As más companhias – Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – 16/11/2018 – Seyyed Bilal Wehbi

Em nome de Deus, O clemente, O Misericordioso

Louvado Seja Deus o senhor do universo, louvado em todas as línguas, todos os lugares e em todos os momentos. Louvado seja Deus, que nos orientou quando não éramos orientados e perderíamos caso não fosse Sua orientação. Louvado seja Deus, aquele que cria e não é criado, aquele que alimenta e não é alimentado. Louvado seja Deus, aquele que dá a vida e a morte. Em suas mãos só há o bem e Ele tem poder sobre todas as coisas.

Testemunho que Deus é único, o absoluto, que não gerou e nem foi gerado, e nada é comparável a Ele. Ó Deus abençoe Mohammad, a melhor de suas criaturas, o Teu mensageiro e o selo dos profetas, a abençoe seus familiares, os Ahlul Bait.

Ó servos de Deus, que a paz esteja com vocês. Recomendo a vocês e a mim mesmo o temor a Deus.

Deus, louvado seja, disse em seu livro sagrado: “Ó fiéis, temei a Deus, tal como deve ser temido, e não morrais, senão como muçulmanos” (03:102)

Queridos irmãos, Deus criou o ser humano com aptidões diversas, entre tais aptidões está a de praticar o bem, amar o bem, odiar o mal e coibir o mal. O ser humano ama o bem e o pratica por natureza, e odeia o mal e o evita por natureza. Foi assim que Deus, louvado seja, orientou o ser humano para o caminho do bem sempre.

Mas o ser humano que evita o mal e suas consequências às vezes falha, ele falha nesta missão pois nem sempre o mal vem até ele como um inimigo evidente, ele pode vir através de pessoas como familiares, amigos, parceiros ou de pessoas que aparentemente fazem o bem. E aqui está o problema, pois o mal vem de quem e de onde menos esperamos, de quem você confia, pois os inimigos já são as fontes do mal para você, mas pessoas próximas, companheiros e amigos, desses não se espera o mal.

Queridos irmãos, o Alcorão Sagrado registra várias situações pelas quais o mal se apresentou em forma do bem, em forma de um parceiro ou amigo próximo do ser humano. Observamos que Lúcifer, o diabo, influenciou nossos pais, Adão e Eva, a desobedecerem a Deus, e o resultado foi a expulsão do paraíso.

Lúcifer utilizou-se da artimanha de aproximação pela amizade, um pretenso aconselhador, mas no fundo era um falso juramento, para ganhar a confiança de Adão e Eva. Ele sussurrou para Adão e Eva e o resultado desse sussurro foi a expulsão deles do paraíso.

Deus, Glorificado e Exaltado seja diz no Alcorão Sagrado: “Então, Satã lhe cochichou, para revelar-lhes o que, até então, lhes havia sido ocultado das suas vergonhas, dizendo-lhes: Vosso Senhor vos proibiu esta árvore para que não vos convertêsseis em dois anjos ou não estivésseis entre os imortais (20) E ele lhes jurou: Sou para vós um fiel conselheiro (21)”. (Cap 7)

Então, Lúcifer se apresentou como um aconselhador, um amigo próximo e um parceiro, alguém que desejava o bem para eles. E disse a eles que Deus os proibiu de comer da árvore pois Ele não queria a imortalidade humana ou que se transformassem em anjos. O ser humano, por sua natureza, ama a eternidade e foge da morte, a qual para ele representa o fim de tudo.

Lúcifer, por meio de um juramento falso, falsas promessas, falsa amizade e falsos conselhos causou a expulsão de Adão e Eva do paraíso, e disse a eles “…Sou para vós um fiel conselheiro”. Então, eles se entregaram a ele e comeram do fruto da árvore, e aconteceu o seguinte, de acordo com o Alcorão Sagrado: “E, com enganos, seduziu-os. Mas quando colheram o fruto da árvore, manifestaram-se-lhes as vergonhas e começaram a cobrir-se com folhas, das plantas do Paraíso. Então, seu Senhor os admoestou: Não vos havia vedado esta árvore e não vos havia dito que Satanás era vosso inimigo declarado?” (7:22). Quando comeram daquele fruto, todas as suas vergonhas, paixões e desejos foram expostos, e por isso não podiam mais morar no paraíso, e de lá foram expulsos para morarem aqui na Terra e fundarem uma nova geração de criaturas.

