Aula ministrada por: Haj Nasser Khazraji
Em qualquer país, há algo que simboliza a identidade daquela nação, espaço ou cultura. Muitos símbolos como o hino nacional, tradições, datas festivas, culinária e até mesmo a bandeira representam a identidade de um povo ou nação.
A pergunta é: os muçulmanos — que vivem em todos os cantos do mundo, pertencem a diversas nacionalidades e seguem culturas e costumes diferentes — possuem uma identidade única? Reformulando: há algo que simbolize a identidade do muçulmano de forma específica e que seja comum a todos os quase 2 bilhões de muçulmanos no mundo?
Sim, com certeza. A mais importante e verdadeira marca que identifica todos os muçulmanos do mundo é a Religião. Ela é o elo que une a todos, independentemente de nacionalidade, costumes ou idioma. É a religião que serve como principal símbolo da identidade islâmica.
A importância de compreender a religião como principal elemento de identidade é ressaltada nas palavras do Imam Ali (as), quando disse: “Ó humanos, cuidem da vossa religião, cuidem da vossa religião.”
A repetição do Imam destaca o zelo necessário com aquilo que representa o pilar da identidade da nação muçulmana. A religião não é um simples nome, imagem ou símbolo externo. A identidade religiosa do muçulmano está em seu modo de vida, sua conduta, sua fé traduzida em ação. Jamais deve ser uma aparência vazia.
Os dois pilares da identidade religiosa islâmica
A identidade religiosa islâmica — nossa doutrina como um todo — se divide em duas partes principais: crenças (fé) e ações (devoções, relações e condutas).
O Islã não se limita à espiritualidade ou crenças internas. A verdadeira identidade se manifesta por meio da ação concreta. A fé é fundamental, mas sem ações, a identidade islâmica fica incompleta. E o Imam Ali (as) declarou:
“A fé é um conhecimento no coração, reconhecimento verbal e prática na ação.”
“A fé e a ação são dois irmãos gêmeos, companheiros inseparáveis.”
Portanto, a identidade do muçulmano é formada por dois elementos: espiritualidade e ação prática. Um sem o outro não tem valor. E, mais ainda, a prática é o verdadeiro diferencial. A fé sem ação é uma identidade incompleta e, muitas vezes, ilusória.
A identidade ideológica e prática
A identidade ideológica consiste em crenças fundamentais como: monoteísmo, profecia, Dia do Juízo Final, reconhecimento de Deus como Criador.
Já a identidade prática se manifesta em ações que refletem a verdadeira essência da fé islâmica. Entre muitas, destacamos três das mais importantes:
1) A Oração (Salat)
A oração é considerada o pilar da religião e uma das identidades mais marcantes do muçulmano. É a principal obrigação prática e espiritual.
O Profeta Mohammad (saas) disse: “Tudo possui uma face, e a face da vossa religião é a oração.”
A importância da oração é tão grandiosa que, segundo os ensinamentos, se ela for aceita por Deus no Dia do Juízo, todas as demais ações do fiel também serão aceitas. Caso contrário, nada mais será aceito. A oração é como o documento de habilitação para um motorista. Mesmo que ele possua todos os outros documentos válidos (RG, passaporte, carteira de trabalho), se não tiver a habilitação, não será liberado. Assim é a oração: essencial.
O Profeta Mohammad (saas) disse: “Entre a descrença e a fé está o abandono da oração.”
Deixar de orar é como demolir a própria fé. E mesmo quem negligencia a oração será punido, como o Alcorão alerta: “Ai dos praticantes da oração, que são negligentes com ela.” (107:4–5)
Durante a batalha de Karbala, mesmo no auge da tensão, o Imam Hussein (as) fez questão de orar no momento correto, provando que nenhuma circunstância justifica abandonar a oração.
O Imam Assadiq (as) sempre dizia: “A mais amada ação para Deus é a oração.”
2) A Boa Conduta
A moral e o bom comportamento são o espelho da fé islâmica. Características como: veracidade, fidelidade, respeito, justiça, benevolência, paciência
… entre outras, representam a identidade ética do muçulmano.
O Profeta Mohammad (saas) chegou a afirmar: “A boa conduta representa a metade da religião.”
Numa outra passagem, o Profeta Mohamamd (saas) disse: “O fiel mais completo é aquele com melhor conduta.”
Nas palavras do Imam Ali (as) a boa conduta também estava muito presente: “A boa conduta é o início de todo bem.”
E o Imam Ali (as) também dá uma ênfase muito importante à questão da boa conduta quando diz: “O título do livro de registro do fiel é sua boa conduta.”
Ou seja, assim como, no futebol, jogadores recebem prêmios como “Melhor Jogador”, “Artilheiro” ou “Gol Mais Bonito”, o maior título que pode constar no livro de registros de um fiel, no Dia do Juízo, é sua boa conduta. Somente depois vêm outras características e feitos. A boa conduta é o que mais se destaca e o que realmente define a essência do fiel perante Deus.
O Profeta Mohammad (saas) declarou que sua missão era justamente aperfeiçoar o caráter humano. Foi isso que diferenciou os companheiros do Imam Hussein (as) do exército de Yazid. O que separa os justos dos opressores, no fim, é a conduta moral.
3) Apoiar o Oprimido
Uma das marcas mais evidentes da identidade islâmica é defender os oprimidos e combater a injustiça. Apoiar o oprimido é um valor central na fé islâmica. Uma famosa mensagem do Profeta (saas) classifica como um verdadeiro muçulmano aquele que socorre seu irmão muçulmano.
E o Profeta Mohammad (saas) dizia: “Quem caminha ao lado de um opressor, comete um crime.”
Além de também afirmar: “Aquele que toma o direito de um oprimido das mãos do opressor estará comigo no Paraíso.”
A história dos profetas e imames sempre foi uma luta contra a opressão e em defesa da justiça. O Imam Hussein (as) preferiu a morte honrada a uma vida humilhada com os opressores — e isso é a maior expressão dessa identidade.
Lutar contra a opressão e defender o oprimido, por todos os meios acessíveis, é um dos pontos da identidade de um verdadeiro muçulmano.