Introdução à Dimensão Política do Islam

Em Nome de Deus, o Clemente , o Misericordioso

Por Ahmed Ismail Barbosa Júnior

A visão Islâmica do homem, da sua existência e do universo do qual é parte integrante, é uma visão de unidade cósmica, ou seja, o Islam não reconhece a fragmentação da existência como uma realidade objetiva, antes, afirma haver um senso de unidade presente em todas as coisas, de inter-relação entre todos os aspectos da vida.

Com isso, afirma também que qualquer progresso ou melhoria só pode surgir a partir de ações que sejam globais quer no plano individual ou no plano coletivo (social).

Esse dín (Religião) nega qualquer dissociação entre religião e política, entre o material e o espiritual; e mais ainda, afirma que a ação política é a expressão visível da religião, sendo perfeitamente entendido que toda ação do indivíduo no campo social é “política”.

O Islam declara que a religião não é religião na verdadeira acepção da palavra se não conter uma visão sóciopolítica, se não proporcionar respostas e soluções para as sociedades humanas e ao seu turno, a política não traz nenhum benefício se não possui uma visão religiosa e ética no sentido de promover o bem-estar para todos. A religião desprovida dessa dimensão política degrada-se à condição de ritualismo estéril confinado nos templos e à política sem uma dimensão ética e religiosa corrompe-se e torna-se um instrumento de opressão e injustiça.

O Alcorão aborda em diversas passagens as características predominantes nos povos antigos, as quais o Livro de Deus denomina DZULUMAT. A palavra DZULM (no singular) significa injustiça e opressão, e pertence a raiz da palavra “escuridão”. Diz-se assim que, DZULUMAT engloba as características da escuridão espiritual que escravizam os indivíduos e os povos: ignorância, idolatria, avareza, brutalidade, decadência moral, perversão, corrupção, tirania, opressão e injustiça.

E o Alcorão sintetiza o propósito do dín revelado da seguinte maneira:

“….UM LIVRO QUE TE TEMOS REVELADO PARA QUE RETIRES OS HUMANOS DAS TREVAS PARA A LUZ, COM A ANUÊNCIA DE TEU SENHOR E OS ENCAMINHES ATÉ A SENDA DO PODEROSO, LAUDABILÍSSIMO.” (C.14 – V.1)

Assim, o Islam declara que a salvação dos indivíduos não está separada da salvação do conjunto social, muito ao contrário, a primeira depende em grande parte da segunda e por isso há uma posição enfática no Islam em sanar os males sociais para proporcionar as condições requeridas para que o indivíduo se liberte de sua própria escuridão espiritual.

Porquanto, a concepção política do Islam, se apóia na Lei Divina (shariah) a qual tanto o povo como os seus governantes devem estar submetidos, e esta Lei Divina deve regular todas as atividades políticas, econômicas e sociais de maneira que a própria autoridade governamental seja um instrumento de implementação e preservação da Lei Divina.

O objetivo principal é criar na sociedade um campo isento da corrupção, da injustiça e da opressão que desencadeiam os males e desequilíbrios sociais ao mesmo tempo em que se proporcione as condições externas para que o indivíduo cultive em si a inclinação para a fé e o bem. Este espaço criado num estado islâmico é denominado DAR AS SALAM (TERRA PACIFICADA) onde os direitos, os bens, a vida e a dignidade dos indivíduos, ricos ou pobres, homens ou mulheres estejam assegurados.

O Islam e as demais Ideologias Políticas

O Islam, como mensagem divinamente revelada para a redenção do gênero humano, abrange as diretrizes necessárias para o homem em todos os aspectos de sua vida. O sistema político e social do Islam é uma dessas diretrizes que Deus, Exaltado seja, concedeu a humanidade para o seu bem-estar. Ele (Deus), que detém o conhecimento supremo sobre todas as coisas conhece a natureza humana e, portanto, orienta sua criação para o melhor.

Com base nesta autoridade de DIRETRIZ DIVINA o sistema político e social do Islam não se confunde com nenhum dos regimes políticos e ideologias criadas pelo homem no decorrer dos tempos.

