Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Os Males da Língua
Não sei se já pensaram neste termo antes, mas com base em um dos ditos do Profeta Mohammad (saas):
“Deus castigará a língua como nenhuma outra parte do corpo. Então a língua dirá: ó meu Senhor, por que me castigaste de tal maneira, diferente das outras partes? Então será dito: de ti partiu uma palavra que ultrapassou o leste e o oeste. Por causa dela, um sangue foi derramado, um bem foi violado e uma honra foi atingida. Pela minha majestade e honra, irei castigá-la de uma forma como nenhuma outra parte será castigada.”
Com base nesse dito, entende-se que há uma grande responsabilidade sobre a língua — não em sua forma física, mas no que ela pode produzir. A língua é praticamente a responsável pela tradução de nossos pensamentos, e o que ela expressa é o espelho da nossa mente.
Na religião, algumas questões que envolvem a língua são proibidas e conhecidas como os males da língua, tais como: mentira, fofoca, ghibah, calúnia, obscenidade e profanidade, expor segredos, zombaria e chacota, entre outros. Estes são alguns dos comportamentos condenados como males da língua.
Sobre esses males, há dezenas de versículos do Alcorão e passagens do Profeta Mohammad (saas) alertando sobre como esses vícios são prejudiciais à própria pessoa, à harmonia e convivência da sociedade como um todo, e ao destino eterno de quem os pratica.
Zombar
Cada um dos itens citados acima é tão importante quanto os demais para ser discutido e alertado sobre suas consequências. No entanto, hoje vamos focar em um dos males que é praticado, às vezes, de forma tão comum no dia a dia que nem percebemos.
“Ó crentes, que nenhum povo zombe de outro; é possível que os escarnecidos sejam melhores do que os escarnecedores. Que tampouco nenhuma mulher zombe de outra, porque é possível que esta seja melhor do que aquela. Não vos difameis, nem vos chameis com apelidos ofensivos. Muito vil é o nome que denota maldade depois da fé! E aqueles que não se arrependerem serão os injustos.” (Alcorão Sagrado 49:11)
A história do versículo
Este versículo foi revelado quando uma das esposas do Profeta Mohammad (saas), recém-casada e de beleza singular, entrou na casa onde duas outras esposas estavam presentes. Uma delas fez um comentário depreciativo à outra sobre a nova esposa, mencionando sua baixa estatura. A ofensa a magoou profundamente, e ela se queixou ao Profeta. Então, este versículo foi revelado, trazendo significados profundos.
A Lição
Jamais devemos subestimar ou menosprezar alguém por zombaria. Essa prática não é digna nem baseada na fé, que ensina igualdade entre as pessoas, e que o verdadeiro valor está no temor a Deus. O versículo é claro: além de alertar sobre a proibição da zombaria, nos ensina que quem é zombado pode ser, na verdade, melhor do que quem zomba.
Se observarmos a vida dos Profetas, Mensageiros e dos Ahlul Bait (as), perceberemos que suas palavras, ações e gestos nunca incluíam zombarias. Jamais houve um episódio registrado em que o Profeta Mohammad ou os Ahlul Bait zombaram ou menosprezaram alguém. Pelo contrário: todos eram respeitados e valorizados, especialmente os mais humildes, que muitas vezes eram marginalizados pela elite da época.
“Não menospreze nenhum muçulmano, pois o menor entre eles é grande perante Deus”, disse o Profeta Mohammad (Saas):
O que é zombaria?
Em árabe, istihza’ ou sukhriyah são termos que se referem ao ato de comentar ou reagir às falas, práticas ou características das pessoas com a intenção de menosprezá-las ou rir delas. Isso pode ocorrer tanto na presença quanto na ausência da pessoa, sendo sempre uma prática condenada no Islã. O princípio islâmico de convivência entre os fiéis é que todos são irmãos: “Em verdade, os fiéis são irmãos…”
O que leva à zombaria?
Vários fatores podem levar alguém a zombar de outros:
Arrogância e orgulho
Inimizades e ódio
Inveja
Desejo de vingança
Brincadeiras que ultrapassam os limites sociais e morais
Às vezes, a riqueza ou o status social também contribuem. Quando alguém se torna famoso ou reconhecido por algum talento, pode começar a se achar superior, o que alimenta o ego e leva à zombaria.
Zombaria: inimiga da saúde social
Zombar enfraquece os laços comunitários. Quando membros de uma sociedade riem uns dos outros, o resultado é uma comunidade desunida, egoísta e indiferente ao sofrimento alheio — tudo contrário aos princípios do Islã.
O Islã nos ensina:
Não zombar, mesmo que zombem de você: “Se teu irmão muçulmano zombar de ti por algo que tens, não zombes dele por algo que sabes sobre ele. Assim, você terá recompensa, e ele, pecado.” – Mensageiro de Deus (saas)
Não procurar os defeitos dos outros: “O melhor entre as pessoas é aquele cujos próprios defeitos o ocupam, impedindo-o de ver os defeitos dos outros.” – Imam Ali (as)
Não ofender com gestos nem palavras, pois a zombaria pode ser direta (palavras) ou indireta (gestos). Hoje, com as redes sociais, tornou-se ainda mais comum, até mesmo por meio de emojis ou memes, zombar sem perceber.
E se a pessoa for pecadora, pode-se zombar dela?
Não. As narrativas afirmam que zombar é proibido em todas as situações — mesmo com pecadores. Ninguém é perfeito, e todos podem cometer erros. Expor os pecados dos outros ou zombar deles em público é altamente condenável.
“Quem zombar de um crente por um pecado que ele comete, não morrerá até cometer o mesmo pecado.” – Profeta Mohammad (saas)
Infelizmente, isso virou algo comum em programas de TV ou stand-up comedy, onde pessoas são ridicularizadas publicamente como forma de entretenimento.
Motivos de zombaria
Podem variar: aparência, condição física, nacionalidade, etnia, língua, profissão, família, origem, entre outros. Alguns podem até “aceitar” a zombaria, mas isso não a torna correta. O fato de alguém rir da própria situação não é justificativa para os outros zombarem.
Consequências da zombaria
Ninguém sai beneficiado. O zombador pode se arrepender futuramente, mas o dano já foi causado. E no além, terá um destino doloroso. É narrado que os anjos abrirão os portões do Paraíso ao zombador, e quando ele se aproximar, os portões se fecharão e todos rirão dele. Isso se repetirá várias vezes, até que seu fim seja o Inferno.
Vamos nos afastar dessas práticas
“O exemplo dos fiéis em seu amor, misericórdia e compaixão é como um corpo único: quando uma parte adoece, todo o corpo sofre junto.” – Profeta Mohammad (saas)
Como os fiéis sentirão a dor dos outros e buscarão ajudá-los se estão ocupados em zombarias e ofensas?
Essas práticas são verdadeiras pragas, e destroem os princípios que o Profeta Mohammad (saas) e os Ahlul Bait (as) nos ensinaram. Se uma sociedade for construída sobre zombaria, fofoca, mentira, ghibah e calúnia — imagine o tipo de sociedade que teremos… e o fim que ela terá.