Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – A melhor das virtudes é cumprir a amanah (respeitar o depósito de confiança) – Sheikh Ghassan Abdallah – 12/07/2019

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam sobre o profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem, seus bons companheiros e sobre todos os Profetas e Mensageiros.

Testemunho que não há divindade além de Deus e que Mohammad é seu Mensageiro “…o qual foi enviado com a orientação e com a verdadeira religião, para fazê-las prevalecer sobre toda a religião, ainda que isso desgoste os idólatras” (61:9).

Deus disse no Alcorão Sagrado: “Deus manda restituir a seu dono o que vos está confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o equidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta! Ele é Oniouvinte, Onividente.” (4:58).

Este abençoado versículo aponta a importância sobre duas leis e fundamentos que formam a base para o progresso e avanço de qualquer sociedade saudável.

1) Guardar e restituir os depósitos de confiança.

2) Julgar com justiça entre as pessoas.

Este abençoado versículo quer orientar o ser humano sobre os mais importantes elementos do equilíbrio social rumo a perfeição humana. Sem dúvida podemos afirmar que não haverá nenhuma estabilidade em nenhuma sociedade sem o respeito a estes dois princípios. E por isso que podemos considerar que o principal problema que atinge a nossa sociedade e talvez o mundo todo é a falta da prática destas duas questões. Deus disse: “Deus manda restituir a seu dono o que vos está confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o eqüidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta!…”. Deus quer que estes princípios sejam colocados em prática, pois o conselho tem uma linguagem e proximidade maior com o coração e a consciência.

Em seguida, Deus diz: “… Ele é Oniouvinte, Onividente” Ou seja, Deus está falando que quando ordenou a cumprir e devolver os depósitos de confiança e também a justiça social, isso ocorrerá perante os olhos Dele, pois Ele está vendo e observando tudo e todos. Ele observa vossas práticas e ações.

Com base na importância deste tema vamos citar algumas tradições sobre este grande valor social. Estas tradições afirmam o grande risco e perigo sobre aqueles que traem os depósitos de confiança, seja ao nível pessoal ou social. Esta questão levará a desunião e pode causar uma grande decadência no progresso e evolução da nação, pois é classificada como uma das maiores formas de traição a Deus e a Seu Mensageiro.

O Príncipe dos Fiéis (A.S.), o 1º Imam, disse em seu testamento a Kumail ibn Ziad: “Ó Kumail, ouça e entenda, jamais iremos licenciar alguém a cometer a traição da confiança. Então, aquele que alegar algo sobre eu ter licenciando alguém a trair estará pecando e a consequência será o fogo do inferno para este mentiroso”. Em seguida o Imam Ali (A.S.) disse algo muito interessante sobre o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.). Ele (A.S.) disse que quando o Profeta estava no leito da morte falou a respeito desta questão. O Imam (A.S.) disse: “Juro que eu ouvi o Mensageiro de Deus dizendo a mim antes de seu falecimento: “Ó Abal Hassan (Pai de Hassan), devolva os depósitos de confiança aos benfeitores e malfeitores naquilo que é grande ou pequeno, mesmo se for uma linha e uma agulha”. Ou seja, no início desta tradição o Imam Ali (A.S.), pai dos Imames e sucessores, afirma a Kumail que jamais haverá uma licença para a traição da confiança, e isso nunca partirá de algum Imam, e aquele que alegar isso estará mentindo e seu lugar é no inferno.

O Imam Ali (A.S.) disse sobre este mesmo tema: “Devolvam a Amanah, mesmo se for para os assassinos dos filhos dos profetas”.

Já o Imam Zeinol Abedin (A.S.) disse: “Devolvam a Amanah mesmo se for para o assassino de Hussein filho de Ali”.

O Imam Jafar Assadeq (A.S.) dizia: “Sejam tementes a Deus e devolvam a Amanah a quem vos confiou um bem, pois se o assassino do Príncipe dos Fiéis (A.S.) me confiasse algo eu iria devolver a ele”.

O Imam Al-Baqer (A.S.) dizia: “Deus jamais permitirá que três questões sejam corrompidas: a primeira é pagar e devolver o depósito de confiança, para o benfeitor e malfeitor. A segunda é cumprir a promessa, para o benfeitor e malfeitor. A terceira é a bondade com os pais, sejam benfeitores ou malfeitores”.

