncisão feminina no Islam?

Não. O Islam condena esta prática brutal e a classifica como um crime contra a mulher e a natureza. Infelizmente, costumes tribais como este não foram de todo erradicados de algumas sociedades. É inadmissível que se associe o Islam a esta prática que é muito anterior a ele e que se opõe à religião.

Como o sexo é visto no Islam?

O Islam nos ensina que o sexo e o amor são expressões da vontade e dos favores divinos sobre o ser humano. O direito ao prazer e a felicidade pelo sexo e pelo amor pertence ao homem e a mulher. O casamento é a realização do propósito divino, porquanto, o sexo faz parte disso e não é lícito nem ao homem nem a mulher buscar a satisfação fora do casamento, por isso o adultério e a fornicação constituem-se em pecados graves. Tal é a consideração do casamento diante de Deus, que Ele também decretou como ilícito o voto de castidade desde que ele criou o homem e a mulher um para o outro.

Existe poligamia no Islam?

A poligamia masculina é muito mais antiga do que o Islam, foi praticada por muitos povos e por alguns profetas com pleno consentimento divino. O Alcorão, porém, limitou sua prática e regulou-a sob rígidas e específicas condições, sendo que as principais são: o homem deve possuir comprovadas condições financeiras para sustentar uma segunda esposa, deve garantir às esposas um trato eqüitativo sem privilegiar em nada a nenhuma sobre as demais. No caso que essas duas condições não sejam cumpridas um homem não tem direito de ter mais de uma esposa. Além disso, como o casamento é um contrato bilateral é possível à mulher exigir como cláusula um casamento monogâmico.

No que se diferencia o casamento islâmico do casamento no ocidente?

O casamento islâmico é um casamento religioso e um contrato válido. Isto é, o casamento civil não o substitui. Quanto ao compromisso, não existe namoro. A tradição islâmica correta exige um conhecimento respeitoso com a intenção de casamento, o noivado e o casamento sem nenhum contato físico antes da realização do casamento. Uma das condições para a realização do casamento é o pleno consentimento da noiva (o costume de negociar casamentos é contrário ao Islam). O casamento é validado por um dote estipulado e de direito da mulher. O dote não pode ser dado ao pai ou tutor pois isso se configura em apropriação indébita , desde que o dote é um direito da noiva.

O que há no Islam sobre a transfusão de sangue e a doação de órgãos?

O Islam é pela preservação da vida e todos os conhecimentos que Deus tenha concedido ao homem neste sentido são aceitáveis. Contudo, devido à complexidade dessa questão cada caso envolve um estudo cuidadoso por parte dos jurisprudentes da religião. Não há nenhuma objeção à doação de sangue. No caso da doação de órgãos a maioria dos jurisprudentes (sábios) opinam que é permitida. Se a doação for de um morto, deve haver uma instrução específica da própria pessoa.

Como o Islam se relaciona com as demais crenças?

O Islam defende o diálogo respeitoso e a busca da convivência pacífica muito especialmente com os adeptos dos livros anteriormente revelados, os chamados como Povos do Livro (judeus e cristãos). Diz o Alcorão: “NÃO HÁ COMPULSÃO NA RELIGIÃO POIS JÁ SE SEPAROU A VERDADE DO ERRO”… (2: 256) Portanto, não é verdadeiro dizer que o Islam prega a luta pela conversão e pela expansão nestes termos. A história registra a existência de comunidades cristãs e judias em plena segurança e gozando de liberdade de culto em terras islâmicas desmentindo essa análise errônea. O Alcorão nos ordena a viver em paz e respeitar aqueles que desejam a paz e que nos respeitam.

O Jihad deve ser compreendido como uma guerra santa?

Não devemos entender o Jihad segundo a concepção ocidental da guerra santa que a cristandade empreendeu convertendo à força populações subjugadas. O Jihad é um esforço ou uma luta (quando necessária) para fazer com que a justiça prevaleça, ou em defesa do Islam, dos muçulmanos, das terras islâmicas e de seus habitantes (inclusive dos cristãos e judeus que nela habitem). Trata-se de um esforço de defesa e jamais de agressão ou de domínio pela força e nem com o objetivo de combater outras crenças.

O que dizer da associação feita no ocidente entre o Islam e o terrorismo?

O fenômeno do terrorismo sempre esteve presente em todas as culturas e religiões. Associar o terrorismo aos muçulmanos é um claro sinal de preconceito e de ignorância quanto ao Islam. Condenar o Islam por ações de grupos como o Taliban seria o mesmo que condenar todos os cristãos pelas ações de grupos como a Ku-Klux-Klan (que professa a fé batista).

O que gerou os inúmeros conflitos em que o Islam e os muçulmanos estão diretamente envolvidos?

Por séculos em razão de um domínio imperialista do ocidente, países inteiros têm sido submetidos a condições injustas e cruéis que os conduziram ao subdesenvolvimento e à miséria. Muitos desses povos encontram no Islam a força para lutar contra estas injustiças e se levantam em nome dessa fé como tem ocorrido na Palestina, na Chechênia e na Cachemira por exemplo. Esses conflitos continuarão enquanto as nações ricas do ocidente fizerem uso da brutalidade, da força das armas e do dinheiro para imporem uma ordem política e econômica injusta, pois o Islam ama a paz e nos ensina que a paz só é verdadeira quando é acompanhada de justiça.

O que diz o Alcorão sobre Jesus (A.S.)?