Portanto, nem sempre o mal vem do inimigo, às vezes vem do companheiro, do parceiro e do amigo. Por isso vemos como o Alcorão Sagrado, os profetas e os Imames nos aconselharam a testar as pessoas antes de caminhar junto a elas. Não há irmandade, parceria e companheirismo sem testes, sendo que em tudo há direitos e deveres.

É evidente que os fiéis são irmãos uns dos outros, mas esta irmandade estabelece direitos e deveres, e não significa que essa irmandade deva resultar em um laço profundo e íntimo entre todos. Isto vai depender das pessoas, pois elas são como pássaros, cada um procura o seu bando, cada indivíduo procura alguém compatível na religião, intelectualmente, ideologicamente, moralmente, profissionalmente, etc. A compatibilidade é muito importante para as pessoas.

Partindo daqui houve um grande insistência nas passagens e tradições de que não devemos admitir companheiros ou amigos sem testá-los antes. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “Cada indivíduo segue a religião (modelo) de seu amigo, tenha atenção a respeito de quem você tem por amigo”. Existe um ditado entre as pessoas que diz: “Fale para mim com quem você anda e te informarei quem você é”.
Se houver um entrosamento entre vocês haverá uma longa amizade também. Na vida conheceremos muitas pessoas, mas os laços profundos serão construídos com pessoas específicas. Por que isso? Isso acontece devido as diferenças na conduta e na crença, agindo na forma como as relações podem se estabelecer. A pessoa que tiver uma companhia duradoura não compatível com ela na forma de trabalho, na mentalidade, na religião e na ideologia certamente, com o passar do tempo, seguirá a conduta de sua companhia. Senão esta relação iria ser cortada por ser incompatível.

O Imam Jafar Assadeq (A.S.) disse: “Deseja saber se vale a pena a companhia de alguém deixe ele bravo, se ainda assim mantém a amizade contigo, ele vale a pena”.

Diga para ele que você não concorda com tal ação. Critique-o. No entanto, se ele ainda mantém a amizade e o amor por você, ele vale a pena. No entanto, se te abandona na primeira situação de desentendimento, ele não vale a pena.

O Imam Jafar Assadeq (A.S.) disse: “Não chame um homem de amigo até testá-lo em três situações: A primeira ao observá-lo no estado de raiva, se ele sai da racionalidade. A segunda é no dirham e dinar (questão financeira), observe se numa necessidade ele não te ajuda mesmo podendo. A terceiro é durante uma viagem”.

Veja se esse tal amigo perderá a racionalidade na raiva, te abandonará na situação crítica quando você precisar e ele pode te ajudar ou numa viagem onde será exposta sua verdadeira personalidade, se é uma personalidade falsa ou verdadeira, se ele vai te trair ou não, se vai te aguentar ou não. Veja nestas três situações se convém seguir com a amizade ou não.

Os Imames (A.S.) nos deram as características das pessoas que merecem ser nossas companheiras, e também as características das pessoas que não merecem.

O Mensageiro de Deus (S.A.A.S) nos alertou sobre a amizade de um grupo de pessoas dizendo: “Evitem a amizade com quem é fraco em sua bondade e forte em sua maldade, com alma maliciosa, se teme rebaixa-se, e se está seguro oprime”.

A bondade aqui não é apenas riqueza financeira. Pois às vezes a pessoa quer comprar ou escravizar os próximos. Há pessoas que são generosas neste sentido, eles dão, mas não é por Deus. A bondade aqui se refere à uma pessoa que deseja o bem para os próximos e seu coração é puro, ela deseja o bem para si e para os outros, deseja a proteção para si e para os próximos, a riqueza para si e para todas as pessoas.