O axioma “NEM CAPITALISMO, NEM COMUNISMO” resume a posição do Islam quanto às propostas e ideologias humanas de organização econômica, política e social. Tais sistemas já provaram-se incapazes de resolver a problemática das sociedades humanas. A razão dessa falência histórica reside no fato que esses sistemas nada mais são do que sintomas do predomínio de todas as características da escuridão espiritual que escravizam a humanidade. Suas propostas e medidas não tem o alcance necessário para uma resolução global do problema humano. Via de regra, os programas sociais e econômicos que os caracterizam geram males ainda maiores dos que se propõem a erradicar.

O Islam e a Democracia Moderna

O Islam não prescreve uma sociedade totalitária, ou seja, os valores democráticos da cidadania, da participação política e das liberdades individuais fazem parte do estado Islâmico, porém, esses valores estão presentes de modo diverso da concepção que a democracia ocidental moderna tem sobre esses valores.

É possível compreender esta diferença se reportarmos a origem da Democracia ocidental Moderna. Essa ideologia surgiu como um movimento laico que preconizava a separação do Estado e da religião. A democracia moderna, portanto, não reconhece a autoridade da religião e nem dá a esta a posição de fonte da Lei autêntica. Ela afirma que a vontade da maioria, através de um sistema representativo deve dar origem a Lei e a ordem social.

Quanto a concepção de liberdade, a democracia moderna a elege como um princípio consagrado onde o indivíduo só tem limites nas leis que o estado adote. O Islam por sua vez declara que o Estado e a Lei devem se fundamentar na Religião e esta é a única fonte autêntica tanto de um como de outro.

O consenso da maioria por si só não pode ser tomado como medida justa e confiável, e por isso mesmo a vontade popular também está submetida à LEI DIVINA, não tendo pois autoridade sobre ela.

A questão da liberdade é tratada similarmente. O limite da liberdade do indivíduo é também a LEI DIVINA (shariah). Ou seja, desde que, por exemplo, Deus tenha proibido o consumo de álcool, nem o Estado, nem o governante, nem a vontade popular pode aprovar o seu consumo. Contudo, dentro dos limites da Shariah, os indivíduos podem organizar-se, reivindicar seus direitos, participar politicamente e exercer suas escolhas pessoais. Não há qualquer justificativa para que se acredite que um Estado Islâmico seja uma ditadura no sentido clássico dessa palavra.

O Islam e as Forças de Oposição Mundial

O Alcorão relata-nos que a missão dos enviados de Deus em todas as épocas encontrou forte oposição, por parte dos tiranos e das classes dominantes, os quais sempre foram os que mais lucraram com o estado de ignorância e erro em que os povos se encontravam. Esse fato ajuda-nos a entender a forte oposição e a luta sem trégua que a civilização laica do ocidente e seus governos travam contra o Islam. Esta luta não está hoje estabelecida sobre as mesmas premissas da época das Cruzadas. Esta Nova Cruzada não se baseia em meras divergências religiosas, mas sim, trata-se de um conflito entre uma civilização que abdicou de valores autenticamente religiosos e outra que se inspira em valores e crenças que se opõem ao materialismo.

O Islam representa uma ameaça a uma rede mundial de interesses econômicos e políticos que busca avidamente estender seu predomínio por todo o planeta. Esta é a raiz do conflito entre o Islam e o conjunto de forças de oposição mundial. Tais forças mantém um esforço contínuo para deter o avanço Islâmico e inviabilizar o surgimento de estados Islâmicos nos países de maioria muçulmana. Neste esforço, utilizam-se de todos os meios desde o apoio a ditaduras e regimes corruptos, o uso do poderio bélico, o financiamento de organizações religiosas e seitas dentro do mundo Islâmico até a eliminação física de populações muçulmanas.

Considerações finais

A despeito de todos os desafios a construção de um Estado Islâmico em países de maioria muçulmana deve ser compreendida como um objetivo autêntico e um direito dos muçulmanos. O período imperialista marcou um profundo processo de destruição da identidade espiritual dos povos Islâmicos a ele submetidos. Os efeitos nocivos desse período se fazem presentes na grande maioria dos países muçulmanos.

O esforço essencial dos muçulmanos é de todas as maneiras possíveis reavivar a consciência desta dimensão política do Islam e lutar para a viabilidade do estado Islâmico onde as diretrizes de Deus sejam postas em prática e a justiça e o bem sejam consolidadas.

«
»