O Alcorão nos diz que Jesus (A.S.) foi o Messias anunciado aos judeus para conclamá-los de volta à senda reta. Deus fez dele e de Maria (A.S.), sua mãe, um sinal para a humanidade por seu nascimento milagroso. Concedeu a ele sinais e a revelação do Injil (que não deve ser confundido com os evangelhos atribuídos a apóstolos), um livro espiritual que continha a mensagem divina para os seus contemporâneos. O Alcorão também nos informa que ele jamais disse ser Deus ou parte da divindade, mas pregou a adoração somente a Deus e a confirmação da lei divina. Jesus voltará no final dos tempos descendo dos céus para restabelecer a verdade e a justiça desfazendo todas as falsas crenças forjadas em seu nome e sobre ele.

O que é fundamentalismo islâmico?

O conceito de fundamentalismo não é originário do Islam, fundamentalista é todo aquele (seja cristão, muçulmano, hindu, judeu) que professe uma crença literal (ao pé da letra) na escritura de sua religião. A posição da grande maioria dos sábios muçulmanos é que o Alcorão possui passagens que devem ser compreendidas de modo literal e outras que não. O texto sagrado também possui versículos ab-rogados (cancelados) por outros revelados posteriormente e ainda existem versículos de difícil interpretação que não devem ser tomados por base na prática. Um grupo diminuto não adota esses princípios de entendimento e toma todo o texto sagrado em seu sentido aparente e literal. Esse grupo minoritário comporia o que o ocidente chama de fundamentalistas islâmicos, contudo, esse grupo não constitui uma seita ou detém qualquer autoridade no sentido de interpretar ou representar o Islam e os muçulmanos em sua totalidade, logo os seus atos ou deliberações não podem ser entendidas como os atos e deliberações do Islam, mas sim, como aquilo que entendem como sendo o Islam e a sua aplicação. Na verdade grande parte das suas aplicações e práticas distorcem o correto entendimento das leis e preceitos do Islam.

O Islam possui seitas ou facções?

Todos os muçulmanos possuem os mesmos princípios de Fé e prática segundo o que o Alcorão determina. Entretanto, o entendimento de detalhes e dos princípios de jurisprudência e aplicação possuem pequenas diferenças que com o passar do tempo foram esquematizadas em escolas de jurisprudência que na verdade não chegam a constituir-se em “seitas”. A principal divisão nasceu mais de uma divergência quanto à sucessão do Profeta (S.A.A.S.). Quando da partida do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), os líderes tribais deliberaram escolhendo Abu Bakr como califa, mais tarde esse grupo passou a ser denominado Sunni (sunitas). Uma minoria no entanto não aceitou esta deliberação e tomou partido de Ali (A.S.), primo do Profeta (S.A.A.S.), defendendo seu direito à sucessão segundo uma deliberação do próprio Profeta (S.A.A.S.), essa minoria passou a ser conhecida como Shia (xiitas ou partidários de Ali (A.S.)).

Os sunitas aceitam como tradição profética tudo o que todos os companheiros do profeta (S.A.A.S.) tenham comunicado e aceitam os quatro primeiros califas (Abu Bakr, Omar, Othman e Ali) como autoridades por direito. Os xiitas por sua vez tomam como tradição profética apenas o que tenha sido comunicado através de Ali, a família e os descendentes do profeta (S.A.A.S.) e reconhecem como autoridades fundamentais dos muçulmanos os Doze Imames da descendência do profeta (S.A.A.S.): Ali (A.S.), seus filhos Hassan e Hussein (netos do profeta), pois Ali era casado com Fátima (A.S.) única filha do Profeta (S.A.A.S.)) e então sucessivamente os nove descendentes de Hussain (A.S.).

Mais tarde desses dois grupos divergentes surgiram cinco escolas de jurisprudência (as 4 sunitas e a escola xiita). Embora existam outras escolas e grupos surgidos posteriormente apenas esses dois são considerados bem fundamentados já que existem desde os primórdios do Islam. Não obstante as divergências de ponto de vista, sunitas e xiitas são irmãos muçulmanos que são unidos pela mesma fé, no mesmo profeta, no mesmo Alcorão.

O que é o senso de fraternidade muçulmana?

É o elo espiritual que une todos os fiéis muçulmanos segundo a ordem de Deus e de Seu Profeta (S.A.A.S.). Este elo espiritual envolve amplos aspectos de respeito, amor, ajuda mútua e tolerância. O Profeta (S.A.A.S.) declarou como sagrada a vida, o sangue, a honra e os bens de um muçulmano. O Alcorão frisa a importância dos muçulmanos se unirem e não se prejudicarem mutuamente. Desde que alguém se declare muçulmano e seja fiel no cumprimento dos pilares e possuindo um bom caráter ele tem direito ao respeito e à assistência dos demais em suas necessidades lícitas. É uma obrigação de todos e de cada muçulmano zelar por este elo de fraternidade.

Considerações Finais

Apresentamos aqui um panorama geral de alguns dos muitos aspectos do Islam com o propósito de fornecer informações corretas que auxiliem a todos que buscam sinceramente a verdade. Esperamos que todo aquele que o leia medite cuidadosamente sobre o que leu. No Alcorão, Deus nos informa no conjunto de muitas passagens que todo ser humano no dia do Juízo responderá por dois encargos: A orientação revelada pelos profetas e por sua própria razão, por isso, o Alcorão nos ordena o exercício do raciocínio em busca da verdade e diz ainda: “A QUEM DEUS QUER ILUMINAR, LHE ABRE O PEITO PARA QUE RECEBA O ISLAM.” (6: 125). Assim, Deus facilita a compreensão e ilumina a senda para aquele que se mantém humilde diante Dele e que exerce sua capacidade de raciocínio. Queira Deus se apiedar de nós, aceitar este escrito e guiar à sua senda todos os que o lerem.

«
»