Forte em sua maldade é aquele que o lado mal é mais forte que o bom.

Com alma maliciosa é aquele que se comporta como um lobo, é um caçador e busca aproveitar das pessoas, aproveitar da economia, da política, da riqueza e de toda e qualquer oportunidade, como um lobo que devora os próximos, mesmo se forem amigos.

Se teme rebaixa-se diz respeito a alguém que não para de insultar, chamar para a briga, falar em voz alta, mas no fundo, quando chega a hora de enfrentar o oponente, fica com medo. Recua no momento do medo, mas quando se sente seguro começa a ter sangue nos olhos e coragem na alma. Sua língua é muito longa, e começa a criar intrigas e brigas entre os mais fracos, fazendo apologia ao crime, violência e até mesmo ao terrorismo. Apresenta os mais fracos como oferendas para seus próprios interesses. Assim é a grande maioria dos tiranos e líderes da maldade no mundo. Juro por Deus que se pesquisarmos os motivos das intrigas em nossas sociedades sempre acharemos estas pessoas por trás delas, pessoas com almas maliciosas. Quantos como estes nós testemunhamos nos últimos anos? Que incentivaram a destruição das nossas pátrias e terras, até que centenas de milhares de oprimidos foram vítimas de suas falas, e no final eles se safaram e ficaram fora da guerra. Eles buscam seus próprios interesses. Países cortaram laços com outros baseados nestas políticas, mas agora eles querem retomar suas relações. É sobre estes que falamos.

O Imam Ali (A.S.) disse: “Quem te transmite algo sobre o próximo, certamente transmitirá algo sobre você”. Jamais conviva com quem persegue os defeitos das pessoas, pois aquele que é parceiro dele não estará livre desta perseguição. Em algum momento também será vítima deste péssimo e condenado hábito.

O resumo. O ser humano necessita de amigos mas não deve seguir um amigo sem testá-lo, pois se não fazer isso aqui na Terra será colocado em situações críticas no dia do juízo final. Na situação mencionada por Deus no Alcorão Sagrado: “Será o dia em que o iníquo morderá as mãos e dirá: Oxalá tivesse seguido a senda do Mensageiro! (27) Ai de mim! Oxalá não tivesse tomado fulano por amigo (28) Porque me desviou da Mensagem, depois de ela me ter chegado. Ah! Satanás mostra-se aviltante para com os homens! (29)” (Cap 25)

Quem é o Satanás aqui referido? É este companheiro que o abandonará no dia do juízo final. Aqueles que foram seguidos abandonarão seus seguidores no dia do juízo final.

O Alcorão Sagrado falou sobre uma cena do paraíso, onde um dos habitantes fala com o próximo: “Um deles dirá: Eu tinha um companheiro (na Terra). Que perguntava: És realmente dos que crêem (na ressurreição)? Quando morrermos e formos reduzidos a pó e ossos, seremos, acaso, julgados? (Ser-lhes-á dito): Quereis observar? E olhará, e o verá no seio do inferno. Dir-lhe-á então: Por Deus, que estiveste a ponto de seduzir-me! E se não fosse pela graça do meu Senhor, contar-me-ia, agora, entre os levados (para lá)!”

Um dos habitantes do paraíso falando com o outro que tinha um companheiro e que duvidava do fim do ser humano, da ressurreição e do juízo final e se seremos cobrados pelo que fazemos. Então, ele reponde: ó meus companheiros aqui no paraíso, vocês veem o que eu vejo? Então, eles olharam e viram aquele que fazia estes questionamentos lá nas profundezas do inferno.
Vivam com as pessoas mas pensem e não se entreguem a ninguém, até mesmo um sábio ou líder, se ele não falar com vocês com a linguagem da religião ou da razão o abandonem. Saibam que o mal pode vir de todo lado, até mesmo dos mais próximos.

O paraíso é a recompensa de todo fiel, aquele que está em estado de alerta e é observador.

Que Deus vos proteja, e Deus nos proteja, que nos coloque na senda reta!

 

 

 

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