O Alcorão Sagrado nos alertou sobre o risco e os perigos de corromper e desrespeitar estes dois princípios elevados. Deus então disse: “Ó fiéis, não atraiçoeis Deus e o Mensageiro; não atraiçoeis, conscientemente, o que vos foi confiado!” (8:27).

Em uma tradição do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), o selo dos profetas e mensageiros de Deus ele (S.A.A.S.) expulsa os traidores das confianças do Islam. Ele (S.A.A.S.) dizia: “Quem trair uma confiança nesta vida e não a devolver para seus donos, e morrer antes de devolvê-la, morrerá sem fazer parte da minha nação”.

Em uma narração Anas ibn Malik narra que: “Jamais o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) discursou entre nós sem dizer “Não há fé para o traidor e não há religião para quem não cumprir a promessa”.

Numa passagem o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) expõe as características dos hipócritas. Ele (S.A.A.S.) disse: “Os sinais do hipócrita são três: se falar MENTE, se prometer DESCUMPRE e se for confiado algo a ele, TRAI”.

O Imam Jafar Assadeq (A.S.) falou em seu testamento mostrando os traços da sociedade fiel e na qual ele afirma que bandeiras levantadas tais como a oração, jejum ou peregrinação nem sempre são uma referência para com o Islam sincero. O Imam (A.S.) dizia: “Não se iludam na quantidade das orações, do jejum, da peregrinação e na recordação deles. Para saberem se o indivíduo é um verdadeiro fiel vejam se suas falas são verdadeiras e se devolve o depósito de confiança a ele depositado”.

Em uma outra narração onde o Imam Al-Baqer (A.S.) apresenta as características dos verdadeiros xiitas e seguidores dos Ahlul Bait (A.S.), e diz a Jaber, um de seus companheiros: “Ó Jaber, será que basta para aqueles que alegam o Xiismo apenas alegar amor a nós Ahlul Bait (A.S.)?”. Em seguida o Imam Al-Baqer (A.S.) disse: “Juro por Deus que nossos seguidores não são além daqueles que temem a Deus e o obedecem. E eles são conhecidos em seus costumes humildes, na devolução do depósito de confiança, na recordação a Deus, no jejum, na oração, no tratar bem aos vizinhos, no cuidar dos pobres, necessitados e devedores, no cuidado com os órfãos, no falar da verdade, no deixar de falar mal das pessoas ou fofocar, e por falar o bem dos próximos… Eles (Xiitas) são os guardiões de suas tribos em tudo”.

Lembrando que este atributo é a característica do Mensageiro de Deus (S.A.A.S), o qual era conhecido mesmo antes da revelação do Islam como “Assadeq Al-Amin, ou seja, o Verídico Confiável”, e até mesmo seus inimigos o chamavam assim.

Com base nisso, queridos irmãos e irmãs, gostaríamos de afirmar que a boa sociedade é aquela na qual seus membros são honestos em todas as situações.

Ao mesmo tempo observamos que o Alcorão Sagrado quando recomendou a guardar as Amanas e o julgamento com justiça o indica a todas as pessoas, sem nenhuma restrição ou parcialidade. A justiça é para todas as pessoas, cumprir a promessa ou a confiança é para todas as pessoas e não apenas para os fiéis ou uma classe específica de pessoas. Por isso que o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) apontava em sua tradição a fonte da decadência moral de uma sociedade, e esta fonte é o fim das boas relações sociais. Ele (S.A.A.S) dizia: “Vocês, quando um nobre roubava o perdoavam, mas quando um pobre roubava o castigavam. Juro por Deus, se Fátima (a filha do profeta) roubar eu irei cortar sua mão”. Sendo que Fátima Azzahra (A.S.) é uma santa e infalível e jamais roubaria, mas este é um exemplo de justiça que o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) queria apresentar para as pessoas. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) queria que estes princípios e valores caminhassem com todos.

Peço a Deus, o Altíssimo, que nos faça estar entre Seus seguidores nesta vida, e que nos faça ser obedientes a Ele sempre.

 

 

«
»